Editora: Suma de letras
ISBN: 978-85-8105-277-9
Opinião: ★★★☆☆
Tradução: Michel Teixeira
Páginas: 256
Sinopse: Eleito pela Time Magazine um dos 100
melhores livros de não ficção de todos os tempos e vencedor dos prêmios Bram
Stoker e Locus na categoria Melhor Não Ficção, Sobre a escrita
— A arte em memórias é uma obra extraordinária de um dos autores mais bem-sucedidos
de todos os tempos, uma verdadeira aula sobre a arte das letras.
O
livro também não deixa de lado as memórias e experiências do mestre do terror: desde
a infância até o batalhado início da carreira literária, o alcoolismo, o acidente
quase fatal em 1999 e como a vontade de escrever e de viver ajudou em sua recuperação.
Com
uma visão prática e interessante da profissão de escritor, incluindo as ferramentas
básicas que todo aspirante a autor deve possuir, Stephen King baseia seus conselhos
em memórias vívidas da infância e nas experiências do início da carreira: os livros
e filmes que o influenciaram na juventude; seu processo criativo de transformar
uma nova ideia em um novo livro; os acontecimentos que inspiraram seu primeiro sucesso:
Carrie, a estranha. Pela primeira vez, eis uma autobiografia íntima, um retrato
da vida familiar de King.
E,
junto a tudo isso, o autor oferece uma aula incrível sobre o ato de escrever, citando
exemplos de suas próprias obras e de best-sellers da literatura para guiar seus
aprendizes. Usando exemplos que vão de H. P. Lovecraft a Ernest Hemingway, de John Grisham a J. R. R. Tolkien, um dos maiores autores de todos os tempos ensina
como aplicar suas ferramentas criativas para construir personagens e desenvolver
tramas, bem como as melhores maneiras de entrar em contato com profissionais do
mercado editorial.
Ao
mesmo tempo um álbum de memórias e uma aula apaixonante, Sobre a escrita
irradia energia e emoção no assunto predileto de King: literatura. A leitura perfeita
para fãs, escritores e qualquer um que goste de uma história bem-contada.
“Quando ainda se é jovem demais para fazer a barba,
o otimismo é uma reação mais do que legítima ao fracasso.”
“— O que não entendo, Stevie — disse ela — é por
que você decidiu escrever um livro como este. Você tem talento. Por que desperdiçá-lo?
Ela segurava uma cópia do VIB nº 1 e a brandia
como alguém ergue um jornal enrolado para um cachorro que mijou no tapete. A professora
esperou minha resposta — é preciso lhe dar crédito, a pergunta não fora totalmente
retórica —, mas eu não tinha nada para dizer. Estava envergonhado. Muitos anos se
passaram — anos demais, eu acho — até que eu perdesse a vergonha do que escrevia.
Acho que só depois dos 40 anos me dei conta de que praticamente todos os escritores
de ficção e poesia que já publicaram uma linha que seja foram acusados de desperdiçar
o talento que Deus lhes deu. Se você escreve (pinta, dança, esculpe ou canta, imagino
eu), alguém vai tentar fazer com que você se sinta mal com isso, pode ter certeza.
Não estou me lamentando aqui, apenas tentando mostrar os fatos como os vejo.”
“— Quando você escreve, está contando uma história
para si mesmo — disse ele. — Quando reescreve, o mais importante é cortar tudo o
que não faz parte da história.
Gould disse outra coisa interessante no dia em
que entreguei meus dois primeiros artigos: escreva com a porta fechada, reescreva
com a porta aberta. Em outras palavras, você começa escrevendo algo só seu, mas
depois o texto precisa ir para a rua. Assim que você descobre qual é a história
e consegue contá-la direito — tanto quanto você for capaz —, ela passa a pertencer
a quem quiser ler. Ou criticar. Se você tiver muita sorte (a ideia é minha, não
de John Gould, mas acredito que ele assinaria embaixo), mais gente vai querer ler
a última versão do que a primeira.”
“Dizer a um alcoólatra para maneirar na bebida
é o mesmo que dizer ao sujeito com a diarreia mais catastrófica da história para
maneirar no cocô. Um amigo meu que passou por isso conta uma historinha interessante
sobre a primeira tentativa que fez de assumir o controle de sua vida cada vez mais
fora dos trilhos. Ele foi a um terapeuta e disse que a mulher estava preocupada
com seu vício em bebida.
— E quanto você bebe? — perguntou o terapeuta.
Meu amigo olhou incrédulo para o homem.
— Tudo — respondeu, como se aquilo fosse a coisa
mais óbvia do mundo.”
“A ideia de que criatividade e substâncias que
alteram a mente estão ligados é um dos grandes mitos pop-intelectuais do nosso tempo.
(...) Escritores viciados não passam de pessoas viciadas — bêbados e drogados comuns,
em outras palavras. Qualquer defesa de drogas e álcool como necessidade para embotar
sensibilidades mais refinadas não passa de conversa autopiedosa para boi dormir.
Ouvi motoristas de caminhões limpa-neves alcoólatras dizerem a mesma coisa, que
bebem para acalmar seus demônios. Não importa se você é James Jones, John Cheever
ou um mendigo bêbado que dorme na estação de trem; para um viciado, o direito à
bebida ou à droga deve ser preservado a todo custo. Hemingway e Fitzgerald não bebiam
porque eram criativos, alienados ou moralmente fracos. Bebiam porque é isso que
bêbados estão programados para fazer. É bem provável que gente criativa de fato
esteja mais propensa ao alcoolismo do que gente de outras áreas, mas e daí? Somos
todos iguais quando estamos vomitando na sarjeta.”
“Coloque sua mesa em um canto e, todas as vezes
em que se sentar para escrever, lembre-se da razão de ela não estar no meio da sala.
A vida não é um suporte à arte. É exatamente o contrário.”
“Escrever é seduzir. Falar bem é parte da sedução.
Se não fosse, por que tantos casais começariam a noite jantando e a terminariam
na cama?”
“A escrita não é para fazer dinheiro, ficar famoso,
transar ou fazer amigos. No fim das contas, a escrita é para enriquecer a vida daqueles
que leem seu trabalho, e também para enriquecer sua vida. A escrita serve para despertar,
melhorar e superar. Para ficar feliz, ok? Ficar feliz.”
Um comentário:
Depois de anos, este é o primeiro livro não-filosófico que leio.
A demanda que a pesquisa filosófica me impõe ainda não acabou, entretanto, no meio do caminho havia uma tal de Covid-19, havia uma tal de Covid-19 no meio do caminho - o que acarretou alguns desvios imprevistos.
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