sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Os Pilares da Terra (volume II), de Ken Follett

Editora: Rocco

ISBN: 978-85-3250-076-2

Tradução: Paulo Azevedo

Opinião: ★★★☆☆

Páginas: 608



“Aliena observara que homens grandes com frequência conquistavam posições de poder, independentemente de sua inteligência.”

 

 

“‘Nem todos os barões são filhos de barões’, como diz o ditado.”

 

 

“Ao rememorar o que fizera, mal pôde crer. Parecia um sonho, ou uma das histórias fantásticas de Jack, algo sem ligação com a vida real. Jamais contaria o que se passara. Seria um segredo lindo que guardaria para si própria e de que se lembraria de vez em quando, como um avarento contando um tesouro oculto na calada da noite.”

 

 

“Talvez os selvagens fiquem para sempre no controle da situação – disse o prior melancolicamente. – Talvez a cobiça sempre tenha mais valor que a sabedoria nos conselhos dos poderosos; talvez o medo sempre ultrapasse a piedade na mente de um homem com uma espada na mão.”

 

 

“Não há recompensa para quem perde, monge – disse William asperamente. Ele estava gostando daquilo. – No mundo de verdade, fora do mosteiro, ninguém toma conta de você. Os patos engolem as minhocas, as raposas comem os patos, os homens matam as raposas e o demônio caça os homens.”

 

 

“Ninguém faz nada por gratidão.”

 

 

“Ao envelhecer-se os anos parecem passar mais depressa.”

 

 

“A arrogância é o pecado dos bons líderes.”

 

 

“Waleran ergueu a cabeça, e os olhos dos dois homens se encontraram pela primeira vez. Bigod estremeceu e desviou o rosto, como se tivesse sido esbofeteado. Por um momento Jack pôde ler os pensamentos do outro homem, e teve certeza de que ele vira a piedade nos seus olhos.

E para Waleran, a piedade dos seus inimigos era a pior humilhação de todas.”

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Os Pastores da Noite – Jorge Amado

Editora: Record
ISBN: 978-85-0105-236-0
Opinião: ★★★☆☆
Páginas: 305
Sinopse: Narrativa densa e madura em que o autor satiriza as contradições da sociedade brasileira, enlaçando de modo irresistível alguns de seus motivos permanentes: a luta pela emancipação social, a força da cultura popular, a mesquinhez e o ridículo da elite.
Escrito às vésperas do golpe militar de 1964, este romance modelar se constrói em três partes autônomas, interligadas por personagens comuns: prostitutas, boêmios, vigaristas, a comunidade notívaga de Salvador, com suas leis e valores próprios: o culto à cachaça, o ódio à polícia, o horror ao trabalho.
Na primeira parte, o cabo Martim, craque dos baralhos marcados e dos dados viciados, sedutor cobiçado, aparece com companheira fixa e planos de constituir um lar. A notícia cai como uma bomba entre os pastores da noite. A segunda narrativa trata do batizado do filho de Massu, negro musculoso que ganha a vida fazendo pequenos fretes. O padrinho do menino é o próprio Ogum, e assim o batizado mobiliza a noite da cidade, embaralhando candomblé e catolicismo. Na última parte, a ocupação do morro do Mata Gato por desabrigados desencadeia um conflito social e político. O dono do terreno recorre à polícia, mas entram em cena outras forças e interesses: autoridades governamentais, imprensa corrupta, banqueiros do jogo do bicho.
O romance foi levado ao cinema em 1976 pelo francês Marcel Camus, e em 1995 a segunda parte do livro virou a minissérie de tevê O compadre de Ogum.

“E, se não fôssemos nós, pontais ao crepúsculo, vagarosos caminhantes dos prados do luar, como iria a noite – suas estrelas acendidas, suas esgarçadas nuvens, seu manto de negrume –, como iria ela, perdida e solitária, acertar os caminhos tortuosos dessa cidade de becos e ladeiras? Em cada ladeira um ebó, em cada esquina um mistério, em cada coração noturno um grito de súplica, uma pena de amor, gosto de fome nas bocas de silêncio, e Exu solto na perigosa hora das encruzilhadas. Em nosso apascentar sem limites, íamos recolhendo a sede e a fome, as súplicas e os soluços, o estrume das dores e os brotos da esperança, os ais de amor e as desgarradas palavras doloridas, e preparávamos um ramalhete cor de sangue para com ele enfeitar o manto da noite.
Varávamos os distantes caminhos, os mais estreitos e tentadores, chegávamos às fronteiras da resistência do homem, ao fundo de seu segredo, iluminando-o com as trevas da noite, enxergávamos seu chão e suas raízes. O manto da noite cobria toda a miséria e toda a grandeza e as confundia numa só humanidade, numa única esperança.”


“E de repente, quando todos o pensavam por inteiro devotado àquele amor profundo e recente – nem um mês ainda se passara, a contar do primeiro encontro na Gafieira –, eis o escândalo a envolver Martim: agredido por um sapateiro, nas proximidades do Terreiro de Jesus, ferido a faca no ombro. O sapateiro, avisado por uma vizinha assanhada, solteirona, é claro, fora encontrar sua esposa na cama com Martim, e esquecida das obrigações familiares, em plena tarde de dia útil. Estava o sapateiro trabalhando quando a intrigante cochichou-lhe a desventura: levantou-se levando a faquinha de cortar couro, precipitou-se para casa, atirou-se sobre Martim, atingindo-o no ombro. Os vizinhos impediram desgraça maior: o sapateiro querendo matar a mulher, suicidar-se, necessitando de sangue para lavar os chifres. Com tanta balbúrdia, acabaram todos na polícia e saiu notícia nos jornais, na qual o cabo Martim era tratado como sedutor. Ficou Martim muito vaidoso com esse qualificativo, guardou o recorte no bolso para exibi-lo.”


“Só tem uma coisa que eu quero te dizer: quando a gente discute com a mãe da gente quem tem razão é ela e mais ninguém.”


“Não era possível, a um homem só, dormir com todas as mulheres do mundo mas devia-se fazer esforço para consegui-lo, assim ensinavam no cais os velhos marinheiros.”


“Nunca teve ela marido, nem quis ligar homem à sua sina. Homem, em sua opinião, só servia na hora de fazer o menino. Depois, só dava trabalho e confusão.”


“Em negócio de gente grande, pequeno não deve se meter. Senão quem paga os pratos quebrados é a gente...”


“Os brancos lá embaixo, brancos de rico e não de cor, eram capazes de terminar por se entenderem (...). Eram graúdos, os graúdos sempre se entendem, briga entre eles não prospera.”

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Os Pilares da Terra (volume I), de Ken Follett

Editora: Rocco

ISBN: 978-85-3250-075-5

Tradução: Paulo Azevedo

Opinião: ★★★☆☆

Páginas: 496

Sinopse: Emocionante, complexo, pontilhado de coloridos detalhes históricos, Os pilares da terra traça o painel de um tempo conturbado, varrido por conspirações, jogos intrincados de poder, violência e surgimento de uma nova ordem social e cultural. A figura que melhor expressa os ideais que inspiraram Ken Follett a escrever este livro é Philip, prior de Kingsbridge, um homem que luta contra tudo e todos para construir um templo grandioso a Deus. Mas a galeria de personagens que gravitam em torno da catedral inclui Aliena, a bela herdeira banida de suas terras, Jack, seu amante, Tom, o construtor, William o cavaleiro boçal, e Waleran, o bispo capaz de tudo para pavimentar seu caminho até o lugar do Papa, em Roma. Como painel de fundo, uma Inglaterra sacudida por lutas entre os sucessores prováveis ao trono que Henrique I deixou sem descendentes. Épico que consegue captar simultaneamente o que acontece nos castelos, feiras, florestas e igrejas, Os pilares da terra é a recriação magistral de uma época que nossa imaginação não quer esquecer.

 


“Houve um tempo, se é que se podia acreditar na lenda, em que os monges eram iguais em tudo. Um grupo de homens decidia voltar as costas ao mundo do apetite carnal e construir um santuário numa região erma, onde poderiam viver a vida de orações e desprendimento; e assumiam uma nesga de terra árida, limpando a floresta e drenando o pântano, aravam o solo e construíam sua igreja. Naquele tempo eram realmente como irmãos. O prior, como seu título indicava, era apenas o primeiro entre iguais, e eles juravam obediência perante a regra de São Bento, e não a autoridades monásticas. Mas tudo o que restara agora da antiga democracia era a eleição do prior e do abade.”

 

 

“Ele parecia gostar de Philip mas ao mesmo tempo desconfiar dele, como um pai cujo filho esteve na guerra e voltou para casa com uma espada na cintura e um brilho ligeiramente perigoso no olhar.”

 

 

“A conversa sobre a mulher dele fora tocante, revelando uma piedade que até então não se evidenciara. Era uma dessas pessoas que guardam a fé religiosa no fundo do coração. Às vezes são as melhores.”

 

 

“É notório que os reis se tornam piedosos à medida que envelhecem. Estêvão ainda era jovem.”

 

 

“Não se pegam as heresias dos outros como se pegam suas pulgas.”

 

 

“Deixe-me dizer-lhe uma coisa com toda sinceridade. Um homem esperto não a empregaria como serva. Você está acostumada a dar ordens, e verá que é muito difícil estar do lado de quem as recebe. – Aliena abriu a boca para protestar, mas ele ergueu a mão para detê-la. – Oh, sei que você está disposta a trabalhar. Mas durante toda a sua vida os outros a serviram, e até mesmo agora, no fundo do coração, você sente que as coisas deveriam ser arranjadas de modo a satisfazê-la. As pessoas nascidas nas classes mais altas dão maus servos. São desobedientes, ressentidas, imprudentes, suscetíveis e pensam que estão trabalhando duro mesmo que estejam trabalhando menos que todos os outros.”

 

 

Fazer um juramento é pôr uma alma em risco, dizia ele. Nunca faça um juramento, a menos que tenha certeza de que preferirá morrer a não cumpri-lo.”

 

 

“Por que as pessoas fabricavam problemas quando já havia tantos no mundo?”