Editora: InterSaberes
ISBN: 978-85-8212-678-3
Opinião: ★★☆☆☆
Páginas: 208
Sinopse: O livro apresenta uma retrospectiva histórica da
aplicação dos conceitos pedagógicos, transitando por várias correntes do
pensamento para ajudar o leitor a compreender as origens e a evolução do
processo educacional. Além disso, destaca a importância de conhecer os métodos
pedagógicos ao longo dos séculos, para analisá-los e aplicá-los de forma
responsável. A intenção é gerar um debate crítico e pluralista a respeito do
ensino.
“Todo povo que alcança certo grau
de desenvolvimento encontra-se naturalmente inclinado a praticar a educação.”
(Werner Jaeger, Paideia, 1983, p. 3).
“A
filosofia, segundo Platão e Aristóteles, começa com o assombro do ser humano
perante o mundo. Aristóteles afirmou: “'Pois o assombro, tanto no início como
hoje, induz o homem a filosofar [...] Mas o que pergunta e se assombra tem uma
sensação de ignorância [...] Assim que para escapar dessa ignorância começou a
filosofar” (Magee, História da filosofia,
1999).”
“Essa insistência
na razão é uma das marcas registradas da filosofia. Ela distingue a filosofia,
por exemplo, tanto da religião como das artes. Na religião, às vezes se recorre
à razão, mas também a fé, a revelação, o ritual e a obediência têm papéis
indispensáveis, e a razão pode nunca abarcar a pessoa por inteiro. O artista
criativo, o filósofo, está totalmente engajado numa atividade de busca da
verdade, tentando ver abaixo da superfície das coisas e adquirir uma
compreensão mais profunda da experiência humana. Mas ele recorre à percepção
direta e à intuição em vez de ao argumento racional. (Magee, 1999, p. 8-9).
Existe também um tipo
diferente de fronteira entre a filosofia e a ciência. O cientista investiga o
mundo, a natureza e o ser humano; tenta fazer novas descobertas, organizá-las,
descrevê-las e reproduzi-las. A ciência se sustenta na racionalidade, como a
filosofia, mas a diferença fundamental entre as duas reside no empirismo, ou
seja, a ciência se vale da observação direta, das experiências e da reprodução
organizada dessas experiências. A filosofia se baseia na reflexão, uma investigação
racional diferente do método científico.
Por exemplo: um professor de
filosofia dá aulas nos diversos cursos de uma grande universidade. No primeiro
dia de aula da disciplina Introdução à
filosofia, para o primeiro ano do curso de veterinária, o professor ouve a
pergunta fatal: “Mas para que a gente precisa estudar filosofia?”. Impassível,
ele responde: “Em primeiro lugar, para ajudar a diferenciar você de seus clientes”.”
“Para Luc Ferry (Aprender a viver, 2007, p. 300),
toda
grande filosofia resume em pensamentos uma experiência fundamental da
humanidade, grande obra artística ou literária traduz as possibilidades das
atitudes humanas nas formas mais sensíveis. O respeito pelo outro não exclui a
escolha pessoal. Ao contrário, a meu ver, ele é a condição primeira.”
“Conhecemos, hoje, mais do que nossos avós conheciam.
Isso não quer dizer que sejamos mais sábios ou mais felizes. Tampouco quer
dizer que somos mais ignorantes ou mais infelizes. Somos diferentes e temos
mais acesso à informação e ao conhecimento.”
“Certa vez, o
neurologista Oliver Sacks respondeu a uma pergunta que parecia uma banalidade:
“O que é um homem
normal?”.
Sacks respondeu
que um homem normal talvez fosse aquele capaz de contar a sua própria história.
De onde vem (sua origem, seu passado, sua memória), onde está (sua identidade),
para onde vai (seus projetos e a morte no fim). Esse ser humano se situa no
movimento de um relato, ele é uma história e pode se narrar. (Carriére, O círculo dos mentirosos, 2004, p.
11-12).”
“Antes da filosofia, os mitos e as religiões contavam
histórias sobre o mundo e os humanos. Os mitos são as primeiras formas de especulação
sobre o mundo e o universo, são narrativas de eventos que aconteceram antes da
história escrita e do que está por vir.
Os mitos são histórias que unem o passado ao presente e
ao futuro, são um padrão de crenças que dão significado à vida, que são um
ingrediente essencial em todos os códigos de conduta moral e estão presentes em
todas as culturas de todos os tempos. Os deuses e deusas permeavam a vida dos
humanos da natureza e do cosmos. O cosmos era a demonstração da ordem obtida
pelas divindades em oposição ao caos primordial. O poeta grego Hesíodo, no
século VIII a.C., escreveu a Teogonia, uma obra que
traça a genealogia das divindades, organizando-as em um cosmos literário
precioso, conservado até hoje. A mitologia grega marcou o imaginário do
Ocidente, desde o antigo império romano até os nossos dias. As outras
mitologias (asteca, escandinava, chinesa, hindu, de várias tribos da África, da
Ásia e das Américas) posteriormente foram agregadas às culturas em vários
lugares do mundo, mas os mitos greco-romanos são marcantes no Ocidente.
O sagrado e o profano são, portanto, espaços concernentes ao fenômeno religioso.
Outra passagem fundamental é a da mitologia
para a filosofia. Os primeiros filósofos fizeram grandes rupturas com o
passado:
1. Tentaram entender
o mundo com o uso da razão, sem recorrer à religião, à revelação ou tradição,
saindo do sagrado e da vida consagrada aos deuses.
2. Ao mesmo
tempo, eles ensinavam às outras pessoas a também usarem a própria razão e a
pensarem por si mesmas. Dessa forma, os primeiros filósofos não esperavam que
os próprios discípulos necessariamente concordassem nem mesmo com seus mestres.
Essas duas
rupturas revolucionárias marcam o início do que hoje se denomina pensamento racional. Tinha início o
longo caminho da construção do pensamento humano — mais livre e aberto, em busca
do conhecimento, talvez da sabedoria. Filosofia
é uma palavra que provém de sua origem grega e se refere ao pensamento elaborado
de maneira racional e fundamentado em premissas estruturadas em modelos
teóricos baseados na observação e reflexão da realidade.”
“E o que é
filosofia?
Filosofia é uma palavra grega que significa “amor à shophia”, termo que pode ser entendido ao mesmo tempo por sabedoria e por ciência. Pitágoras de Samos, filho de Mnesarco, foi o primeiro a
usar o termo filosofia. E o que é
sabedoria? É o máximo de felicidade no máximo de lucidez. Algo que ajuda a dar
sentido à vida.
O Dicionário Oxford
de filosofia (1997) é preciso: a palavra filosofia vem do grego, “amor ao
conhecimento ou à sabedoria”. Trata-se do estudo das características mais
gerais e abstratas do mundo e das categorias com que pensamos: mente; matéria, razão,
demonstração, verdade etc. Em filosofia, são os próprios conceitos através dos
quais compreendemos o mundo que se tornam tópico de investigação.
Leia esta descrição do início da filosofia:
Como a
filosofia nasceu? Se a filosofia se define como um empreendimento racional, ainda
é necessário dizer contra o que a razão nascente se manifestou. Como dizem
Platão e Aristóteles, a filosofia é filha de Taumas: Admiração e inquietação
são os sentimentos primeiros ante a grandeza do mundo, a beleza do Céu, as forças
dos elementos e a brevidade da vida. Mas Taumas tem uma filha, Iris, a mensageira
dos deuses, portadora de uma echarpe com as sete cores do arco-íris, que os
estoicos sabem simbolizar as sete vogais, os sons do alfabeto grego. Assim,
passa-se da luz à palavra, como dirá Filon de Alexandria. A palavra, logos, é a
razão que articula em um discurso coerente a primeira admiração quase religiosa,
para formulá-la em termos de interrogação profana. Assim nascem os tipos
racionais de questionamento, quando o entendimento transforma em interrogação
filosófica e já científica a emoção que se apodera do homem grego diante do
espetáculo mundo. (Dumont, Elementos de história
da filosofia antiga, 2004, p. 25-26)
O início da filosofia se fez pela observação da natureza
(com os pré-socráticos e os sofistas, por exemplo), mas a filosofia se
desenvolveu plenamente quando se voltou para o ser humano. Sócrates (que não deixou
nada escrito) e seu discípulo, Platão, analisaram o Homem. Antigamente,
escrevia-se assim homem com H maiúsculo. Hoje, o mais correto é o termo ser humano, pois a Mulher com M
maiúsculo) faz parte da raça humana e conquistou um lugar de igualdade nas
sociedades contemporâneas bem desenvolvidas e bem resolvidas.
Como animal, o ser humano é único, insubstituível,
superior a tudo o que se pode conhecer, como uma obra-prima da natureza, um
formidável êxito do acaso, da vida, da evolução, decerto, mas também da
história, da cultura. Em outras palavras, de si mesmo. Essa é a sua grandeza.
Mas ele não é imortal ou onipotente, não criou o mundo nem a si mesmo, não
conhece nem o princípio nem o fim das coisas está longe de ser infinitamente
bom. Mesmo no mais alto trono do mundo, dizia Montaigne, estamos sentados sobre
nossas nádegas.
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O que é o homem? É o único animal a saber que não é Deus.
(Comte-Sponville; Ferry, A sabedoria dos
modernos, 1999, p. 144-145)
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Entre seus limites e mortalidade, o homem busca algo mais
— sabedoria, desejo antigo no imaginário humano. O bem mais precioso daqueles
que se pensam sábios. Como nessa história que nos conta Carriére (2004, p,
139):
Um pescador encontra uma garrafa na água e ao abri-la
encontra um gênio lhe fala:
— Formule três desejos e eu os realizarei. Qual é o seu
primeiro desejo?
Eis o desejo — disse o pescador. — Gostaria que me
tornasse inteligente o bastante para que faça uma escolha perfeita para os dois
desejos restantes.
— Concedido — disse o gênio. — E agora, quais são seus outros
desejos?
O pescador refletiu por um instante e respondeu.
— Obrigado, não tenho outros desejos.
A religião, o mito, a ciência e a filosofia não vivem de forma
compartimentada e completamente isolada entre si. O conhecimento humano é vasto
e deuses, leis da física, política, desejos e vontades se mesclam ao longo da
história. E a filosofia avança na tentativa de organização e classificação do
mundo.”
“O homem é mais do que mortal. É impotente na grande extensão
de sua existência. É limitado, finito. Ser finito é projetar-se em apenas uma possibilidade de ser, excluindo
todas as outras possíveis. Se trabalhamos em Florianópolis, não moramos em
todas as outras cidades do Brasil e do mundo. Se vivemos no Brasil, excluímos
os outros países. Se somos enfermeiros ou comissários de bordo, não somos
cozinheiros profissionais ou salva-vidas. O ato mesmo da liberdade é a criação
da finitude. Se fazemos a nós mesmos, fazemo-nos finitos e, por esse fato, as
nossas vidas serão únicas. Portanto, as escolhas para nossas vidas precisam ser
bem pensadas, ponderadas e assumidas com coragem. Podemos escolher entre n possibilidades, mas ainda assim
escolhemos. A não escolha já é uma escolha por inércia, por covardia ou
impotência. Poderíamos ser filósofos ou médicos, vivermos em muitas cidades,
casarmo-nos com inúmeras pessoas. Mas temos uma atividade profissional (podemos ter duas ou mais, mas as exercemos
uma de cada vez), moramos em uma cidade, vivemos com uma pessoa com
a qual nos relacionamos. Podemos mudar de opções quantas vezes quisermos ou pudermos,
mas só poderemos operar uma mudança de cada vez.
Mas o homem, justamente por estar “condenado a ser livre”,
leva sobre si o peso do mundo, a responsabilidade por si mesmo e pelos outros.
Não é porque a vida é absurda, para Sartre, que o niilismo (teoria em que se
promove o estado em que não se acredita em nada, ou de não se ter comprometimentos
ou objetivos) é aceitável. Não existe uma irresponsabilidade absoluta, pois, se
somos livres, temos que garantir as condições plenas de liberdade também para o
outro. Aí entra a responsabilidade social e a ação. Só resta a ação e a
liberdade. A necessidade de fazermos algo, mesmo com os limites, mesmo com a interferência
controlável dos outros. Mas a vida de cada um deve ser gerida livremente. Esse
é um dos temas mais preciosos para Sartre: a liberdade humana, tão discutida e
embasada no seu livro teórico O ser e o nada e em vários romances e peças de teatro escritas pelo filósofo, Sartre
foi um filósofo que trabalhou sua teoria através de textos filosóficos “puros”
e através da arte, ou seja, da literatura e do teatro.
Quando comentamos a nossa vida profissional ou as opções
para nossa vida em geral, precisamos levar em consideração esses conceitos.
Somos livres e responsáveis por essa liberdade. Essa é uma preposição muitas
vezes usada para tolher nossas opções: liberdade
com responsabilidade significa “liberdade individual e responsabilidade
individual e social”. Isso significa que quem deve fazer a opção somos nós.
Cada vez que não escolhemos livremente e colocamos a culpa nos outros, caímos
na má-fé, ou seja, mentimos para nós
mesmos. Má-fé é a condição de vida qual afastamos nosso olhar dos fatos, opções
ou escolhas que, de algum modo, sabemos estar presentes. Exemplos de má-fé:
- Não cursei moda porque meus pais queriam que eu fosse contador, como
eles.
- Não fui trabalhar na Califórnia porque minha avó materna estava doente
e não sabia quanto tempo ela viveria.
- Tive que aceitar as condições de trabalho desgastantes porque devia
favores ao meu chefe.
- Acabei casando porque não tive coragem de falar, na última hora, que
não queria mais ficar com aquela pessoa, tão meiga e inocente, mas que me
consome a paciência.
- Ela (ele) sempre acaba me obrigando a fazer o que não quero porque tem
um poder de persuasão imenso.
- Acabei não indo ao cinema e fui com eles no teatro (assistir a uma
peça que eu detesto) para não provocar um mal-estar no meu grupo de amigos.
- Eu não concordo com nada do que vocês dizem, mas vou me calar para não
ser o único “do contra”.
Claro que o processo de escolha não é tão fácil e causa
angústia. A consciência de alguém ter o seu próprio futuro permeado pelo medo
de não sê-lo; ou seja, no nada, causa uma angústia profunda. O exemplo que
Sartre nos dá é o de uma pessoa que sobe um caminho estreito, sem parapeito, ao
longo de uma trilha montanhosa. A possibilidade de ela se precipitar no abismo
que se abre ao lado de seus pés é inerente ao fato de ela existir. Aqui temos o
medo e a angústia. O defrontar-se perante a aniquilação do ser. A morte.
Há dois tipos de angústia: uma perante o passado e outra perante
o futuro. Ambos (passado e futuro) são permeados por uma liberdade estonteante
em relação ao que poderia ter sido feito de forma diferente no passado que já se
foi — e, portanto, está “fechado”, determinado — e a possibilidade de se fazer
qualquer coisa no futuro que está por vir. A consciência específica dessa
liberdade humana é a angústia. A angústia é a captação, através da reflexão, da
liberdade que existe por ela mesma. Podemos até fugir para ignorar essa condenação
de que a filosofia de Sartre nos faz ao vivermos a liberdade, mas não podemos
ignorar que estamos fugindo. Não há possibilidades de escaparmos com
subterfúgios dessa opção, que, por sua vez, remete-nos uma abertura de
possibilidades de vida futura.
Podemos nesse momento perceber como a consciência da morte,
do nada, gera angústia e nos leva à liberdade. Mas sem medo ou má-fé. Para
vivermos a liberdade, precisamos coragem de sermos livres, precisamos dominar o
medo e a angústia. Esses tópicos são fundamentais em filosofia da educação,
pois o ensino deve levar as pessoas à livre escolha, de preferência uma boa
escolha.”
“Um dos ditados gregos merece ser citado e será retomado
mais adiante: “Quando os deuses querem destruir alguém, primeiro o enchem de hybris”. Uma tradução livre seria:
quando os deuses querem destruir alguém, primeiro o enlouquecem. Hybris é a desmesura, a loucura. Desmesura
do quê? Das medidas humanas, ou seja, hybris
representa a atitude de um indivíduo de pensar que está acima dos limites
humanos, que imagina possuir algum poder divino. Quando os deuses querem
destruir alguém, primeiro o fazem pensar que é um deus. A educação pretende,
também, inserir o ser humano no contexto humano. Nem mais, nem menos. Igual aos
seus semelhantes.”
“Pessoas diversas em épocas e lugares diferentes passaram
por distintas experiências educacionais. Desde a Antiguidade, o processo
civilizatório dependeu da cultura e da educação que as pessoas desenvolveram e
transmitiram às novas gerações. Entender que vários desses povos, através da
história, deram importância ao processo educacional e puderam desenvolver-se
plenamente significa entender que a educação é uma contraposição à barbárie, à
disseminação da violência, da intolerância e do preconceito. Civilizar
significa desenvolver a capacidade de o ser humano viver em grupos, de forma
sedentária, em centros urbanos complexos e organizados. A educação é a base de
uma civilização desenvolvida de modo a incluir seus mais diversos grupos de
maneira harmônica e integrada.
Refletir sobre o nosso processo educacional pessoal ajuda
a entender o processo educacional mais amplo de nossa sociedade ao longo da
história.”
“De acordo com Georges Duby (O Tempo das Catedrais, 1979, p. 13-14), o Ocidente do ano 1000 é
rústico, aparece, diante de
Bizâncio, diante de Córdoba (dominação islâmica na Espanha), pobríssimo e
desamparado. Um mundo selvagem. Um mundo cercado pela fome. Tão dispersa, ainda
assim a população é demasiado numerosa. Luta com as mãos quase nuas contra uma
natureza indócil cujas leis a sujeitam, contra uma terra infecunda porque mal
dominada. Nenhum camponês, quando semeia um grão de trigo, conta colher muito
mais de três grãos, se o ano não for mau demais – o suficiente para comer pão
até à Páscoa. Depois terá de contentar-se com ervas, com raízes, alimentos de
ocasião arrancados à floresta e às margens dos rios. Às vezes, as carências
habituais dão lugar às penúrias mortais. Todos os cronistas desse tempo as
descreveram e não sem complacência: As gentes perseguiam-se umas às outras para
se devorarem, e muitos degolavam os seus semelhantes para se alimentarem de
carne humana, à maneira dos lobos.”
“O rei do século XI era um homem que conhecia as artes da
guerra, que manejava uma espada com destreza, mas que também lia livros. Os
reis ocidentais não eram mais como os antepassados bárbaros, iletrados. Assim
como os imperadores de Roma tinham imagem de fonte de saber e manancial de
sabedoria, os reis medievais precisavam conhecer os livros sagrados e, para
isso, tinham de saber ler. Os padres cristãos sabiam manejar livros, pois a
palavra de seu Deus se encontrava impressa nos textos. O rei, sendo sagrado,
devia conhecer as letras e destinar um de seus filhos a ser educado para ser
bispo, para auxiliá-lo na magistratura.
Carlos Magno foi um desses reis um pouco mais letrados, e
os soberanos do ano 1000
Fizeram questão de que os
mosteiros e as igrejas catedrais fossem bem providos de livros e mestres.
Desejaram estabelecer no seu palácio o melhor dos centros escolares. Entre os
filhos da aristocracia que passavam na corte a juventude, importava que aqueles
que não usariam as armas e que estabelecidos nas dignidades da igreja encontrassem
junto ao rei o alimento intelectual que lhes era indispensável. A escola
estava, por consequência, estreitamente ligada à realeza do século XI.
Finalmente, por duas razões, porque o monarca se considerava como sucessor dos
Césares, e mais ainda porque Deus, na escritura traduzida por São Jerônimo, se exprime
na linguagem de Augusto, a cultura que as escolas difundiam não era a atual nem
a indígena (local). Transmitia uma herança a que gerações reverentes tinhas
ciosamente salvaguardado na noite e nas ruínas da Alta Idade Média, a de uma
idade de ouro, a do Império latino. Era clássica e mantinha a recordação de
Roma.
Quantos homens puderam
aproveitar essa instrução? Em cada geração, algumas centenas, alguns milhares talvez
— e ao nível superior nunca acederam mais que algumas dezenas de privilegiados,
dispersos por toda a Europa, separados por enormes distâncias, mas que, no
entanto, se conheciam, correspondiam entre si, trocavam manuscritos. A escola eram
eles próprios, os poucos livros tinham copiado por sua mão ou que haviam
recebido de seus amigos e, em redor deles, um pequeno grupo de auditores, de
homens de todas as idades que tinham atravessado o mundo e desafiado os piores
perigos para passar algum tempo junto desses mestres e ouvi-los ler. Todos pertenciam
à Igreja, (Duby, 1979, p. 29-30).”
“Para Paulo Freire, vivemos em uma sociedade dividida em classes,
sendo que os privilégios de uns impedem que a maioria usufrua dos bens
produzidos, inclusive a educação.
Refere-se então a dois tipos de pedagogia: a
pedagogia dos dominantes, onde a educação existe como prática da dominação, e a pedagogia
do oprimido, que precisa ser realizada, na qual a educação surgiria como prática da liberdade. O movimento para a
liberdade deve surgir e partir dos próprios oprimidos, e a pedagogia decorrente
será “aquela que tem que ser forjada com
ele e não para ele, enquanto
homens ou povos, na luta incessante de recuperação de sua humanidade”. Vê-se
que não é suficiente que o oprimido tenha consciência crítica da opressão, mas,
que se disponha a transformar essa realidade; trata-se de um trabalho de
conscientização e politização. A
pedagogia do dominante é fundamentada em uma concepção bancária de educação
(predomina o discurso e a prática, na qual quem é o sujeito da educação é o
educador, sendo os educandos comparados a vasilhas a serem enchidas; o educador
deposita “comunicados” que estes recebem, memorizam e repetem), da qual deriva
uma prática totalmente verbalista. Dessa maneira, o educando, em sua
passividade, torna-se um objeto para receber paternalisticamente a doação do
saber do educador; sujeito único de todo o processo. Esse tipo de educação
pressupõe um mundo harmonioso, no qual não há contradições, daí a conservação
da ingenuidade do oprimido, que, como tal, se acostuma e acomoda no mundo
conhecido (o mundo da opressão) e eis
aí, a educação exercida como uma prática da dominação.”
Fonte: Centro de Referência Educacional, 2008
“As críticas dirigidas por Paulo Freire à educação
convencional classificam-na como “educação bancária”, alicerçada em uma “ideologia
de opressão”, que considera o aluno uma pessoa sem qualquer saber, destinado
apenas a ser um depositário dos dogmas do professor, o que prejudica
imensamente o processo educacional.
De acordo com Ghiraldelli Jr. (História da educação brasileira, 2006), A educação bancária, obra de Paulo Freire, foi resumida em vários
de seus outros livros por conter algumas características que ele pensava ser
fundamentais na problemática educacional:
1. O professor ensina, os alunos são ensinados.
2. O professor sabe tudo, os alunos nada sabem.
3. O professor pensa por si e pelos estudantes.
4. O professor fala e os estudantes escutam.
5. O professor estabelece a disciplina e os alunos são disciplinados.
6. O professor escolhe, impõe sua opção, os alunos se submetem.
7. O professor trabalha e os alunos têm a ilusão de trabalhar graças à
ação do professor.
8. O professor escolhe o conteúdo do programa e os alunos — que não são
consultados — se adaptam.
9. O professor confunde a autoridade do conhecimento com sua própria
autoridade profissional, que ele opõe à liberdade dos alunos.
10. O professor é sujeito do processo de formação, os alunos são simples
objetos.
Uma das grandes contribuições de Paulo Freire foi a
proposição de um modelo humanista e revolucionário de educação baseado no
respeito mútuo e na capacidade de todas as pessoas produzirem conhecimento, de
contribuírem para o processo educacional, possibilitando a socialização do
conhecimento como forma de adquirir cidadania, viabilizando uma maior igualdade
e justiça social.”
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