sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

As origens da pós-modernidade (Parte II), de Perry Anderson

Editora: Edições 70

ISBN: 978-972-44-1845-2

Tradução: Artur Morão

Opinião: ★★★☆☆

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Páginas: 186

Sinopse: Ver Parte I




Cinco passos

O texto fundador que abre The Cultural Turn, a conferência de Jameson no Whitney Museum of Contemporary Arts no Outono de 1982, que se tornou o núcleo do seu ensaio “Pós-modernismo — a Lógica Cultural do Capitalismo Tardio” publicado na New Left Review na Primavera de 1984, refez com uma penada o mapa inteiro do pós-moderno – um gesto inaugural prodigioso que, desde então, dominou o campo. Cinco passos decisivos assinalaram esta intervenção.

O primeiro, e mais fundamental, surgiu com o seu título – a ancoragem do pós-modernismo nas alterações objectivas da própria ordem económica do capital. Sem já ser um simples corte estético ou uma deslocação epistemológica, a pós-modernidade converte-se no sinal cultural de uma nova fase na história do modo dominante de produção. É surpreendente que esta ideia, perante a qual Hassan hesitara e que, em seguida, abandonara, tenha sido de todo estranha a Lyotard e a Habermas, embora ambos viessem de ambientes marxistas de nenhum modo inteiramente extintos.

No Whitney Museum, o termo “sociedade de consumo” actuou como uma espécie de mira preliminar para um estudo mais detalhado. Na versão subsequente, para a New Left Review, o “novo momento do capitalismo multinacional” torna-se o ponto central de forma ainda mais plena. Aqui, Jameson referiu a explosão tecnológica da electrónica moderna e o seu papel como força impulsionadora do lucro e da inovação; o predomínio organizacional das companhias transnacionais, que subcontratam no estrangeiro operações de manufactura em lugares de salários mais baixos; o enorme aumento no âmbito da especulação internacional; e o crescimento de consórcios dos meios de comunicação, que suscitam um poder sem precedentes nas comunicações e nas fronteiras. Estes desenvolvimentos tiveram consequências profundas em toda a dimensão da vida nos países industriais avançados – ciclos da actividade económica, padrões de emprego, relações de classe, destinos regionais, eixos políticos. Mas, numa consideração mais ampla, a mais fundamental de todas as mudanças reside no novo horizonte existencial destas sociedades. A modernização era agora quase total, apagando os últimos vestígios não só das formas sociais pré-capitalistas, mas de todo o interior natural intacto, do espaço ou da experiência, que as sustentara ou lhes havia sobrevivido.

Num universo assim expurgado da natureza, a cultura alargou-se de modo inevitável até ao ponto de se tornar virtualmente co-extensiva à própria economia, não só como a base sintomática de algumas das maiores indústrias do mundo – o turismo ultrapassa agora todos os outros ramos de emprego global – mas, muito mais profundamente ainda, como qualquer objecto material e serviço imaterial, torna-se inseparavelmente signo maleável e mercadoria vendível. A cultura neste sentido, como tecido inelutável da vida sob o capitalismo tardio, é agora a nossa segunda natureza. Se o modernismo foi buscar o seu objectivo e as suas energias à persistência do que ainda não era moderno, a herança de um passado ainda pré-industrial, o pós-modernismo significa o termo dessa distância, a saturação de cada poro do mundo no soro do capital. Sem ser assinalado por nenhuma cesura política forte, por nenhuma tormenta súbita nos céus históricos, este “apocalipse muito modesto ou suave, a mais pura brisa marítima”(84), representa uma transformação importante nas estruturas subjacentes da sociedade burguesa contemporânea.

Quais foram as consequências desta mudança no mundo objectivo para a experiência do sujeito? O segundo passo distintivo de Jameson foi uma exploração das metástases da psique, nesta nova conjuntura. Expresso inicialmente como um comentário conciso sobre a “morte do sujeito”, o desenvolvimento que fez deste tema depressa se tornou talvez a mais famosa de todas as facetas da sua construção do pós-moderno. Numa série de impressionantes descrições fenomenólogicas, Jameson delineou a Lebensvvelt característica da época como as formas espontâneas da sensibilidade pós-moderna. Era esta uma paisagem psíquica, afirmou ele, cujo fundamento foi abalado pela grande agitação dos anos sessenta – quando tantos recintos tradicionais da identidade foram desfeitos pela dissolução dos constrangimentos usuais – mas agora, após as derrotas políticas da década de setenta, expurgadas de todos os resíduos radicais. Entre os traços da nova subjectividade encontrava-se, de facto, a perda de todo o sentido activo da História, quer como esperança quer como memória. Desvaneceu-se o sentido carregado do passado – ou como leito febril de tradições repressivas ou como reservatório de sonhos frustrados; e a expectação intensa do futuro – como potencial cataclismo ou transfiguração – que caracterizara o modernismo. Quando muito, recuando gradualmente para um presente perpétuo, proliferaram retro-estilos e imagens como substitutos do temporal.

Na era dos satélites e da fibra óptica, por outro lado, o espacial domina, como nunca antes, este imaginário. A unificação electrónica da Terra, instituindo a simultaneidade dos acontecimentos em todo o globo como espectáculo diário, incrustou uma geografia vicária nos recessos de cada consciência, enquanto as redes envolventes do capital multinacional que, efectivamente, regem o sistema, excedem as capacidades de toda a percepção. O predomínio do espaço sobre o tempo na constituição do pós-moderno é, assim, sempre desequilibrado: pois as realidades a que ele responde constitutivamente o subjugam – induzindo, como Jameson sugere numa passagem famosa, aquela sensação que só se pode apreender por uma actualização sardónica da lição de Kant: o “sublime histérico”.

A histeria denota convencionalmente um exagero da emoção, um fingimento semiconsciente da intensidade para melhor ocultar uma indiferença interna (ou, psicanaliticamente, o contrário). Para Jameson, é esta uma condição geral da experiência pós-moderna assinalada por um “esmorecimento do afecto”, que se segue logo que o Si mesmo antigo se começa a esbater. O resultado é uma nova falta de profundidade do sujeito, já não contida em parâmetros estáveis, onde os registos de superior e inferior eram inequívocos. Aqui, pelo contrário, a vida psíquica torna-se desalentadamente acidentada e espasmódica, caracterizada por súbitas descidas de nível ou solavancos da disposição psíquica, que lembram, em parte, a fragmentação da esquizofrenia. Este fluxo sinuoso e balbuciante exclui o apego ou a historicidade. De modo significativo, às vacilações do investimento libidinal na vida privada correspondeu uma evolução dos indicadores generacionais na memória pública, já que as décadas posteriores aos anos sessenta tenderam a uniformizar-se numa sequência incaracterística subsumida no rótulo comum do próprio pós-moderno. Mas se semelhante descontinuidade enfraquece o sentido da diferença entre os períodos a nível social, os seus efeitos estão muito longe de serem monótonos a nível individual. Nelas, pelo contrário, as polaridades típicas do sujeito vão desde a exaltação da “corrida à mercadoria”, os êxtases eufóricos do espectador ou do consumidor, à dejecção para o coração do “mais profundo vazio niilista do nosso ser”, como prisioneiros de uma ordem que resiste a qualquer outro controlo ou significado(85).

Tendo estabelecido o campo de forças da pós-modernidade nas mudanças estruturais do capitalismo tardio, e subjacente a elas um escalonamento difuso de identidades, Jameson pôde dar o seu terceiro passo, no terreno da própria cultura. Aqui, a sua inovação foi tópica. Até então, toda a amostra do pós-moderno tinha sido sectorial. Levin e Fiedler tinham-no detectado na literatura; Hassan estendera-o à pintura e à música, embora mais por alusão do que por exploração; Jencks concentrara-se na arquitectura; Lyotard insistira na ciência; Habermas aflorara-o na filosofia. A obra de Jameson teve outro objectivo – uma expansão imponente do pós-moderno ao longo virtualmente do espectro total das artes e de grande parte do discurso que as protege. O resultado é um fresco incomparavelmente mais rico e mais global da época do que qualquer outro registo desta cultura.”

(84) Postmodernism, or, the Cultural Logic of Late Capitalism, Durham 1991, p. xiv.

 

 

“Juntamente com estas mudanças nas artes, e às vezes até com acção directa no seu seio, os discursos tradicionalmente implicados no campo cultural sofreram também em si uma implosão. O que antes eram as disciplinas rigidamente separadas da história da arte, crítica literária, sociologia, ciência política e história começou agora a perder as suas linhas claras, a cruzar-se entre si em investigações híbridas, transversais, que já não seria fácil atribuir a este ou àquele domínio. A obra de Michel Foucault, observou Jameson, era um exemplo proeminente de semelhante oeuvre esquiva a toda a definição. O que estava em via de substituir as antigas divisões das disciplinas era um novo fenómeno discursivo, que se expressa melhor com a sua abreviatura americana: theory – “teoria”. A forma distintiva de uma boa parte desta obra reflectia a crescente textualização dos seus objectos — o que se poderia chamar um revivescimento, imensamente mais versátil, da antiga prática do “comentário”. Exemplos marcantes deste estilo nos estudos literários foram a escrita desconstrucionista de Paul De Man e o “novo historicismo” de Walter Benn Michael, grupos de obras que Jameson sujeitou à admiração, mas também a uma crítica severa, sem rejeitar o próprio desenvolvimento de que a sua própria obra sobre Adorno se poderia, de múltiplos modos, olhar como um exemplo notável.

Para lá dos seus efeitos imediatos, o que esta reorganização do campo intelectual assinalou foi uma ruptura mais básica. A marca da modernidade, segundo a afirmação clássica de Weber, era a diferenciação estrutural: a autonomização de práticas e de valores, outrora intimamente associados na experiência social, em domínios nitidamente separados. Eis o processo que, no juízo de Habermas, nunca pode ser cancelado, sob pena de retrogressão. Com tais premissas, não podia haver sintoma mais ominoso de uma fissura no moderno do que o colapso destas divisões, com tanto esforço obtidas. Era o processo que Fried previra e receara em 1967. Uma década mais tarde, não só alastrara das artes às humanidades ou às ciências sociais, mas, com o advento do postal filosófico e o sinal de néon conceptual, estava a destruir a linha entre elas existente. O que a pós-modernidade parecia substituir era algo que os grandes teóricos da modernização tinham excluído: uma impensável desdiferenciação das esferas culturais.

Ancoragem do pós-modernismo nas transformações do capital; inquirição das alterações do sujeito; extensão do âmbito da investigação cultural — depois destes, Jameson poderia dar um quarto passo lógico. Quais eram as bases sociais e o padrão geopolítico do pós-modernismo? O capitalismo tardio permaneceu uma sociedade de classes, mas nenhuma classe, no seu seio, continuou a ser a mesma de antes. O vector imediato da cultura pós-moderna deveria, sem dúvida, encontrar-se na camada de novos empregados e profissionais afluentes, suscitados pelo rápido crescimento dos sectores de serviços e especulativos das sociedades capitalistas desenvolvidas. Por cima do frágil estrato dos yuppies assomavam as estruturas maciças das próprias empresas multinacionais – vastos servomecanismos de produção e de poder, cujas operações perpassam a economia global e determinam as suas representações no imaginário colectivo. Em baixo, por efeito do violento abalo de uma ordem industrial mais antiga, enfraqueceram as tradicionais formações de classe, enquanto se multiplicaram identidades segmentadas e grupos localizados, baseados de modo típico nas diferenças étnicas ou sexuais. À escala mundial – na época pós-moderna, a arena decisiva – nenhuma estrutura de classe estável se cristalizara ainda, comparável à de um capitalismo mais antigo. Os que estão em cima têm a coerência do privilégio; os que se encontram em baixo carecem de unidade e de solidariedade. Está ainda por aparecer um novo “trabalhador colectivo”. Trata-se de condições ainda com uma certa indefinição vertical.

Ao mesmo tempo, o súbito alagamento horizontal do sistema, com a integração, pela primeira vez, de virtualmente todo o planeta no mercado mundial, significa a entrada de novos povos no cenário global, cujo peso humano está em rápido crescimento. A autoridade do passado, em contínuo decrescimento sob as pressões da inovação económica no Primeiro Mundo, afunda-se de outro modo com a explosão demográfica no Terceiro Mundo, à medida que novas gerações dos vivos excedem todas as legiões dos mortos. Esta expansão dos limites do capital dilui, de modo inevitável, os seus fundos de cultura herdada. O resultado é uma característica descida de “nível” com o pós-moderno. A cultura do modernismo era inelutavelmente elitista: produzida por exilados solitários, minorias descontentes e rebeldes, vanguardas intransigentes. Sendo uma arte forjada, era constitutivamente antagónica: não só desprezava as convenções de gosto, mas, de modo significativo, desafiava também as solicitações do mercado. A cultura do pós-modernismo, argumentou Jameson, é, em contrapartida, muito mais demótica. Pois aqui esteve em acção uma outra e mais ampla espécie de desdiferenciação. O desprezo pelas fronteiras entre as belas artes foi um gesto habitual na tradição inconformada da vanguarda. A dissolução das fronteiras entre os géneros “superiores” e “inferiores” na cultura em geral, celebrada já por Fiedler no final dos anos sessenta, respondia a uma lógica diferente. Desde o início, a sua direcção era, sem margem para erros, populista. O pós-moderno foi, a este respeito, assinalado pelos novos padrões de consumo e de produção. Por um lado, por exemplo, proeminentes obras de ficção – enaltecidas por uma propaganda exuberante e por uma publicidade competitiva – conseguiram entrar regularmente nas listas das mais vendidas, se não no cinema, de um modo antes impossível. Por outro, um leque significativo dos grupos até então excluídos – mulheres, minorias étnicas e outras, imigrantes – tiveram acesso às formas pós-modernas, alargando consideravelmente a base da produção artística. Quanto à qualidade, foi inegável um efeito de nivelamento: passara o tempo das grandes assinaturas individuais e das obras-primas do modernismo. Isto reflectia, em parte, a reacção excessiva contra as normas do carisma, que eram agora anacrónicas. Mas expressava igualmente uma nova relação com o mercado – na medida em que esta era uma cultura de acompanhamento, mais do que de antagonismo, à ordem económica.

Aqui, porém, reside justamente o poder do pós-moderno. Enquanto o modernismo, nos seus dias mais prósperos, não fora mais do que um enclave, acentua Jameson, o pós-modernismo é agora hegemónico. Não quer isto dizer que ele esgote o campo da produção cultural. Qualquer hegemonia, como salientou Raymond Williams, foi mais um sistema “dominante” do que total, um sistema que – em virtude das suas definições selectivas da realidade – assegurava virtualmente a coexistência de formas “residuais” e “emergentes” que lhe resistiam. O pós-modernismo exerceu um domínio deste tipo, e não mais. Mas isto já era assaz amplo. Pois esta hegemonia não era uma ocorrência local. Pela primeira vez, ele foi tendencialmente global no seu propósito. Não, todavia, como mero denominador comum das sociedades capitalistas avançadas, mas como a projecção do poder de uma delas. “Pode dizer-se que o pós-modernismo foi o primeiro estilo global especificamente norte-americano”(87).

Se estas eram as coordenadas principais do pós-moderno, qual seria então a posição apropriada perante ele? O passo final de Jameson foi, porventura, o mais original de todos. Até então, poderia dizer-se que toda a contribuição significativa à ideia da pós-modernidade trazia consigo uma forte valoração – negativa ou positiva. Os juízos antitéticos de Levin e de Fiedler, do último Hassan e de Jencks, de Habermas e de Lyotard, proporcionam um padrão de orientação. A partir de um leque de distintas posições políticas, o crítico poderia ou lamentar o advento do pós-moderno enquanto corrupção do moderno ou celebrá-lo como uma emancipação. Desde muito cedo – logo depois da sua conferência – Whitney Jameson delineou uma combinatória engenhosa de tais oposições em “teorias do pós-moderno”, reproduzidas em The Cultural Turn. O objectivo deste exercício era indicar o caminho para fora deste espaço fechado, repetitivo. As próprias posições políticas de Jameson situavam-se muito à esquerda de qualquer das figuras nele localizadas. Só ele identificou, com firmeza, o pós-modernismo como um novo estádio do capitalismo, entendido nos termos marxistas clássicos. Mas a simples crítica mordaz não foi mais frutuosa do que a adesão. Era necessário outro tipo de compra.

A tentação a evitar era, acima de tudo, o moralismo. A cumplicidade do pós-modernismo com a lógica do mercado e do espectáculo era inegável. Mas a sua simples condenação como cultura era estéril. Repetidamente – para surpresa de muitos, tanto à esquerda como à direita – Jameson insistiu na futilidade do moralizar acerca do advento do pós-moderno. Por exactos que possam ser os juízos locais por ele proferidos, semelhante moralismo era um “luxo empobrecido”, que uma visão histórica não poderia fornecer(88). Nisto, Jameson foi fiel a convicções já há muito acalentadas. As doutrinas éticas pressupunham uma certa homogeneidade social, em que elas poderiam reescrever exigências institucionais como normas interpessoais e, assim, reprimir realidades políticas nas “categorias arcaicas do bem e do mal, já há muito desmascaradas por Nietzsche como vestígios sedimentares de relações de poder”. Muito antes de se devotar ao pós-moderno, ele definira a posição a partir da qual o encararia: “a ética, onde quer que reapareça, pode considerar-se como o sinal de uma tentativa de mistificar e, em particular, de substituir os juízos complexos e ambivalentes de uma perspectiva mais adequadamente política e dialéctica pelas simplificações cómodas de um mito binário”(89).

Estas observações tinham por alvo o moralismo convencional da direita. Mas aplicavam-se igualmente a um moralismo da esquerda, que procurava remover ou rejeitar o pós-modernismo em bloco. As categorias morais eram códigos binários da conduta individual; projectadas no plano cultural, tornavam-se intelectual e politicamente infrutíferas. Nem eram de maior proveito os tropos da Kulturkritik, com a sua fuga tácita para o imaginário de um ou outro passado idílico, a partir de cuja varanda se poderia reprovar um presente decaído. O empreendimento em que Jameson embarcou — afirmou ele que isto exigia muitas mãos era outra coisa. Uma crítica genuína do pós-modernismo não poderia ser uma sua rejeição ideológica. A tarefa dialéctica consistia antes em abrir através dele o nosso caminho de modo tão completo que a nossa compreensão do tempo surgisse, ademais, transformada. Uma compreensão totalizante do novo capitalismo ilimitado uma teoria adequada à escala global das suas conexões e disfunções – continuava a ser o projecto marxista irrenunciável. Excluía as respostas maniqueias ao pós-moderno. Aos críticos de esquerda, inclinados a suspeitar nele uma acomodação, Jameson replicou como equanimidade. Ainda não existia a acção colectiva necessária para confrontar esta desordem; mas uma condição da sua emergência era a capacidade de o apreender a partir de dentro, como um sistema.”

(87) Postmodernism, p. 20.

(88) Postmodernism, p. 62.

(89) Fables of Agression – Wyndham Lewis, the Modernist as Fascist, Berkeley e Los Angeles 1979, p. 56.

 

 

Consequências

Obtidos estes parâmetros, surgira uma descrição coerente da pós-modernidade. Doravante, uma grande visão domina o campo, estabelecendo, do modo mais incisivo possível, os termos da oposição teórica. É um destino normal dos conceitos estratégicos estar sujeitos a uma absorpção e inversão política inesperada, no decurso da luta discursiva acerca do seu significado. Caracteristicamente, neste século, o resultado foram os desvios para a Direita – “civilização”, por exemplo, outrora um estandarte valoroso do pensamento progressista do Iluminismo, a tornar-se um estigma de decadência nas mãos do conservadorismo alemão; “sociedade civil”, um termo da crítica para o marxismo clássico, mas agora ponto de atracção no idioma do liberalismo contemporâneo. Na autoridade relativa ao termo “pós-modernismo”, alcançada por Jameson, descortinamos a realização contrária: um conceito cujas origens visionárias ainda não estavam de todo delidas nos usos cúmplices com a ordem estabelecida, reconquistado por uma prodigiosa demonstração de inteligência teórica e de energia, em prol da causa de uma Esquerda revolucionária. Foi uma vitória discursiva alcançada contra todas as contingências políticas, num período de hegemonia neoliberal, quando todos os marcos familiares da Esquerda soçobravam, aparentemente, sob as ondas de uma reacção avassaladora. Foi decerto conseguida, porque o arranjo cognitivo do mundo contemporâneo que facultava se apossou de modo inesquecível – ao mesmo tempo, lírica e causticamente – das estruturas imaginativas e da experiência vivida do tempo e das suas condições limiares.

Como deveríamos nós situar semelhante realização? Duas respostas se oferecem. A primeira diz respeito ao desenvolvimento do próprio pensamento de Jameson. Existe aqui um notável paradoxo. O vocabulário do pós-moderno surgiu, como acima se referiu, relativamente tarde a Jameson, após sinais de uma reserva inicial. Mas a sua problemática já ali se encontrava há muito e desdobra-se através de obras sucessivas, com uma continuidade assombrosa. Na sua primeira monografia, Sartre – The Origins Of a Style (1961), escrita aos vinte e poucos anos, ele escrevia já acerca de “uma sociedade sem um futuro visível, de uma sociedade confundida pela permanência maciça das suas próprias instituições em que nenhuma mudança parece possível e a ideia de progresso está morta”(90). Dez anos mais tarde, em Marxism and Form, ao comparar o sedutor bric-a-brac do surrealismo com as mercadorias de um capitalismo pós-industrial – “produtos sem qualquer profundidade”, cujo “conteúdo plástico é de todo incapaz de servir de condutor da energia psíquica” – interrogava-se ele “se não estaremos aqui na presença de uma transformação cultural de proporções extraordinárias, de uma ruptura histórica de um tipo inesperadamente absoluto(91)?”

Marxism and Form terminava com a observação de que havia emergido uma nova espécie de modernismo, articulado por Sontag e Hassan, que – como havia feito um modernismo mais antigo — já “não contava com a hostilidade instintiva de um público de classe média, cuja negação ele representava”, mas era bastante popular; talvez não nas pequenas cidades do Midwest, mas no mundo dominante da moda e dos meios de comunicação”. Os filmes de Warhol, as novelas de Burroughs, as peças de Beckett eram deste jaez; e “não tem força vinculatória alguma a crítica que se não submeta ao fascínio de todas estas coisas como estilizações da realidade”(92). Um registo semelhante intenta The Prison-House of Language, onde a “justificação mais profunda” do uso de modelos linguísticos no formalismo e no estruturalismo não reside tanto na sua validade científica quanto no carácter das sociedades contemporâneas”, “que proporcionam o espectáculo de um mundo de formas donde a natureza enquanto tal foi eliminada, um mundo saturado de mensagens e de informação, cuja rede intrincada de mercadorias se pode ver como o verdadeiro protótipo de um sistema de signos”. Havia assim “uma profunda consonância entre a linguística como método e o pesadelo sistematizado e desencarnado que é, hoje, a nossa cultura”(93).

Passagens como esta soam como outras tantas afinações orquestrais preliminares para a futura sinfonia. Mas se anteciparam de modo tão directo motivos condutores da apresentação do pós-moderno feita por Jameson, havia talvez outro presságio indirecto do que estava para vir. Desde o início, ele parece ter pressentido uma espécie de petrificação do moderno enquanto conjunto de formas estéticas, que arrastou o seu interesse para autores que as desactivaram ou as abordaram rudemente. Os dois romancistas a que ele dedicou estudos independentes são Jean-Paul Sartre e Wyndham Lewis. Uma das razões da atracção que por eles sentiu é, sem dúvida, a de que ambos foram escritores altamente políticos, nos extremos opostos do espectro: Esquerda iconoclasta e Direita radical. A outra, pelo próprio sublinhada, é o que Jameson chama “optimismo linguístico”, que eles partilhavam a confiança em que qualquer coisa se podia expressar em palavras, contanto que fossem assaz impraticáveis(94). Mas igualmente importante, e não sem relação, era a sua perspectiva face à corrente principal do modernismo – Lewis isolado pelo seu expressionismo mecanicista, Sartre pelos seus retornos ao aparato do melodrama. Involuntariamente num caso (a subsequente negligência de Lewis que preservava, como que numa cápsula do tempo, “uma frescura e uma virulência” da estilização moribunda no embalsamamento dos seus grandes contemporâneos), e voluntariamente no outro (o abandono deliberado de Sartre das formas consagradas e das “vocações passivas-receptivas” dos grandes modernos)(95), estes escritores foram aqueles que, a seu modo, tinham já colidido com os limites do modernismo. Tempos houve em que Jameson pensou que poderia, para lá deles, emergir uma nova espécie de realismo. Mas o espaço de um salto mortal para o pós-moderno estava já a ser limpo.

Numa perspectiva biográfica, a deslocação de Jameson para uma teoria do pós-modernismo afigura-se assim virtualmente inscrita, desde o início, na sua trajectória — como que com a estranha coerência de uma “escolha original”, no sentido sartreano. Mas há outro modo de encarar o mesmo resultado. Os escritos de Jameson sobre o pós-moderno pertencem a uma linha intelectual específica. Nos anos a seguir à Primeira Guerra Mundial, quando a grande onda de agitação revolucionária na Europa Central esmorecera e o Estado soviético estava já burocratizado e isolado, desenvolveu-se na Europa uma diferente tradição teórica que viria a adquirir o nome de marxismo ocidental. Nascido da derrota política – o esmagamento das sublevações proletárias na Alemanha, na Áustria, na Hungria e na Itália por que tinham passado os seus primeiros grandes pensadores, Lukács, Korsch e Gramsci – este marxismo estava separado do corpo clássico do materialismo histórico por uma profunda cesura. Na ausência de uma prática revolucionária popular, desvaneceu-se a estratégia política para o derrube do capital, e uma vez que a grande depressão transitou para a Segunda Guerra Mundial, também a análise económica das suas transformações tendeu a eclipsar-se.

Em compensação, o marxismo ocidental encontrou o seu centro de gravidade na filosofia, onde uma série de proeminentes pensadores da segunda geração — Adorno, Horkheimer, Sartre, Lefebvre, Marcuse – construiu um notável campo de teoria crítica, não no isolamento quanto às correntes ambientes do pensamento não-marxista, mas tipicamente em tensão criativa com elas. Era uma tradição profundamente preocupada com questões de método – a epistemologia de uma compreensão crítica da sociedade — acerca da qual o marxismo clássico deixara poucos indicadores. Mas o seu propósito filosófico não era apenas processual: tinha um foco central de preocupação substantiva, que constituiu o horizonte comum desta linha enquanto todo. O marxismo ocidental foi, acima de tudo, um conjunto de investigações teóricas da cultura do capitalismo desenvolvido. O primado da filosofia na tradição deu a estes estudos um cunho particular: não exclusivamente, mas de modo decisivo, mantiveram-se fiéis às preocupações da estética. A cultura, fosse qual fosse o seu conteúdo, significava, acima de tudo, o sistema das artes. Lukács, Benjamin, Adorno, Sartre, Della Volpe constituíam aqui a regra; Gramsci ou Lefebvre, com um sentido mais antropológico de cultura, a excepção(96).

Em virtude das suas características comuns enquanto tradição, o marxismo ocidental teve, de múltiplos modos e relativamente, uma escassa consciência de si. Em geral, os seus pensadores principais estavam muito pouco informados uns acerca dos outros através das fronteiras linguísticas dentro da Europa. O primeiro trabalho que permitiu uma sinopse do seu repertório só apareceu no início da década de 70, vindo da América: e foi, nem mais nem menos, Marxism and Form. Aqui, como em nenhum texto anterior, surgiu numa perspectiva elegante a unidade e a diversidade do marxismo ocidental. Embora o livro de Jameson se concentrasse em Adorno e Benjamin, Bloch e Marcuse, Lukács e Sartre, deixando de lado Lefebvre e Gramsci – foi nisso fiel à promessa do seu título. A corrente dominante desta descendência era estética. Pela primeira vez, poderia dizer-se, o marxismo ocidental foi tacitamente confrontado com a sua verdade. Todavia, que significava semelhante totalização para o futuro desta tradição? Muitos foram, e no seu número me incluo, os que pensaram que as condições que o haviam produzido já tinham desaparecido, e que provavelmente outros tipos de marxismo — mais próximos dos modelos clássicos — o haveriam de substituir.

Este juízo assentava no fermento radical renovado na Europa Ocidental do final dos anos sessenta e do princípio da década de setenta e no retorno visível das energias intelectuais para as questões da economia política e da estratégia, que tinham dominado os propósitos mais antigos do materialismo histórico. A convulsão francesa de Maio de 1968 poderia olhar-se como um farol giratório desta mudança, emitindo o sinal de que o marxismo ocidental estava agora ultrapassado, transitando para a categoria de uma herança venerável. Um juízo mais acutilante viu a revolta de Maio a uma luz algo diferente, não como o fim, mas como o clímax dessa tradição. Raiding the Icebox de Peter Wollen é a única obra cujo poder se pode comparar com a de Jameson enquanto mapa da cultura do século XX. Um episódio central na sua narrativa é a crónica da Internacional Situacionista, a última das vanguardas históricas, “cuja dissolução em 1972 assinalou o fim de uma época, iniciada Paris com o Manifesto Futurista de 1909. Mas o situacionismo, que foi beber a Lukács, Lefebvre e Breton, não era apenas isto. Ao desencadearmos teoricamente a explosão de Maio de 1968, observa Wollen, “podemos vê-la também como a recapitulação do marxismo ocidental”(97).Esta era uma leitura mais plausível. Mas o seu resultado foi, todavia, de todo similar. Era necessário aprender e valorizar as lições do marxismo ocidental e das vanguardas clássicas, mas a sua época acabara – “chegara ao fim um período”(98).

A obra de Jameson mostraria que este veredicto era inteiramente falso. A sua teorização do pós-modernismo, encetada no princípio da década de 80, ocupa um lugar entre os grandes monumentos intelectuais do marxismo ocidental. De facto, poderia dizer-se que essa tradição alcançou aqui a sua culminação. Nascendo, mais uma vez, de uma experiência de fiasco político — o esvanecimento da agitação dos anos 60 – e desenvolvendo-se num contacto crítico com novos estilos de pensamento – estruturalista, desconstrucionista, neo-historicista — longe do marxismo, a obra de Jameson sobre o pós-moderno respondia às mesmas coordenadas básicas que os textos clássicos do passado. Mas embora ela seja, neste sentido, a continuação de uma série, é também a recapitulação do conjunto, num nível segundo. Pois aqui surgem misturados numa formidável síntese diferentes instrumentos e temas do repertório do marxismo ocidental. A Lukács foi Jameson buscar o seu empenho na periodização e no fascínio com a narrativa; em Bloch bebeu um respeito pelas esperanças e pelos sonhos ocultos num mundo objectivo conspurcado; em Sartre encontrou uma fluência excepcional com as texturas da experiência imediata; de Lefebvre assimilou a curiosidade acerca do espaço urbano; em Marcuse deparou com a busca do trilho do consumo da alta tecnologia; de Althusser extraiu uma concepção positiva da ideologia, enquanto imaginário social necessário; de Adorno aprendeu a ambição de representar a totalidade do seu projecto como simples “composição metafórica”(99).

Tais elementos não permanecem juntos e inertes numa combinação forçada. São mobilizados num empreendimento original que, aparentemente, os absorve sem esforço. Duas características conferem a esta obra a sua unidade peculiar. A primeira é a prosa do próprio Jameson. Observou ele, uma vez, que dos pensadores do marxismo ocidental Adorno era, “entre todos, o estilista supremo”(100).Mas alturas há em que qualquer leitor poderá suspeitar se a descrição se não aplicará melhor, ou de qualquer modo com mais consistência, a ele próprio. O seu primeiro livro abria com as seguintes palavras: “Sempre me pareceu que um estilo moderno é algo inteligível em si mesmo, acima e para lá do significado limitado do livro nele escrito, dos sentidos precisos que as frases singulares, que o integram, tentam transmitir(101).” Estudos futuros dos escritos de Jameson poderiam tomar isto como um mote. Por agora, basta advertir duas características de um estilo de esplendor irresistível. Os ritmos amplos de uma sintaxe complexa e, todavia, flexível – quase jamesiana nas suas formas de alocução — levam a cabo a absorção de muitas fontes variegadas na própria teoria; enquanto as súbitas erupções de intensidade metafórica, os estimulantes saltos figurativos com um brilho ousado muito seu, surgem como emblemas de movimentos diagonais arriscados, mais próximos de uma inteligência poética do que analítica, com que esta obra inesperadamente cruza e liga sinais díspares do fenómeno total em vista. Lidamos com um grande escritor.

Ao mesmo tempo, a obra de Jameson sobre o pós-moderno unifica as fontes em que bebe, no sentido substantivo mais profundo. A tradição marxista ocidental foi atraída para o estético como consolação involuntária pelos impasses do político e do económico. O resultado foi um leque notável de reflexões sobre aspectos diferentes da cultura do capitalismo moderno. Mas estes nunca foram integrados numa teoria consistente do seu desenvolvimento económico, permanecendo antes, de modo típico, num ângulo algo desligado e especializado do movimento mais amplo da sociedade: mesmo se acusada de um certo idealismo, do ponto de vista de um marxismo mais clássico. Em contrapartida, a elucidação que Jameson faz do pós-modernismo desenvolve, pela primeira vez, uma teoria da “lógica cultural” do capital, oferecendo ao mesmo tempo um retrato das transformações desta forma social enquanto totalidade. Trata-se de uma visão muito mais compreensível. Aqui, na passagem do sectorial para o geral, a vocação do marxismo ocidental alcançou a sua mais plena consumação.

As condições deste alagamento eram históricas. A opinião de que o final dos anos sessenta assinalou uma ruptura crítica no panorama da Esquerda não era de todo errada. Intelectualmente, como o próprio título do seu ensaio e do seu livro indica, a viragem de Jameson para a teoria do pós-moderno foi possibilitada pelo livro de Mandel, O Capitalismo Tardio, um estudo económico que se situava numa tradição distinta de qualquer matiz do marxismo ocidental. Empiricamente, a própria vida económica estava, de qualquer modo, tão perpassada pelos sistemas simbólicos de informação e persuasão que perdera significado a noção de uma esfera independente da produção mais ou menos acultural. Doravante, qualquer teoria importante da cultura estava obrigada, como nunca antes, a abranger mais aspectos da civilização do capital. O objecto tradicional do marxismo ocidental sofreu um imenso alagamento. Por isso, a retomada por Jameson da sua herança podia dar lugar a uma descrição muito mais central e política das condições da vida contemporânea do que as precedentes onde ela foi beber.

Crucial para o efeito da exposição de Jameson é aqui o seu sentido de “epocalidade”. Este modo de ler os sinais do tempo deve muito a Lukács. Mas os principais exercícios de Lukács na análise epocal, A Alma e as Formas e A Teoria do Romance, permanecem estéticas ou metafísicas. Quando se deslocou para o político, no seu notável e pequeno estudo Lenine, Lukács definiu a época inaugurada com a catástrofe da Grande Guerra como marcada, acima de tudo, pela “actualidade da revolução”. Desfeita, porém, esta expectativa pelos acontecimentos, já nenhuma descrição se podia seguir. Foi então Gramsci, o pensador dentro do marxismo ocidental a que Jameson menos recorrera, que tentou apreender a natureza da consolidação ou das contrarrevoluções do capital, entre as guerras. As suas notas sobre o fordismo representam, na realidade, o único precedente real nesta tradição para o empreendimento de Jameson. Não foi por acaso que elas suscitaram tanta discussão, depois da Segunda Guerra Mundial, ou tentativas várias para esboçar as características de um “pós-fordismo”, nas décadas de setenta e oitenta.

Mas, apesar de poderosas e originais (às vezes, intensamente idiossincráticas), as ideias de Gramsci acerca do fordismo – incluindo a produção em massa, a rigorosa disciplina do trabalho e os elevados níveis dos salários nos Estados Unidos, o puritanismo para as classes mais baixas e a libertinagem para as camadas superiores, a religião sectária na América liberal e a organização corporativista na Itália fascista – permaneciam, todavia, lacónicas e assistemáticas. De certo modo, a sua “epocalidade” também errou o alvo. À frente do seu tempo em muitos aspectos, atrás dele nuns quantos, estas notas revelaram-se após os acontecimentos, sobretudo como sugestivas. A exposição que Jameson faz do pós-moderno não contém lampejos comparáveis sobre o processo laboral ou a produção, em virtude de ele se apoiar numa literatura económica independente e muito peculiar. Mas é, sem dúvida, imensamente mais desenvolvida e pormenorizada quanto à definição de uma época, e baseada na experiência contemporânea. Contudo, muito da carga crítica desta teoria brota também da sua tensão com o clima genuíno da época, que ela delineia. Lemos, de facto, na primeira frase de Postmodernism: “É mais seguro apreender o conceito do pós-moderno como uma tentativa de pensar historicamente o presente numa época que se esqueceu de como pensar, em primeiro lugar, de um modo histórico”(102).

Se, de toda a maneira, a obra de Jameson surge como um grandioso final do marxismo ocidental, por outro lado, ela excedeu significativamente esta tradição. Nascida e alimentada na Europa, a obra dos seus pensadores mais importantes nunca foi muito além dela como força intelectual. Lukács foi conhecido no Japão antes da guerra e, no exílio, a Escola de Francoforte descobriu os Estados Unidos. Mais tarde, Sartre foi lido por Fanon, e Althusser estudado na América Latina. Mas, no essencial, era um marxismo cujo raio de influência permanecia restringido ao núcleo original do mundo capitalista avançado: ocidental não só nas suas origens e nos seus temas, mas também no seu impacto. A teoria do pós-moderno de Jameson rompeu com este padrão. As suas formulações iniciais centraram-se inicialmente na América do Norte. Mas à medida que a sua obra sobre a questão se desenvolveu, também as suas implicações se alargaram: o pós-modernismo, concluiu ele, era – não de modo adicional, mas intrínseco – o éter cultural de um sistema global que controlava todas as divisões geográficas. A sua lógica suscitou uma viragem importante no próprio campo da investigação de Jameson.”

(90) Sartre – The Origins Of a style, Nova lorque 1984 (2ª edição), p. 8.

(91) Marxism and Form, p. 105.

(92) Marxism and Form, pp. 413-414.

(93) The Prison-House of Language, Princeton 1972, pp. xviii-x.

(94) Sartre, p. 204; Fables of Aggression, p. 86.

(95) Fables of Aggression, p. 3; Sartre, p. 219.

(96) Discuti o fundo geral e a especificidade desta tradição em Considerations on Western Marxism, Londres 1976: acerca da última característica, ver pp. 75-78.

(97) Raiding the Icebox. Reflections on Twentieth Century Culture, Londres 1993, p. 124.

(98) Ibid.

(99) Ver Marxism and Form, p. 7.

(100) Marxism and Form, p. xiii.

(101) Sartre, p. vi.

(102) Postmodernism, p. ix.

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