Editora:
Expressão Popular
ISBN: 978-987-1183-71-5
Tradução: Maria Encarnación Moya
Opinião: ★★★★☆
Páginas: 448
Sinopse: Há
trinta e cinco anos de sua primeira edição, este livro torna-se cada vez mais
vigente, devido à necessidade de compreender e transformar nosso entorno
social, político, econômico e cultural. Porém, sobretudo se converte em uma
leitura indispensável pela riqueza de suas reflexões, distanciadas de todo
dogmatismo e revitalizadoras.
“Inclinamo-nos pelo termo “práxis” para
designar a atividade consciente objetiva, sem que, no entanto, seja concebida
com o caráter estritamente utilitário que se infere do significado do “prático”
na linguagem comum.
A CONSCIÊNCIA COMUM DA PRÁXIS
Entendida dessa forma, a práxis ocupa o lugar
central da filosofia que se concebe a si mesma não só como interpretação do
mundo, mas também como elemento do processo de sua transformação. Tal filosofia
não é outra senão o marxismo. Mas essa consciência filosófica da práxis não
deixa de ter antecedentes no passado, nem tampouco surge sob forma acabada com
a filosofia de Marx. O certo é que depois de superar o nível atingindo pelo
idealismo alemão, o marxismo representa sua consciência mais elevada, bem como a
vinculação teórica mais profunda com a práxis real. Nesse sentido, deixa para
trás a consciência idealista, mas deixa ainda mais longe o ponto de vista
imediato e ingênuo da consciência comum.
A concepção marxista da práxis não implica,
de modo algum, a volta a uma atitude pré-filosófica nem o retorno a um ponto de
vista filosófico como o do materialismo vulgar ou metafísico, ainda ligado por
certos fios ao da consciência comum e anterior às formas mais desenvolvidas do
idealismo (Kant, Fichte e Hegel). A concepção marxista da práxis, da qual partimos, não é, em suma, um
retorno, mas, sim, um avanço; é uma superação — no sentido dialético de negar e
absorver — tanto do materialismo tradicional como do idealismo, o que implica,
por sua vez, a tese de que não só o primeiro como também o segundo contribuíram
essencialmente para o surgimento do marxismo. E essa contribuição essencial do
idealismo se manifesta precisamente com respeito à práxis, embora a atividade
prática humana nele se apresente de modo abstrato e mistificado.
Para chegar a uma verdadeira concepção da
práxis, já agora entendida não como mera atividade da consciência — humana ou
supra-humana —, mas, sim, como material do homem social, teríamos de passar
necessariamente, do ponto de vista histórico-filosófico, por sua concepção
idealista. Mas a superação desta não podia significar, por sua vez, um retorno
à concepção idealista ultrapassada pelo idealismo e, menos ainda, o
restabelecimento da atitude imediata e ingênua da consciência comum. Não se
supera o idealismo filosófico com uma dose de “senso comum”, mas, sim, com
outra teoria filosófica que, precisamente por seu caráter materialista,
eleva-se ainda mais do que o idealismo sobre a consciência comum. O idealismo
filosófico não é superado, portanto, com qualquer filosofia, mas cabalmente com
aquela que, por revelar teoricamente o que a práxis é, aponta as condições que
tornam possível a transição da teoria à prática, e assegura a unidade íntima
entre uma e outra.”
“A teoria política de Maquiavel não é uma
mera generalização ou descrição de uma práxis política, senão uma tentativa de
guiar e conformar esta de acordo com os interesses da incipiente burguesia italiana
de seu tempo. Essa teoria, tal como a expõe em O príncipe, reflete a situação peculiar que vive a Itália nos séculos
15 e 16: uma Itália dividida em uma série de Estados que caminha, em virtude de
sua fragmentação, pela ladeira da decadência. Só se pode escapar dessa situação
abandonando as concepções políticas medievais e criando um Estado forte e
centralizado sob a firme direção do príncipe. Tal é a solução — e o fim — que
Maquiavel propõe aos seus compatriotas, ao mesmo tempo em que aponta os meios
mais eficazes — separando-os da religião e moral dominantes — para alcançar seu
objetivo. O que caracteriza positivamente um bom governante é — pensa Maquiavel
— sua capacidade e decisão para manter o poder e nesta tarefa não retroceder
diante de meio algum: o engano, a violência, a crueldade etc. Religião e moral
permanecem separadas da política, ou melhor, subordinadas a ela. Os limites de
uma e de outra são determinados pela própria política. A política — tal como
Maquiavel a encontra histórica, realmente — não é a esfera dos ideais e dos
princípios morais abstratos, senão dos interesses. O príncipe atua em função de
interesses gerais — os de uma burguesia que necessita de um poder forte e
centralizado. Uma vez traçado o objetivo histórico concreto que responde a
esses interesses sociais — unidade nacional, Estado forte — tudo depende do valor
e da astúcia do príncipe, mas também de sua inteligência, de sua compreensão
justa da situação, dos interesses particulares das forças em pugna, da
psicologia dos homens e dos meios a serem aplicados. Maquiavel pode tolerar um
crime, mas não um erro. Daí que a práxis política não possa prescindir da
teoria, de uma ciência política. Essa ciência política deve basear-se em fatos,
porém não só para descrevê-los ou justificá-los, mas, sim, e acima de tudo,
para abrir caminho através deles. Tal é a lição que — deixando de lado as
interpretações simplistas ou vulgares — Maquiavel oferece ao colocar sua teoria
a serviço de uma práxis política: a reclamada pela nascente burguesia na
situação concreta da Itália de seu tempo.”
15 “Aquele que se apaixona pela prática sem a
ciência — diz Leonardo — é como o piloto que sobe ao barco sem timão ou sem
bússola. (...) A ciência é o capitão e a prática, os soldados.”
“As imprecisões e limitações a que aludimos são
tão mais graves quanto mais consideramos o fato de que a práxis é, para quase
todos os marxistas, uma categoria fundamental, quando não a categoria filosófica
central, por intermédio da qual o marxismo se distingue de toda filosofia
anterior, e de cuja compreensão depende, portanto, a própria compreensão do
marxismo. Do papel que se atribui a essa categoria do ponto de vista filosófico
e histórico dependerá, certamente, que se conceba o marxismo: a) como uma filosofia a mais, isto é,
como uma interpretação do mundo entre outras, ou uma filosofia na qual o
individualismo foi invertido para pôr de pé o materialismo, ainda que tentando
salvar com essa inversão a dialética que se apresenta de forma mistificada; b) como uma filosofia da ação
transformadora e revolucionária, na qual a atividade em sua forma abstrata,
idealista, foi invertida para pôr de pé a atividade prática, real, objetiva do
homem como ser concreto e real, isto é, como ser histórico-social. A
reviravolta radical que o marxismo opera na história da filosofia é concebida
de modo muito diferente numa e noutra concepção. No primeiro caso, não se faz
mais do que passar de uma filosofia como interpretação (idealista) do mundo a
outra que não deixa de ser uma interpretação, ainda que materialista, do mundo,
com o qual se permanece dentro do marco filosófico ao que Marx se refere criticamente
na primeira parte de sua tese XI sobre Feuerbach (“Os filósofos limitaram-se a interpretar
o mundo de diferentes formas...”). No segundo caso, passa-se da filosofia como
interpretação à filosofia como teoria da transformação do mundo, da práxis,
pois — como diz Marx — “trata-se é de transformá-lo”.
Esse segundo ponto de vista é também o nosso.”
“Os trabalhos mais sistemáticos e
especializados sobre a práxis costumam limitar-se ao seu aspecto gnosiológico,
isto é, à prática como fundamento do conhecimento e critério de verdade.
Desse modo, se se concebe o marxismo como
filosofia da práxis e se considera que surgiu historicamente como uma teoria —
cientificamente fundamentada — da práxis revolucionária do proletariado, a
análise dessa categoria terá de transcender forçosamente o estreito marco da
gnosiologia. A práxis há de ocupar, em nosso estudo, o lugar central que Marx e
Engels sempre lhe atribuíram, desde suas “Teses sobre Feuerbach” e A ideologia alemã. Esse lugar
central é o que determina também a interpretação gramsciana
do marxismo como “filosofia da práxis”. Frente ao marxismo da II Internacional,
impregnado das concepções cientificistas, objetivistas e positivistas de finais
do século 19, que não deixam espaço para a prática revolucionária, e em
oposição à metafísica materialista, exemplificada pelo Manual de Bukharin, que restaura o velho materialismo adornando-o com
a dialética, restauração que implica o abandono do conceito de práxis, Gramsci
a eleva ao princípio unificador de todas as partes do marxismo e categoria
filosófica central. Certamente ele encontra o princípio unificador no “desenvolvimento
dialético das contradições entre o homem e a matéria”, matéria que, por sua
vez, é o resultado da práxis histórica anterior. A práxis é, para Gramsci, a
categoria central porque para ele o que existe, como resultado da ação transformadora
dos homens, é práxis. Ela é para Gramsci a única realidade (daí seu “imanentismo
absoluto”), realidade que também se encontra sujeita a um constante devir,
razão pela qual se identifica com a história (daí também seu “historicismo
absoluto”). Finalmente, enquanto essa história é a história da autoprodução do
homem, Gramsci qualifica sua filosofia de humanismo.
Como veremos, o instrumento de articulação
dessa tripla caracterização — imanentismo, historicismo e humanismo — é a
práxis e isso explica que desempenhe o papel de pivô conceitual da filosofia
gramsciana. Daí que nos pareça perfeitamente compreensível que, desde o
cárcere, Gramsci tenha substituído o termo “marxismo” pela expressão que melhor
podia caracterizá-lo. Essa expressão é justamente a de “filosofia da práxis”
toda vez que nela a práxis é seu princípio unificador e sua categoria central.
Alguns quiseram ver nessa denominação gramsciana uma expressão ocasional
imposta pela necessidade de iludir a censura em seus escritos do cárcere.
Porém, ainda que esse motivo circunstancial tenha existido, é indubitável que
Gramsci substituiu a palavra “marxismo” pela denominação que melhor correspondia
ao seu modo de concebê-lo. Com ela, queria enfatizar precisamente a oposição do
marxismo tanto ao materialismo mecanicista como à filosofia especulativa em
geral, desligada da história real e da atividade prática humana, particularmente
da política. Em poucas palavras, pretendia acentuar o papel do fator subjetivo
na história real, da consciência e da atividade revolucionária dos proletários
e, ao destacar esse papel da subjetividade, reagia contra um marxismo “preguiçoso”
que transformava o papel dos fatores objetivos e, particularmente, o
desenvolvimento das forças produtivas, na negação do papel da atividade prática
revolucionária, o que se traduzia no mais vulgar reformismo e oportunismo. Isso
explica que, antes de suas notas do Cárcere, atribuísse a um artigo seu o
surpreendente título — para um marxista — de “A revolução contra O capital”,35 referindo-se à
revolução russa de outubro de 1917. O título não parece tão surpreendente caso
se leve em consideração que Gramsci pretendia destacar o papel da atividade
prática revolucionária em um momento em que a maior parte dos chefes da
socialdemocracia europeia fazia tábua rasa dela. Mas essa preocupação legítima
não deve levar a uma subestimação do papel determinante dos fatores objetivos
que os oportunistas elevavam ao plano do absoluto. Tudo isso demonstra que a
justa caracterização do marxismo como filosofia da práxis implica sua unidade indissolúvel
como ciência e ideologia do proletariado, isto é, como teoria condicionada
historicamente e fundada cientificamente, razão pela qual não pode ser reduzido
à mera ideologia, esquecendo-se seu caráter científico.36”
35 Publicado em “Il grido del popolo”. Turím
(5 de janeiro de 1918), reproduzido em Rinascita,
XIV, número 4 (abril de 1957).
36 Esse esquecimento do caráter científico do
marxismo manifestou-se mais de uma vez na prática dos partidos comunistas e na
atividade teórica relacionada com ela. Por isso, não deixa de ser significativo
o título da obra coletiva Lire le Capital
(dois tornos, Paris, Maspero, 1965), que nos lembra, por contraste, o do
artigo de Gramsci: “A revolução contra o capital”. Trata-se, agora, de um
convite para ler o capital que implica, de fato, um convite para que se leve em
consideração o papel determinante dos fatores representados pelo mecanismo e
pela estrutura das capitalistas de assim como para abordar essas questões fundamentais
com o rigor e a objetividade que o caráter científico do marxismo exige. A
preocupação de autores — L Althusser, É. Balibar e R. Establet — é tão legítima
como a de Gramsci em sua época, e tão saudável como ela. Mas o preço que esses
rigoroso pesquisadores marxistas pagaram por defender o caráter científico do
marxismo é nada menos do que o esquecimento da práxis; o qual, tratando-se de
uma filosofia que sem deixar de ser ciência — ou justamente por sê-lo — é a
filosofia da transformação do mundo, é um preço que não se pode — nem é forçoso
— pagar.
“Referindo-se à atividade humana em geral,
Feuerbach diz que a religião nega o homem como ser ativo. Mas — segundo ele —
trata-se de uma negação aparente, se se leva em conta a essência antropológica da
religião. Se Deus é o ser ativo por excelência e, no entanto, é a essência
objetivada do homem, sua atividade nada mais é do que a atividade humana. “Quem
faz Deus agir de forma humana, declara a atividade humana como uma atividade
divina.”38 A atividade humana é transferida a Deus e, desse modo, o
homem deixa de ser, na aparência, um ser ativo, ou se o é, sua atividade
aparece como tendo sua fonte, seu impulso, fora dele. “Precisamente porque
considera a própria atividade apenas como uma atividade objetivada diferente de
si mesmo e o bem como um objeto, necessariamente recebe também o impulso não de
si mesmo, mas, sim, deste objeto.”39 A atividade pertence
originariamente a Deus, e não ao homem; mas, na verdade, é o homem quem o faz
agir. Deus é, aparentemente, o ser que atua e obra por si mesmo e que obra em
mim e para mim; ele é o princípio de minha ação. Mas isso não existe; é o homem
quem age e que é princípio de sua ação. Ao transferir sua atividade para Deus e
negá-la em si mesmo, “só aparentemente nega a atividade humana, pois na verdade
a converte em atividade suprema e realíssima.”40 Sabemos que o
homem, ao transferir seus atributos a Deus sem que seja consciente de que os transfere
a um ser ilusório, irreal, que é produto seu — o que, como vimos, é um dos
traços distintivos da alienação religiosa —, empobrece sua essência humana na
medida em que enriquece Deus com seus próprios atributos. Pois bem, a atividade
que o homem transfere a Deus também provoca sua própria passividade. Deus é ativo
por obra sua, mas na relação deformada que existe entre o sujeito — homem real
— e Deus como ser irreal e irrealmente ativo, o real é determinado pelo irreal.
A atividade divina não conhece limites: pode transformar a água em vinho,
ressuscitar os mortos, curar os doentes incuráveis etc. Uma atividade tão
poderosa exime o homem da necessidade de agir. Basta ter fé na onipotência divina
e esperar. A atividade todo-poderosa de Deus, por um lado, e a passividade
absoluta do homem, por outro, evidenciam-se no milagre. O milagre “satisfaz os
desejos humanos, sem trabalho nem esforço”.41 Feuerbach enfatiza que
o milagre é a negação da atividade do homem porque o exime da necessidade de agir.
O homem não age; espera que Deus aja por ele. Desse modo, a atividade humana é
sacrificada à ação supra-humana e ilusória de Deus.”
38 Feuerbach, Das wesen des
Christentums, p. 75.
39 Ibid., p. 76.
40 Ibid, p.75.
41 Ibid., p. 215-216.
“Com Marx, o problema da práxis como
atividade humana transformadora da natureza e da sociedade passa para o
primeiro plano. A filosofia se torna consciência, fundamento teórico e seu
instrumento.
A relação entre teoria e práxis é para Marx
teórica e prática; prática, na medida em que a teoria, como guia da ação, molda
a atividade do homem, particularmente a atividade revolucionária; teórica, na medida
em que esta relação é consciente.”
“O mais alto grau de consciência da práxis —
antes de Marx — é encontrado, como vimos, na filosofia idealista alemã e,
particularmente, em Hegel. Como já assinalamos, o idealismo alemão é
contemporâneo do movimento revolucionário francês que dá à burguesia sua plena
hegemonia no terreno político e social. O próprio Hegel reconheceria a existência
de uma vinculação entre a filosofia e a realidade revolucionária de seu tempo,
mas foi Marx quem mostrou claramente a relação entre a filosofia idealista e a
prática revolucionária de sua época, com a particularidade de que via essa
relação à luz das condições peculiares de um país como a Alemanha, que, por seu
anacronismo histórico, não estava em condições reais de dar um passo semelhante
ao que já se dera na França. Mas, observa Marx, o que os alemães não podem fazer,
eles o pensam, isto é, o fazem no terreno do pensamento.2 Hegel também
dissera, é certo, que a revolução desencadeada na realidade efetiva pelos
franceses estava presente entre os alemães sob a forma de pensamento. Mas uma
revolução que não ultrapassa esse marco deixa intacta, necessariamente, a
realidade efetiva e, com isso, não faz mais do que sancioná-la. Assim,
portanto, ainda que Hegel formule o problema das relações entre filosofia e
realidade, seu idealismo absoluto aspira a deixar o mundo como ele é, pois, a
seu ver, a missão da filosofia é dar razão do existente, e não traçar caminhos para
a transformação do real, ou, nas próprias palavras de Hegel em suas Lições sobre a história da filosofia: “O
fim último e o interesse da filosofia é conciliar o pensamento, o conceito, com
a realidade”.”
2 “Em política, os alemães pensaram o que
outros povos realizaram. A Alemanha era sua consciência teórica” (C. Marx, Em
torno a la crítica de la filosofia del derecho, de Hegel, Introducción,
em C. Marx e F. Engels, La
sagrada família y otros escritos filosóficos..., tradução de W. Roces,
Grio, 1958, p. 9).
“Mas como isso se compatibiliza com a afirmação
de Hegel, destacada e aprovada por Marx, de que o homem é o produto de seu
próprio trabalho?28 O trabalho não só produz objetos e relações
sociais, com um caráter alienante em ambos os casos, como também produz o
próprio homem. Portanto, o trabalho que, por um lado, nega o homem, por outro o
afirma, na medida em que o produz como tal.
Se o trabalho humano fosse marcado por uma
negatividade absoluta — perda total do humano, degradação em um sentido total
ao nível de animal ou de coisa —, não poderíamos conceber o modo como pode produzir
o homem enquanto homem. Poder-se-á objetar que Marx fala justamente da perda do
humano, entendida como animalização da existência — transformação do humano em
animal —, mas essas expressões devem ser tomadas no sentido de um descenso ao
nível mais íntimo do humano, não no sentido de que o homem tenha literalmente o
estatuto ontológico do animal ou da coisa. Mesmo estando alienado, o homem
continua sendo um ser consciente, ativo; se bem que consciente não no sentido
humano — propriamente criador — de sua atividade. Ainda que em um plano
impróprio, alienado, ainda que em um nível íntimo, está do lado do humano. Só o
homem se aliena, e apenas ele, porque é o produto de seu próprio fazer, de seu
trabalho; justamente porque ele faz o seu ser — em poucas palavras, por ser um
ente histórico —, o homem se encontra em um processo de produção de si mesmo,
isto é, de humanização, dentro do qual pode encontrar-se em níveis humanos tão
ínfimos como o do homem alienado ou coisificado.
Mas voltemos a Marx. O trabalho nega o homem
e, ao mesmo tempo, afirma-o. Não se deve entender isso — a nosso ver Marx não o
entendia assim — no sentido de que o trabalho seja pura negação, ou melhor, pura
afirmação.
Marx reprova o fato de Hegel não ter percebido
o aspecto negativo do trabalho — sua alienação —, mas essa reprovação pressupõe
a concepção hegeliana do trabalho, exposta na Fenomenologia
do espírito e sublinhada por Marx ao aprovar a tese de Hegel de que o
homem é o produto de seu próprio trabalho.
Para resolver essa contradição, deve-se ter
presente a distinção fundamental que Marx faz entre objetivação e alienação, ao
mesmo tempo em que estabelece uma relação entre elas, em virtude de que a primeira
torna possível a segunda.
O comportamento real, ativo, do homem diante de si como ser
genérico, ou a manifestação de si mesmo como um ser genérico, ou a manifestação
de si mesmo como um ser genérico real, isto é, como ser humano, só é possível
pelo fato de que ele cria e exterioriza realmente todas as suas forças genéricas — o que, por sua vez, só é
possível mediante a atuação conjunta dos homens, somente como resultado da
história — e se comporta diante delas como diante de objetos, o que, por sua
vez, torna possível, somente e acima de tudo, a forma da alienação.29
Dessa passagem, podemos extrair o seguinte: o
homem só se manifesta como ser humano na medida em que objetiva suas forças essenciais,
genéricas, mas essa objetivação — práxis material, trabalho humano — só é
possível quando o homem entra em relação com os outros — “mediante a atuação
conjunta dos homens”. Desse modo, o comportamento dos homens diante dessas
forças objetivadas como objetos, como se fossem algo alheio ou estranho, torna
possível a alienação.
O homem, para ser homem, não pode se manter
em sua subjetividade; tem de objetivar-se. Mas, nessa objetivação, ele se faz
presente como ser social.
A objetivação aparece como uma necessidade da
qual o homem não pode esquivar-se, ao fazer-se ou produzir-se como homem, e manter-se
em seu estatuto humano. O homem leva a cabo essa objetivação mediante o
trabalho e acarreta, em princípio, uma objetivação de seu próprio ser, de suas
forças essenciais. Como já assinalava Hegel, na Fenomenologia,
o homem, pelo trabalho, humaniza a natureza e humaniza-se a si mesmo, na medida
em que se eleva como ser consciente sobre sua própria natureza.30
Nesse sentido, a objetivação material — isto é, a produção — é essencial para o
homem.
A partir dos Manuscritos de 1844, a
produção começa a ganhar uma dimensão essencial para Marx. Mas essa dimensão é
determinada não só por seu conteúdo meramente econômico — produção de objetos úteis
que satisfazem necessidades humanas — mas fundamentalmente por seu conteúdo
filosófico, na medida em que a produção é, para Marx, autoprodução do homem. O
papel da produção, que nos Manuscritos
começa a esboçar-se sob o conceito econômico-filosófico de trabalho alienado,
se revelará já claramente como premissa fundamental de toda a história humana
e, desse modo, os Manuscritos
constituem uma contribuição decisiva à formação do pensamento de Marx. Essa contribuição
só pode ser observada se o processo formativo desse pensamento é visto como um
processo no qual a descontinuidade entre o Marx dos Manuscritos e o Marx posterior não é concebida como uma
descontinuidade radical, absoluta, e sim como uma descontinuidade que implica
necessariamente certa continuidade ou unidade. A descontinuidade radical só
pode ocorrer se eliminarmos do Marx dos Manuscritos
os elementos que podem assegurar essa unidade e se reduzirmos sua problemática
a uma problemática antropológica feuerbachiana, vendo-se nessa obra juvenil uma
simples extensão da teoria da “natureza humana” de Feuerbach à economia
política, problemática com que Marx somente romperia definitiva e
conscientemente em A ideologia alemã.31
Destroem-se, assim, as pontes entre as duas obras, sem que, no entanto, se diga
como foi possível passar (ou, mais exatamente, saltar) da problemática feuerbachiana,
especulativa ou ideológica dos Manuscritos
à problemática nova, científica do texto de 1845. A descontinuidade radical
entre o Marx de 1844 e o de 1845 só pode ser estabelecida se subestimarmos ou
ignorarmos a contribuição dos Manuscritos
para o conceito capital de produção. No entanto, já nessa obra de juventude, Marx
se aproxima de sua posterior fundamentação materialista da história, que
pressupõe necessariamente sua concepção imediatamente anterior do homem como ser
prático que, inclusive em sua alienação, se faz a si mesmo com seu próprio
trabalho, isto é, se autocria em e pela produção. Cornu afirmou claramente
a continuidade do pensamento de Marx ao explicitar o papel da teoria da alienação
na formação do conceito de práxis e ulteriormente de uma nova concepção da
história32. A tese fundamental dos Manuscritos — a transformação do homem e do mundo pelo trabalho —
mostra-se fundamental para o desenvolvimento ulterior do pensamento de Marx a
partir de A ideologia alemã, isto é, para
a formação de sua concepção da história humana como obra do desenvolvimento
dialético das forças produtivas e das relações sociais que os homens contraem
na produção.
A produção relaciona-se, em primeiro lugar,
com as necessidades. O homem tem necessidades e, justamente por isso, produz
para satisfazê-las. Também o animal tem necessidades e, de certo modo, também
produz. Mas o modo de se relacionar a necessidade e a produção modifica os
termos dessa relação. No animal — como enfatiza Marx —é direta, imediata e
unilateral; além disso, o primeiro termo determina o segundo, pois o animal só
produz sob o império da necessidade. No homem, essa relação é mediata, já que
só satisfaz a necessidade na medida em que esta perdeu seu caráter físico,
imediato. Para que o homem satisfaça propriamente suas necessidades, tem de
libertar-se delas superando-as, isto é, fazendo com que percam seu caráter meramente
natural, instintivo, e se tornem especificamente humanas. Isso quer dizer que a
necessidade propriamente humana tem de ser inventada ou criada. O homem,
portanto, não tem apenas necessidades, mas é o ser que inventa ou cria suas
próprias necessidades.
A produção é criação de um mundo objetivo,
mas só o homem pode dar a si mesmo o estímulo da produção, na forma de
necessidades que se vão criando em um processo sem fim. E na medida em que o
homem cria suas próprias necessidades se cria ou produz a si mesmo. Mas essa
produção do homem passou pelo tipo particular de produção que é a produção
alienada, isto é, a objetivação revestiu-se historicamente da forma de uma
objetivação alienada, sem que por isso o homem, como ser social, tenha deixado
de afirmar-se, de produzir-se a si mesmo.34
O trabalho — a produção — é o que eleva o
homem sobre a natureza exterior e sobre sua própria natureza, e é nessa
superação de seu ser natural que consiste propriamente sua autoprodução. Mas,
historicamente — e isso é o que faz com que a objetivação acarrete, por sua
vez, a negatividade própria do trabalho alienado — o homem só pode objetivar-se,
dominar a natureza, caindo em uma dependência com respeito aos outros. Nesse
sentido, podemos dizer que, para Marx, a alienação aparece como uma fase
necessária do processo de objetivação, mas uma fase que o homem há de superar,
quando se derem as condições necessárias, a fim de que possa desdobrar sua
verdadeira essência.
Assim, pois, a práxis material produtiva
exige que se ponham em relação e, por sua vez, que se distingam, objetivação e
alienação.
O homem só existe como tal e se autoproduz
como ser que se objetiva e produz um mundo humano. Mas essa objetivação
reveste-se necessária, mas não essencialmente, de um caráter alienado. Precisamente
por isso, a alienação pode ser superada; o mesmo não ocorre com a objetivação
que é, podemos dizer, constitutiva, essencial para o homem. Por isso, dizíamos
anteriormente, a produção é essencial e fundamental na vida social. A práxis
material, entendida sobretudo como atividade produtiva, já desde os Manuscritos, passa a ocupar o lugar
central no pensamento de Marx. O problema das relações entre sujeito e objeto,
não só em um sentido ontológico como também gnosiológico, tem de ser examinada
à luz dela.”
28 “O mais importante da Fenomenologia de
Hegel [é] ... que capte, portanto, a essência do trabalho e conceba o homem
objetivado e verdadeiro, por ser o homem real, como resultado de seu próprio
trabalho” (Manuscritos de 1844, op.
cit., p. 113).
29 Manuscritos de 1844. p. 113-114.
30 Cf.
Fenomenología
del espíritu, op. cit., p. 113.121.
31 L. Althusser. Pour
Marx. op. cit., p. 38-43.
32 Ver também, a apreciação de Cornu dos
resultados dos Manuscritos de acordo
com a gênese do materialismo histórico em A
ideologia alemã: nos Manuscritos
— diz — - Marx superava o pensamento burguês mais avançado representado pela
filosofia de Feuerbach e estabelecia os princípios do materialismo histórico,
fundamento do pensamento revolucionário proletário” (A. Cornu. “Le materialisme
historique dans L’idéologie allemande’”. Annali
1963, Milán, Feltrinelli, 1964, p. 58). Diante da tendência a abrir um abismo
insondável entre o Marx dos Manuscritos
e o Marx posterior, sobre a base da adscrição dos primeiros a um período
ideológico, reage também Mario Rossi, que, sem deixar de reconhecer neles
elementos tradicionais ideologia, vê também a superação dos limites desta.
“Apenas uma leitura não atenta e superficial pode interpretar os Manuscritos
como o documento de um perdurável ideologismo do jovem Marx” (M. Rossi. Marx e la dialettica hegeliana, t. 2.
Roma, Riuniti, 1963, p. 587). Rejeitando também a descontinuidade radical entre
os de 1844 e suas obras imediatamente posteriores, T. L. Oizerman aprecia,
assim, esta obra juvenil dentro da evolução do pensamento de Marx: “Os
Manuscritos econômico-filosóficos, apesar da influência do antropologismo de
Feuerbach, característica deles, e apesar dos velhos elementos de concepções
que superará posteriormente, assim como a uma terminologia que não corresponde
a seu conteúdo, constituem, no fundamental, à formulação de teses básicas do
materialismo dialético e histórico”. (T. L. Oizerman, Formirovanie filosofii marksizma [A formação da filosofia do
marxismo), Moscú. 1962, p. 304.)
33 Manuscritos econômico-filosóficos de 1844,
op. cit., p. 67-68.
34 Ibid., p. 88
35 Ibid., p. 82-83.
“A
PRÁXIS COMO CRITÉRIO DE VERDADE (TESE II)
Vejamos agora a tese II, cuja importância é
capital, já que nos faz ser o papel da prática no conhecimento em uma nova
dimensão: não só proporciona o objeto do conhecimento como também o critério de
sua verdade.
O problema da possibilidade de atribuir-se ao pensamento humano uma
verdade objetiva não é um problema teórico, mas, sim, um problema prático. É na
prática onde o homem deve demonstrar a verdade, isto é, a realidade e o poder,
a terrenalidade de seu pensamento. A disputa em torno da realidade ou
irrealidade do pensamento — isolado da prática — é um problema puramente escolástico.72
Infere-se essa tese da anterior. Se a práxis
é fundamento do conhecimento, isto é, se o homem apenas conhece um mundo na
medida em que é objeto ou produto de sua atividade, e se, além disso, apenas o
conhece porque atua, praticamente, e graças a sua atividade real, transformadora,
isso significa que o problema da verdade objetiva, ou seja, se nosso pensamento
concorda com as coisas que preexistem a ele, não é um problema que possa ser
resolvido teoricamente, em um mero confronto teórico de nosso conceito com o
objeto, ou de meu pensamento com outros pensamentos. Isto é, não se pode fundar
a verdade de um pensamento se não se sai da própria esfera do pensamento. Para
mostrar sua verdade há que sair de si mesmo, plasmar-se, ganhar
corpo na própria realidade, sob a forma de atividade prática. Só então, pondo-o
em relação com a práxis, na medida em que esta se encontra impregnada por ele,
e o pensamento, por sua vez, na práxis, um pensamento plasmado, realizado,
podemos falar de sua verdade ou falsidade. É na prática que se prova e se
demonstra a verdade, “o caráter terreno”, do pensamento. Fora dela, não é
verdadeiro nem falso, pois a verdade não existe em si, no puro reino do
pensamento, mas, sim, na prática. Neste sentido, Marx diz que a disputa em
torno da verdade ou falsidade (realidade ou irrealidade) do pensamento, à margem
da prática, é uma questão puramente escolástica. Isto é, ao julgar a verdade ou
a falsidade de uma teoria não podemos isolá-la da prática.”
72 C. Marx, “Teses sobre
Feuerbach”, op. cit., p. 634.
“Desse modo, as teses II e III estabelecem a
unidade entre a teoria e a prática em um duplo movimento: da teoria para a prática,
na tese II, e desta última para a teoria (na tese VIII). Assim, pois, a
concepção da prática como critério de verdade opõe-se tanto a uma concepção
idealista do critério de validade do conhecimento, segundo a qual a teoria
teria em si mesma o critério de sua verdade, como a uma concepção empírica
segundo a qual a prática proporcionaria na forma direta e imediata o critério
de verdade da teoria.
Tal é o papel da prática como critério de verdade,
independentemente das formas específicas que possa adotar nas diferentes ciências,
assim como das limitações de sua aplicabilidade que impedem que façamos dela um
critério absoluto de verdade.”
“Se como fruto das lutas dos trabalhadores, a
princípio discriminados e desagregados, se produz a “organização do
proletariado como classe”, isso quer dizer que para Marx e Engels o
proletariado como classe não é um dado imediato, pois sua organização não se dá
enquanto suas lutas locais não se centralizam em escala nacional. A classe não
existe isoladamente, mas, sim, em uma relação de luta (de luta política) contra
outras classes. Finalmente, o proletariado apenas se constitui como classe
quando tem consciência de seu próprio interesse diante da burguesia,
consciência que adquire na luta e que passa historicamente por diferentes
níveis, claramente expostos no Manifesto até chegar à
sua expressão mais alta como consciência da necessidade da revolução.
Enquanto o proletariado é uma massa dispersa
e desagregada que não luta propriamente contra a burguesia, não se constitui
como classe e só o é potencialmente. No entanto, diferentemente de outras classes
(“estamentos médios: pequeno industrial, pequeno comerciante, artesão, camponês”)
ou, à diferença do lumpemproletariado, “apenas o proletariado é uma classe verdadeiramente
revolucionária”, e isso em virtude de suas condições de existência. Os
proletários não têm propriedade; não têm nada que salvaguardar e apenas podem
conquistar forças sociais produtivas “abolindo seu próprio modo de apropriação em
vigor”. Trata-se, portanto, de um processo prático cujo sujeito é o proletariado;
o meio, a luta violenta e o fim, o estabelecimento de sua própria dominação,
ou, nas palavras do Manifesto: “A guerra civil
mais ou menos oculta que se desenvolve no seio da sociedade existente transforma-se
em uma revolução aberta, e o proletariado, derrubando a burguesia pela
violência, implanta sua dominação”.105 Vemos, portanto, que a “organização
do proletariado como classe” significa, ao mesmo tempo, sua constituição como
sujeito da práxis revolucionária.”
104 Manifesto,
op. cit., p. 119.
105 Ibid.,
p. 121.
“Depois de examinar a concepção marxista da
práxis, chegamos à conclusão de que essa categoria é central para Marx, na
medida em que somente a partir dela ganha sentido a atividade do homem, sua história
e o conhecimento. O homem se define, certamente, como ser prático. A filosofia
de Marx ganha, assim, seu verdadeiro sentido como filosofia da transformação do
mundo, isto é, da práxis. (...)
O objeto de análise desses problemas tenderá
a confirmar que a justa interpretação do marxismo exige situar a práxis — como,
a nosso ver, Marx pretendia — no centro de sua filosofia. Quando Marx instala —
em suas Teses sobre Feuerbach — a
categoria de práxis como eixo de sua filosofia, já não é possível voltar, em
seu nome, a posições filosóficas que são superadas justamente com tal
categoria. Nem o objeto pode ser mais considerado à margem da subjetividade
humana, fora de sua atividade — concepção do materialismo metafísico e, em
geral, de todo materialismo vulgar —, nem a atividade da qual o objeto é
produto pode ser entendida — como faz o idealismo — como mera atividade espiritual,
embora se trate da atividade da consciência humana.
Marx encontra-se em relação tanto com uma
como com outra filosofia, mas entendida essa relação como negação e superação
delas. Se o materialismo contemplativo rejeita legitimamente que o mundo real
seja um produto da consciência, e vê a natureza real, material do sujeito e do
objeto, reconhece essa materialidade ao preço de colocar tanto um como outro —
como diz Marx — em uma relação abstrata, exterior. A superação desse
materialismo radica-se, pois, em reconhecer uma materialidade que pressuponha,
por sua vez, a atividade subjetiva. Se o idealismo, ao contrário, vê o lado
ativo da relação sujeito-objeto, vê apenas a atividade da consciência do
sujeito e perde de vista o lado material, objetivo dessa atividade. O caminho
da superação dessa limitação é justamente reconhecer a atividade subjetiva,
mas, ao mesmo tempo, sua materialidade, tanto na atividade em si como em seus
produtos. Nesse sentido, cabe dizer que o materialismo marxiano é a inversão do
idealismo concebido como filosofia da atividade ideal, e, em forma mistificada,
do homem. Marx, por isso, não é Hegel antropologizado nem Feuerbach
historizado. Tanto um como outro não superam o marco da filosofia como
interpretação do mundo; seu âmbito, seu elemento próprio comum, é a teoria como
o é em grande parte o do jovem Marx até as Teses sobre Feuerbach e A ideologia alemã. O âmbito
novo, no qual se realiza propriamente a inversão do idealismo absoluto de Hegel
e do antropologismo de Feuerbach, é a práxis, e essa inversão traz em si
necessariamente — ao ter de fundar histórica e realmente a atividade prática
humana, suas condições, limites e possibilidades — uma mudança radical no
marxismo como teoria, mudança que se expressa na clássica formulação da
passagem do socialismo como utopia ao socialismo como ciência. Somente assim o
marxismo chegou a ser, e é atualmente, um processo tão infinito como seu
objeto, filosofia da atividade real, objetiva, isto é, da práxis. Tal é o
sentido da expressão de Engels: o proletariado alemão é o “herdeiro da filosofia
clássica alemã”. Se o idealismo é uma filosofia da atividade, o marxismo é
propriamente a filosofia da verdadeira atividade transformadora, isto é,
prática.
Como filosofia da práxis, o marxismo é a
consciência filosófica da atividade prática humana que transforma o mundo. Como
teoria, não só se encontra em relação com a práxis — revela seu fundamento, condições
e objetivos — como também tem consciência dessa relação e, por isso, é um guia
da ação.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário