Editora: InterSaberes
ISBN: 978-85-4430-374-0
Opinião: ★★☆☆☆
Páginas: 196
Sinopse: Ler e escrever textos filosóficos exige que o indivíduo tenha um
desejo profundo de conhecimento. O filósofo precisa ser incansável na busca
pela compreensão da realidade, conhecendo os diversos pensamentos filosóficos e
arriscando-se à práxis filosófica. Para fazer bem isso, também deve ter sólido repertório
e capacidade de reflexão, pois a investigação filosófica depende de entender e
identificar divergências e nuances de concepções filosóficas, bem como
contextos históricos. Assim, o conteúdo deste livro proporciona ao leitor a
base necessária para o exercício constante da filosofia.
“A filosofia, segundo Merleau-Ponty (Elogio da filosofia, 1986), é pensar o já pensamento. Em outras
palavras, consiste em um exame profundo daquilo que supostamente já se tem como
conhecido, para que seja possível identificar inconsistências, tornando os
argumentos mais sólidos. É por isso que as interrogações são primordiais na
busca filosófica. As perguntas são princípios de buscas e propõem novos
problemas. Não à toa Jaspers (Introdução ao pensamento filosófico, 2003) afirmou que, durante a investigação
filosófica, os questionamentos têm maior significância que as respostas.”
“A leitura, a compreensão e a escrita de
textos associadas à ação docente constituem o ofício do filósofo e, de certo
modo, são indissociáveis. O exercício da ação docente pressupõe a leitura e a
escrita, da mesma forma que a produção de texto deve ser orientada pela prática
docente.
Considerando que toda filosofia deve ser
emancipatória, formadora da consciência crítica e visar ao esclarecimento, no
Brasil, essa formação é urgente. Por esse motivo, o filósofo assume um papel
maior do que simplesmente transmitir conhecimentos: um papel social de formador
de uma consciência que dotará o estudante da autonomia e da capacidade
necessárias para atuar em sua realidade, contribuindo para uma transformação
social.”
“A ação docente é importante para demonstrar
que a complexidade da práxis impede a mobilização do sentido textual. De certa forma,
sempre que se postula um enunciado, que se tem a pretensão de anunciar a
realidade como uma verdade objetiva, nega-se o fluxo contínuo da existência e
do texto, o que, em suma, acaba por “empobrecer” a realidade — e, portanto, não
se trata de fazer filosofia.
Assim, a ação docente em filosofia
fornece os dados de uma realidade que está em constante movimento, razão por
que a práxis educativa se torna essencial à construção e orientação do
pensamento filosófico, ou, segundo Nascimento (Textos filosóficos, 1986,
p. 8), “a razão e o sentido não excluem a imprevisibilidade, os desvios e as
angústias, uma vez que o homem está na história como quem se procura, não como quem
já se encontrou”.
A leitura filosófica não se restringe aos
textos clássicos, de autores consagrados da filosofia. O que torna uma leitura
de fato filosófica é o processo de escuta, o "exercício paciente de escuta
do texto escrito" (Fabbrini, Trans/Form/Ação, 2005, p. 7). Isso
exige que a leitura seja perene, que não se esgote durante o processo de
formação, uma vez que deve perpassar toda a existência, Quanto mais se lê, mais
se compreende e, por conseguinte, mais há a construção de um repertório necessário
para se transitar no universo simbólico das palavras, o que não somente gera
novos conhecimentos, mas também um domínio intelectual sobre os signos.”
“A práxis não é somente prática, tampouco
pensamento puro. Ela é a tradução da perfeita integração entre pensamento e
ação.”
“Durkheim, famoso sociólogo do século XX, em
seu livro Educação e sociologia (1978,
p. 42), define educação da seguinte
maneira:
Ação exercida, pelas gerações adultas, sobre as gerações que não se
encontrem ainda preparadas para a vida social; tem por objeto suscitar e
desenvolver, na criança, certo número de estados físicos, intelectuais e
morais, reclamados pela sociedade política, no seu conjunto, e pelo meio
especial a que a criança, particularmente, se destine.
Com base nessa definição, podemos concluir
que a educação exige uma metódica socialização das novas gerações. Assim, de acordo
com a ideia de Durkhein (1978), podemos afirmar que, em cada um de nós, existem
dois seres:
Um, constituído de todos os estados mentais que não se relacionam senão
conosco mesmo e com os acontecimentos de nossa vida pessoal; é o que se poderia
chamar de ser individual. E o outro, seria então, um sistema de ideias,
sentimentos e hábitos, que exprimem em nós, não a nossa individualidade, mas o
grupo ou os grupos diferentes de que fazemos parte; tais são as crenças e as
práticas morais, as tradições nacionais ou profissionais, as opiniões coletivas
de toda espécie. Seu conjunto forma o ser social. (Durkhein, 1978, p. 42).
O primeiro é aquele constituído pelos estados
mentais, pela psique humana; é um todo complexo que envolve nossa vida pessoal,
ou seja, os pensamentos e as ações que dizem respeito apenas ao indivíduo. Já o
segundo é o fato social que Durkheim (1978) descreveu como sendo o modo de agir,
sentir e pensar de um determinado grupo de pessoas. Ao contrário do primeiro,
que faz menção ao ser individual, o segundo faz menção ao ser social, à
coletividade. As crenças e práticas morais, por exemplo, dizem respeito sempre à
coletividade. Por mais que o indivíduo tenha sua própria crença ou prática
moral, devemos recordar que elas são influenciadas pela coletividade. Por esse
motivo, podemos afirmar que os indivíduos influenciam o coletivo da mesma forma
que o coletivo influencia os indivíduos, estabelecendo-se entre eles uma relação dialética.
O papel da educação é justamente criar indivíduos
que sejam seres sociais capazes de, mas que conviver em coletividade, construir
a coletividade de forma e responsável. De acordo com o próprio Durkheim (1978),
constituir esse ser em cada um de nós é o objetivo da educação.”
“É neste sentido que melhor se revela a importância
do trabalho educativo. Na verdade, segundo Dukheim (1978, p. 42),
Espontaneamente, o homem não se submeteria à nenhuma autoridade
política; não respeitaria a disciplina moral, não se devotaria, não se
sacrificaria. Nada há em nossa natureza congênita que nos predisponha a
tornar-nos, necessariamente, servidores de divindades, ou de emblemas
simbólicos da sociedade, que nos leve a render-lhes culto, a nos privarmos em
seu proveito ou em sua honra. Foi a própria sociedade, na medida de sua
formação e consolidação, que tirou de seu próprio seio essas grandes forças
morais, diante das quais o homem sente a sua fraqueza e inferioridade.
Cada indivíduo, ao nascer, não traz mais que
sua própria natureza de indivíduo. Não se nasce um ser moral ou ético, mas o
contrário disso. Ao passar a existir, cada novo ser não traz nada consigo que
não seja seu instinto animal, sua natureza primeira. Por essa razão, Durkheim
(1978, p. 42) afirma que: “A sociedade se encontra, a cada nova geração, como
que em face de uma tabula rasa, sobre a qual é preciso construir quase tudo de
novo. É preciso que, pelos meios mais rápidos, ela agregue ao ser egoísta e
a-social, que acaba de nascer, uma natureza capaz de vida moral e social”.
De acordo com Durkheim (1978), este é o papel
da educação. Não é objetivo dela desenvolver o homem de acordo com aquilo que naturalmente
ele conhece ou tornar os elementos não revelados mais tangíveis. A educação,
antes de qualquer outra coisa, deve criar um ser novo, social, capaz de agir de
acordo com normas morais. Ela satisfaz, antes de tudo, a necessidade social
—embora, cabe ressaltar, existam sociedades em que certos predicados não são cultivados
e, mais ainda, têm sido muito diversamente compreendidos, segundo cada grupo social
considerado.
Os indivíduos não têm, por si mesmos, o
apetite instintivo pela ciência, como tantas vezes e tão arbitrariamente se tem
afirmado. Eles não desejam a ciência; mas, se a desejam e a buscam, é porque a
experiência lhes tem demonstrado que não podem viver sem ela.
Rousseau, filósofo do século XVIII, já
afirmava que, para satisfazer as necessidades da vida, a sensação, a experiência
e o instinto podem bastar, como bastam aos animais. De acordo com Durkheim (citado
por Filloux, Émile Durkheim, 2010, p. 52):
Se o homem não conhecesse outras necessidades senão essas, muito
simples, que têm raízes em sua própria constituição individual, não se teria posto
no encalço da ciência, tanto mais que ela não pode ser adquirida senão após
duros e penosos esforços. O homem não veio a conhecer a sede do saber senão
quando a sociedade sentiu que seria necessário fazê-lo.
Afirmar que o ser humano não necessita da sociedade
ou muito menos da educação para viver é ignorar o que realmente o torna humano,
uma vez que, conforme Durkheim (1978, p. 43), “0 homem não é humano senão porque
vive em sociedade”. Se fosse retirado do homem tudo aquilo que a sociedade lhe
proporciona, ele retornaria à condição animal e viveria de modo semelhante a
outras espécies.”
“Professores e estudantes de filosofia estão imersos
em uma comunidade que é fruto da prática de todos. Não se pode afirmar que o educador
é detentor da cultura ou do conhecimento a ser ensinado, porque tanto a cultura
quanto o conhecimento são frutos de uma prática
coletiva. Por isso, talvez, a palavra que melhor descreva a relação entre
ensino e aprendizagem não seja ensinamento,
mas, antes compartilhamento.
A prática pedagógica, contudo, está
condicionada por divisões sociais resultantes de uma sociedade dividida em
classes — uma segmentação que acaba por gerar uma série de implicações. De todo
modo, vale lembrar que, se a educação é condicionada, ela também condiciona.
Ela contribui para a difusão de uma nova concepção de mundo e um novo projeto
histórico, que serve de base para que o indivíduo tenha uma visão mais ampla da
realidade, o que, certamente, influenciará em sua leitura do mundo. A educação
pode ainda, como queria Paulo Freire, contribuir para o surgimento de uma
hegemonia correspondente ao projeto de emancipação dos oprimidos.
Todavia, é notório que a educação em uma
sociedade desigual reproduz desigualdades, forçando os indivíduos menos
favorecidos a permanecer em seu estado inferior e propiciando o crescimento dos
mais favorecidos. Dessa forma, consagra que apenas minorias reduzidas possam
desfrutar de suas benesses. Contudo, a educação deve ser maior que as classes
sociais e indispensável para a sociedade, pois “é uma invenção humana e, se em
algum lugar for feita um dia de um modo, pode ser mais adiante refeita de
outro, diferente, diverso, até oposto” (Brando, O que é educação?, 2002, p. 99).
À medida que as classes menos favorecidas se
tornam cada vez mais presentes, elas, com sua maneira especifica de ser, pensar
e agir, entram em contradição com a proposta pedagógica escolar, que se encontra
de acordo com a lógica da classe que domina a sociedade. Segundo Martins (1989,
Didática teórica, didática
prática, p. 174), as classes menos favorecidas
pressionam o professor a buscar alternativas para dar conta das
dificuldades apresentadas por aqueles alunos. Os professores, aceitando esse
desafio e procurando alternativas, mesmo não tendo a compreensão profunda da
direção, se posicionam a favor dessas classes e vão gerando, na prática, os
germes da destruição dessa organização que é excludente cm relação à maioria
dos seus alunos e a si próprios.
É nesse contexto que a ação docente em
filosofia assume o valor e o significado de uma práxis, e sua tarefa consiste
em explicitar a dimensão emancipatória não só da ação docente, mas também da
práxis social, servindo, dessa forma, como base para a leitura e a compreensão
de uma realidade que se encontra em constante transformação. Portanto, é função
do estudante de filosofia suscitar a reflexão e ajudar na tomada de decisão no
que se refere à educação como libertação do sujeito, objetivando uma práxis
educacional e social cada vez mais consciente e ativa.
Por isso, é necessário assumir o risco da
práxis. Contudo, não devemos partir para a ação sem levar a teoria em consideração.
É preciso que haja, como vimos, uma perfeita integração entre pensamento e ação.”
“Ao admitir a realidade inteligível e ao
considerá-la como a causa verdadeira e legítima, Platão acentua a separação entre o sensível e o inteligível,
dando a entender que a realidade sensível não é a origem das causas
verdadeiras; ou seja, ela é fonte de erro e engano por parte daqueles que a
tomam como verdadeira. (...)
Platão descreve que o postulado verdadeiro é
aquele que não necessita de nenhum outro, que é autossuficiente, pois se basta.
Em uma passagem posterior, o filósofo afirma o postulado das ideias, o qual,
uma vez alcançado, não requer a busca de nada mais alto.”
“Diferentemente de Platão, Aristóteles
enfatizava a existência de apenas um mundo, que é este no qual vivemos. Toda a
sua filosofia tem como base a realidade que é apreendida por um dos sentidos. Assim,
o que não pode ser captado pelos sentidos não é digno de preocupação do filósofo.
Por isso, o deslumbramento com a realidade é a base para o filosofar.
Uma das partes centrais de seu pensamento é a
sua filosofia moral, mais precisamente seu texto intitulado Ética
a Nicômaco, em que, após uma discussão sobre a existência ou não de uma
única forma de bem, Aristóteles passa, no início do sétimo capítulo do primeiro
livro, a analisar o bem como algo final e autossuficiente, buscando definir o
bem supremo para o homem.
Mesmo que nas diversas atividades o bem tenha
significados diferentes, em cada ciência, arte e ação é preciso buscar o bem
que lhe é próprio de acordo com sua finalidade. Assim, afirma Aristóteles (1984, Ética a
Nicômaco - Poética, p. 54) “Voltemos novamente ao bem que
estamos procurando e indaguemos o que é ele, pois não se afigura igual nas distintas
ações e artes; é diferente na medicina, na estratégia, e em todas as demais
artes do mesmo modo”. Desse modo, o bem real, concreto, caracteriza-se pela
disposição ou atividade imanente da função específica do indivíduo como sujeito
do agir moral.
Aristóteles define o bem pelo fim, mesmo que
este não esgote o seu significado. Sendo um conceito formal, o bem define a
finalidade essencial, e não somente as determinações valorativas morais. Segundo
Aristóteles (1984, p. 49), “Admite-se geralmente que toda arte e toda investigação,
assim como toda ação e toda escolha, têm em mira um bem qualquer; e por isso foi
dito, com muito acerto, que o bem é aquilo a que todas as coisas tendem”.
Em resumo, o bem deve ser escolhido por ser
um fim em si mesmo. Jamais deve ser escolhido como meio para outro fim — como o
dinheiro, que não pode ser considerado um fim em si mesmo, pois visa a outro
bem. No caso do dinheiro, o sujeito delibera sobre os meios, e não sobre os
fins. Cada ação, deliberada e escolhida, deve visar a um e ao mesmo fim último e,
como finalidade última, deve almejar não só o bem mas o melhor dos bens (Aristóteles).
Assim, o fim de qualquer ação ou atividade
humana é o bem e a realização de forma perfeita de sua causa final, a qual tem
seu conteúdo determinado por considerações de ordem metafísica e cosmológica. A
tendência natural do ser humano de se mover em direção à sua plenitude é
expressa por meio da doutrina da causalidade nos seres naturais.
No caso específico do indivíduo,
primeiramente deve-se definir o significado de bem, que deve ser compreendido
como causa final, como fim de uma ação; é definido por uma deliberação livre e racional
na realização dos meios e pela perfeição da própria função específica da essência.
A tendência natural do indivíduo de buscar o fim de forma consciente e
voluntária é um bem próprio, mediante ações orientadas a um fim. Isso ocorre
porque a natureza do homem é política – é na pólis que o homem se educa e adquire o hábito das virtudes.
O passe seguinte consiste em determinar o bem
para cada homem. Parece ser a felicidade, mais que qualquer outro bem, o fim supremo
ao qual todo homem tende naturalmente, uma vez que a escolhemos sempre por si
mesma, e jamais por causa de algo mais (Aristóteles). Esse fim último e
almejado é a causa de todo querer deliberativo. Dessa forma, delibera-se sobre
coisas que estão sobre o alcance e que podem ser realizadas. O desejo tende
naturalmente para o bem, que é almejado por si só de forma absoluta.
A ética aristotélica é estruturada não para
sujeitos individuais, mas para o indivíduo
universal, tendo em vista sua condição de animal social e o fato de a convivência
com os demais possibilitar o exercício das atividades virtuosas orientadas para
a consecução dessas duas finalidades específicas — ser um animal social e
conviver com os demais (Aristóteles, 1984), Entre os muitos bens, resultantes da
multiplicidade de atividades, Aristóteles identifica aquele que é final, que é
querido por si próprio, sem a dependência do que lhe é externo. Um bem que
possa ser definido como “antossuficiente” porque, “por ora definimos a autossuficiência
come sendo aquilo que, em si mesmo, torna a vida desejável e carente de nada. E
como tal entendemos a felicidade, considerando-a, além disso, a mais desejável de
todas as coisas, sem contá-la como um bem entre outros” (Aristóteles, 1984, p.
55).
A condição necessária para que se possa agir
com um sentido em si mesmo só se realiza na práxis humana por meio da prudência.
Consequentemente, esse agir se encontra fora do universo do fazer, em que o fim
da ação é a produção de algo, a obra, que, por sua vez, é exterior ao próprio
homem.
Assim, pode-se dizer que o fim último do
homem, das ações humanas, é justamente realizar concreta e efetivamente a tendência
imanente do ser por meio da força determinativa da razio. A causa final da ação
humana não pode ser procurada fora do homem, tampouco nas faculdades da alma,
sejam elas inatas, sejam adquiridas. É por meio do exercício ativo das faculdades
da alma que a causa final da ação humana é obtida.
A existência humana, para Aristóteles, parece
ter sentido somente se ela visa a um fim determinado. Todo homem deve dirigir-se,
independentemente de seu credo ou classe social, para um bem supremo por meio
de suas ações e escolhas, buscando sempre uma atualização como agente moral e
racional. O fim último da vida humana, o bem natural para o qual todos os seres
humanos devem se dirigir, é a felicidade.
Definir o bem supremo como sendo a felicidade
mostra a intencionalidade da ética aristotélica: a prática da vida humana. A
busca por um fim último para as ações conduz os homens a uma superação de si
mesmos na tentativa de buscar algo maior.”
“Como ler e escrever sobre a filosofia
medieval? Como compreender textos relativos a essa temática? O ponto de partida
para estudar e compreender o pensamento de uma época é identificar o contexto em
que ele foi estruturado. Cada época tem suas especificidades, responsáveis por
estabelecer características próprias.
O pensamento filosófico da Idade Média se distingue
daquele expresso nas demais épocas por se aproximar da teologia ou, ainda, por
estar a serviço desta. Ao contrário de outros períodos históricos, em que há uma
busca pela racionalidade, o pensamento medieval mergulhou na cultura religiosa.
Como não existe uma filosofia única ou uma única
maneira para expressar o pensamento, a filosofia medieval, assim como o pensamento
filosófico de outros períodos, foi resultante dos problemas cotidianos daquele
tempo. A base teológica refletia a cultura religiosa presente no universo
social e político da época. À medida que se estuda ou se escreve a respeito da
filosofia medieval, compreende-se a abstração dos elementos e das concepções
formulados pelos pensadores da época. Isso porque a reflexão filosófica
acontece mediante a trama da realidade; não sendo uma abstração alheia ao tempo
e ao espaço.
O homem do século XX não nasce no mesmo mundo
que o homem do século XII, e nascer no século XII cristão ou no século XII
hindu era nascer em dois universos diferentes. Por mais livre que possa ser um pensamento
filosófico e por mais profunda que deva ser a marca por ele deixada na superfície
das coisas, ele sempre começa, pois, por um ato de submissão, ele se move livremente,
mas dentro de um mundo dado. (Gilson, A filosofia na
Idade Média, 2007, p. 942)
A ideia de Gilson (2007) demonstra, de forma
apropriada, que a investigação filosófica
acontece com base nas características de uma determinada época. Portanto, o
filósofo medieval não tinha condições de pensar da mesma forma que o moderno. O
universo medieval era marcado pela verdade revelada, pelo dogma, isto é, por
elementos baseados na fé — ao passo que, no período moderno, os filósofos recorreram
à razão para responder aos problemas do cotidiano.
Embora os escritos de Santo
Agostinho e, principalmente, de São
Tomás de Aquino (e mesmo os de outros pensadores da época) se voltassem, em
determinados momentos, à filosofia, retomando o neoplatonismo e Aristóteles, a
motivação era, por meio da razão, compreender os elementos da fé. Portanto, o
pensamento medieval se distingue do presente nos demais períodos históricos
pelo fato de estar voltado à teologia, à verdade revelada, aos dogmas e à
cultura religiosa de um modo geral.
Desse modo, para estudar a filosofia
medieval, é necessário entender os pressupostos que constituíram o pensamento
desse período, considerando 0 que caracterizou a Idade Média. É fundamental perceber
a influência do pensamento medieval na atualidade. A cultura religiosa cristã,
embora diferente daquela existente na Idade Média, está presente na atualidade,
com seus ritos, dogmas, ideias e características próprias.”
“Os pressupostos da filosofia cartesiana
e a necessidade de se ter ideias claras e distintas representam o ponto de
partida na busca do entendimento da filosofia moderna. Para compreender o
pensamento filosófico de determinada época, é essencial identificar aproximações e divergências
entre as ideias dos pensadores que nela desenvolveram sua teoria. É com base na
identificação dessas distinções que se pode reconhecer as particularidades de
cada teoria, seja em relação a um único filósofo, seja em relação a uma linha
de pensamento.
A filosofia moderna se desenvolveu sob o arcabouço
da razão. O homem, desde o Renascimento, assume uma condição antropocêntrica e,
como sujeito centrado, pode pensar as condições e as relações que envolvem a
sua existência. “A emergência do mundo burguês e o desenvolvimento da física,
que se exprime matematicamente, constituem aspectos de uma mesma realidade
cultural em transformação” (Aranha; Martins, Filosofando, 2003, p. 130).
O mundo burguês remodelou as sociedades da época, pois direcionou as ações
humanas à produção e ao acumulo de riquezas, o que não aconteceu no período antigo
e na Idade Média.
Desse modo, na Idade Moderna, o homem passou
a ser o centro de todas as coisas e um sujeito possuidor da razão. Como ser racional,
os problemas do seu cotidiano passaram a ser objeto de análise da razão — por iss0
a crença de que a razão poderia contribuir de forma significativa para o
progresso da humanidade.
Ler e escrever sobre a filosofia moderna nos
leva a compreender o papel central que a ciência passou a desempenhar desde o início
da Modernidade até os dias atuais. Nesse sentido, também é importante destacar
as questões voltadas ao campo da política, do direito e da moral. Tais reflexões
foram determinantes para discutir as formas de governo e organizar a sociedade
de forma mais equilibrada. Além disso, os fundamentos de uma moral universal (Kant)
contribuíram significativamente para o estudo das concepções éticas.”
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