Editora: InterSaberes
ISBN: 978-85-5972-912-2
Opinião: ★★★☆☆
Páginas: 226
Sinopse: Saber de fato
uma língua exige não somente o domínio de seus elementos linguísticos, mas
também o conhecimento de sua história e dos processos que influenciaram seu
desenvolvimento. Nesta obra, apresentamos o grego antigo desde seu surgimento,
indicando os eventos históricos mais relevantes em seu processo de construção e
de desenvolvimento, a fim de contextualizar a explicação sobre sua estrutura
linguística. Nosso objetivo principal é fornecer os conhecimentos básicos de
grego antigo para que você consiga consultar textos filosóficos escritos
originalmente nessa língua.
“Enquanto
eu puder respirar e exercer minhas faculdades físicas e mentais, jamais
deixarei de praticar a filosofia, de elucidar a verdade e de exortar todos que
cruzarem meu caminho a buscá-la. […] Portanto, senhores […] seja eu absolvido
ou não, saibam que não alterarei minha conduta, mesmo que tenha de morrer cem
vezes.” (Sócrates)
“Infelizmente,
há casos em que terceiros se apropriam de traduções diretas do grego,
modificando-as e dando a elas outros significados que descaracterizam o texto
original. Um exemplo disso é a frase de Sócrates “só sei que nada sei”, que,
conforme elucida Avrella (2007, p. 3) em seu livro A defesa de Sócrates — diretamente do grego, seria “eu, quando de
fato não sei, também não fico pensando que sei”.”
“De acordo
com Nicola e Infante (Gramática contemporânea da língua portuguesa, 1995),
a língua compreende um código de
comunicação utilizado em determinado país. Os dialetos, por sua vez, são “falares regionais que apresentam entre
si coincidência de traços linguísticos fundamentais” (Camara Júnior, Dicionário
de linguística e gramática, 2009, p. 115). Tratam-se das variedades
linguísticas de uma língua (maneira de falar, de escrever, variação de
significados) dentro de um território ou país. Geralmente, falantes de dialetos
distintos não têm problemas no processo de comunicação. Um país pode ter muitos
dialetos. No Brasil, por exemplo, temos os dialetos mineiro, nordestino,
gaúcho, caipira, entre outros. O conjunto de todos esses dialetos forma o
português do Brasil, que é nossa língua oficial.
Os
dialetos também se influenciam mutuamente e pode haver, por diversos fatores, a
preponderância de um sobre os demais. Assim, um dialeto pode ganhar status de língua, algo que percebemos,
por exemplo, ao avaliar o dialeto comumente falado nos telejornais. Convém
salientar que um dialeto não é menos do que uma língua.”
“De acordo
com a linguística, ciência que estuda a linguagem humana, a língua grega, assim como outras grandes
línguas, como o latim, o armênio e o germânico, provém da grande família de línguas indo-europeias,
cujas ramificações se estendem por toda a Europa e parte da Ásia (Wallace, Greek
Grammar beyond the basics, 1995)
Sem entrar
em detalhes de como se identifica o parentesco entre essas línguas, Rega e
Bergmann (Noções do grego bíblico, 2004) exemplificam suas similaridades
ao comparar determinadas palavras. Por exemplo, a palavra pai, no grego, é πατέρας
(patér); no latim, pater; no sânscrito, Pita; no antigo persa, pitan no gótico, fadar; no
inglês, father; e no alemão, vater. Já a palavra mãe, no grego, é (méter); no latim, mater no sânscrito, matar;
no báltico, mate; no inglês, mother; e no alemão, mutter. Wallace (1995) também apresenta
esse tipo de exemplo, como ao comparar três
(latim), τρeïς (treis — grego) e tryas (sânscrito).
De acordo
com a linguística, todas essas línguas vieram de uma mesma fonte: uma língua
falada por um povo primitivo que habitava a Ásia Ocidental. Esse povo era
formado por grandes famílias (tribos) organizadas pelo modelo patriarcal, que
exerciam atividades agropecuárias como forma de subsistência. Esse povo, por
volta do terceiro milênio, começou a se dispersar, o que teria originado vários
dialetos e línguas afins. No segundo milênio, uma dessas tribos se direcionou
para a Península Balcânica, dando origem aos primeiros dialetos gregos (Rega;
Bergmann, 2004).”
“Diferentemente
de outras formas de escrita, como os hieróglifos e os ideogramas (mandarim), a
escrita alfabética deu ao povo grego a capacidade de abstração e de
generalização (Chaui, Convite à filosofia, 2012).
De acordo
com Chaui (2012), a escrita é um dos acontecimentos históricos que motivou o
aparecimento da filosofia, visto que permitiu a expressão formal de qualquer
tipo de manifestação abstrata. Por isso, costuma-se considerar o surgimento do
alfabeto e o período oral e escrito (poesia e prosa) da cultura grega como
peças-chave na transição da visão mítica para o pensamento filosófico — embora
esses dois tipos de pensamento sempre estivessem, de certa forma, relacionados.
A
literatura grega começou a se desenvolver com o aparecimento das obras de Homem
(ca. século VIII a.C.), que introduziram o alfabeto grego.
No início,
a escrita era utilizada por poucos em razão do analfabetismo generalizado. Seu
uso era restrito aos sacerdotes, reis e escribas e às poucas pessoas que tinham
acesso à educação. Contudo, o crescimento gradual da alfabetização fez surgir
uma nova consciência, uma nova época mental, que prezava a busca da verdade por
intermédio da abstração, da reflexão, da argumentação, da lógica e da razão,
descartando-se a imposição inquestionada do mito. Isso não significa, porém,
que a escrita tenha deixado de veicular conteúdo mítico.”
“Com a
evolução do processo escrito, passou-se a registrar, além da prosa, a narração
de fatos e pensamentos. Nesse sentido, ideias passaram a ser questionadas,
tornando-se objeto de críticas, de discussão e de revisões cada vez mais
depurativas, o que ajudou no desenvolvimento do pensamento crítico — conforme
demonstraremos a seguir.
Conforme
esclarece Alexandre Júnior (Gramática de grego 2003), a língua grega é
bastante rica, motivo pelo qual influenciou decisivamente as línguas modernas,
especialmente as europeias, tanto como modelo inspirador quanto como permanente
veículo de cultura. Dela deriva a maior parte dos vocabulários científicos,
técnicos, artísticos e intelectuais construídos ao longo da história. As obras
de Platão (ca. 427 a.C.-347 a.C.) e Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.), por
exemplo, ajudaram a fundamentar boa parte da civilização ocidental
contemporânea.
Além
disso, a língua grega contribuiu para o registro e difusão das religiões
judaico-cristãs a partir do Período Helenístico (338 a.C.-146 a.C.), tento em
vista que a primeira tradução do Antigo Testamento, a Septuaginta, foi realizada para o grego koinê. Além disso,
parte do Novo Testamento foi composta em grego, não em hebraico.”
“O debate
também estimulou o desenvolvimento reflexivo em outras áreas, como a política,
a poesia, a escultura, a arquitetura, a história, a geografia e a pintura. Por
isso, muitos pensadores acabaram desempenhando mais de um papel. Por exemplo,
Pitágoras era filósofo e matemático; Heródoto, geógrafo e historiador;
Péricles, político, orador e estrategista; e Cleofonte, político e demagogo.
Isso revela a riqueza intelectual do período, que estimulou bastante a
capacidade criativa.
Dean-Jones
(História ilustrada da Grécia Antiga, 2002) atribui essa revolução de
pensamento, em um primeiro momento, a dois fatores: lazer e riqueza. Essas duas
condições teriam permitido, para alguns jônios, tempo para pensar e refletir,
algo que ficou conhecido como ócio criativo. De acordo com esse
conceito, quem não precisa trabalhar duro para sobreviver, pode utilizar essa
oportunidade para refletir e criar. Poetas, escritores e filósofos precisam
desse tempo para conseguir produzir.
Além do
ócio criativo, a sabedoria era concebida como um bem democrático, que poderia
pertencer a qualquer um, não somente aos sacerdotes, como ocorria na Babilônia.
A construção do saber, portanto, ocorria por meio do intercâmbio de informações
com outros povos (fator comercial) e do debate aberto e público (fator
político), que serviam para legitimar teorias. A isso Dean-Jones (2002) chama
de quintessência do espírito grego.
Como
mencionado na seção anterior, outro fator muito importante no desenvolvimento
da filosofia foi o surgimento da escrita. Aranha e Martins (Filosofando,
2009) somam a esse fator o surgimento da moeda e da lei grega escrita e a
fundação das pólis (cidades-estado).
A
utilização da escrita democratizou ainda mais o conhecimento, pois permitiu uma
abstração maior do pensamento e intensificou mais formalmente o confronto de
ideias. Já o surgimento da moeda (século VII a.C.), nascida originariamente na
Lídia, trouxe uma nova forma de comercialização, de noção de valor abstrato e
de pensamento racional crítico. A lei escrita, por sua vez, inserida por Drácon
(século VII a.C.) e, posteriormente, por Sólon e Clístenes (século VI a.C.),
originou a noção de justiça para todos, derrubando o cadilho subjetivo de
interpretações baseadas na suposta vontade divina e na arbitrariedade dos reis.
Por fim, o surgimento das pólis fez a base da organização grega deixar de ser
tribal para se tornar pública, democrática e mais justa para seus cidadãos.
Chaui
(2012) acrescenta às condições históricas que promoveram o surgimento da
filosofia as viagens marítimas, a invenção do calendário e o surgimento da vida
urbana e da política.
Antes de a
filosofia surgir entre os gregos, havia a predominância do que se chamava de
consciência mítica. Tratava-se de um modo de pensar proveniente das sociedades
tribais, o qual acabou sendo herdado por muitas civilizações antigas, como a
mesopotâmica, a egípcia, a indiana e, claro, a grega.
De acordo
com Chaui (2012), o pensamento questionador surgiu quando alguns gregos, não
satisfeitos com as explicações de suas tradições, começaram a se perguntar
sobre o mundo e as pessoas. Isso motivou a busca por respostas e,
consequentemente, a construção do pensamento racional. É válido ressaltar que o
mito não desapareceu com o surgimento da filosofia nem deve ser encarado como
um mal. Conforme elucidam Aranha e Martins (2009), o pensamento mítico existe
até hoje e tem um papel fundamental em várias áreas, como na arte e na
religião. Trata-se de uma maneira de explicar a realidade por meio do desejo,
do medo e do mistério quando ainda não se tem uma explicação racional dos
fatos. As autoras ainda alertam para o perigo de se preterir o mito em favor de
um posicionamento exclusivamente positivista, que vê a ciência como a única
maneira válida de interpretação da realidade. Essa visão contribui para a
construção do mito do cientificismo, um reducionismo que desconsidera as
limitações da ciência. Além disso, Francis McDonald (citado por Aranha;
Martins, 2009) elucida que a filosofia nascente, a jônica, apresentava vínculos
com o mito.
Antes do
surgimento da escrita, os antigos mitos gregos eram veiculados oralmente pelos
poetas ambulantes. Homero é um ícone dessa época, pois além do registro escrito
de suas epopeias Ilíada
e Odisseia, acredita-se que ele também tenha sido um
poeta oral. Também acredita-se que o poeta Hesíodo (ca. 750 a.C.-650 a.C.)
tenha misturado em suas poesias a teogonia* e cosmologia**.
O
rompimento dos pensamentos mítico e filosófico ocorreu gradativamente, até
surgir, de fato, uma mentalidade com:
• tendência à racionalidade
[...];
• tendência a oferecer
respostas conclusivas para os problemas, isto é, colocado um problema, sua
solução é submetida à análise, à crítica, à discussão e à demonstração [...];
• exigência de que o
pensamento apresente suas regras de funcionamento [lei universal do
pensamento];
• recusa de explicações
preestabelecidas [...];
• tendência à generalização
[...]. (Chaui, 2012, p.
33)
Nas
sociedades gregas, esse rompimento ocorreu mais rapidamente do que em outras
civilizações, embora o mito nunca tenha, de fato, desaparecido. Na mesma época
da hegemonia da cultura grega, outros povos tinham grandes e famosos sábios
(como Confúcio e Buda), mas seus ensinamentos estavam mais ligados à religião
do que à reflexão filosófica. Provavelmente essa realidade motivou a concepção
da filosofia como milagre grego, não como um processo longo de
transição, conforme elucida Aranha e Martins (2009).
Chaui
(2012) destaca sete ideias básicas para definir o legado filosófico dos gregos
para o mundo ocidental:
• leis e princípios
universais;
• ordem necessária à
natureza;
• conhecimento das leis;
• operação do pensamento
obedecendo princípios, leis, regras e normas universais;
• vontade livre nas práticas
humanas;
• necessidade de
acontecimentos naturais e humanos;
• aspiração humana pelo
conhecimento verdadeiro.
Todo esse
legado coincide com os grandes temas com que a filosofia tem se ocupado até a
atualidade. Kleinman (2014, Tudo que você precisa
saber sobre filosofia, p. 7, grifo do original) resume da seguinte maneira
esses temas:
metafísica (o estudo do universo e da realidade),
lógica (como criar um argumento válido), epistemologia (estudo
do conhecimento e de como o adquirimos), estética (o estudo da
arte e da beleza), política (o estudo dos direitos políticos, do
governo e o papel dos cidadãos) e ética (o estudo da moralidade e de
como cada um deve viver).”
* Explicação mitológica sobre a origem dos
deuses.
** Teoria racional sobre a origem do cosmos.
“Tales
de Mileto, além de ter sido o primeiro filósofo, também é considerado um
dos sete sábios da Grécia — visto que também foi matemático e astrônomo. Foi
ele que teorizou pela primeira vez a água como elemento que tudo une; que
formulou o teorema de que dois triângulos são iguais quando apresentam um lado
igual entre dois ângulos iguais, que ficou conhecido como Teorema de Tales;
que calculou a altura de uma pirâmide tendo por base a própria sombra; e que
previu um eclipse solar.
Pitágoras (ca. 570 a.C.-500 a.C.) também era filósofo
e matemático. Em razão de suas contribuições para as ciências exatas, como o
Teorema de Pitágoras, o desenvolvimento da tábua de multiplicação, o sistema
decimal e de proporções aritméticas e a geometria, é considerado o pai da
matemática.
Heródoto (985 a.C.-425 a.C.) foi o historiador que
narrou a invasão persa na Grécia (Guerras Médicas — 499 a.C.-449 a.C.),
registrada na obra As
histórias de Heródoto. Essa
obra foi reconhecida como uma nova forma de literatura, diferente das crônicas
e obras épicas. Em razão de suas contribuições, é considerado o pai da
história.
Hipócrates (460 a.C.-370 a.C.) foi um médico
proveniente de uma família que trabalhou por várias gerações na área da saúde.
Apesar de ter praticado a medicina muito tempo depois do egípcio Imhopet, o
modo como lidava com a medicina era considerado inovador, visto que se
desvinculava da influência do sobrenatural. É considerado o pai da medicina por
ter sido o primeiro médico a encarar as doenças de um ponto de vista puramente
clínico e cientifico.
Eratóstenes (276 a.C.-194 a.C.) foi um estudioso
assíduo, pois dedicou-se à geografia, à matemática, à gramática, à poesia e à
astronomia. Exerceu a função de bibliotecário em Alexandria. Seu apelido era
Beta (segunda letra do alfabeto grego), pois era considerado o segundo melhor
em várias áreas do conhecimento. Ele ficou conhecido por calcular a
circunferência da Terra em 39.690 km, incrivelmente perto dos 40.075 km do
cálculo atual. É considerado o pai da geografia.
Galeno de
Pérgamo (ca. 129-217)
foi um filósofo e médico romano, embora de origem grega. É considerado o pai da
farmá-cia por seus feitos na área da saúde. Várias de suas teorias sobre o
funcionamento do corpo humano (fisiologia) permaneceram até 1543-1628, quando
foram superadas por descobertas novas e complementares de outros médicos.”
“Embora
outros povos1 da Antiguidade, bem antes dos gregos, já tivessem
estabelecido suas ideias sobre a natureza – seus fenômenos e processos naturais
– por meio de áreas como a matemática, a astronomia e a medicina, os gregos
foram os pioneiros no desenvolvimento do pensamento científico (Marcondes, Iniciação
à história da filosofia, 2004).
Assim,
podemos afirmar que a grande contribuição dos gregos para a ciência começou a
ser delineada quando se passou do pensamento mítico para o pensamento
racional. Um exemplo é a própria medicina de Hipócrates, cujo diferencial,
conforme mencionado, era exatamente o tratamento de doenças sem levar em
consideração o sobrenatural2. Antes de Hipócrates, usava-se na cura
de doenças elementos mágicos (encantamentos, amuletos, orações etc.) e
procedimentos naturais, como ervas, dietas e regimes. Nessa época, não havia
muito interesse em se investigar o corpo humano, a doença em si e por que
alguns procedimentos não funcionavam.
De acordo
com Dean-Jones (2002), a medicina e a astronomia, ancoradas na filosofia
natural de alguns filósofos, foram as primeiras ciências a surgirem no contexto
grega De acordo com o autor, foi na medicina grega que o método científico
deu seus primeiros passos em direção à observação não passiva do mundo.
A medicina
se tornou ciência à medida que foi acumulando conhecimentos sobre cura,
procedimentos, funcionamento do corpo e doenças. A filosofia natural, embora
tenha contribuído para seu desenvolvimento, era especulativa – não havia como
comprovai; naquela época, muitas das hipóteses levantadas por seus filósofos.
No entanto, a medicina lidava com o corpo concreto e podia fazer experimentos e
observações a respeito do que dava certo ou não. Além disso, a área já contava
com alguns elementos para conduzir seus experimentos, visto que já havia dados
empíricos na área da cura3. Evidentemente, muitas teorias sobre o
funcionamento do corpo humano acabaram se mostrando equivocadas posteriormente,
mas isso não invalida o fato de que teorias e experiências estavam sendo
colocadas à prova.
A segunda
ciência a se desenvolver no contexto grego, conforme mencionado anteriormente,
foi a astronomia, que teria surgido no final do século IV a.C., também
fundamentada na filosofia natural. Quem se destacou nessa área foi Eudoxo de
Cnido (ca. 408 a.C.-355 a.C.), que explicou vários fenômenos astronômicos, como
o movimento das estrelas, dos planetas, do Sol e da Lua em volta da Terra. Para
chegar a essa conclusão, ele utilizou cálculos matemáticos e geométricos.
Como
mencionado anteriormente, outros povos já haviam se aventurado na astronomia.
Os babilônicos, por exemplo, já estudavam os fenômenos astronômicos há séculos.
Ainda assim, mais uma vez, foram os gregos os primeiros a tentar explicar tais
fenômenos por meio da ciência. Os babilônicos tinham interesse na astronomia
apenas para efeito de previsões, dentro de um caráter místico-religioso, e não
para saber como e por que esses fenômenos aconteciam. Um exemplo desse
interesse é a história do nascimento de Jesus (Mateus, 1: 1-12), em que os reis
magos (que possivelmente eram babilônicos) vão visitá-lo guiados por uma
estrela4
1 É válido ressaltar que os gregos
reaproveitaram muitos conhecimentos provenientes de outras civilizações, como a
babilônica e a egípcia, tendo em vista o intercâmbio estabelecido entre elas e
a civilização grega. No entanto, como destacado, essas civilizações não
apresentavam uma abordagem científica, mas mística.
2 Havia uma convicção filosófica de que os
deuses só podiam curar por meio das leis naturais e, portanto, as doenças
podiam ser compreendidas racionalmente (Dean-Jones, 2002).
3 Com relação ao uso de métodos empíricos
para se estudar um objeto de estudo, a medicina grega é a primeira das ciências
a despontar.
4 Nesse sentido, é válido ressaltar que, após
as diásporas judaicas, na Babilônia se estabeleceu uma das maiores comunidades
judaicas do mundo antigo.
“Além das
ciências, os gregos também foram pioneiros em outras áreas e atividades, como
as Olimpíadas, as artes, o teatro, a arquitetura e a política.
As
Olimpíadas nasceram como uma forma de trégua entre as cidades-estado. Foram
realizadas de 776 a.C. até 393 d.C., quando foram proibidas pelo imperador
romano Teodósio (346-395), em razão de ser um evento politeísta em homenagem a
Zeus.
Tratava-se
de um evento de competição esportiva realizado de quatro em quatro anos, na
cidade de Olímpia. Algumas das modalidades de competição da época foram
preservadas, como o arremesso de discos, a corrida, a natação, o boxe, a luta e
o salto a distância. Os vencedores eram homenageados e tornavam-se heróis em
suas terras natais.
Na
política, guardadas as devidas diferenças ideológicas, a grande contribuição
dos gregos foi a invenção da democracia (governo do povo), que
contemplava os conceitos de cidadania (direitos e deveres do cidadão e
do Estado) e de propriedade privada e pública (Batchelor, Os
gregos antigos para leigos, 2012).”
“Não há
como negar a presença do legado da cultura grega nas civilizações ocidentais.
No entanto, por mais significativas que tenham sido as contribuições dos
antigos gregos, no que se refere à democracia, Cartledge (História ilustrada
da Grécia Antiga, 2002) adverte para o perigo da idealização. Não se pode
conceber a antiga sociedade grega como um modelo ideal, em que todos
desfrutavam da liberdade e da justiça.
Embora a
democracia ateniense fosse fundamentada na isonomia, apenas homens atenienses,
filhos de atenienses, com mais de 18 anos eram considerados cidadãos. Em outras
palavras, mulheres, escravos e estrangeiros não eram considerados cidadãos e,
portanto, eram desprovidos de direitos. Essa questão constitui o porão da
glória dos gregos.”
“Antigamente,
como mencionado, as palavras gregas eram escritas em letras maiúsculas. Além
disso, as palavras eram escritas todas juntas, sem pontuação alguma.
Isso
dificultava e ainda dificulta muito o trabalho de tradutores e intérpretes de
textos antigos. Vários trechos do Novo Testamento apresentam esse tipo de
dificuldade.
Para
ilustrar essa questão, Cenatti (O alfabeto grego clássico, 2014, p. 54)
apresenta uma frase do século VII a.C. inscrita no Oráculo de Delfos, lugar
onde se faziam previsões. Observe a seguir como a frase ficaria sem pontuação e
com as palavras todas juntas:
IDESVOLTARASNAOMORRERASNAGUERRA
Viu como a
sentença fica confusa? Para facilitar a leitura no português, a frase poderia
ser interpretada da seguinte maneira: “Ides, voltarás, não morrerás na guerra”.
No entanto, a sentença parece não conter entonação adequada. Por isso, de
acordo com os linguistas, a tradução correta é: “Ides! Voltarás? Não, morrerás
na guerra”.
A
pontuação veio mais tarde, a partir do século IV, com o propósito de facilitar
a leitura e o entendimento das frases.”
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