Editora: eBooks Brasil
Tradução (a partir do grego) e notas: Pierre Henri Larcher
Tradução (para o português): J. Brito Broca
Opinião: ★★★☆☆
Páginas: 770
Sinopse: História, de Heródoto, divide-se
em nove livros, abrange dois séculos e conta os principais episódios do conflito
greco-pérsico. Inspirado pelo patriotismo, o autor, considerado o “pai da História”
e cuja obra sobrevive até hoje, preocupa-se em exaltar a união dos Gregos contra
os bárbaros e, sem seguir estrita ordem cronológica, descreve cada região do império,
a religião, a geografia, a História e as características étnicas de cada povo. Heródoto
foi um grande e fidedigno repórter e observador curioso, documentando os fatos sem
se preocupar em comentá-los.
“Eu que sei como a
divindade tem ciúme da ventura dos seres humanos e como se apraz em perturbá-la.”
“É preciso convir,
senhor, que o homem não é senão vicissitudes. Possuís certamente riquezas consideráveis
e reinais sobre um grande povo, mas não posso responder à vossa pergunta sem saber
se terminareis os vossos dias na abundância; pois o homem cumulado de riquezas não
é superior àquele que possui o necessário, a menos que a boa sorte o acompanhe e
que, gozando de todas essas espécies de bens, termine venturosamente a existência.
Nada mais comum do que a desgraça na opulência e a ventura na obscuridade. Um homem
imensamente rico mas infeliz tem apenas duas vantagens sobre o feliz, enquanto que
este conta com grande número delas sobre o rico infeliz. O homem rico está mais
em condições de satisfazer seus desejos e de suportar grandes perdas, mas se o outro
não pode resistir a essas perdas, nem contentar os desejos, sua felicidade o põe
a coberto de umas e de outros. Aliás, admitindo que ele esteja no uso de todos os
seus membros, goze de boa saúde, não sofra nenhum desgosto e seja feliz com os filhos;
se a todas essas vantagens acrescentardes a de uma morte gloriosa, aí tereis o homem
que procurais. Ele, sim, merece a classificação de feliz. Mas, antes da morte, evitai
julgá-lo; não lhe deis esse nome; considerai-o somente bem aquinhoado.”
“Enquanto se preparava
para essa expedição, um lídio de nome Sadânis, famoso pela sua sabedoria e que veio
a tornar-se ainda mais célebre entre os Lídios pelo conselho que deu a ele, Creso,
falou-lhe nos seguintes termos: “Ó rei, vós vos dispondes a fazer guerra a povos
que se vestem apenas de peles e que se alimentam, não do que desejariam ter, mas
do que têm, porque o país é estéril; a povos que bebem somente água, por lhes faltar
o vinho; que não conhecem o figo e outras boas coisas que regalam a vida. Vitorioso,
que podereis arrebatar dessa gente desprovida de qualquer riqueza? Vencido, considerai
os bens que ides perder. Se eles experimentarem uma vez a doçura do nosso país,
não quererão mais renunciar a ela; nenhum meio encontraremos para expulsá-los. De
minha parte, rendo graças aos deuses por não haverem inspirado aos Persas o desejo
de atacar os Lídios”. Creso, porém, não se deixou convencer. No entanto, o que Sadânis
dizia era a pura verdade. Os Persas, antes da conquista da Lídia, não conheciam
nem o luxo nem as comodidades da existência.”
“É preciso ser muito
insensato para preferir a guerra à paz. Na paz, os filhos sepultam os pais; na guerra,
os pais sepultam os filhos.”
“Se se propusesse a
todos os homens escolher entre todas as leis instituídas nos diversos países as
que melhor lhes parecessem, de certo que, após um exame minucioso, cada qual se
decidiria pelas de sua própria pátria, de tal modo estão os homens persuadidos de
que não existem leis mais belas do que as deles. Isso é uma verdade, confirmada
por muitos exemplos, e, entre outros, pelo seguinte: Um dia, Dario, fazendo vir
à sua presença alguns Gregos submetidos ao seu domínio, perguntou-lhes por que soma
de dinheiro se decidiriam a comer os cadáveres de seus pais. Todos declararam que
jamais fariam tal coisa, qualquer que fosse a quantia que lhes oferecessem. Mandou
chamar, em seguida, os Cários, habitantes da Índia, acostumados a comer os pais,
e perguntou-lhes, na presença dos Gregos, quanto queriam para queimar os pais depois
de mortos. Os Indianos, horrorizados com a proposta, pediram-lhe para não insistir
numa linguagem tão odiosa. Assim, nada mais exato do que a sentença que encontramos
nos versos de Píndaro: A lei é a rainha de todos os homens.”
“Sabes por experiência
que mais vale despertar inveja do que piedade.”
“Quando é necessário
mentir – volveu Dario –, não devemos ter escrúpulo em fazê-lo. Os que mentem desejam
a mesma coisa que os que dizem a verdade: mente-se com o propósito de tirar algum
proveito disso; diz-se a verdade, também, tendo em vista alguma vantagem e para
conseguir impor confiança. Assim, embora não seguindo os mesmos caminhos, atingimos
o mesmo fim. Se não houvesse nada a lucrar, seria indiferente àquele que diz a verdade
pregar antes uma mentira, ou ao que mente, dizer antes a verdade.”
“A Providência divina,
na sua suprema sabedoria, determinou que todos os animais tímidos e que servem de
alimento fossem muito fecundados para que o consumo deles feito não causasse o desaparecimento
da espécie, e que, ao contrário, os animais nocivos e ferozes fossem muito menos
prolíficos.”
“De qualquer maneira,
parece que os extremos da terra encerram o que há-de mais belo e mais raro no mundo.”
“De minha parte, não
posso deixar de rir quando vejo os que descreveram a circunferência da terra pretenderem,
sem atender à razão, ser a terra redonda, envolvida pelo oceano por todos os lados,
e a Ásia igual à Europa.”
“Quando as tropas se
punham em marcha, um persa, de nome Ébaso, suplicou a Dario que deixasse ficar consigo
um dos seus três filhos que tomavam parte na expedição. O soberano respondeu-lhe
que, em vista de um pedido tão moderado e por tratar-se de um amigo, deixar-lhe-ia,
não apenas um, mas os três. O persa ficou encantado com a resposta e satisfeitíssimo
por terem os seus filhos sido dispensados; mas o soberano mandou matar os jovens,
abandonando-os no local onde foram executados.”
“Tentar os deuses —
tornou a pitonisa — ou cometer uma injustiça é a mesma coisa.”
“Nada se realiza por
si mesmo, e o sucesso é, geralmente, o preço de um grande esforço.”
“– Considero mais proveitosas
as deliberações tomadas depois de prolongadas conjecturas, pois, mesmo que os resultados
não correspondam à nossa expectativa, resta-nos a satisfação de havermos decidido
com sabedoria; a falta de sorte é que terá suplantado a nossa prudência. Quando
tomamos uma decisão apressada, mesmo que a fortuna nos favoreça, o sucesso não impede
de pensarmos que agimos perigosa e inconsideradamente.
– Não vedes que Deus
lança o raio sobre os animais mais fortes, exterminando-os, poupando os pequenos
e mais fracos? Não vedes que a faísca mortífera cai sempre sobre os edifícios mais
altos e sobre as árvores de maior porte? Sabeis por quê? Porque Deus se compraz
em fazer baixar tudo que se eleva. Assim, também, um grande e poderoso exército
é, muitas vezes, destroçado por outro pequeno, e isso pela vontade de Deus, que
não permite que simples mortais se elevem e se glorifiquem tanto quanto Ele próprio.
A precipitação acarreta erros que ocasionam desgraças irreparáveis. A ponderação,
ao contrário, traz-nos sempre vantagens. Se não as percebemos imediatamente, viremos
a reconhecê-las com o tempo”.
– Artábano — replicou
Xerxes —, se em todos os negócios fôssemos deliberar com o mesmo escrúpulo, nunca
faríamos nada. É melhor proceder com ousadia, medir apenas a metade dos males possíveis,
do que deixar-se dominar por temores prematuros, nada fazendo. Se combates todas
as opiniões sem propor em seu lugar algo mais acertado, nada conseguirás sobre aquele
que foi de opinião contrária à tua. Ora, ao homem nunca é dado acertar em todas
as suas previsões. As pessoas ousadas geralmente obtêm sucesso em suas iniciativas,
enquanto que as que agem com excesso de cautela raramente o conseguem.”
“Conta-se que, quando
o soberano atravessou o Helesponto, um habitante do litoral exclamou: “Oh Júpiter!
Por que, sob a forma de um persa e sob o nome de Xerxes, arrastais convosco tantos
homens para destruir a Grécia? Ser-vos-ia fácil fazê-lo sem o concurso deles”.”
“Dizem que Dieneces,
de Esparta, a todos suplantou pelo seu valor e desprendimento na luta, citando-se
dele uma frase memorável. Antes da batalha, tendo ouvido um traquínio dizer que
o sol seria obscurecido pelas flechas dos bárbaros, tão grande era o número deles,
respondeu-lhe sem perturbar-se: “Nosso hóspede da Traquínia nos anuncia toda sorte
de vantagens. Se os medos cobrirem o sol, combateremos à sombra, sem ficarmos expostos
ao seu ardor”.”
“Foram todos enterrados
num mesmo lugar, onde haviam tombado para sempre, e sobre o seu túmulo, bem como
sobre o monumento dos que pereceram antes de haver Leônidas mandado embora os aliados,
vê-se esta inscrição: “Quatro mil peloponésios combateram aqui contra três milhões
de homens”. Esta inscrição refere-se a todos, mas a seguinte refere-se particularmente
aos espartanos: “Caminhante, vai dizer aos Lacedemônios que aqui repousamos por
havermos obedecido às suas leis”.
“Tanto a paz é melhor
do que a guerra, quanto uma guerra civil é mais nociva do que uma guerra estrangeira.”
“A mais cruel tristeza
para o homem é ver que o sábio não tem a menor autoridade”.
“O que acontece pelo
desígnio dos deuses manifesta-se sempre por sinais.”
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