quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

História – Heródoto

Editora: eBooks Brasil

Tradução (a partir do grego) e notas: Pierre Henri Larcher

Tradução (para o português): J. Brito Broca

Opinião: ★★★☆☆

Páginas: 770

Sinopse: História, de Heródoto, divide-se em nove livros, abrange dois séculos e conta os principais episódios do conflito greco-pérsico. Inspirado pelo patriotismo, o autor, considerado o “pai da História” e cuja obra sobrevive até hoje, preocupa-se em exaltar a união dos Gregos contra os bárbaros e, sem seguir estrita ordem cronológica, descreve cada região do império, a religião, a geografia, a História e as características étnicas de cada povo. Heródoto foi um grande e fidedigno repórter e observador curioso, documentando os fatos sem se preocupar em comentá-los.



“Eu que sei como a divindade tem ciúme da ventura dos seres humanos e como se apraz em perturbá-la.”

 

 

“É preciso convir, senhor, que o homem não é senão vicissitudes. Possuís certamente riquezas consideráveis e reinais sobre um grande povo, mas não posso responder à vossa pergunta sem saber se terminareis os vossos dias na abundância; pois o homem cumulado de riquezas não é superior àquele que possui o necessário, a menos que a boa sorte o acompanhe e que, gozando de todas essas espécies de bens, termine venturosamente a existência. Nada mais comum do que a desgraça na opulência e a ventura na obscuridade. Um homem imensamente rico mas infeliz tem apenas duas vantagens sobre o feliz, enquanto que este conta com grande número delas sobre o rico infeliz. O homem rico está mais em condições de satisfazer seus desejos e de suportar grandes perdas, mas se o outro não pode resistir a essas perdas, nem contentar os desejos, sua felicidade o põe a coberto de umas e de outros. Aliás, admitindo que ele esteja no uso de todos os seus membros, goze de boa saúde, não sofra nenhum desgosto e seja feliz com os filhos; se a todas essas vantagens acrescentardes a de uma morte gloriosa, aí tereis o homem que procurais. Ele, sim, merece a classificação de feliz. Mas, antes da morte, evitai julgá-lo; não lhe deis esse nome; considerai-o somente bem aquinhoado.”

 

 

“Enquanto se preparava para essa expedição, um lídio de nome Sadânis, famoso pela sua sabedoria e que veio a tornar-se ainda mais célebre entre os Lídios pelo conselho que deu a ele, Creso, falou-lhe nos seguintes termos: “Ó rei, vós vos dispondes a fazer guerra a povos que se vestem apenas de peles e que se alimentam, não do que desejariam ter, mas do que têm, porque o país é estéril; a povos que bebem somente água, por lhes faltar o vinho; que não conhecem o figo e outras boas coisas que regalam a vida. Vitorioso, que podereis arrebatar dessa gente desprovida de qualquer riqueza? Vencido, considerai os bens que ides perder. Se eles experimentarem uma vez a doçura do nosso país, não quererão mais renunciar a ela; nenhum meio encontraremos para expulsá-los. De minha parte, rendo graças aos deuses por não haverem inspirado aos Persas o desejo de atacar os Lídios”. Creso, porém, não se deixou convencer. No entanto, o que Sadânis dizia era a pura verdade. Os Persas, antes da conquista da Lídia, não conheciam nem o luxo nem as comodidades da existência.”

 

 

“É preciso ser muito insensato para preferir a guerra à paz. Na paz, os filhos sepultam os pais; na guerra, os pais sepultam os filhos.”

  


“Se se propusesse a todos os homens escolher entre todas as leis instituídas nos diversos países as que melhor lhes parecessem, de certo que, após um exame minucioso, cada qual se decidiria pelas de sua própria pátria, de tal modo estão os homens persuadidos de que não existem leis mais belas do que as deles. Isso é uma verdade, confirmada por muitos exemplos, e, entre outros, pelo seguinte: Um dia, Dario, fazendo vir à sua presença alguns Gregos submetidos ao seu domínio, perguntou-lhes por que soma de dinheiro se decidiriam a comer os cadáveres de seus pais. Todos declararam que jamais fariam tal coisa, qualquer que fosse a quantia que lhes oferecessem. Mandou chamar, em seguida, os Cários, habitantes da Índia, acostumados a comer os pais, e perguntou-lhes, na presença dos Gregos, quanto queriam para queimar os pais depois de mortos. Os Indianos, horrorizados com a proposta, pediram-lhe para não insistir numa linguagem tão odiosa. Assim, nada mais exato do que a sentença que encontramos nos versos de Píndaro: A lei é a rainha de todos os homens.”

 

 

“Sabes por experiência que mais vale despertar inveja do que piedade.”

 

 

“Quando é necessário mentir – volveu Dario –, não devemos ter escrúpulo em fazê-lo. Os que mentem desejam a mesma coisa que os que dizem a verdade: mente-se com o propósito de tirar algum proveito disso; diz-se a verdade, também, tendo em vista alguma vantagem e para conseguir impor confiança. Assim, embora não seguindo os mesmos caminhos, atingimos o mesmo fim. Se não houvesse nada a lucrar, seria indiferente àquele que diz a verdade pregar antes uma mentira, ou ao que mente, dizer antes a verdade.”

 

 

“A Providência divina, na sua suprema sabedoria, determinou que todos os animais tímidos e que servem de alimento fossem muito fecundados para que o consumo deles feito não causasse o desaparecimento da espécie, e que, ao contrário, os animais nocivos e ferozes fossem muito menos prolíficos.”

 

 

“De qualquer maneira, parece que os extremos da terra encerram o que há-de mais belo e mais raro no mundo.”

 

 

“De minha parte, não posso deixar de rir quando vejo os que descreveram a circunferência da terra pretenderem, sem atender à razão, ser a terra redonda, envolvida pelo oceano por todos os lados, e a Ásia igual à Europa.”

 

 

“Quando as tropas se punham em marcha, um persa, de nome Ébaso, suplicou a Dario que deixasse ficar consigo um dos seus três filhos que tomavam parte na expedição. O soberano respondeu-lhe que, em vista de um pedido tão moderado e por tratar-se de um amigo, deixar-lhe-ia, não apenas um, mas os três. O persa ficou encantado com a resposta e satisfeitíssimo por terem os seus filhos sido dispensados; mas o soberano mandou matar os jovens, abandonando-os no local onde foram executados.”

 

 

“Tentar os deuses — tornou a pitonisa — ou cometer uma injustiça é a mesma coisa.”

 

 

“Nada se realiza por si mesmo, e o sucesso é, geralmente, o preço de um grande esforço.”

 

 

“– Considero mais proveitosas as deliberações tomadas depois de prolongadas conjecturas, pois, mesmo que os resultados não correspondam à nossa expectativa, resta-nos a satisfação de havermos decidido com sabedoria; a falta de sorte é que terá suplantado a nossa prudência. Quando tomamos uma decisão apressada, mesmo que a fortuna nos favoreça, o sucesso não impede de pensarmos que agimos perigosa e inconsideradamente.

– Não vedes que Deus lança o raio sobre os animais mais fortes, exterminando-os, poupando os pequenos e mais fracos? Não vedes que a faísca mortífera cai sempre sobre os edifícios mais altos e sobre as árvores de maior porte? Sabeis por quê? Porque Deus se compraz em fazer baixar tudo que se eleva. Assim, também, um grande e poderoso exército é, muitas vezes, destroçado por outro pequeno, e isso pela vontade de Deus, que não permite que simples mortais se elevem e se glorifiquem tanto quanto Ele próprio. A precipitação acarreta erros que ocasionam desgraças irreparáveis. A ponderação, ao contrário, traz-nos sempre vantagens. Se não as percebemos imediatamente, viremos a reconhecê-las com o tempo”.

– Artábano — replicou Xerxes —, se em todos os negócios fôssemos deliberar com o mesmo escrúpulo, nunca faríamos nada. É melhor proceder com ousadia, medir apenas a metade dos males possíveis, do que deixar-se dominar por temores prematuros, nada fazendo. Se combates todas as opiniões sem propor em seu lugar algo mais acertado, nada conseguirás sobre aquele que foi de opinião contrária à tua. Ora, ao homem nunca é dado acertar em todas as suas previsões. As pessoas ousadas geralmente obtêm sucesso em suas iniciativas, enquanto que as que agem com excesso de cautela raramente o conseguem.”

 

 

“Conta-se que, quando o soberano atravessou o Helesponto, um habitante do litoral exclamou: “Oh Júpiter! Por que, sob a forma de um persa e sob o nome de Xerxes, arrastais convosco tantos homens para destruir a Grécia? Ser-vos-ia fácil fazê-lo sem o concurso deles”.”

 

 

“Dizem que Dieneces, de Esparta, a todos suplantou pelo seu valor e desprendimento na luta, citando-se dele uma frase memorável. Antes da batalha, tendo ouvido um traquínio dizer que o sol seria obscurecido pelas flechas dos bárbaros, tão grande era o número deles, respondeu-lhe sem perturbar-se: “Nosso hóspede da Traquínia nos anuncia toda sorte de vantagens. Se os medos cobrirem o sol, combateremos à sombra, sem ficarmos expostos ao seu ardor”.”

 

 

“Foram todos enterrados num mesmo lugar, onde haviam tombado para sempre, e sobre o seu túmulo, bem como sobre o monumento dos que pereceram antes de haver Leônidas mandado embora os aliados, vê-se esta inscrição: “Quatro mil peloponésios combateram aqui contra três milhões de homens”. Esta inscrição refere-se a todos, mas a seguinte refere-se particularmente aos espartanos: “Caminhante, vai dizer aos Lacedemônios que aqui repousamos por havermos obedecido às suas leis”.

 

 

“Tanto a paz é melhor do que a guerra, quanto uma guerra civil é mais nociva do que uma guerra estrangeira.”

 

 

“A mais cruel tristeza para o homem é ver que o sábio não tem a menor autoridade”.

 

 

“O que acontece pelo desígnio dos deuses manifesta-se sempre por sinais.”

Nenhum comentário: