Editora: Darkside
ISBN: 978-85-6663-622-2
Tradução,
introdução, notas e posfácio: Marcia
Heloisa
Tradução complementar: Bruno Dorigatti & Maria Clara Carneiro
Opinião: ★★★★☆
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Páginas: 580
Sinopse: Drácula, um clássico que ainda corre quente na veia de inúmeras
gerações de leitores por todo o mundo e a mais celebrada narrativa de vampiros,
continua a transcender fronteiras de tempo, espaço, história e memória.
Mais
de 120 anos após sua primeira publicação, o romance epistolar mobiliza leitores
e estudiosos, confirmando o vigor perene de uma árvore cujas sólidas raízes
respondem pela vitalidade de suas ramificações. Embora o famoso conde não tenha
sido o primeiro vampiro literário, certamente é o mais popular, sugado e
adaptado para inúmeros universos: teatro, cinema, quadrinhos, séries e
brinquedos, o semblante é reconhecido até mesmo por aqueles que nunca leram o
romance. Ele está em todos os lugares.
A
obra atemporal de Bram Stoker narra, por meio de fragmentos de cartas, diários
e notícias de jornal, a história de humanos lutando para sobreviver às
investidas do vampiro Drácula. O grupo formado por Jonathan Harker, Mina
Harker, dr. Van Helsing e dr. Seward tenta impedir que a vil criatura se
alimente de sangue humano na Londres da época vitoriana, no final do século
XIX.
Um
clássico absoluto do terror, Bram Stoker define em Drácula a forma como nós
entendemos e pensamos os vampiros atualmente. Mais que isso, ele traz esse
monstro para o centro do palco da cultura pop do nosso século e eterniza o
vilão de modos refinados e comportamento sanguinário.
DUAS
EDIÇÕES PARA UM ROMANCE ÚNICO
Não
é de agora que os leitores clamam por uma edição de Drácula feita pela DarkSide Books para honrar o legado do
mestre Bram Stoker. Uma obra tão grandiosa quanto essa será publicada em duas
versões, para nenhum vampiro colocar defeito: FIRST EDITION, com a icônica capa
amarela da primeira publicação, em 1897, uma edição inédita no mercado
brasileiro que eterniza o brilho e o encanto do sol, algo inalcançável diante
de toda a dor da eternidade; e a DARK EDITION, dedicada aos leitores trevosos
de coração sombrio. Por dentro elas carregam o mesmo conteúdo sangrento; por
fora demonstram a vida e a beleza de um clássico imortal.
Para
fazer os leitores se arrepiarem, Marcia Heloisa assina a tradução e introdução
de Drácula. E como sangue tem poder, o descendente direto do autor, Dacre
Stoker, escreve a preciosa apresentação desta edição.
Carlos
Primati e Marcia Heloisa dão suas contribuições para a perpétua criatura. O
leitor encontra textos de apoio que contam as relações entre a verdadeira
Transilvânia e a aquela eternizada no livro, bem como a influência dos vampiros
na cultura pop mundial. E como a DarkSide
Books sabe o que faz o coração dos
vivos leitores da editora bater mais forte, apresenta também o conto “O Hóspede
de Drácula”, que fazia parte do texto de Stoker, mas foi retirado da primeira
publicação.
Todo
esse conteúdo, planejado especialmente para os darksiders que sabem que existe
uma razão para as coisas serem como são, é ornamentado com as belas e poderosas
imagens de Samuel Casal, premiado quadrinista e ilustrador brasileiro, que fez
uma releitura deslumbrante de personagens imortais.
A
coleção Medo Clássico da DarkSide se
consolida a cada mestre que entra em sua casa, fazendo uma homenagem aos
grandes nomes da literatura que já causaram pesadelos inenarráveis aos
leitores, década após década. Para eternizar a experiência, sempre traz
ilustradores convidados e tradutores que respiram e conhecem profundamente as
obras originais. De fã para fã. Até o fim.
“Só compreendemos a verdadeira dimensão de certos
horrores quando nos vemos face a face com eles.”
“Justo quando cheguei a essa conclusão, ouvi o som de
pesados passos se aproximando por trás da porta e distingui um raio de luz
pelas frestas. Em seguida, o ruído metálico de correntes e travas sendo
manipuladas. A chave girou na fechadura e produziu um rangido estridente, como
se há muito não fosse usada, e a imensa porta se abriu.
Lá dentro, um senhor
alto, o rosto glabro com exceção do longo bigode branco, trajado de preto da
cabeça aos pés, sem qualquer vestígio de outra cor. Na mão erguia uma antiga
lamparina de prata, cuja chama ardia livremente, sem contenção de redoma, e
lançava sombras esguias e bruxuleantes ao se agitar com a corrente de ar que
invadia o ambiente pela porta aberta. Fez um gesto cortês com a mão direita, e
me convidou a entrar, em excelente inglês, porém com estranha entonação:
“Bem-vindo à minha casa!
Entre livremente e por sua própria vontade!” Não fez menção de vir ao meu
encontro, só permaneceu parado como estátua, como se seu gesto de acolhida o
tivesse transformado em pedra. No momento, contudo, em que cruzei a soleira da
porta, precipitou-se em minha direção, estendeu a mão e apertou a minha com
tanta força que mal pude disfarçar a expressão involuntária de dor. Também me
surpreendi por estar fria como gelo, dando a impressão de que cumprimentei um
cadáver e não um ser vivo. Ele então repetiu:
“Bem-vindo à minha
casa. Entre livremente. Parta em segurança e deixe um pouco da felicidade que
traz consigo!” A força do aperto de mão era tão semelhante à do cocheiro, cujo
rosto não havia visto, que por um instante suspeitei falar com a mesma pessoa; para
me certificar, indaguei:
“Conde Drácula?”
Ele se curvou em
reverência e respondeu:
“Eu sou Drácula e
seja bem-vindo, sr. Harker, a minha casa. Entre, o ar da noite está gelado e
você precisa comer e descansar”. (...)
A ceia já estava
posta. Meu anfitrião, recostado em um dos cantos da grande lareira, fez um
gesto gracioso em direção à mesa e disse:
“Por favor, sente-se
e coma o quanto quiser. Perdoe-me por não acompanhá-lo, mas já jantei e não
costumo cear”.”
“A essa altura, ao terminar a ceia, satisfiz a vontade
do meu anfitrião e puxei uma cadeira para perto do lume, acendi o charuto que
me ofereceu, desculpando-se por não fumar. Tive então oportunidade para
observá-lo e notei que sua fisionomia era bastante peculiar.
Seu rosto tinha uma
característica aquilina pronunciada — bem pronunciada —, com nariz afilado e
narinas arqueadas; a testa era alta, abaulada, cabelo escasso ao redor das
têmporas, mas profuso no resto da cabeça. As sobrancelhas muito espessas, quase
se uniam sobre o nariz, os fios grossos e compridos pareciam formar um
emaranhado de pelos. A boca, até onde pude ver por trás do farto bigode, era
rija e de aparência um tanto cruel; os dentes brancos, estranhamente afiados,
projetavam-se sobre os lábios, cujo tom escarlate denotava vitalidade
extraordinária para homem de sua idade. As orelhas eram pálidas e bastante
pontiagudas; o queixo largo e forte, as faces firmes, embora magras. O efeito
geral era de lividez excepcional.
Até então, eu havia
notado apenas o dorso de suas mãos que, apoiadas sobre os joelhos diante da
lareira, me pareceram brancas e delicadas; porém, mais de perto, não pude
deixar de reparar que eram um tanto quanto ásperas — largas e de dedos curtos e
achatados. E o mais estranho: havia pelos no centro de suas palmas. As unhas
eram compridas, finas e afiadas. Quando o conde se inclinou sobre mim,
tocando-me com ambas as mãos, não consegui conter um calafrio. Talvez tenha
sido seu hálito rançoso; sei apenas que fui tomado por terrível náusea que, por
mais que tentasse, não consegui disfarçar. O conde decerto notou minha reação,
recuou e, com o sorriso um tanto lúgubre, que exibiu de forma ostensiva, seus
dentes protuberantes, tornou a se sentar defronte da lareira, do lado oposto ao
meu.
Ficamos alguns
minutos em silêncio e, ao olhar na direção da janela, notei os primeiros raios
anunciarem a aurora. Uma estranha quietude pairava sobre tudo, mas, apurando
meus ouvidos, distingui uivos de vários lobos, do vale lá embaixo. Os olhos do
conde se iluminaram e ele disse:
“Ouça-os, os filhos
da noite. Que melodia!” Suponho que tenha notado a perplexidade em meu rosto,
pois logo acrescentou: “Ah, senhor, vocês, habitantes das cidades, não
conseguem compreender os sentimentos de um caçador”. Erguendo-se, disse:
“Mas você deve estar
cansado. Seu quarto está pronto, e amanhã durma até a hora que quiser. Preciso
me ausentar e retorno apenas à noite; então, durma bem e tenha bons sonhos!”.
Com uma reverência cortês, abriu para mim a porta do quarto octogonal e
adentrei em meus aposentos…
Sinto-me mergulhado
em um mar de estranhezas. Tenho desconfianças, tenho temores, ocorrem-me os
mais estranhos pensamentos, os quais não ouso confessar nem para minha própria
alma. Que Deus me proteja, nem que seja pelo bem daqueles que amo!”
“Eu, obviamente, manifestei minha disposição em
ajudá-lo no que fosse possível e aproveitei para perguntar se poderia
frequentar sua biblioteca. Conde Drácula respondeu: “Sim, é claro”, mas acrescentou:
“Você pode frequentar
todo o castelo à vontade, exceto os aposentos trancados à chave, onde não creio
que vá querer perscrutar. Há um motivo para que as coisas sejam como são e se
você visse o que vejo e soubesse o que sei, talvez entendesse melhor”.”
“Que Deus preserve minha sanidade, pois é só o que me
resta. Segurança e garantia de segurança são coisas do passado. Enquanto eu
permanecer aqui, tenho apenas um desejo: não enlouquecer — isso se já não
estiver louco. Mesmo ainda lúcido, é de fato enlouquecedor pensar que, de todas
as aberrações que espreitam neste lugar odioso, o conde é a menos apavorante
para mim; que só posso recorrer a ele em busca de proteção, embora esteja
ciente de que só estou protegido enquanto ainda tiver alguma utilidade. Meu
Deus do céu! Que eu consiga me acalmar, pois, caso contrário, é caminho certo
para a loucura.”
“A loira deu um passo à frente e se debruçou sobre meu
corpo até que senti sua respiração em minha pele. Era doce como o mel e
despertou em meus nervos a mesma sensação que a sua voz, mas havia algo amargo
embutido na doçura, um odor acre e pronunciado que me fez pensar em sangue.
Estava com medo de
abrir as pálpebras, mas enxergava perfeitamente. A loira se ajoelhou,
debruçou-se ainda mais sobre meu corpo com expressão indubitável de gozo. Havia
nela voluptuosidade deliberada que me parecia excitante e repulsiva ao mesmo
tempo e, ao arquear o pescoço, lambeu os lábios como um animal, revelando o
brilho úmido em sua boca escarlate e a língua que deslizava nos dentes
pontiagudos e brancos. Abaixava cada vez mais a cabeça e eu podia sentir seus
lábios descendo por minha boca, meu queixo, seus lábios pressionados contra
minha garganta. De repente, ela parou e pude ouvir o som molhado de sua língua
lambendo dentes e lábios, e senti seu hálito quente bafejar meu pescoço. Minha
pele formigou, antecipando o toque cada vez mais e mais iminente. Senti seus
lábios suaves e trêmulos na pele hipersensível do meu pescoço e as pontas rijas
dos seus caninos, posicionados e pausados. Fechei os olhos em lânguido êxtase e
esperei — esperei com o coração pulsando.
Contudo, naquele
exato momento, outra sensação me atingiu, rápida como relâmpago. Senti a
presença do conde, que se aproximava como se envolto em densa nuvem de cólera.
Abri os olhos involuntariamente e vi sua mão feroz agarrar o pescoço delicado
da loira e puxá-lo com uma força brutal. Os olhos azuis da moça se
transformaram, furiosos, os dentes rangeram de ódio e seu rosto pálido
enrubesceu, irado. Mas o conde! Jamais imaginei tamanha fúria, nem mesmo nos
demônios dos abismos mais infernais. Os olhos dele pareciam queimar. O brilho
vermelho era aterrorizante, como se as chamas do próprio inferno ardessem por
trás das órbitas. O rosto exibia lividez mortal e suas feições se crispavam
rijas, como se os músculos faciais fossem de aço; as sobrancelhas espessas que
se juntavam sobre o nariz pareciam labaredas de fogo. Com violento puxão,
arremessou a loira para longe e em seguida empurrou as outras para trás com um
simples gesto — o mesmo gesto imperioso que o vi usar com os lobos. Sua voz com
tom que não se elevou além do sussurro, mas que, não obstante, parecia cortar o
ar e pairar ao redor do quarto, disse:
“Quando, após uma
hora ou duas, o conde entrou de fininho no gabinete, eu, que havia cochilado no
sofá, despertei do sono com sua chegada. Ele me saudou com cortesia e parecia
muito bem-disposto. Vendo que eu dormira em sua ausência, disse:
“Está cansado, meu
amigo? Vá se deitar em sua cama, lá poderá descansar melhor. Não poderei ter o
prazer de conversar com você hoje à noite, pois preciso me ocupar dos meus
afazeres. Mas fique à vontade para se recolher.” Fui para o meu quarto, deitei
e, curiosamente, dormi sem sonhar. O desespero tem sua porção de serenidade.”
“Moda é uma maçada. Eu sei, outra gíria, mas não tem
problema.”
“Mesmo que a solidariedade
não possa alterar os fatos, pode, ao menos, torná-los mais suportáveis.”
“Aprendemos com fracasso, não com sucesso.”
“Afortunados são aqueles que levam a vida sem medo, sem
sustos, para quem o sono é uma benção noturna diária, que traz consigo apenas
os mais doces sonhos.”
XXXXXXXXXXXXXXXX
(Apêndices)
“Se o autor de ficção pretende que leitores
acreditem em sua história, precisa ele próprio acreditar nela ou, pelo menos,
aprender a escrever como se acreditasse. Não deve exibir retórica vazia nem
reprisar terrores gastos de empoeirados cenários teatrais. Quanto mais
extraordinários os fatos, mais direto devem ser estilo e método narrativo.
Alguns, ao versar sobre tais temas, preferem situar suas histórias em tempos
remotos. No entanto, a história sobrenatural que não se sustenta na atualidade
sucumbe perante a reluzente claridade do mundo ao nosso redor e acaba reduzida
a uma disfarçada impostura.” (The Daily
News, 27-05-1897)
“Sydney Smith (1771–1845), clérigo inglês célebre pelos
ditos espirituosos, certa vez postulou: “A grande questão que devemos nos fazer
acerca de um romance é: foi uma leitura divertida? Você levou um susto ao
perceber que perdeu a hora do jantar? Achou que não eram ainda dez da noite e
já se passava das onze? Atrasou-se para se arrumar para sair? Ficou acordado
lendo até mais tarde do que de costume? Se um romance produz tais efeitos, é
bom; se não, não há nada que possa salvá-lo: nem enredo, escrita, amor ou
polêmica… Um bom romance deve entreter; se não serve para isso, não serve para
nada”.” (Marcia Heloisa – posfácio)
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