Editora: Lua de papel
ISBN: 978-85-6306-609-1
Opinião: ★★★★☆
Páginas: 588
Sinopse: Parte I
1962 – Local: Chile – Campeão: Brasil
– Dois anos antes da Copa, dois terremotos (um possivelmente
atingiu 8,5 graus na escala Richter – o que o colocava como o mais violento já registrado
no mundo até então) destruíram o Chile, afetando mais de 400 mil quilômetros quadrados
e deixando 25% de sua população desabrigada. Cogitou-se em mudar o lugar do mundial,
porém, o carismático brasileiro naturalizado chileno Carlos Dittborn Pinto, presidente
da confederação sul-americana de futebol, que já havia conquistado a sede da Copa
para o seu país devido ao grande carisma que possuía, convenceu os dirigentes da
Fifa em manter a Copa no Chile. Um de seus argumentos que ficaram famosos foi uma
frase a respeito do esforço de reconstrução que o Chile deveria fazer para organizar
o mundial: “Porque não temos nada, faremos tudo!”.
– As seleções da Itália e Espanha pagaram para terem jogadores
de outras origens em seus times. A seleção italiana naturalizava os que tinham ao
menos um sobrenome italiano. A azurra comprou os argentinos Maschio e Sivori,
além dos brasileiros Sormani e Mazzola – este jogou a Copa de 58 pelo Brasil e a
de 62 pela Itália. A Espanha já não fazia distinção em haver sobrenome de seu país.
Levou os craques veteranos Puskas, da Hungria, e Di Stéfano, da argentina. Também
naturalizaram o paraguaio Eulogio Martinez e o uruguaio José Santamaría. A grande
quantidade de origens dos seus jogadores fez com que a Espanha fosse apelidada de
ONU F.C.
– O jogo de desempate deixou de valer como critério para decidir
qual time seguiria quando eles terminavam com o mesmo número de pontos, já que este
jogo extra desgastava as seleções e prejudicavam as que o faziam, pois não tinham
tempo para se recuperarem antes das outras partidas. Passou a valer o gol average,
a divisão dos gols marcados pelos gols sofridos, o que não é a mesma coisa que o
saldo de gols. Por exemplo, se um time faz cinco gols e toma dois, fica com três
de saldo. E outro faz três e toma um, fica com dois de saldo, o que classificaria
o primeiro. Já no gol average, classificaria o último, pois 5/2 = 2,5 e 3/1
= 3.
– Nas eliminatórias a Holanda se recusou a deixar os alemães
orientais ingressarem no país – o muro de Berlim havia sido construído há dois meses.
Para evitar um incidente diplomático, a Fifa cancelou o jogo, já que nenhuma das
duas seleções tinha mais chance de classificação.
– A União Soviética e a Iugoslávia decidiram a EuroCopa de
1960 num jogo com muita pancadaria, vencendo a URSS por 2 a 1. Na Copa, a URSS ganhava
o jogo por 2 a 0 com o goleiro soviético Yashin fechando o gol. A cinco minutos
do fim, o atacante iugoslavo Mujic sofreu um pênalti e o árbitro não marcou. O atacante
revidou quebrando a perna direita do zagueiro soviético Dubinski em dois pontos,
na tíbia e no perônio. O iugoslavo não foi expulso, mas não jogou mais na Copa –
foi mandado embora pela sua própria delegação. As fraturas em Dubinski nunca regeneraram
totalmente, o que inutilizou o soviético para o futebol para sempre. No local da
pancada desenvolveu-se um sarcoma – uma espécie de câncer. A perna de Durbinski
foi amputada para que o câncer não se espalhasse, mas isto não bastou e a doença
o matou sete anos depois.
– O único gol olímpico marcado em Copas ocorreu na de 62,
no empate de 4 a 4 de URSS e Colômbia, depois de uma falha do zagueiro soviético
Chokeli, para desespero do goleiraço Yashin. Assim como a URSS, o destaque do time
mexicano estava no gol, com o goleiro Carbajal.
– O craque argentino naturalizado espanhol Di Stéfano não
pôde jogar, pois se recuperaria de uma lesão no meio do mundial, porém, a Espanha
caiu logo na primeira fase e ele acabou nunca disputando uma partida de Copa do
mundo.
– O jogo Chile e Itália foi tumultuado desde o começo, com
os chilenos partindo pra cima do árbitro inglês Ken Aston, que perdeu o controle
da partida. O chileno Toro deu um chute no italiano Mora, que foi vingado por Ferrini,
porém, só este foi expulso, o que gerou grande confusão, carecendo da polícia entrar
em campo para retirá-lo. Depois, o italiano Maschio acertou Leonel Sanchez e este
revidou com um soco, quebrando o nariz do italiano. Nenhum dos dois foi punido,
mas Sanchez acabou levando um chute no pescoço do italiano David – e este foi expulso.
Com tanta confusão, o primeiro tempo terminou com 72 minutos, e a Itália, com dois
jogadores a menos, perdeu por 2 a 0. O criticado árbitro Ken Aston veio a abandonar
o futebol devido a uma lesão muscular – e não por causa do jogo. Anos depois, como
diretor de arbitragem da Fifa, ele criou os cartões amarelo e vermelho.
– O Brasil só precisava de um empate com a Espanha, mas entrou
nervoso – Pelé havia se machucado e não jogaria mais na Copa. Sufocado pela Espanha,
levou um gol. E só não levou o segundo devido a uma ajuda da arbitragem. Nilton
Santos derrubou Collar dentro da área, porém, deu um passo à frente saindo dela,
induzindo o árbitro a marcar apenas falta. Na cobrança desta falta, Peiró marcou
de bicicleta, porém, o juiz deu jogo perigoso – embora ele estivesse a um metro
e meio do zagueiro brasileiro Zózimo. Reanimada, a seleção brasileira foi pra cima
e o substituto de Pelé, Amarildo, fez dois gols. O Brasil passou e a Espanha estava
fora. Comemorando, Pelé, vestido, abraçou seu substituto enquanto este ainda estava
embaixo do chuveiro.
– O jogo Inglaterra e Brasil foi interrompido devido a invasão
no campo por cachorros – cenas que ficaram famosas. O primeiro driblou até Garrincha,
e só foi pego pelo zagueiro inglês Jimmy Greaves, que ficou de quatro e conseguiu
se aproximar do cão. O segundo, depois de passear pelo campo, passou por debaixo
do alambrado e desapareceu.
– Na semifinal Brasil 4 X 2 Chile, o árbitro anulou um gol
legítimo de Vavá, além de marcar um duvidoso pênalti a favor dos anfitriões. No
fim do jogo, expulsou o chileno Landa que fez dura falta em Zito. Garrincha, que
apanhou o jogo inteiro, revidou em Rojas “Foi um pontapezinho da amizade”,
disse o brasileiro depois, sobre o lance. Os chilenos reclamaram, e depois de consultar
o bandeira, o árbitro expulsou Garrincha – o que tiraria o craque da final. Até
Tancredo Neves, presidente do conselho de ministros do Brasil, intercedeu junto
à Fifa para que o brasileiro pudesse jogar, argumentando que era a primeira falta
do jogador na Copa e isto deveria contar em seu favor. Foi convocada uma reunião
extraordinária na Fifa para tratar do caso, e o árbitro confirmou que não viu o
lance – havia seguido o bandeira uruguaio Esteban Mariano. Mariano foi convocado
a depor, mas havia deixado o Chile – acreditava-se, com destino a Montevidéu, mas
ninguém sabia ao certo. Depois, especulou-se que sua viagem para fora do Chile foi
paga pela CBD e que ele teria ido para o Brasil. O fato é que um mês depois da Copa,
o uruguaio foi contratado pela federação paulista de futebol. E Garrincha jogou
a final.
– Garrincha não jogou bem na primeira fase da Copa. Porém,
nos jogos finais, lavou a alma. Nas quartas-de-final contra a Inglaterra fez dois
gols que não eram da sua especialidade (o drible): um de cabeça, subindo mais alto
que o zagueiro inglês, e outro chutando por cobertura de fora da área. E ainda bateu
uma falta, originando um rebote que Vavá concluiu. Na semifinal, marcou outros dois
contra o Chile. O jornal chileno El mercúrio estampou em suas páginas durante
a competição: “Garrincha, de que planeta vienes?”. Na final jogou com febre,
proveniente de uma gripe ainda mal curada de dois dias antes da partida e acabou
não marcando o seu. Apesar de saber da importância da Copa, chamava o adversário
da final, a Tchecoslováquia de “aquela equipe com a camisa do São Cristóvão”.
“Dava até orgulho de jogar contra ele”, disse o tcheco Novak, a quem coube
marcá-lo na final. Garrincha veio a ser eleito o craque da Copa.
– O árbitro soviético Nikolai Latichev tinha o sonho de ficar
com a bola da final. Porém, o massagista brasileiro Mário América, assim como em
58, surrupiou-a. A Fifa compensou o árbitro dando-lhe um apito de ouro.
1966 – Local: Inglaterra – Campeã: Inglaterra
– Das 14 vagas disponíveis para a Copa do mundo (as outras
duras eram preenchidas pelo campeão anterior e o anfitrião), a Fifa só destinava
uma para os africanos e asiáticos – que possuíam 42% dos países filiados à entidade,
o que os incomodava. Porém, a gota d’água foi a definição dos grupos eliminatórios,
quando a Fifa aceitou a inscrição da África do Sul, que vivia sob o regime racista
do apartheid. 15 dos 19 concorrentes desistiram em represália a decisão da
entidade de aceitar o país nas eliminatórias. Mais adiante a Fifa desclassificou
a África do Sul, mas já era tarde – apenas a Austrália e as duas Coreias disputaram
a vaga.
– Esta foi a primeira Copa a ter uma mascote, o leão Willie,
uma forma idealizada para arrecadar dinheiro com o licenciamento da imagem. A mascote
virou mania nacional na Inglaterra, sendo estampado nos mais variados produtos –
até em anúncios de cerveja.
– Pouco antes da Copa, a CBD recebeu um comunicado da Federação
Inglesa dizendo que o café seria considerado um estimulante. A CBD rebateu afirmando
que isso era assunto para o Instituo Brasileiro do Café, e que o chá, tradicional
bebida dos ingleses, era muito mais estimulante.
– O técnico brasileiro Feola, sem a blindagem de Paulo Machado
de Carvalho, acabou aceitando a pressão dos cartolas que queriam jogadores dos seus
clubes na Copa e acabou pré-convocando mais de 40 jogadores. A bagunça era tamanha,
que numa reunião aonde já tinham sido pré-convocados 43 jogadores, um cartola reclamou
que havia poucos jogadores do Corinthians e outro cartola sugeriu o nome do meia
Ditão, e os demais concordaram. A relação foi encaminhada à secretária da entidade,
que deveria datilografar a lista oficial. Porém, só havia os nomes de guerra dos
jogadores, e ela precisava dos nomes completos. Ela então pediu auxílio a um repórter,
que, sem saber da reunião, passou o nome de outro Ditão, um zagueiro, jogador do
flamengo, que desta forma foi chamado por engano. E por incrível que pareça, mesmo
sabendo do erro, tudo ficou por isto mesmo na convocação oficial da CBD, e o Ditão
trocado foi o pré-convocado. Do grupo que foi à Copa, os cortes mais contestados
foram o do zagueiro Djalma Dias, do lateral Carlos Alberto Torres e do atacante
Servílio.
– O goleiro mexicano Carbajal, titular da posição desde 1950,
foi a Copa de 1966 como reserva, tendo jogado apenas uma partida, contra o Uruguai.
Acabou sendo – juntamente com o árabe Al-Deayea – o goleiro mais vazado em toda
a história das Copas, tendo tomado 25 gols – não por sua culpa. Em 1998 foi reconhecido
como o melhor goleiro das Américas Central e do Norte de todos os tempos.
– No jogo Inglaterra em que a Inglaterra venceu a França
por dois a zero, os franceses reclamaram muito da arbitragem do peruano Arturo Yamasaki.
Primeiro ele validou um gol que Roger Hunt converteu impedido, e depois, validou
um gol quando os franceses pediam que o jogo fosse paralisado para atendimento do
lateral francês Simon, duramente atingido por Stiles. Sem fair play, os ingleses
não pararam e converteram o gol. Os franceses, que precisavam do empate, ficaram
fora da Copa.
– A Itália foi eliminada na primeira fase ao perder para a
União Soviética e para a inexperiente Coreia do Norte. Apesar de ter tentado despistar
jornalistas e torcedores, assim como em 1954 a seleção italiana foi recebida com
uma chuva de frutas e tomates podres no aeroporto.
– Nas quartas-de-final Inglaterra X Argentina, o time anfitrião
jogava melhor, mas perdia muitos gols, e nervoso, começou a bater, no que foi seguido
pelo time portenho. Porém, o árbitro alemão Rudolf Kreitlein só coibia os argentinos.
O jogador argentino Rattin decidiu protestar de um lance (em espanhol), e o árbitro,
sem entender nada do que lhe era dito, o expulsou (o que, anos seguintes, seria
a justificativa para a criação dos cartões amarelo e vermelho – linguagem universal).
Rattin demorou mais de dez minutos para sair de campo, e tocou a bandeira inglesa
ao sair, causando a ira da torcida local. Mesmo com um a menos, o duelo foi equilibrado,
porém, a Inglaterra fez um gol no final, num lance legal, em que os argentinos reclamaram
impedimento. No fim do jogo houve grande confusão, e o reserva argentino Astoriza
deu uma bofetada no árbitro – acabou tomando gancho de 4 jogos. Rattin reclamou
que os torcedores ingleses jogavam latinhas de cerveja nele – e ele nem gostava
de cerveja inglesa. Já o técnico inglês impediu que os seus jogadores trocassem
camisa com o time adversário: “Nós não trocamos uniformes com animais”.
– Em outro jogo das quartas-de-final, o árbitro inglês James
Finney não deu um pênalti a favor do Uruguai, e os sul-americanos, que vinham melhores,
perderam a cabeça de vez quando os alemães acharam um gol quase por acaso. As jogadas
violentas foram se sucedendo, com grande conivência do árbitro, até o segundo tempo,
quando expulsou dois jogadores – somente uruguaios. Com nove em campo a celeste
não resistiu, acabou tomando mais três gols e foi eliminada.
– A Coreia do Norte era o azarão da Copa, grande candidato
a saco de pancadas. Porém, chegou nas quartas-de-final e aos 25 minutos do 1º tempo
já ganhava por 3 a 0, na base da velocidade. Porém, numa das viradas mais impressionantes
da história das Copas, Portugal fez 5 gols, sendo 4 de Eusébio (um de pênalti).
Já a torcida inglesa, no fim do jogo, aplaudiu os coreanos pelo feito que realizaram.
– Na final disputada entre a Inglaterra e a Alemanha, a partida
terminou 2 a 2 no tempo regulamentar. Na prorrogação, com dois gols irregulares,
a Inglaterra sagrou-se campeã. Mais uma vez o time anfitrião era beneficiado pela
arbitragem.
– Sempre que o Brasil é campeão mundial os políticos querem
tirar uma casquinha da seleção. Porém, isso aconteceu também depois do fiasco de
66, só que de outra maneira. Foi aberta uma CPI para apurar o fracasso do Brasil
na Copa.
– A Coreia do Norte não possuía relações diplomáticas com
a Inglaterra, por isso seu hino não seria executado antes das partidas. Para evitar
problemas diplomáticos, a Fifa suprimiu a execução de todos os hinos – que só voltaram
a ser executados depois que a Coreia foi eliminada.
– Garrincha, que jogou a Copa com uma artrose no joelho, despediu-se
da seleção brasileira na derrota para a Hungria por 3 a 1. Foi seu único revés em
60 partidas pela equipe, pela qual o ponta marcou 16 gols.
1970 – Local: México – Campeão: Brasil
– Pela primeira vez houve uma vaga destinada somente para
as equipes africanas. Também estrearam nesta Copa um novo tipo de bola – a telstar
da Adidas, que mantinha melhor a esfericidade e redefiniu o formato das bolas do
futuro – e os cartões amarelo e vermelho (inspirados nos semáforos).
– Foi a primeira Copa onde pôde haver substituições de jogadores
e a inaugurar transmissão a cores em via satélite para todo o planeta, além do replay.
– O critério de desempate passou a ser o saldo de gols.
– Argentina, Hungria, França e Iugoslávia, países que se destacaram
em outras Copas, não passaram das eliminatórias.
– Com medo de pegarem o “Mal de Montezuma”, uma intoxicação
alimentar que frequentemente ataca os estrangeiros que vão para o México, os ingleses
levaram sua própria água e comida para o país. O problema é que os ingleses deixaram
escapar que estavam levando a própria água para não serem “contaminados” com alguma
peste mexicana. Tal postura, naturalmente, indignou o país-sede. A mais dramática
manchete dizia: “Sua Majestade nos chamou de porcos” e os mexicanos passaram a odiar
os ingleses, fazendo algazarras nas madrugadas em frente ao hotel onde eles dormiam,
impedindo-os de descansarem. A delegação brasileira também foi questionada sobre
a alimentação, e o embaixador Pinheiro Batista, que acompanhava a delegação, respondeu
no ato: “O que é bom para os mexicanos é bom para os brasileiros”. Foi uma contribuição
diplomática colossal: ali, naquela declaração, estava ganha a torcida mexicana,
que apoiou o Brasil em toda a Copa.
– O jornalista João Saldanha era um feroz crítico da seleção
em seus artigos em O Globo. Seguindo a linha “você é capaz de fazer melhor?”,
a CBD convidou-o para ser técnico, julgando que ele recusaria devido a ter pouca
experiência como treinador. Entretanto, para surpresa da CBD, o jornalista não
só aceitou, como definiu os onze titulares no mesmo dia em que foi anunciado, armando
um time bastante ofensivo. O gaúcho, apelidado “João sem medo” obteve um ótimo retrospecto,
porém, o técnico era comunista e nutria antipatia pela ditadura militar que comandava
o Brasil. Para piorar, o ditador que dava as cartas, Médici, era fã de futebol,
e dizia-se (nunca fez uma declaração pública neste sentido) que ele desejava que
Dario (o mesmo que viria a se auto-intitular “Dadá Maravilha”) fosse convocado.
Saldanha respondeu que nem ele escalava o ministério, nem o presidente escalava
a seleção. Saldanha, deixando um time semi-pronto acabou demitido, assumindo Zagallo,
que tinha bom relacionamento com os cartolas e não se opunha ao regime militar.
Porém, Zagallo não queria – como João Saldanha fazia – escalar Pelé e Tostão juntos,
deixando este último e Rivellino na reserva, contrariando os anseios da torcida.
Depois de resultados desfavoráveis e vaias da torcida, Zagallo acabou cedendo e
escalando-os. Na véspera de um amistoso contra a Áustria, numa reunião no quarto
de Pelé – contando com o próprio Rei, mais Clodoaldo, Tostão, Rivellino e Gérson,
decidiu-se como o time jogaria. O time titular não possuía um ponta-esquerda, portanto
Tostão cairia por este lado. Rivellino (que segundo Zagallo seria um terceiro meio-campista)
atacaria bastante, mas também deveria ajudaria Gérson na armação – a este caberia
comandar tudo. Clodoaldo poderia avançar para combater o adversário no campo de
ataque, e Pelé ficaria pelo meio, sem recuar muito, buscando tabelas com Tostão.
Tal esquema flexibilizaria o 4-3-3 imposto pelo técnico. Apesar de Zagallo, o Brasil
conseguiria ser campeão.
– O zagueiro Djalma Dias e o lateral esquerdo Rildo, titulares
absolutos com João Saldanha foram cortados da convocação para a Copa, sendo chamados
por Zagallo os irregulares Everaldo e Marco Antônio.
– O jogo México x El Salvador corria normalmente quando no
fim do primeiro tempo foi marcada uma falta perto da lateral e os salvadorenhos
pensaram que fosse a favor deles. Os mexicanos cobraram a falta e fizeram o gol,
e os salvadorenhos nada fizeram para impedir. Porém, quando o árbitro egípcio Aly
Hussein Kandil confirmou o gol, os salvadorenhos não o deixaram reiniciar a partida,
cercando-o e tirando a bola do meio de campo – até que o capitão salvadorenho Mariona
chutou-a para fora do campo e o árbitro teve de encerrar a primeira etapa. Os salvadorenhos
cogitaram não voltar para os gramados, porém, voltaram a campo e, psicologicamente
abalados, levaram mais três gols.
– Na prorrogação de URSS X Uruguai, os soviéticos marcaram
um gol logo no primeiro minuto, mas o juiz o anulou, sem explicações. A três minutos
do fim, o Uruguai fez um gol proveniente de um cruzamento em que os soviéticos reclamaram
que a bola saiu na linha de fundo, mas o juiz validou o gol, o que os eliminou da
Copa.
– Na prorrogação da semifinal Itália X Alemanha, saíram 5
gols: o primeiro para a Alemanha, a Itália virou, a Alemanha empatou, e por fim,
os italianos conseguiram passar a frente novamente. Estes trinta minutos são considerados
os mais emocionantes de toda a história das Copas.
– O goleiro brasileiro Félix complicou a defesa brasileira
ao longo do torneio, levando diversos gols infantis.
– O Brasil derrotou na final a seleção da Itália por 4 a 1.
Os carcamanos reclamaram bastante da arbitragem, porém, o prejudicado foi o Brasil,
que teve um gol legítimo de Pelé anulado no fim do primeiro tempo.
– Com o título de 1970, Pelé sagrou-se tricampeão mundial
– o único jogador até hoje a obter tal feito. Quando não esteve machucado foi titular
em 58 e 62. Em 70, aos 29 anos, foi escolhido o melhor jogador da Copa, com 4 gols,
cinco assistências e três gols “não completos” em jogadas antológicas. Em sua lendária
carreira, foram 1.283 gols em 1.367 partidas. Posteriormente, cada gol ganhou uma
medalha comemorativa, sendo cada uma delas leiloada com a renda destinada a entidades
que cuidam de crianças. Além dos títulos com a seleção brasileira (nove), Pelé ergueu
45 taças com o Santos – inclusive o bicampeonato mundial 62-63 –, uma pelo Cosmos,
uma pela seleção das forças armadas brasileiras e uma pela seleção paulista. Pelé
também foi eleito atleta do século pelo jornal francês L’Equipe em 81, e
pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), em 1999.
– Para o jornal italiano Stampa Sera, o problema é
que o adversário era de outro mundo. “A Itália enfrentou pelo menos quatro monstros
de outro planeta”, afirmou, referindo-se a Pelé, Gérson, Rivellino e Jairzinho.
– Ao fim do jogo a torcida mexicana invadiu o gramado. Tostão
perdeu todo o uniforme para os torcedores, saindo de campo só de cueca. Rivellino
desmaiou em campo, e mesmo assim, durante o atendimento do massagista, foi rodeado
de fãs. Pelé, sem camisa, foi carregado nos ombros pela torcida usando um sombreiro.
A sua camisa havia sido levada pelo jogador italiano Rosato, que em 2002 leiloou-a
por 283 mil dólares.
– Desde a Copa de 1934, nunca o time que abria o placar da
final tornava-se campeão, tradição que foi quebrada.
– Jairzinho (Botafogo), Gérson (São Paulo), Tostão (Cruzeiro),
Pelé (Santos) e Rivelino (Corinthians), ou seja, toda a linha de frente do Brasil
utilizava a camisa 10 em seus respectivos clubes. Como na Copa só poderia haver
um camisa 10, a honra, obviamente, coube a Pelé.
– Depois da conquista da taça Jules Rimet pelo Brasil, a Fifa
cogitou batizar o novo troféu – a ser disputado a partir da Copa de 74 – de Taça
Pelé, mas acabou escolhendo mesmo o nome Taça Fifa.
– Esta foi a Copa em que mais jogadores de uma seleção foram
escolhidos para a seleção da Copa da Fifa: 6. Eram eles Carlos Alberto, Clodoaldo,
Gérson, Jairzinho, Rivelino e Pelé – este último também eleito craque da Copa.
1974 – Local: Alemanha – Campeã: Alemanha
– O técnico brasileiro Zagallo ignorou um jovem meia-atacante
que já brilhava no flamengo e viria a ser o maior jogador de todos os tempos deste
clube: Zico, e não o convocou. Tampouco levou um time-base montado para a Copa.
Perguntado sobre o que achava das outras seleções, disse que: “Não temos que nos
preocupar com os outros. Somos os tricampeões mundiais. Logo, os outros é que têm
que se preocupar conosco”. Em seu retranqueiro esquema tático, os meias tinham que
recuar para pegar a bola atrás dos laterais.
– A seleção holandesa brilhava no mundial e devido ao seu
estilo de jogo em que os jogadores mudavam de posição dentro de campo e foi apelidada
de “Laranja mecânica”. Já o Brasil, atual campeão, nas duas primeiras partidas da
primeira fase empatou por 0 a 0, e ainda por cima nas costas do goleiro Leão que
fez diversas grandes defesas. Na última partida da primeira fase o Brasil precisava
de uma vitória por três gols contra o fraquíssimo Zaire (que já tinha tomado de
9 da Iugoslávia) e só conseguiu o feito devido a um frango do goleiro africano a
poucos minutos do fim. Nas quartas de final o Brasil se classificou com um gol de
falta de Rivelino. Apesar do fraco futebol apresentado, antes da semifinal contra
a Holanda, Zagallo se gabava: “A Holanda é muito tico-tico no fubá, que nem o América
nos anos 50”, dizendo ainda que o time não tinha tradição em Copas e isto pesava
contra eles: “Nós somos tricampeões, eles é que têm que ter medo da gente. A Holanda
não me preocupa. Estou pensando na final contra a Alemanha”. A Holanda derrotou
o Brasil por 2 a 0, mandando a seleção canarinho – e a arrogância de seu técnico
– de volta pra casa mais cedo.
– No jogo contra a Holanda o Brasil só se destacou pela violência
– dentre outros, a poucos minutos do fim, Luis Pereira quase rachou Neeskens em
dois. Foi expulso e ainda bateu boca com a torcida alemã.
– Zagallo deixou no banco aquele que é considerado o maior
jogador de todos os tempos do Palmeiras, Ademir da Guia. Na disputa do terceiro
lugar ele foi escalado e era um dos melhores do time, porém, o técnico resolveu
substituí-lo: quando ele saiu a Polônia passou a dominar o meio de campo, e acabou
marcando um gol, que lhe deu o seu melhor resultado de sua história, um terceiro
lugar.
– O carrossel holandês vinha como grande favorito para a final
contra a anfitriã Alemanha, e tudo parecia dar certo quando logo ao primeiro minuto
de jogo os holandeses sofreram um pênalti e Neeskens converteu. Porém, a Alemanha
virou pra cima da Holanda, e ganhou por 2 a 1. E o placar só não foi maior devido
ao fato de o árbitro ter anulado um gol legítimo alemão, além de ignorar um pênalti
claro a favor dos teutônicos. A Alemanha derrotava a favorita Holanda e seu carrossel.
– O holandês Cruyff foi eleito o melhor jogador da Copa –
fato raro, já que normalmente o jogador escolhido é da seleção campeã. Até então
isto só havia acontecido com o húngaro Puskas, em 54, curiosamente também vencido
pela seleção alemã. Quem observava Cruyff correr em campo não poderia imaginar que
ele teve dificuldades para andar na infância por causa de um defeito na formação
dos pés, necessitando usar aparelhos ortopédicos até os 10 anos de idade. Sua mãe,
viúva, que trabalhava como faxineira no Ajax, teve a ideia de colocá-lo no futebol
para ajudá-lo a desenvolver as pernas. O holandês também se destacava fora dos gramados.
Politizado, poliglota (falava holandês, alemão, francês, inglês, espanhol, italiano
e um pouco de sueco), fumava dois maços de cigarros fortíssimos por dia, e conseguiu
um prêmio aos jogadores holandeses mais alto do que o pago aos campeões alemães.
– Beckenbauer, considerado o melhor zagueiro de todos os tempos,
popularizou a função de líbero. Ele foi o único a ser eleito para três seleções
ideais de mundiais diferentes (1966, 1970 e 1974), algo que nem Pelé conseguiu –
o brasileiro foi a quatro Copas, mas só jogou plenamente em duas, nas de 62 e 66
esteve machucado devido às muitas pancadas que levava.
– Galvão Bueno foi escalado para “fazer tubo” narrar uma partida
a partir das imagens de TV, e não ao vivo. Vendo um time de branco e outro de amarelo,
começou a narrar como se fosse Suécia e Bulgária. Porém, o time amarelo chutou a
bola para a linha de fundo, e no replay aparecem os caracteres do placar eletrônico:
Alemanha Oriental 0 X 0 Austrália. O narrador seguiu como se nada houvesse acontecido:
“Cobra o tiro de meta a Alemanha Oriental”...
– Pouco antes da Copa, a seleção uruguaia viajou para a Indonésia
e para a Austrália, para disputar amistosos preparatórios. Uma mudança de planos
fez com que a delegação decidisse partir à noite, o que levou ao cancelamento das
reservas anteriormente feitas. O avião que seguiu sem a equipe caiu e matou 107
pessoas.
_________________________________
Outras partes desta publicação:
Parte I: http://listadelivros-doney.blogspot.com.br/2010/10/o-mundo-das-copas-lycio-velloso-ribas.html
Parte III:
https://listadelivros-doney.blogspot.com/2021/01/o-mundo-das-copas-parte-iii-de-lycio.html
Parte IV:
https://listadelivros-doney.blogspot.com/2021/01/o-mundo-das-copas-parte-iv-de-lycio.html
Um comentário:
- Diferentemente de outras obras, nesta faço uma compilação das melhores histórias sem citação direta.
- A postagem original deste livro, feita em outubro de 2010, tinha um tamanho excessivo. Na época eu não tinha tido a ideia de dividi-la. Fazendo uma correção das postagens do Blog, agora a dividi em 4 partes.
Postar um comentário