quarta-feira, 6 de outubro de 2010

O mundo das Copas (Parte I), de Lycio Velloso Ribas

Editora: Lua de papel

ISBN: 978-85-6306-609-1

Opinião: ★★★★☆

Páginas: 588

Sinopse: Quem vê uma Copa do Mundo hoje, com a riqueza de detalhes que temos atualmente, não imagina como seria a cobertura de um Mundial nos remotos anos 30. Afinal, naquela época não existia a TV digital, que só entrou em cena para o Mundial de 2006; nem a rapidez da internet, que apareceu neste cenário apenas a partir de 1998.

Pensando bem, não havia nem a transmissão ao vivo pela TV, que começou em 1954 (e no Brasil só em 1970. Ou sequer a transmissão por rádio, que surgiu em 1938.

Assim, o grande objetivo dessa obra é oferecer a mesma riqueza de informações sobre todas as copas, e da forma mais completa possível. São mais de 700 jogos, cada um deles com sua própria história, o que o torna uma obra única.

Em 80 anos de histórias, é fácil verificar por que a Copa do Mundo se tornou o maior espetáculo da Terra. O livro ainda conta com curiosidades, como: Quem são os melhores goleiros da história? E os maiores artilheiros? Quais são as 10 maiores séries invictas? E as 10 maiores viradas? Quais pênaltis perdidos mudaram o rumo das Copas? E os gols contras? Aliás, como surgiram os cartões amarelo e vermelho no futebol? Qual a verdade sobre Ronaldo na Copa de 1998?

Nesta obra, de quase dois quilos de pura informação sobre futebol, Lycio elaborou um conteúdo jamais descrito com tantos detalhes em livros do gênero. Foram 6 anos de pesquisas, análises e compilação de dados, cujo resultado pode ser visto agora numa obra ricamente ilustrada.


O belo livro “O mundo das Copas”, de Lycio Vellozo Ribas, traz curiosidades e histórias deliciosas a respeito do maior torneio do esporte mais popular do mundo.

Diferentemente de outras obras, nesta faço uma compilação das melhores histórias sem citação direta.

 

 

1930 – Local: Uruguai Campeão: Uruguai

 

– O esquema tático utilizado pelos times era o 2-3-5, bem mais ofensivo do que o utilizado hoje.

 

– Os árbitros podiam expulsar os jogadores, mas não havia cartões.

 

– Não havia substituições. Os jogadores que se machucavam, ou permaneciam em campo, ou saíam e não eram substituídos, deixando os times com um jogador a menos.

 

– A bola era de couro, costurada à mão, com uma abertura atada com tiras de couro cru. Dentro dela havia uma câmara de borracha com bico. Quando não era utilizado para encher a bola, o bico ficava dobrado entre a câmara e a parte externa, e era fechado com as tiras de couro cru. Isto gerava um calombo na bola, influía na trajetória e causava ferimentos nos jogadores. Alguns atletas utilizavam gorros forrados com jornal para poderem cabecear a bola sem abrirem lanhos em sua cabeça.

 

– Diversas seleções europeias boicotaram a Copa. A Inglaterra, por se julgar a melhor do mundo de antemão, não carecendo de torneio para comprová-lo. Por causa de seu boicote, também não participaram a Escócia, País de Gales e a Irlanda. A Itália (que desejava sediar a Copa e foi preterida) também boicotou o evento.

 

– Devido à uma briga entre dirigentes cariocas e paulistas, o Brasil só enviou jogadores cariocas para o mundial (deixando de fora craques como Feitiço e Friedenreich), levando um time bem menos competitivo.

 

– Não havia local indicado no campo para a cobrança de pênalti. O juiz contava os 11 metros através de passos.

 

– Os bolivianos queriam conquistar a torcida uruguaia no jogo contra a Iugoslávia, e os 11 jogadores entraram cada um com uma letra na camisa, para compor a frase: “Viva Uruguay”. Porém, um jogador se atrasou e na foto oficial o que se lê é: “Viva Urugay”. Na época não houve problema, mas hoje poderia causar controvérsia homossexual.

 

– A despeito de mesmo atualmente os Estados Unidos não terem tradição em Copas, na verdade eles participaram da primeira edição do torneio – e ainda foram até as semifinais. Porém, depois de terem um jogador machucado (ou seja, um a menos em campo), tomaram de 6 a 1 da Argentina.

 

– O Uruguai bancou as passagens e hospedagens de todas as seleções que foram à Copa.

 

– O árbitro belga Jan Langenus exigiu um seguro de vida antes da partida final entre Uruguai e Argentina, mas a arbitragem acabou sendo tranquila. Um dos problemas que ocorreram foi o fato de os dois times quererem jogar com a sua bola (a dos uruguaios era mais pesada). O juiz decidiu a contenda jogando o primeiro tempo com a bola dos argentinos e o segundo com a dos uruguaios.

 

– O governo uruguaio decretou feriado nacional depois da conquista do título e deu uma casa a cada jogador. Além disso, os titulares ganharam uma medalha de ouro desenhada por Abel Laflour, o mesmo que desenhou a taça Jules Rimet (que na época ainda se chamava “Vitória das Asas de Ouro”, só vindo a ter o nome do presidente da Fifa anos depois).

 

– O jogador mais velho do time uruguaio era Hector Carone, com 32 anos. Sua idade não era muito avançada, mas o que chama atenção é o fato dele ser o único titular campeão mundial a ter nascido no século 19, em 08/10/1897.

 

– Como não havia preparação para a entrega da taça no campo, esta foi entregue por Jules Rimet no vestiário ao presidente da Associação Uruguaia de Futebol, Raúl Jude.

 

 

1934 – Local: Itália Campeã: Itália

 

– O Uruguai – então atual campeão – se recusou a ir, em represália ao boicote promovido por times europeus (incluindo a Itália) ao mundial realizado no país sul americano quatro anos antes. Foi o único campeão do mundo a não defender o título. A Inglaterra e seus satélites seguiram boicotando o evento.

 

– O país sede, organizador da Copa, a Itália, teve de disputar as eliminatórias. Poderia ter ficado de fora do próprio mundial.

 

– Logo depois do término da Copa de 1930, com jogadores de São Paulo e Rio de Janeiro jogando juntos, o Brasil ganhou das principais seleções do torneio, inclusive do campeão Uruguai, repetidas vezes. O Brasil não havia levado os jogadores paulistas à Copa devido à briga entre dirigentes cariocas e paulistas. Quatro anos depois, novamente houve brigas entre dirigentes, desta vez da FBF e CBD (Federação Brasileira de Futebol e Confederação Brasileira de Desportos, respectivamente). À FBF estavam filiados os times profissionais (onde estavam os melhores jogadores), já a CBD era a organização que a Fifa reconhecia, e desprezava a FBF. Possivelmente, a CBD só convocaria jogadores amadores, deixando os melhores para trás. O técnico brasileiro, então, resolveu oferecer dinheiro aos melhores jogadores dos clubes para que eles fossem a Copa, porém, os clubes não gostaram disto. O Palestra Itália (hoje Palmeiras), que tinha o craque Romeu Pelliciari, chegou a esconder os jogadores em uma fazenda longe de São Paulo, contratando capangas armados que tinham ordem de atirar em quem aparecesse. A FBF ameaçou banir quem fosse a Copa. Diversos jogadores se recusaram a ir, mesmo com somas financeiras significativas lhes sendo oferecidas.

Novamente o grupo brasileiro levado para a Copa foi mutilado, deixando para trás o próprio Romeu, além de Preguinho, Fausto, Moderato, dentre outros craques.

 

– O Nacional de Uruguai exigiu 45 contos de Réis para que liberasse Domingos da Guia ir à Copa, uma fortuna na época. Ele acabou não sendo levado.

 

– O sanguinário ditador fascista italiano Benito Mussolini ameaçou de morte o time e a comissão técnica italiana caso eles não fossem campeões.

 

– No jogo Itália 1 X 1 Espanha, pelas quartas de final, o gol da Itália só ocorreu devido à uma cotovelada que Schiavio deu no goleiro espanhol Zamora (um dos melhores arqueiros de todos os tempos).

Houve outro jogo, de desempate (as partidas empatadas eram definidas assim), no dia seguinte, e ainda aos 25 minutos do primeiro tempo o atacante espanhol Bosch levou uma entrada desleal e ficou mancando o resto do jogo. O juiz não expulsou o agressor italiano. Depois disto, a Espanha teve dois gols legítimos anulados. No primeiro, o juiz marcou impedimento de Regueiro, que não participou da jogada do gol. No segundo, com muito atraso o juiz marcou uma falta a favor da Espanha depois que o atacante espanhol Regueiro havia levado vantagem e marcado o gol. Resultado final: Itália 1 X 0 Espanha.

 

– Na semifinal, novamente com alguma ajuda da arbitragem, a Itália fez um gol na Áustria quando o ponta italiano Guaita fez o gol depois de trombar com o goleiro. A Áustria tinha o melhor time da competição, porém, a chuva deixou o campo de Milão pesado demais para se tocar a bola. A Itália distribuiu chutões para todos os lados e garantiu sua vaga na final.

 

– Os jogadores italianos faziam a saudação fascista a Mussolini antes de todos os jogos começarem. Na final, até mesmo o árbitro sueco Ivan Eklind (que havia apitado a semifinal Itália e Áustria) e os dois auxiliares, o húngaro Mihaly Ivancsis e o belga Louis Baert (que havia apitado o primeiro jogo de Itália X Espanha), também a fizeram.

 

– A partida final foi entre Itália e Tchecoslováquia, e esta última ganhava o jogo até os 36 minutos do segundo tempo, quando a Itália empatou, e os húngaros reclamaram que Ferrari teria dominado a bola com a mão antes de dar o passe para Orsi marcar. O juiz consultou o bandeira e validou o gol italiano, o jogo terminou empatado e foi para a prorrogação. Nela, a Itália virou o jogo, sagrando-se campeã, salvando a vida dos jogadores e da comissão técnica da vingança mortal de Mussolini.

 

 

1938 – Local: França Campeã: Itália

 

– A Argentina queria ser a anfitriã a Copa, acreditando num revezamento de continentes para sediá-la. Mas a França acabou prevalecendo e a Argentina boicotou-a, bem como o Uruguai (ainda por causa do boicote europeu em 1930). A Inglaterra e seus satélites também não foram, ainda julgando a Copa um torneio de segunda categoria. A Espanha também não participou, envolvida em sua sangrenta guerra civil.

 

– Novamente o ditador fascista italiano Benito Mussolini ameaçou seus conterrâneos. Mandou um telegrama ao técnico campeão mundial em 1934, Vittorio Peozzo, com os dizeres: “Vencer ou morrer”.

 

– A Áustria, que tinha garantido vaga na Copa, foi anexada pela Alemanha em 11 de março de 1938, e os jogadores austríacos foram utilizados pela Alemanha nazista. A vaga ficou em aberto. Porém, o maior craque do belo time austríaco, Mathias Sindelar, se recusou a jogar a favor da Alemanha. Este acabou morrendo em 1939, logo depois da esposa. Alguns creem que se matou, outros que foi “suicidado” pelo regime nazista, já que ele era judeu.

 

– Na seleção brasileira de 1930 houve a briga entre paulistas e cariocas, em 1934 entre amadores e profissionais. A seleção de 1938, pela primeira vez, ia completa, levando seus dois principais craques, o atacante Leônidas da Silva (que nos 4 jogos que disputou na Copa fez 7 gols) e o zagueiro Domingos da Guia. Depois de duas batalhas campais contra a Tchecoslováquia, (o primeiro jogo empatou e teve de ser realizado outro no dia seguinte de desempate), onde diversos jogadores saíram machucados, Leônidas da Silva não pôde jogar a semifinal. Nesta, contra a Itália, o outro principal craque do time brasileiro, Domingos da Guia, deu um pontapé no italiano Piola. Segundo as palavras do craque brasileiro, apenas revidou outro pontapé que havia acabado de levar. A bola estava no meio de campo, mas o juiz viu somente o gesto de Domingos e assinalou pênalti para a Itália, que converteu e derrotou o Brasil por 2 a 1. Depois disso, “domingada” passou a ser sinônimo de algum erro burlesco no futebol.

 

– Na partida final entre Itália e Hungria, os italianos venceram por 4 a 2. O goleiro húngaro Szabo disse que não se importava de ter levado quatro gols, pois havia salvado a vida dos jogadores italianos.

 

– Em atitude única na história, os campeões foram vaiados pelos torcedores franceses, inimigos do regime fascista italiano. No ano seguinte, eclodiria a 2ª guerra mundial, que duraria até 1945. Devido a ela, as Copas do mundo de 1942 e 1946 não foram realizadas.

 

 

1950 – Local: Brasil Campeão: Uruguai

 

– Por motivos políticos os países socialistas não participaram do torneio: União Soviética, Tchecoslováquia (vice em 1934), Hungria (vice em 1938), Iugoslávia e Romênia (um dos quatro a ter disputado todas as Copas de 1930 até então).

 

– Nas outras Copas, quem perdia um jogo estava eliminado, o que era terrível para seleções que viajavam semanas e perdiam logo a primeira partida, pois tinham de imediato que voltar pra casa. O Brasil reclamou e fez valer suas ideias. A primeira ideia, mais coerente, estabeleceu grupos de quatro seleções, onde todos jogavam contra todos e os dois mais bem classificados passavam de fase. A segunda ideia, polêmica, a de que os 4 semifinalistas também jogassem entre si, todos contra todos. O time que fizesse mais pontos sagrar-se-ia campeão. Em outros termos: não houve final neste torneio.

 

– Como punição pela segunda guerra mundial, Alemanha e Japão foram eliminados pela Fifa (entretanto, os EUA não foram punidos pelas bombas atômicas lançadas contra este último). A Inglaterra, Escócia, Irlanda e País de Gales participaram do torneio pela primeira vez. A Inglaterra, que por ter inventado o futebol julgava ter o melhor time, além de ter desprezado os outros torneios por ter a certeza de que era a melhor seleção, não passou sequer da primeira fase, vencendo apenas um jogo e perdendo os outros dois.

 

– A Itália, que compunha o Eixo, não foi banida do torneio. Isto porque, quando a guerra eclodiu, o dirigente italiano Ottorino Barassi escondeu a taça, que estava em poder da bicampeã mundial. Segundo as lendas, ela ficava escondida numa caixa de sapatos embaixo de sua cama. Mas na realidade ela foi para um cofre na sempre neutra Suíça – para onde a própria sede da Fifa também acabou mudando. Devido a este dirigente italiano a taça não se perdeu na guerra, não se tornando um troféu para Hitler, ou sendo derretida na confusão do conflito. Por causa dele a Itália também não foi banida deste torneio – diferentemente dos outros países que compuseram o Eixo.

 

– Foi a primeira Copa em que houve números estampados nas costas dos jogadores, seguindo prática adotada em clubes nacionais já há muitos anos.

 

– Um avião com todo o time do Torino, pentacampeão italiano e base da seleção se chocou contra a basílica de Superga, matando todos os seus ocupantes. A seleção italiana foi ao mundial, mas com um time bem menos competitivo.

 

– A Índia, que havia se classificado por conta das desistências de Birmânia, Filipinas e Indonésia, acabou desistindo também de vir devido à um insólito motivo: a Fifa não permitiu que seus jogadores jogassem descalços, hábito comum no país.

 

– Os craques brasileiros eram Jair, Ademir e Zizinho, todos atacantes. Ainda se adotava o ofensivo esquema tático 2-3-5.

 

– Na partida contra o Brasil a Iugoslávia entrou com apenas 10 jogadores, devido ao fato do centromédio Mitic ter batido a cabeça em uma barra de ferro na escada de acesso ao Maracanã, abrindo um corte na testa. A barra era um resto da construção do estádio, ainda não totalmente acabada. O jogador entrou em campo com 10 minutos já jogados – e a cabeça toda enfaixada.

 

– No quadrangular final haveria três jogos. Nos dois primeiros o Brasil passeou, ganhando de 7 a1 da Suécia e 6 a 1 da Espanha (seleção que, por ter ganhado todos os jogos até então daquela Copa, e ter sido o melhor time da primeira fase, ganhou o apelido de “Fúria”). O Uruguai havia apenas empatado com a Espanha em 2 a 2, e perdia até os 30 do segundo tempo contra a Suécia, quando conseguiu virar para 3 a 2. Pelos pontos acumulados, o Brasil precisava somente do empate. Tudo isto somado, o retrospecto de goleadas contra o aperto do adversário, além do fato de jogar em casa, dava amplo favoritismo ao Brasil. Porém, o Uruguai ganhou por 2 a 1 no famoso Maracanazo, a pior derrota da história da seleção brasileira.

 

– A seleção da Copa da Fifa contou basicamente com os jogadores da “final”: dos onze, cinco eram uruguaios e quatro brasileiros (Bauer, Zizinho, Jair e Ademir). Ghiggia, o carrasco do Brasil, além de estar nesta seleção foi eleito o craque da Copa.

 

 

1954 – Local: Suíça Campeã: Alemanha

 

– A Argentina novamente não jogou, devido ao fato de seus principais jogadores – como o meia-atacante Di Stéfano – jogarem numa liga colombiana não associada à Fifa, e que por isso não poderiam disputar a Copa do mundo.

 

– As regras do torneio foram estranhas. Os times foram divididos em grupos de quatro seleções, porém, havia duas cabeças de chave por grupo. E estes não jogavam entre si. Também não jogavam entre si os mais fracos, para acertar o número de jogos dentro de cada grupo.

 

– A Alemanha, ainda em represália a segunda guerra, não foi escolhida como cabeça de chave.

 

– A Espanha disputava a vaga na Copa do mundo com a Turquia. Cada seleção venceu um jogo (o saldo de gols que beneficiava a Espanha não era critério de desempate). Marcou-se um jogo de desempate na Itália, que terminou também empatado, em 2 a 2. A vaga foi definida, então, através de sorteio. O garoto Luigi Gemana, de 13 anos, sorteou numa cumbuca o nome da Turquia, que foi a Copa e levou o garoto ao evento, como mascote.

 

– Os craques brasileiros eram Nílton Santos, Julinho e Didi. O maior craque brasileiro em atividade, Zizinho, não foi convocado, por motivos controversos. Alguns alegavam até que o motivo era o fato de o jogador ser comunista.

 

– Nas eliminatórias desta Copa o Brasil estreou sua camisa amarela. Até então ela era branca, cor que foi alterada por supostamente trazer azar – traumas do Maracanazo de 50.

 

– No último jogo do seu grupo, o Brasil precisava somente empatar com a Iugoslávia, o que classificaria as duas seleções. Mas os dirigentes não entenderam o regulamento confuso, e os jogadores muito menos. Durante a prorrogação (no tempo regulamentar a partida terminou 1 a 1), os iugoslavos tentaram explicar através de mímica que o resultado beneficiava ambas as equipes. Mas os brasileiros tomaram os gestos como provocações e os usaram como estímulo para atacá-los. Como o jogo terminou 1 a 1 mesmo, os jogadores saíram do campo cabisbaixos, alguns chegaram mesmo a chorar em campo – até porque viam o adversário comemorar. O engano foi desfeito nos vestiários.

 

– Para cortar custos, a Escócia só levou 13 dos 22 jogadores inscritos. Ainda assim, só perdeu o primeiro jogo contra a poderosa Áustria porque o juiz não deu um gol legítimo da Escócia no último minuto de jogo. Descontente com as limitações do elenco e os palpites dos dirigentes, o técnico Andy Beattie pediu demissão – único a fazê-lo em toda a história das Copas – e voltou para casa. Insatisfeitos com a saída do técnico e confusos com muita gente mandando, os escoceses viraram presa fácil: tomaram de 7 a 0 do Uruguai no jogo seguinte.

 

– Disputavam-se duas partidas na primeira fase. No primeiro jogo, a Coreia do Sul levou de 9 a 0 da poderosa Hungria. Já no segundo melhorou: tomou de 7 a 0 da nem tão forte Turquia.

 

– No jogo Suíça 2 X 1 Itália, o árbitro brasileiro Mário Vianna contribuiu decisivamente para a vitória suíça. Foi conivente com as botinadas distribuídas pelos anfitriões e coibiu as tentativas italianas de descontá-las. Além disso, anulou um gol legítimo do italiano Lorenzi quando o jogo estava 1 a 1. Ele foi rodeado dentro do gol pelos italianos e trocou empurrões com eles. No fim do jogo, os italianos o perseguiram até os vestiários.

 

– Devido aos resultados do grupo, houve a necessidade de um jogo de desempate entre a Itália e a Suíça. A arbitragem foi limpa, mas os italianos perderam de 4 a 1, e foram recebidos com uma chuva de tomates podres quando desembarcaram em seu país.

 

– No jogo Áustria X Suíça pelas quartas-de-final, o defensivo time suíço marcou três gols nos primeiros 23 minutos de jogo. Porém, viu a Áustria fazer 5 gols em dez minutos. A Suíça ainda fez mais um e o placar só terminou com incríveis 5 a 4 no primeiro tempo porque um jogador austríaco ainda perdeu um pênalti. O jogo acabou terminando 7 a 5 para a Áustria, com o maior número de gols em jogos de Copa do mundo. Outra curiosidade é que o jogo ocorreu na gélida Suíça, porém, a temperatura foi de 35ºC.

 

– Um jogador brasileiro teve medo de enfrentar a Hungria nas quartas-de-final e tentou de tudo para fugir do jogo, chegando a comer pasta de dente para ter disenteria e não ser obrigado a entrar em campo.

 

– O Brasil foi desclassificado numa batalha contra os húngaros onde sobraram botinadas e houve até uma voadora (do brasileiro Humberto em Loran) dentro de campo. Diversos jogadores saíram machucados e, quando o jogo terminou, houve mais confusão. Maurinho cuspiu em Czibor, o craque húngaro Puskas (que não jogou por estar machucado) abriu a testa de Pinheiro com uma garrafada, e o técnico brasileiro Zezé Moreira entrou no vestiário húngaro e acertou o técnico húngaro Gustav Sebes com uma chuteira. A Fifa não puniu ninguém.

 

– A Hungria, seguindo um imperioso ritmo de treinamentos, com aquecimento antes das partidas (só ela o fazia), estava invicta desde a Copa de 1950, tendo jogado 31 vezes, sendo 27 vitórias (20 por goleada), e era a grande favorita. Já havia goleado na primeira fase da Copa sua adversária da final, a Alemanha, por 8 a 3. E como sempre, devido ao aquecimento, na final abriu logo o placar: aos nove minutos do 1º tempo já ganhava por 2 a 0. Porém, a chuva ajudava o time alemão, mais pesado. A Alemanha não havia escalado todos os seus jogadores titulares contra os magiares na primeira fase. Utilizando chuteiras apropriadas para a chuva enquanto os húngaros escorregavam, aos 18 minutos do primeiro tempo os alemães já haviam empatado a partida. Além disso, a Hungria havia enfrentado uma batalha campal nas quartas-de-final contra o Brasil, e penado para derrotar o fortíssimo time uruguaio na semifinal, indo muito mais desgastada para a final que a Alemanha, que enfrentou adversários mais fracos e acabou derrotando a Hungria com um gol no fim do jogo. Pelo time que a Hungria possuía, esta é considerada a maior virada de todos os tempos.

 

 

1958 – Local: Suécia Campeão: Brasil

 

– Dos cinco títulos até então disputados, quatro estavam nas mãos dos bicampeões Uruguai e Itália. Porém, estes dois não conseguiram sequer passar das eliminatórias e não foram à Copa.

 

– 28 anos depois da primeira Copa do mundo, uma partida terminou em 0 a 0: Brasil X Inglaterra. Alguns jogadores chegaram a pensar que haveria prorrogação.

 

– Diz a lenda que houve uma pequena rebelião dentro do grupo da seleção brasileira onde se exigiu a entrada de Zito, Pelé e Garrincha no time titular. Porém, Pelé só não havia jogado antes porque chegou à Copa machucado, E Zito e Garrincha entraram no lugar de Dino Santi e Joel não apenas porque o time não ia bem, mas também porque estes sentiam dores musculares.

 

– Na semifinal Suécia X Alemanha, o árbitro húngaro Istvan Szolt foi decisivo. Não marcou um pênalti a favor dos alemães, não invalidou o gol ilegítimo dos suecos, ao ignorar um toque de mão no lance que gerou o gol de empate. No 2º tempo, dois jogadores trocaram agressões, mas apenas o alemão foi expulso. E logo depois, não puniu um jogador sueco Parling que deu uma entrada dura em Fritz Walter. Este, apesar de ter voltado a campo, não conseguia correr e só pôde fazer número. Com dois jogadores a mais, a Alemanha não resistiu e os suecos marcaram dois gols nos últimos 10 minutos de jogo.

 

– “Ninguém os conteria. Se você marcasse o Pelé, Garrincha escapava e vice-versa. Se você marcasse os dois, o Vavá entraria e faria o gol. Eles eram endemoniados, infernais”. Palavras do craque francês Just Fontaine, artilheiro da Copa com incríveis 13 gols, o maior número já marcado até hoje – algo que provavelmente nunca será superado. E o número de gols que Fontaine marcou em Copas poderia ser maior, se duas fraturas seguidas na tíbia não o tivessem obrigado a se aposentar, com apenas 27 anos de idade. O maior artilheiro em Copas, o alemão Miroslav Klose, marcou 16 gols, tendo participado de 4 torneios. Fontaine participou de apenas uma Copa e marcou 13.

 

– Como os finalistas Brasil e Suécia utilizavam uniformes de cores similares, a Fifa realizou um sorteio para decidir quem utilizaria o primeiro uniforme e o Brasil perdeu. No sábado (um dia antes do jogo) o roupeiro Francisco de Assis comprou no comércio sueco um jogo de camisas azuis, e passou a noite costurando números e distintivos no uniforme improvisado. Porém, o problema maior era a superstição, que abalava decisivamente a confiança dos jogadores. Como o Brasil chegou à final usando amarelo, mudar de cor no último momento não parecia bom presságio. Então, o chefe da delegação Paulo Machado de Carvalho disse ao grupo de jogadores: “A cor azul vai dar sorte, pois é a mesma do manto de Nossa Senhora de Aparecida, a padroeira do Brasil”, disse ele, ressaltando que foi sua a decisão do Brasil jogar de azul. O dirigente mostrou o manto de Nossa Senhora e com isto neutralizou todas as superstições negativas. O Brasil foi campão ganhando o jogo por 5 a 2.

 

– A seleção brasileira possuía os craques Nilton Santos, Garrincha, Pelé, Vavá, mas o principal jogador da seleção era Didi. Este era apelidado de “Príncipe Etíope”, dada a elegância com que corria em campo. Didi inventou a “folha seca”, chute em que a bola subia e caía repentinamente. O jogador tinha um jeito diferente de tratar a bola, fruto de uma contusão sofrida em 1952. Como ficou um bom tempo sem poder chutá-la, desenvolveu um jeito de bater com as pontas dos dedos, dando efeito em sua trajetória. O príncipe etíope quase teve uma perna amputada aos 15 anos devido a uma grave e mal curada lesão. Recuperado depois de uma cirurgia, a perna direita ficou 1cm menor que a esquerda, e a chuteira do pé direito também era maior, 41, contra 40 do pé esquerdo. Antes da Copa, a imprensa afirmava que o meia Joacir do Flamengo vinha treinando melhor que Didi, e que este, por sua vez, não se esforçava nos treinos. Questionado a respeito, o craque saiu-se com uma frase que se tornou famosa: “Treino é treino, jogo é jogo”. Foi eleito craque da Copa, deixando Vavá, Nilton Santos, Pelé e Garrincha para trás.

 

– A pedido do dirigente Paulo Machado de Carvalho, o massagista Mário Américo roubou a bola da final que estava entre os braços do árbitro Maurice Guige dando um soco nela, pegando-a e fugindo correndo. O árbitro foi ao vestiário pedir a bola de volta, mas acabou levando uma outra bola qualquer.

 

– Alguns diziam que Djalma Santos precisou de apenas um jogo para ser eleito o melhor lateral direito do Mundial, mas a Fifa elegeu o sueco Niels Liedholm como o melhor da posição.

 

– Pelé fez nesta Copa um gol quando tinha 17 anos e 239 dias, sendo o mais jovem a fazê-lo, e também se tornou o mais jovem a ser campeão do mundo, título que detém até hoje.

 

– Depois da desorganização de outros mundiais, o dirigente Paulo Machado de Carvalho, o Manga (apelido que os jogadores o davam sem que ele soubesse) arquitetou o planejamento da campanha do título, contribuindo também para contagiar o grupo com sua confiança na vitória. Hoje, dá nome ao estádio do Pacaembu.

 

– Pela primeira vez o esquema tático padrão mudou do 2-3-5 para o 4-2-4.

 

– Os jogadores argentinos foram recebidos com paus, pedras e moedas dos torcedores quando retornaram do mundial, sendo acusados pela imprensa local de se empenharem mais em noitadas do que nas partidas.

 

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Outras partes desta publicação:

Parte II: https://listadelivros-doney.blogspot.com/2021/01/o-mundo-das-copas-parte-ii-de-lycio.html

Parte III: https://listadelivros-doney.blogspot.com/2021/01/o-mundo-das-copas-parte-iii-de-lycio.html

Parte IV: https://listadelivros-doney.blogspot.com/2021/01/o-mundo-das-copas-parte-iv-de-lycio.html

4 comentários:

Doney disse...

Abro alas para um comentário. Muitos reclamam da derrota de 1982, mas, para mim, que só acompanho desde 1994, a maior derrota brasileira foi em 2006. E tem um culpado específico: Parreira.

Com uma soberba do tamanho do mundo (talvez porque soubesse que tinha os melhores jogadores em sua seleção), o técnico errou tudo em que poderia errar e mais um pouco. Não treinava (só dava espetáculos para a torcida), deixou os melhores no banco, escalou jogadores fora de forma, não escutava críticas justas, etc.

Parreira demonstrava grande soberba e empáfia nas respostas, porém, deixou que Roberto Carlos e Cafu, veteranos com a carreira em franco declínio se auto-escalassem. No ataque sacou Robinho – que estava voando – para escalar dois centro-avantes simultaneamente: Adriano e Ronaldo. Adriano já não atravessava sua melhor fase, e Ronaldo estava totalmente fora de forma, sem pique e com um severo problema de peso – que jamais conseguiria reverter novamente.

Julio César no gol, os laterais Cicinho e Zé Roberto, os zagueiros Lúcio e Juan, os volantes Emerson e Gilberto Silva, os meias Ronaldinho Gaúcho e Juninho Pernambucano e os atacantes Robinho e Fred, constituíam, a meu ver, uma seleção imbatível.

Paciência.

Doney disse...

Outra coisa: o livro é realmente muito bom, porém, a quantidade de erros de português é impressionante, chega a incomodar.
Faltou uma revisão mais caprichada por parte da editora.

Doney disse...

Aproveito o ensejo para inserir mais um comentário, este bem polêmico, escolhendo os melhores jogadores brasileiros que já vi jogar.
Minha escalação seria a seguinte:

Goleiro: Zetti.
Reservas: Velloso e Júlio César.

Laterais direito e esquerdo: Jorginho e Zé Roberto.
Reservas: Belletti e Roberto Carlos.

Zagueiros: Lúcio e Juan.
Reservas: Aldair e Mauro Galvão.

Volantes: Leandro Ávila e Dunga.
Reservas: Mauro Silva e Emerson.

Meias: Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo.
Reservas: Juninho Pernambucano e Robinho (recuando-o um pouco).

Segundo atacante: Neymar.
Reserva: Bebeto.

Centroavante: Romário
Reserva: Ronaldo.

Doney disse...

Ainda mais um comentário: esta postagem tinha um tamanho excessivo, por isto foi dividida em 4 partes.
De todo modo, destaque-se que a postagem original (que agora vira Parte I) foi esta aqui, de outubro de 2010.