Editora: InterSaberes
ISBN: 978-85-5972-066-2
Opinião: ★★★☆☆
Páginas: 214
Sinopse: Ver Parte I
“Santo Tomás de Aquino se destacou como
intelectual e veio a receber o convite para se tornar mestre na Universidade de
Paris, atuando como professor por mais de dez anos. Em um dos episódios mais
marcantes de sua vida, ficou abalado pela visão mística que tivera de Deus.
Ainda sob o efeito do êxtase, teria dito: “Tudo o que escrevi é palha”: Entre
suas obras mais conhecidas, encontram-se Questões disputadas da verdade
escrita, de 1256; Suma teológica, datada de 1265-1274; e Sobre a eternidade
do mundo, de 1271.
Conta-se que, quando Santo Tomás de Aquino
ainda era noviço, seu jeito silencioso e taciturno lhe valeu o apelido de boi
mudo. Em um dos momentos em que seus colegas o caçoavam por seu apelido,
seu professor Alberto Magno teria advertido que o jovem a quem chamavam de boi
mudo ainda faria o mundo todo ouvi-lo quando decidisse falar.
De todo modo, o fato é que Santo Tomás de
Aquino tornou-se um dos mais célebres teólogos e santos da Igreja, a ponto de
receber o título de Doutor Angelicus. Quando houve o processo para a sua
canonização, questionou-se o fato de não haver milagres que atestassem sua
santidade. Foi então que o Papa Pio V, que o havia proclamado doutor da Igreja,
teria dito que cada página de sua Suma teológica era um milagre e um presente na formação de
toda a cristandade. Em sua vasta obra, ele não só formulou uma teologia
natural, como tratou ainda de ética, direito, metafísica e teoria política.
Como aristotélico, Santo Tomás de Aquino
estava propenso à valorização da ética, do raciocínio indutivo e da experiência
como critério auxiliar na busca pelo conhecimento e pelo entendimento das
verdades reveladas. Desse modo, ele rejeitou o inatismo platônico-agostiniano e
postulou que o conhecimento decorria da conjugação da sensibilidade e do
intelecto. Isso quer dizer que pelos sentidos captamos a realidade que está
fora de nós, enquanto pelo intelecto organizamos as sensações em conceitos e
categorias. O conhecimento intelectual, como uma manifestação da faculdade da
alma, é superior à sensibilidade, mas depende desta para elaborar conceitos.
Os pensamentos de Santo Tomás de Aquino nos
levam a entender que os objetos exteriores, para serem conhecidos em suas
propriedades gerais e fundamentais, passam por um processo de elaboração e síntese.
Tudo começa com o olhar que capta o sinal da materialidade. O prosseguimento e
a continuidade dessa experiência permitem ao intelecto humano abstrair as características
comuns aos objetos e, dessa maneira, formular os conceitos sobre eles.
Assim, o que é essencial, ou inteligível,
como atributo presente nos objetos, só pode ser percebido de modo limitado em
sua materialidade pelos sentidos. Sem o concurso da razão, seria muito difícil
captar o que constitui a essência de cada objeto (Durozoi; Roussel, Dicionário
de filosofia, 1999).
Esse processo de conhecimento é algo natural
no homem, pois acontece como uma dinâmica própria da razão, que organiza os
conteúdos da experiência. Trata-se de uma qualidade interna do sujeito que
conhece. Dessa forma, Santo Tomás de Aquino negou a teoria da iluminação de
Santo Agostinho. Para ele, a compreensão é um movimento a posteriori, um
exercício intelectual, racional e lógico. Referimo-nos a um realismo moderado,
ou seja, os conceitos não são as próprias coisas, mas as descrevem por
similitudes, sendo imagens mentais do mundo exterior. Quanto mais próximo do
objeto estiver a descrição, mais verdadeiro será o conceito.
Nesse panorama, a noção de verdade no tomismo
estabelece uma relação de adequação entre o sujeito e o objeto, a coisa e o
intelecto. Seria, portanto, necessária a demonstração lógica e argumentativa
para testar o quanto essa correspondência pode ser coerente e adequada ou
confusa e contraditória.
4.3.1 .A metafísica tomista
A novidade trazida por Santo Tomás de Aquino
em relação à tradição grega refere-se a sua reinterpretação do pensamento
aristotélico no que concerne ao ser e não tanto aos entes e a suas essências.
Por entes podemos entender todas as coisas percebidas ou que podem ser nomeadas.
Existem os entes lógicos, cuja existência serve para análise e predicação dos
objetos, e os entes físicos ou materiais.
O ser é estudado em sua unidade e na diferenciação
que assume no conjunto dos entes. Para Santo Tomás de Aquino, interessava captar
e entender o grau de unidade presente nos entes, pois tudo o que existe é um
ente, inclusive o próprio Deus. Todavia, em Deus, o ser é pleno e totalizante,
absoluto e imutável. Já o mundo, o homem e todos os seres criados são entes,
mas de um modo diverso. É como se disséssemos que Deus é puro ser e contém em
si o ser. Os demais entes participam do ser. Em poucas palavras, Deus é o ser.
O homem e o mundo contêm o ser (Gilson, 2002).
Reproduzindo a lógica do hilemorfismo
aristotélico, Santo Tomás de Aquino o aplicou para explicar a relação entre
Deus e o mundo, mostrando que os entes participam do ser de Deus, mas em graus diferenciados.
Nesse sentido, cada ente apresenta um nível de perfeição. Um mineral é menos
complexo e desenvolvido do que uma planta, por exemplo. Assim, a planta
apresenta um grau elevado de perfeição em relação a uma pedra. Contudo, se
comparada a um animal – um cão, por exemplo –, a planta é inferior. Um cão é
bem mais complexo que a planta, apresentando um grau de perfeição maior. Assim,
seguindo um movimento de atualização, cada ente realiza seu potencial atingindo
diferentes graus de perfeição. Nesse contexto, o homem, como ente racional, está
acima dos demais seres naturais, já que apresenta um grau de perfeição maior,
sendo mais elaborado e complexo de todos, ou seja, entre os seres da natureza,
o homem, por ser racional, é o mais perfeito.
Santo Tomás de Aquino argumentou, no entanto,
que somente Deus tem a plena perfeição, pois é ato puro, coincidindo, em seu
ser, a potência e a existência. Deus é, portanto, um ser necessário, pois não
se altera. Nele não existe mudança nem contingência. Ao aplicar essa
perspectiva na doutrina da Igreja, Santo Tomás de Aquino inaugurou uma teologia
natural que tem como pressuposto básico o fato de que a criação é sustentada
pelo ser de Deus.
A investigação de Santo Tomás de Aquino o
levou a contemplar o mistério da criação. Afinal, a existência do ser coloca a
possibilidade de que o nada poderia existir. A vida em sua infinita
complexidade e mistério, é o supremo argumento de que Deus existe.
A ideia é que, com essas argumentações, mesmo
um não crente, alguém que nunca tivesse ouvido falar de Deus ou nunca tivesse
sido iniciado em alguma religião, poderia chegar à compreensão de Deus e de sua
existência. Isso aconteceria somente pelo exame racional da realidade,
percebendo-se suas leis, seu funcionamento, sua beleza e sua bondade
intrínseca, notando-se a assinatura da inteligência suprema que a criou.
Santo Tomás de Aquino, ainda no viés
aristotélico, defendeu que o princípio hilemórfico se aplica tanto aos seres
quanto ao conjunto dos entes físicos e materiais. Na natureza, tudo o que
existe precisa assumir uma forma, adquirir substância para poder ser conhecido.
A forma representa um modelo universal que se objetiva e se materializa individualmente
em cada ser enquanto ato.
Em resumo, na metafísica
aristotélico-tomista, a matéria, considerada em sua composição, possui
substância complementar. Por um lado, apresenta-se como realidade
indeterminada; por outro, em sua configuração atualizada como matéria, precisa
se diferenciar como ente, assumir uma forma, o que denota ação, atividade, algo
próprio do mundo dos entes. Essa explicação se complementa com a teoria das
quatro causas, incorporadas à teologia tomista. Se a matéria precisa de alguma
forma para se atualizar, esse movimento de potenciação e atualização é um
movimento causal.
A causa material, nesse caso, é aquilo que
denota a estruturação do ente, do que ele é feito. A causa eficiente é a
atuação intencional de um agente que dá forma à matéria. Já a causa formal
denota a forma própria do ente, sua identidade, sua diferenciação no mundo, e a
causa final é o escopo telúrico da metafísica tomista, o sentido último, a
finalidade do ente.
Podemos exemplificar a teoria das quatro
causas analisando um objeto qualquer, como uma espada. O metal utilizado na sua
confecção é causa material, enquanto a ação do ferreiro é a causa eficiente que
forja a espada. A causa formal, por sua vez, é a forma própria da espada, o que
a diferencia de uma lança e lhe confere identidade e individualidade como ente,
como objeto. A causa final é a utilidade da espada, que pode ser a luta, a
defesa ou o ornamento.”
“4.3.3 As cinco vias para Deus
Há algumas considerações iniciais sobre o
modo como Santo Tomás de Aquino descreve Deus. A primeira e importante
distinção se coloca entre ser e existência, que em Deus são diferentes,
pois
a existência é um complemento de toda substância, um atributo
pertencente a sua essência, algo que lhe sobrevém como inerente. Contudo,
somente Deus não recebe a existência como complemento de sua própria essência.
Numa palavra, Deus não tem sua própria existência, ele é sua própria existência.
(Gilson, 2002, p. 23)
Deus, portanto, não se encontra limitado por
sua natureza. Sua realidade é pura, simples, em perpétua atualidade. Não existe
potencialidade em Deus, sua essência é absoluta, puro ser. A principal
diferença entre Deus e as realidades criadas é que estas são substâncias compostas,
cuja essência existe por participação no ser de Deus. Elas não são, pois, as
causas de si próprias e, como tal, são contingentes, sua existência não afeta a
ordem do ser.
Passemos agora à apresentação das cinco vias
para provar a existência de Deus. Vale lembrar que todo esse exercício é lógico
e argumentativo, demonstrando a força e a capacidade intelectual de Santo Tomás
de Aquino.
4.3.3.1 A primeira via – Do movimento
Todo movente é movido por algo. Em uma
sucessão lógica, no plano das coisas criadas, não existe o automovente. Assim
expressa Santo Tomás de Aquino esse argumento:
A primeira [via], que é a mais evidente, é a que parte do movimento. Com
efeito, é certo e sabido pelos sentidos que algumas coisas se movem neste
mundo. Ora, tudo aquilo que se move é movido por outro, já que uma coisa não se
desloca se não for em potência em relação ao termo do movimento; ao passo que
quem move, move enquanto está em ato. Com efeito, mover quer dizer levar da potência
ao ato. Ora, uma coisa não pode ser levada de potência a ato senão em virtude
de um ente que já está em ato. Por exemplo, aquilo que é quente em ato, como o
fogo, torna quente a madeira, que estava quente em potência, e assim a muda e a
altera. Mas não é possível que a mesma coisa esteja ao mesmo tempo em ato e potência
sob o mesmo aspecto. Só pode sê-lo sob aspectos diversos: aquilo que é quente
em ato não pode sê-lo também em potência, mas é, ao mesmo tempo frio em potência.
Assim, é impossível que, sob o mesmo aspecto e ao mesmo tempo, uma coisa seja
movente e movida (movens et motum), ou seja, que mova a si
mesma. Portanto, tudo aquilo que se move deve ser movido por outro. (Aquino,
citado por Reale; Antiseri, História da filosofia, 2003, p. 221)
Pensar o movimento sequencialmente nos leva a
uma cadeia infinita de uma ação que move e de uma reação movente. A análise
lógica desse processo supõe, então, um 1novimento originário, que coloca em curso
um progresso infinito de ato e potência. Logo, para fazer sentido, é necessário
supor a existência de um primeiro motor imóvel que, estando parado, em repouso,
em ato puro, coloca tudo em movimento.
O sentido metafísico desse argumento remete a
uma consideração de ordem cosmológica e outra de ordem antropológica. A
natureza não pode ser tomada como a causa de si mesma, e o homem, mesmo no
exercício de sua racionalidade e vontade, não deixa de permanecer como ser
movido.
4.3.3.2 A segunda via – Da causa eficiente
As realidades criadas não são em si mesmas as
causas de suas existências, logo, foram causadas pela ação de outro ou de
outros seres. Na relação infinita que se pode estabelecer entre causa e efeito,
um retorno final é impossível, pois contraria o sentido lógico do argumento e
da própria lei da causalidade. Vejamos:
A segunda via parte da noção de causa eficiente. No mundo das coisas sensíveis
nos defrontamos com a existência de uma ordem de causas eficientes. Não há caso
conhecido e, na verdade, é impossível que uma coisa seja a causa eficiente de si
mesma, porque para tanto deveria ser anterior a si mesma, coisa inconcebível.
Ora, não é possível ir ao infinito na série das causas eficientes, porque em
todas as causas eficientes ordenadas a primeira é a causa da intermediária que
é causa da última, podendo as causas intermediárias ser várias ou uma só. Ora,
anular a causa significa anular o efeito. Por isso, se não houver uma causa
primeira entre as causas eficientes, não haverá nem causa intermediária nem
causa última. Mas, proceder ao infinito nas causas eficientes significa eliminar
a causa eficiente primeira assim não teríamos nem efeito último, nem causas
eficientes intermediárias, o que, evidentemente, é falso. Por isso, é necessário
admitir uma primeira causa eficiente, à qual todos dão o nome de Deus. (Aquino, citado por Reale; Antiseri, 2003, p. 223)
A argumentação lógica impecável de Santo
Tomás de Aquino evidencia uma assinatura inteligente no Universo. A lei da
causalidade denota inteligência, ordem e organização. Ora, se existe uma ordem,
é necessário que exista um ordenador. A lei da causalidade, assim como as
demais leis que regem a natureza e o Universo, seja a lei da gravidade, seja a
lei do eletromagnetismo, aponta para um sentido intrínseco na ordem das coisas.
A prova da causa eficiente nos indica essa conformação telúrica a encadear os
entes e suas causas, sendo Deus a causa última, a causa primeira e, ainda, a
causa incausada.
4.3.3.3 A terceira via – Do contingente e do
necessário
Esse argumento surge como consequência do
argumento anterior. Para a realidade das coisas criadas, a existência é somente
uma possibilidade, não uma necessidade absoluta, de modo que, não existindo a causa,
não haverá o efeito que lhe é correspondente. Ou seja:
A terceira via deriva do possível [ou
contingente] e do necessário, e é esta. Encontramos coisas que têm possibilidade
de ser e não ser, pois constatamos que se geram e se corrompem e,
consequentemente, lhes é possível tanto ser como não ser. Mas é impossível que
todas as coisas dessa natureza tenham existido sempre, país o que pode não ser,
em algum tempo não existia. Por isso, se todas as coisas [existentes na
natureza são tais que] podem não existir, em algum tempo não haveria nada de
existente. Ora, se isso é verdade, também agora não haveria nada de existente,
país o que não existe só começa a existir por meio de alguma coisa que já
existe. Por isso, se em algum tempo não havia nenhum ser, teria sido impossível
alguma coisa começar a existir e, assim, também agora nada existiria, o que,
evidentemente, é falso. Por isso, nem todos os entes são contingentes, mas é
preciso que na realidade haja alguma coisa necessária. Om, toda coisa necessária
tem a sua necessidade causada por outra, ou não. Ora, é impossível ir ao
infinito nas coisas necessárias, que têm a causa de sua necessidade em alguma
outra coisa, como já foi demonstrado a respeito das causas eficientes. Por
isso, não podemos deixar de admitir a existência de um ser que seja em si mesmo
necessário, e não receba de outros a própria necessidade, mas seja causa de
necessidade para os outros. E a este todos chamam Deus. (Aquino, citado por
Reale; Antiseri, 2003, p. 224)
As realidades criadas, isto é, todos os entes
que somente participam do ser por sua essência, mas que, como seres finitos,
vão desaparecer, são consideradas por Santo Tomás de Aquino como contingentes.
Elas não se bastam a si mesmas, e sua existência é temporária e contingente, não
afetando a ordem das coisas.
Logo, se todos os entes são contingentes,
significa que em um tempo não existiram, então passaram a existir e estão a caminho
de desaparecer. Isso acontece pois tudo o que é contingente morre, desaparece,
se transforma, deixa de ser. Então, um dia nada existiu, assim como um dia nada
mais existirá.
De todo modo, existindo o contingente, deve,
portanto, existir um ser necessário, um ser cuja existência não dependa de
nenhmn outro além dele próprio. Esse ser necessário é Deus. A conclusão desse
argumento é a necessidade lógica da admissão de um ser que sempre existiu, um
ser absoluto e, por isso, necessário, que não tenha fora de si a causa de sua existência.
Deus, como causa primeira, é, portanto, um ser necessário. A realidade, tanto
natural quanto humana, é contingência que dele deriva.
4.3.3.4 A quarta via – Dos graus
de perfeição
Cada coisa que existe apresenta características
próprias e definidoras de si. Seus atributos, sua constituição e sua identidade
a colocam em graus diferenciados de complexidade, desenvolvimento e perfeição. Assim,
a quarta via diz respeito à
gradação que se pode encontrar nas coisas. É um fato que nas coisas se
encontra o bem, o verdadeiro, o nobre e outras perfeições em grau maior ou
menor. Mas o grau maior ou menor se atribuí às diversas coisas conforme elas se
aproximam mais ou menos a algo de sumo e absoluto; assim, mais quente é aquilo
que mais se aproxima do sumamente quente. Dessa forma, existe algo que é verdadeiro,
nobre e bom em grau máximo e, consequentemente, algo que, em grau máximo, é
ser, já que o que é máximo, na verdade, é máximo também no ser, conforme diz Aristóteles.
Ora, o que é máximo em cada gênero é a causa de todos os que pertencem àquele
gênero: por exemplo, o fogo, que é máximo no calor, é causa de todas as coisas quentes,
conforme diz também Aristóteles. Por isso, deve haver algo que para todos os
entes é a causa de seu ser, de sua bondade e de toda outra perfeição. E a isso
chamamos Deus. (Aquino, citado por Reale; Antiseri, 2003, p.
225)
Por isso, é possível ao homem examinar todas
as coisas e avaliar seus valores, suas funções, sua utilidade, compará-la,
evidenciar sua beleza, sua serventia e utilidade, suas formas de ser e existir.
É o que vimos quando estudamos a metafísica tomística, utilizando como exemplo a
diferença entre uma pedra e uma planta. A planta é mais complexa e desenvolvida
que a pedra, portanto apresenta um grau mais elevado de perfeição. Entre o
homem e um animal qualquer também existe uma grande diferença, com graus de
perfeição diferenciados, sendo o homem, por sua capacidade e inteligência, um
ser que, presume-se, seja mais desenvolvido, em termos de complexidade e
perfeição. Contudo, o homem não possui o grau máximo de perfeição.
Como já vimos neste capítulo, nessa lógica,
Santo Tomás de Aquino entende que deve existir um ser que possui em si o grau
máximo da qualidade da perfeição, um ser que reúne em si o máximo de bondade, beleza
e unidade. Esse ser é Deus.
4.3.3.5 A quinta via – Da finalidade
do ser
Em um certo sentido, a ideia de uma
teleologia intrínseca à realidade, portanto um finalismo do mundo, estabelece
relação funcional entre todas as coisas. Santo Tomás de Aquino retoma
exatamente o argumento aristotélico. Tudo o que existe possui um fim. Então,
qual seria a finalidade do mundo e do homem? Na sua quinta prova, Santo Tomás de
Aquino responde que existe uma inteligência que dirige e orienta o Universo.
Seria a percepção de que algumas coisas que
carecem de conhecimento, como os corpos naturais, agem em função de um fim.
E isso é evidente pelo fato de que sempre ou quase sempre agem do mesmo modo,
para obter a perfeição. Portanto, está claro que não alcançam seu fim por
acaso, mas por uma predisposição. Ora, tudo o que não tem inteligência não
tende ao fim, a menos que seja dirigido por algum ente dotado de conhecimento e
inteligência, como a flecha lançada pelo arqueiro. Por isso, existe algum ser inteligente
que dirige todas as coisas naturais para seu fim. E esse ser nós chamamos Deus.
(Aquino, citado por Reale; Antiseri, 2003, p.
226)
No argumento da finalidade, retomamos a
ideia, aceita contemporaneamente, de que o Universo apresenta uma ordem, algo
que denota inteligência. Fala-se em design inteligente. Essa teoria é
atribuída a Phillip E. Johnson, professor aposentado da Universidade da
Califórnia em Berkeley, que se popularizou como autor ao tentar conciliar a
teoria da evolução e o criacionismo. Trata-se de algo que não é aceito, sendo pouco
aprovado na comunidade científica, sempre muito cética e reticente em relação a
se admitir a existência de Deus e da associação do Universo como sua criação.
Seja como for, os argumentos de Santo Tomás
de Aquino fazem parte do grande empreendimento da escolástica, da qual ele é um
dos maiores representantes, em justificar a fé cristã e convencer os céticos de
que aceitar as verdades reveladas faz sentido.
A seguir, na Figura 4.7, organizamos um
esquema na tentativa de tornar ainda mais prático o entendimento das cinco
provas da existência de Deus, segundo Santo Tomás de Aquino.
Figura 4.7 - As
cinco vias para Deus, de Santo Tomás de Aquino
“Em todo o seu esplendor, majestade e
beleza que conhece de si mesmo, o primeiro existente experimenta, por essa
razão, o maior e o mais profundo prazer. Conhecemos essas qualidades somente
por analogia e por uma apreensão ínfima quando experimentamos, por exemplo, a
apreensão da beleza e do prazer. Mas nossa experiência é muito pequena perto do
esplendor do primeiro existente. Aliás, como poderia haver uma relação de
igualdade entre o que é uma parte ínfima e o que é sem limite no tempo ou fora
do tempo? Entre o que é tão imperfeito e o que é a extrema per feição? Ora,
aquele que tem prazer por si mesmo se alegra, se ama e se torna apaixonado de
si mesmo. Assim, o primeiro existente se ama, se quer e se maravilha de si de
uma maneira correspondente à sua grandeza, do modo mais excelente. No existente
primeiro, o ato e o objeto de seu amor são o mesmo, o ato de seu maravilhamento
é o próprio objeto de sua admiração e o ato e o objeto de seu prazer convergem.
Nele coincidem o amor, o amante e o amado.” (Attie Filho)
“A teologia negativa desenvolvida por
Maimônides está associada à tradição judaica que concebe Deus como único, absoluto,
eterno e inominável. Trata-se de produzir uma teologia racional contra a
antropomorfização de Deus, algo muito comum nas tradições místicas de cunho
politeísta. Sua análise racional da Torá tem semelhança com a análise de Fílon,
no sentido de compreender que o texto sagrado não pode ser tonado em sua
literalidade. “Quando os intelectos contemplam a essência de Deus, sua
apreensão torna-se incapacidade” (Maimônides, citado por Kim, O livro da
filosofia, 2011, p. 85).”
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