Editora: InterSaberes
ISBN: 978-85-6570-477-9
Opinião: ★★★★☆
Páginas: 204
Sinopse: Em um mundo marcado por
constantes mudanças na área tecnológica, cultural, social, política, econômica
e histórica, a educação não pode estar indiferente. É por isso que este livro
visa contribuir para a reflexão sobre a formação e a prática do educador de
hoje. Aqui, o leitor encontrará, entre outros temas, a abordagem das teorias da
administração escolar no Brasil, a relação existente entre a administração
empresarial e a administração escolar e as características do trabalho
pedagógico para a qualidade educacional.
“Na
atual conjuntura social, histórica, política, econômica e cultural há um forte
movimento na busca por espaços mais abertos e democráticos na sociedade civil e
política. Você, provavelmente, já observou que entre os elementos que integram
esse movimento está a educação, que, por meio de suas práticas, procura instrumentalizar
a comunidade escolar para interagir com a sociedade de forma crítica e
responsável.
É
nesse cenário que se insere a escola como o espaço, por excelência, de
aprendizagem e de participação. Assim, quando comprometida com a formação da
cidadania, ela assume princípios opostos às situações de desumanização da vida
em sociedade, ao individualismo e à competição, à tolerância com as práticas de
discriminação e autoritarismo, à exploração e à dominação. A gestão
educacional, especialmente a gestão democrática, entendida como elemento de contra-hegemonia,
opõe-se à implantação direta e acrítica dos princípios administrativos da
gestão empresarial na organizacão escolar.”
“A
escola, sendo uma instituição da sociedade civil, influencia contextos que são
considerados fatores externos, como o histórico, o social e o econômico, e é
influenciada por eles. Dowbor (2001), em seu artigo Tecnologias do
conhecimento: os desafios da educação, destaca a influência da
internacionalização da economia e das novas tecnologias da informação, o avanço
científico e como as tecnologias impactam na educação. No que se refere aos fatores
internos, pontua a contra-hegemonia da produção do conhecimento e as
iniciativas coletivas e compromissadas dos profissionais da educação com a qualidade
de ensino, como a construção e a implementação dos projetos
político-pedagógicos nas escolas, a elaboração de planejamentos participativos,
entre outros encaminhamentos democráticos que vêm constituindo gradativamente a
gestão das escolas.
Ressaltando
a necessidade de a escola rever a sua estrutura e os seus métodos de trabalho,
Alonso (O papel do diretor na administração escolar, 1983, p. 146)
aponta alguns elementos exigidos do profissional nas sociedades modernas:
O compromisso da escola
atual é essencialmente com os valores definidos a partir do desenvolvimento
científico e tecnológico presente, os quais questionam a validade de formulações
menos práticas, ainda que mais comprometidas com a natureza essencial do homem.
O que se requer nesta sociedade é basicamente o indivíduo apto a enfrentar situações
as mais variadas, imprevisíveis, para as quais deve dispor de uma flexibilidade
tal que lhe permita efetuar respostas rápidas, já que é impossível tê-las
prontas. Afim de se encaminhar para um objetivo dessa ordem, a escola atual precisa
rever toda a sua estrutura, todo o seu sistema de trabalho e mesmo os papéis
definidos tradicionalmente.
Assim,
compreender as implicações dos fatores externos na gestão escolar é fundamental
para diminuir a transposição acrítica para a administração escolar do modelo de
administração estratégico-empresarial, o qual é baseado na racionalidade
científica, na centralização do poder e na fragmentação do trabalho. Mas você
deve estar atento para o fato de que, embora os princípios administrativos das
organizações, em geral, sejam dicotômicos, se comparados aos objetivos da
gestão educacional, eles também podem contribuir com a gestão da escola.”
“Acompanhando
o raciocínio de Paro (Administração escolar, 2008a, p. 126), podemos
dizer que:
O aluno é, não apenas o
beneficiário dos serviços que ela presta, mas também participante de sua
elaboração. É evidente que essa matéria-prima peculiar, que é o aluno, deve receber
um tratamento todo especial, bastante diverso do que recebem os elementos
materiais que participam do processo de produção, no interior de uma empresa
industrial qualquer.
Enquanto
a empresa capitalista lida, no seu cotidiano, com bens materiais (canetas,
pregos, parafusos etc.), a escola lida com a educação, cuja
especificidade do objeto de trabalho cotidiano envolve “a produção de
ideias, conceitos, valores, símbolos, hábitos, atitudes e habilidades”
(Saviani, Pedagogia histórico-crítica, 1991, p. 21).
Na
escola, o foco é a produção crítica do saber, a inserção do aluno no processo
de formação de ideias, na construção de conhecimentos, no desenvolvimento de
competências e na formação de atitudes. Já na empresa, o foco da gestão é o lucro
e a produtividade.
Oliveira
(Gestão educacional, 2009, p. 36-37) acrescenta outros elementos que reforçam
a dicotomia entre os dois tipos de gestão:
tecnologia, ambiente,
poder, conhecimento se estruturam, fundamentando noções diversificadas das
organizações. E mais: a hegemonia da razão instrumental direciona a ação efetiva
e define o comportamento ético. A ciência é ideologizada em função da produção
que, em sua lógica, subordina a educação, a política e mesmo o próprio lazer. Se,
de um lado, pressupõe-se a subjetividade, por outro a racionalidade com
respeito aos fins define cursos de ação de uma civilização voltada para o
consumo, para o ganho, para as vantagens individuais e para o poder. É o reino da
mercadoria e de sua administração.
Como
espaço educacional, a escola tem um compromisso básico com a civilização e com
a preparação das novas gerações para que estas possam usufruir dos bens
materiais, sociais e culturais e, ao mesmo tempo, contribuir para produzi-los e
preservá-los.
Embora
tendo a clareza de que a necessidade de sobrevivência, com base na lógica do
mercado, é uma condição no sistema capitalista, não é possível que a
instituição educativa se isente da responsabilidade de se preocupar, em
primeiro plano, com a construção e a reelaboração do conhecimento e com o
exercício da cidadania. Os estudantes precisam ter uma formação que lhes
permita compreender a lógica e as relações do mercado de trabalho, dominar as
novas tecnologias, estar abertos às diversas relações humanas e, consequentemente,
adquirir uma formação tanto para a cidadania como para o mundo do trabalho.”
“O
papel da escola requer do diretor a clareza de que cabe à equipe diretiva e
pedagógica atuar no sentido de criar as condições necessárias, os meios
adequados e os recursos didáticos para que se concretizem,
qualitativamente, as atividades-fins da escola e a mediação dos conteúdos aos
alunos. Se o diretor é compromissado, tenderá a dar prioridade aos fins da
educação escolar (aspectos pedagógicos) em detrimento dos meios (aspectos
técnicos).
Uma
das implicações do uso da administração empresarial na gestão escolar ocorre
quando o diretor direciona suas atividades com base nos princípios da gestão
estratégica empresarial. A tendência aqui, então, é priorizar as exigências do “sistema”
e as prescrições administrativas”, o que repercurte no processo pedagógico,
limitando o cumprimento da sua função educativa. Todavia, a utilização desse
método é viável desde que sofra as devidas adequações a fim de não prejudicar o
cumprimento da função essencial da escola.
Outra
consequência da administração geral na gestão escolar, e não menos importante
que a descrita anteriormente, refere-se ao conteúdo técnico (mecanismos gerenciais
e controle do trabalho alheio), aspectos priorizados na administração
empresarial, como afirma Paro (2008a, p. 130):
não há dúvida de que as
conquistas teóricas da administração capitalista poderiam fornecer uma
consistente contribuição ao incremento da produtividade da escola, desde que se
processe à efetiva racionalização das atividades e à sistematização dos procedimentos,
no sentido de um ensino de melhor qualidade. O que se verifica, entretanto, no
dia a dia das escolas, é a hipertrofia dos meios representada pelo número
excessivo de normas e regulamentos com atributos meramente burocratizantes,
desvinculados da realidade e inadequados à solução dos problemas, o que só faz
agravá-los, emperrando o funcionamento da instituição escolar.”
“A
ação do pedagogo na escola se justifica na medida em que ele atua não apenas no
ato de controlar e acompanhar o trabalho dos professores, mas, acima de tudo, como
o articulador do projeto político-pedagógico. Neste último processo, ele
organiza o trabalho no espaço mais amplo da escola e contribui, dessa forma,
para a construção de um trabalho coletivo com significação para o processo ensino-aprendizagem.
Entendemos
que é grande a importância do planejamento pedagógico na práxis educativa, o
qual se caracteriza como um processo permanente de reflexão coletiva sobre o trabalho
pedagógico, e que, portanto, não há justificativa para que seja elaborado por
gestores sem a participação efetiva dos professores.
O
planejamento deve partir dos problemas detectados na realidade, deve ser
pensado por todos os profissionais e inserido no projeto político-pedagógico e
nos planos didáticos dos professores.”
“A
aula é um momento em que concomitantemente o professor elabora suas atividades
de ensino e nelas insere elementos da prática social ao contextualizá-la e
articulá-la aos conteúdos científicos; enquanto o aluno se apropria desses
conhecimentos, relaciona-os com os que ele já tinha sobre o tema e constrói novas
sínteses. O diretor, com essa compreensão, tem a clareza de que o processo de
ensino-aprendizagem é construído cotidianamente por professores e alunos de forma
interativa, na qual o professor faz a mediação entre o conhecimento, os alunos
e a prática social, em uma ação compartilhada. Por sua vez, os alunos, sujeitos
do seu processo educativo, desenvolvem a autonomia intelectual e adquirem, de
forma crítica, novos conhecimentos.”
“Cabe
ao professor despertar nos alunos a vontade de aprender e realizar a mediação
do conhecimento, proporcionando as condições para que se tornem sujeitos desse
processo.
Ao
comentar esse aspecto, Paro (2008a, p. 144) afirma que:
A aula, porém, é apenas
uma atividade, ou o próprio processo através do qual se buscam determinados
resultados. O fato de esta aula, ou processo de ensino-aprendizagem, pressupor a
não passividade do aluno é, como vimos, um aspecto determinante da própria
natureza do processo pedagógico. Esse aspecto é de grande importância também na
determinação do produto da escola, já que é através dessa não passividade, ou
dessa participação ativa, que se realiza a aprendizagem, ou seja, que o educando
aprende. Mas, entendida a educação como apropriação de um saber historicamente
acumulado e tendo a escola como uma das agências que proveem educação, a
consideração do seu produto não pode restringir-se ao ato de aprender. Neste
ato, o indivíduo apropria-se de um saber (conhecimentos, atitudes, valores,
habilidades, técnicas etc.) que nele é incorporado. Existe, portanto, algo que permanece
para além do ato de produção que se dá na sala de aula. Não acontece, por
conseguinte, que o resultado da educação escolar seja algo produzido pelo professor
e consumido imediatamente e completamente pelo aluno, sem deixar nenhum vestígio.
A própria necessidade da participação ativa do aluno como sujeito do processo
só se faz presente porque a educação supõe uma modificação na natureza do seu
objeto. É por isso que se considera que, se a educação realmente se efetivou, o
aluno sai do processo diferente de como ele era quando aí entrou. Essa
diferença, que não é simples acréscimo, já que supõe uma real transformação na personalidade
viva do educando, é que se constitui no efetivo produto do processo pedagógico
escolar.”
“Com
base na definição do projeto pedagógico desenvolvido por professores,
funcionários e membros da comunidade, podemos dar prioridade aos conteúdos que
irão instrumentalizar e capacitar os indivíduos para uma leitura do mundo em
que estão inseridos, dando respostas coerentes às exigências da sociedade,
confrontando com criticidade os diversos saberes.”
“Sacristán
(O que é uma escola para a democracia, 1999, p. 57) conceitua democracia
como “o conjunto de procedimentos para poder conviver racionalmente, dotando
de sentido uma sociedade cujo destino é aberto, porque acima do poder soberano
do povo já não há nenhum poder”. O autor aponta para vivência em uma
sociedade construída historicamente com a participação de todos, em que os
cidadãos têm liberdade para agir e decidir, tanto individual como coletivamente,
de forma organizada e racional, considerando, acima de tudo, o bem comum e o
sentido social.
Nesse
sentido, a democracia expressa valores, responsabilidade e subentende não
apenas ideais, mas práticas de participação no planejamento, construção e
exercício das diferentes formas de gestão, quer seja em termos de Estado, quer
seja em termos de gestão de instituições locais.
Sintetizando,
podemos afirmar que a democracia participativa pressupõe uma sociedade civil politicamente
preparada e consciente quanto aos direitos e deveres necessários para a
concretização de causas coletivas.
Quando
transpomos esse raciocínio para a gestão escolar, em que o objetivo maior é a
formação técnica e política do cidadão humano, a participação adquire maior
relevância e se configura na forma mais adequada de construir uma gestão
democrática:
·
primeiro, por possibilitar o envolvimento de todos os integrantes
da escola no processo de tomada de decisão, organização e funcionamento do trabalho
pedagógico e administrativo;
·
segundo, porque o fato de todos participarem do planejamento,
reflexão e execução das práticas de gestão amplia o conhecimento acerca dos
objetivos, aprofunda a compreensão das funções e metas da escola e, consequentemente,
amplia o grau de interação entre equipe diretiva e pedagógica, docentes e
discentes, pais e comunidade.
Essa
discussão sobre participação democrática na gestão escolar é fundamenta por
Libâneo, Oliveira e Toschi (Educação escolar, 2003, p. 328), que relacionam
o conceito ao de autonomia. Para os autores,
O conceito de participação
fundamenta-se no princípio da autonomia, que significa a capacidade das pessoas
e dos grupos para a livre determinação de si próprios, isto é, para a condução
da própria vida. Como a autonomia opõe-se às formas autoritárias de tomadas de
decisão, sua realização concreta nas instituições dá-se pela participação livre
na escolha de objetivos e processos de trabalho e na construção conjunta do
ambiente de trabalho.
(...)
Nesse
contexto, Veiga (Escola, 1998, p. 20) formulou algumas perguntas importantes,
ao se referir aos alicerces da escola básica:
Qual é o contexto
filosófico, sociopolítico, econômico e cultural em que a escola está inserida?
Que concepção de homem se tem? Que valores devem ser defendidos na sua formação?
O que entendemos por cidadania e cidadão? A formação da cidadania tem sido o fio
condutor do trabalho pedagógico da escola? Como a escola deve responder às
aspirações dos alunos, dos pais e dos professores? Qual é o papel da escola diante
de outros espaços formadores?
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