Editora: Civilização Brasileira
Opinião: ★★★☆☆
Páginas: 220
Sinopse: Ver Parte I
Este livro é um compilado dos escritos dos seguintes autores: V. Afanasiev
— Fundamentos de Filosofia / F. Engels — Anti-Dühring / F. Engels — Dialéctica de la Naturaleza / F. Engels — Ludwig
Feuerbach y el Fin de la Filosofia Clasica Alemana / R. Garaudy — Karl Marx
/ F. V. Konstantinov — Los Fundamentos de la Filosofia Marxista / V. I. Lênin
— Cuadernos Filosoficos / V. I. Lênin — Marx-Engels-Marxismo / V.
I. Lênin — Materialismo y Empiriocriticismo / V. I. Lênin — Obras, 4ª
edição, 35 vols., Moscou / Karl Marx — Oeuvres Complêtes. Le Capital, 14
vol. / K. Marx e F. Engels — Obras Escolhidas / G. Plékhanov — Les Questions
Fondamentales du Marxisme / G. Plékhanov — Essais sur Histoire du Matérialisme
/ M. Rosental — Les Problême de la Dialectique dans Le Capital de Marx / M. Rosental
e G. M. Straks — Categorias del Materialismo Dialéctico / G. Shajnazarov
e outros — Los Hombres, la Ciencia, Sociedad / O. Yajor — Que es el Materialismo
Dialéctico.
“Não existe uma lista fechada, acabada, definitiva das leis
da dialética. As leis atualmente conhecidas constituem um balanço provisório de
nosso saber, só a prática social e a experiência científica permitindo enriquecê-las.”
(Garaudy: Marx, págs. 109-111).
“A dialética não é um esquema a priori que se aplicaria
sobre as coisas e que se lhes imporia, obrigando-as a entrar nesse leito de Procusto.
Essa concepção especulativa era a de Hegel, que, em função dos postulados teológicos
de seu sistema, havia invertido a ordem real das coisas: as ciências de seu tempo,
atacando vivamente o mecanismo dos cartesianos e do século XVIII, com as hipóteses
astronômicas de Kant e de Laplace, a Geologia de Hutton e Lyell, as antecipações
do transformismo em Diderot e Lamarck, o organicismo biológico de Goethe, haviam-lhe
trazido os elementos experimentais a partir dos quais ele havia descoberto algumas
das grandes leis da dialética; Hegel codificou e sistematizou essas leis, o que
exprimia uma maravilhosa renovação do espírito científico. Ele a transformou em
uma espécie de balanço acabado da história do pensamento. Ele foi vítima de uma
ilusão semelhante à de Kant: a partir da lógica de Aristóteles, da Geometria de
Euclides e da Física de Newton, Kant pretendera definir de uma vez por todas as
formas a priori da sensibilidade e do entendimento. Hegel confundiu, igualmente,
o que era uma etapa nova da concepção científica do mundo com uma estrutura eterna
da natureza, da história e do pensamento.
A reinversão materialista de Hegel por Marx não é, no fundo,
senão a tomada de consciência do fato de que Hegel, após Kant, invertera a ordem
real das coisas e que, por consequência, era necessário “recolocar sobre seus pés”
a dialética. O característico do materialismo de Marx, em oposição ao idealismo
e à especulação, é renunciar à pretensão vã de modelar as coisas a partir de nossos
conceitos, mas ao contrário modelar modestamente nossos conceitos a partir das coisas.
Isso implica, como primeira consequência, que conceito algum é eterno e definitivo,
que a Filosofia não pode assumir a forma de um sistema acabado, que a lista das
categorias da dialética não pode ser uma lista fechada. O método dialético, em sua
interpretação materialista, isto é, aberta, faz assim ir pelos ares o sistema dogmático.
A História toda das ciências mostra como, sob o impulso da
experiência e da prática, nossos conceitos, sempre muito pobres, não cessaram de
se quebrar. A reinversão do idealismo hegeliano e de todo idealismo, a metamorfose
de uma dialética especulativa e dogmática em método de pesquisa experimental e de
descoberta, exigem, pois, uma inversão de perspectiva, pondo em primeiro plano não
a totalidade, mas a contradição. Em Hegel, a totalidade se limita a si própria.
Para Marx, ao contrário, é do desenvolvimento da contradição, da superação da negação
em negação da negação que nascem as totalidades novas: não é o universal que é primeiro
e que se limita a si mesmo, mas o particular que se supera necessariamente porque
não traz em si suas condições de existência. A dialética é, ao mesmo tempo, essa
insuficiência de ser e essa exigência de pensamento. Para Hegel, a contradição é
um momento da totalidade. Para Marx, a totalidade é um momento da contradição”.
(Garaudy: Marx, págs. 107-108).
“Ao refletir o desenvolvimento do mundo material, também se
modificam a consciência, as ideias, as teorias e concepções dos homens. O desenvolvimento
constante, a passagem dos objetos e fenômenos de um objeto a outro e a sucessão
de uns por outros, são, pois, a mais importante particularidade do mundo material.
Por isso, para conhecer os objetos e fenômenos, é preciso estudar, sobretudo, seu
desenvolvimento e transformação permanentes. Para conhecer verdadeiramente um objeto
é necessário tomá-lo em desenvolvimento, “automovimento” e transformação.
O estudo do quadro geral do desenvolvimento do
mundo constitui uma das missões mais importantes da
dialética materialista. A dialética, escreveu Engels, é a doutrina das “leis gerais
que regem o movimento e desenvolvimento da natureza, da sociedade humana e do pensamento”.
Como entende a dialética marxista o próprio processo de desenvolvimento? Considera-o
como um movimento do inferior para o superior, do simples para o complexo, como
um processo revolucionário em forma de saltos; além disso, este movimento não se
dá através de trajetória em círculo fechado, mas como se descrevesse uma espiral,
sendo cada volta mais alta, rica e variada que a anterior. Vê a fonte do desenvolvimento
da dialética nas contradições inerentes aos próprios objetos e fenômenos. Só a dialética
marxista dá uma interpretação correta e verdadeiramente científica ao processo de
desenvolvimento.” (Afanasiev: Filosofia, págs. 97-98).
“Para Marx, a lei exprime a conexão interna e necessária dos
fenômenos, a conexão interna e necessária entre duas coisas. Assim, a lei objetiva
não é nada mais que o liame de causa e efeito, a correlação em que certos fenômenos
engendram necessariamente outros fenômenos, em que um grau do desenvolvimento condiciona
necessariamente um outro grau. A lei é a forma sob a qual estas conexões internas
agem, realizam-se. Sendo o liame interno essencial dos fenômenos, a lei determina
o desenvolvimento dos fenômenos, que se desenrola com uma necessidade natural, e
rege o processo da natureza e da sociedade. (...) Frisando a objetividade das leis,
sua independência da vontade e da consciência dos homens, a impossibilidade de as
“revogar” arbitrariamente, Marx não diminui de maneira alguma o papel do conhecimento
dessas leis e o alcance da atividade consciente dos homens. De um lado, a sociedade
não pode queimar as etapas naturais do desenvolvimento, determinadas pelas leis
objetivas; nesse sentido, os atos e o comportamento dos homens são ditados pelas
condições de sua vida, pelas leis de uma formação econômica e social dada; de outro
lado, graças ao conhecimento das leis objetivas, a sociedade pode reduzir e suavizar
as dores do parto; dito de outra forma, agindo segundo essas leis, ela pode acelerar
a evolução e ajudar a necessidade histórica a se realizar nos fatos.” (Rosental:
Dialectique, págs. 31, 34-35, 38 e 292-293) .
“Todo fenômeno ou grupo de fenômenos contêm sempre uma rede
complexa, muito ramificada, de diversos nexos e vínculos: necessários e casuais,
essenciais e não-essenciais, internos e externos, estáveis e instáveis etc. A lei
não abarca todos estes nexos e relações senão, isoladamente, aqueles que definem
a essência, a determinação qualitativa do fenômeno dado. Por esta razão, o fenômeno
é sempre mais rico do que a lei, que é apenas uma parte do fenômeno. Marx define
a lei como “a conexão interna e necessária entre as coisas...” E em Lênin encontramos
a definição da lei como “uma relação de essências, como o fenômeno essencial”. A
lei é, pois, uma relação interna, necessária, essencial, entre os fenômenos (...)
Lênin caracteriza a lei como o firme (o que permanece), o adequado (isto é, o idêntico,
o que se repete) do fenômeno.” (Rosental e Straks: Categorias, págs. 156-159).
As leis fundamentais
As leis da dialética abstraem-se, portanto, da história da
natureza e da história da sociedade humana. Ditas leis não são, com efeito, outra
coisa que as leis mais gerais dessas duas fases do desenvolvimento histórico e do
próprio pensamento. E reduzem-se, no fundamental, a três:
lei da transformação da quantidade em qualidade, e vice-versa;
lei da unidade e luta dos contrários;
lei da negação da negação.
As três foram desenvolvidas por Hegel, em sua maneira idealista,
como simples leis do pensamento; a primeira, na primeira parte da Lógica,
em sua teoria do Ser: a segunda ocupa toda a segunda parte, destacadamente a mais
importante de todas, da sua Lógica, a teoria da Essência: a terceira, finalmente,
figura como a lei fundamental que preside a estrutura de todo o sistema. O erro
está em que essas leis são impostas, como leis do pensamento, à natureza e à História,
em vez de derivar delas. Daí provém toda a construção forçada que, não poucas vezes,
deixa seus sinais de fora: o mundo, queira-se ou não, tem que organizar-se na obediência
a um sistema discursivo que só é, por sua vez, produto de determinada fase de desenvolvimento
do pensamento humano. Mas, se invertemos os termos, tudo acaba simples e as leis
dialéticas que, na filosofia idealista, pareciam algo extraordinariamente misterioso,
resultam, imediatamente, simples e claras como a luz do sol. (Engels: Dialética,
pág. 41).
“Se a vida consta, a cada passo, de contrários, se sua união
e coincidência são necessárias para compreender melhor a realidade, isto significa
que a dialética não admite colocação unilateral dos fenômenos e processos. A flexibilidade
é imprescindível, em nossas argumentações e em nossos atos. (...) “A flexibilidade
aplicada subjetivamente — diz Lênin — equivale ao ecletismo e à sofística. A flexibilidade
aplicada objetivamente, quer dizer, a flexibilidade que reflete em todos
os seus aspectos o processo material e sua unidade é a dialética, é o reflexo correto
do desenvolvimento eterno do mundo”. Que é o ecletismo, a que se refere Lênin na
passagem antes reproduzida? O ecletismo é a união arbitrária de teorias, opiniões
e pontos de vista contraditórios e heterogêneos. Assim, pois, a dialética
é oposta ao ecletismo e à sofística,
antes de tudo, porque, enquanto o ecletismo e a sofística conduzem à falta de princípios,
a dialética exige consequência e fidelidade profunda aos princípios.” (Yajot:
Materialismo, págs. 109-111)
Processo da abstração
Se, para Hegel, a marcha ascendente do abstrato ao concreto
é o próprio nascimento do concreto, para Marx é... “só o método com a ajuda do qual
o pensamento assimila o concreto e o reproduz espiritualmente como concreto”. (...)
A Lógica formal desconhecia o concreto como síntese de inumeráveis determinações
abstratas e o reduzia ao concreto-sensível. A dialética materialista não considera
que o abstrato e o concreto sejam duas categorias diferentes, não vinculadas entre
si, como sustentava a Lógica formal, senão dois momentos do processo de captação
da essência do objeto. Lênin disse que o universal é “...inerte, impuro, incompleto,
etc., mas é só uma etapa para o conhecimento do concreto, pois nunca se pode
conhecer plenamente o concreto. A soma infinita de conceitos gerais, de leis,
etc., dá o concreto, em sua totalidade.
O concreto, como soma dos inumeráveis aspectos conhecidos
em sua unidade por meio da abstração, é o conhecimento mais profundo e mais embebido
de conteúdo dos objetos do mundo exterior. Supera ao concreto-sensível em que não
só reflete as determinações externas do objeto, em sua concatenação direta, acessível
à percepção, senão também os aspectos essenciais, em seus nexos também essenciais.
E supera, assim mesmo, ao abstrato, porque reflete não só determinado aspecto essencial
do objeto mas os diferentes aspectos essenciais, em suas concatenações, isto é capta
o objeto de modo multilateral. (...) Na marcha ascendente do abstrato ao concreto,
não se opera um simples processo de somar ou ensartar uma abstração atrás de outra,
mas uma síntese que significa penetração cada vez mais funda na essência do fenômeno.
Ao sintetizar as abstrações, modifica-se o conteúdo destas, pois incluso algumas
abstrações, que formam parte da síntese, captam logo a realidade mais profundamente
que antes de participar na síntese. (Rosental e Straks: Categorias, págs.
314-315).
Do sensorial ao lógico
Quantos trabalham para descobrir e conhecer as leis da natureza
começam por acumular fatos. Isto se consegue por meio da experiência ou da
simples observação, mas sempre com a ajuda dos órgãos dos sentidos. É o primeiro
degrau do processo cognoscitivo: o conhecimento sensorial ou contemplação
viva. Quando se acumulou quantidade suficiente de fatos, nossa razão os analisa,
compara-os e confronta e chega a determinadas conclusões. É o segundo degrau do
processo cognoscitivo: o conhecimento lógico ou pensamento abstrato.
Mas tanto o primeiro degrau como o segundo têm por base a atividade prática. Dela,
da vida, tomamos os fatos, para analisá-los. E, vice-versa, as conclusões que tiramos
desses fatos são necessárias para a vida, para a prática. (...) Assim, pois, o processo
cognoscitivo consta do conhecimento sensorial e do lógico, que atuam à base da prática.
“Da contemplação viva do pensamento abstrato e dele à prática: tal é o caminho dialético
do conhecimento da verdade, do conhecimento da realidade objetiva”, escrevia Lênin.
(...)
Que prova este fato? Que os órgãos dos sentidos são os canais
por onde penetram na consciência humana os conhecimentos do mundo que nos rodeia.
A influência que sobre eles exerce o mundo exterior suscita as sensações.
Lênin indicava que nada podemos saber do mundo circundante senão através das sensações.
(...) Lênin assinalava que a sensação é o resultado da ação dos objetos do mundo
exterior sobre nossos órgãos dos sentidos. E, precisamente por isso, nos proporciona
um conhecimento verdadeiramente fidedigno do mundo circundante. (...) Foi preciso
um grande e complexo trabalho da inteligência, da razão dos cientistas, para extrair
dos fatos citados a conclusão correspondente. Com a ajuda do pensamento, portanto,
o homem tira conclusões a respeito da essência, dos nexos internos, quer dizer,
das leis de desenvolvimento dos fenômenos. Enquanto as sensações vinculam diretamente
o homem com as coisas existentes, o pensamento reflete o mundo exterior de maneira
indireta. (...) Sem fatos não há conclusões. Os fatos são o ar dos homens de
ciência. E tais fatos lhes são proporcionados, nas sensações, pelos órgãos dos sentidos.
Mas não é possível limitar-se a recompilar dados. O grande sábio russo Ivan Pávlov
dizia, em carta, aos jovens soviéticos: “Não vos convertei em arquivistas de fatos.
Intentai penetrar no segredo de seu surgimento. Buscai com tenacidade as leis que
os regem”. E isto se pode conseguir unicamente com a ajuda do pensamento abstrato.
(...) É traço peculiar do pensamento destacar dos fenômenos cognoscíveis unicamente
os traços essenciais. Assim, precisamente, formam-se os conceitos. Como veem, no
pensamento, a abstração está estreitamente vinculada à generalização. A abstração
é, portanto, um processo que consiste em abstrair-se dos traços não essenciais dos
fenômenos que se estuda e em destacar mentalmente neles os traços essenciais, as
peculiaridades. A conclusão é a generalização, que contém, em forma concentrada, só o essencialmente importante,
o típico. (YAJOT: Materialismo, págs. 199-204).
Conhecimento e realidade
O conhecimento reflete a realidade. É um complexo processo
dialético ao longo do qual a razão vai penetrando na essência das coisas. O conhecimento
avança através de um processo de aparecimento e solução de contradições e reveste
caráter ativo e criador já que, ao descobrir as leis que regem a realidade, assinala
a via que conduz às transformações do mundo objetivo. Por ser também ciência do
pensamento, a dialética materialista situa seu objeto desde um ponto de vista histórico,
pondo a descoberto a origem e o desenvolvimento do conhecimento. “Na teoria do conhecimento
—escreve Lênin — como em todos os demais domínios da ciência, é preciso raciocinar
dialeticamente, ou seja, não supor que nosso conhecimento é acabado e invariável,
mas analisar o processo graças ao qual o conhecimento incompleto e inexato chega
a ser mais completo e exato (Konstantinov: Fundamentos, pág. 286).
“Seria absurdo supor que o indivíduo recebe de sua própria
experiência pessoal todo seu cabedal de conhecimentos a respeito da realidade. O
homem se beneficia da experiência da espécie inteira, da humanidade. Por muito observador
e sagaz que seja um indivíduo, sua experiência não deixará de ser sempre muito limitada.
Nosso saber atual é fruto da experiência de todos os homens, passados e presentes.
Ao dizer que a totalidade de nossos conhecimentos procede, em última instância,
da experiência, entendemos por sujeito dela a humanidade inteira. Os dados sensíveis
não são mais que os materiais do edifício do conhecimento, não o edifício inteiro.
O pensamento avança anda mais por via da verdade objetiva, até apreender as leis
do movimento dos fenômenos que podem ser captados pelos sentidos, de modo direto
e imediato. O pensamento se acha ligado aos sentidos, mas, ao mesmo tempo, distingue-se
qualitativamente deles.” (Konstantinov: Fundamentos,
pág. 296).
“A prática não é só a base do conhecimento mas o critério
objetivo da verdade.” (Rosental e Straks: Categorias, págs. 77 e 324)
Histórico e lógico
Para compreender as leis que regem no desenvolvimento do conhecimento,
ou seja, sua dialética, é indispensável que se esclareçam as relações mútuas entre
o histórico e o lógico, no processo de aquisição de um conhecimento
concreto sobre determinado objeto. Por histórico se entende o movimento do
próprio objeto real; por lógico, o reflexo do histórico. O histórico é o
primário; o lógico, o derivado. A História não segue a lógica, como sustenta Hegel,
mas esta é que reflete os lances fundamentais da História. No processo de desenvolvimento
de um objeto dão-se casualidades, ziguezagues, desvios em um ou outro sentido, em
relação à via fundamental. O lógico não repete o histórico em todos os seus detalhes,
mas reproduz, em forma de abstrações, o mais importante, o que constitui sua essência,
baseando-se, para isso, no estudo de toda a riqueza do processo real de devenir.
O lógico e o histórico formam unidade, mas não são idênticos; coincidem no fundamental,
no essencial. O lógico é o próprio histórico, mas libertado das contingências da
forma histórica. (...) A unidade do lógico e do histórico, concebida de modo materialista,
é o princípio retor na estruturação de uma ciência e no estabelecimento de seu sistema
de categorias. A ordem de sucessão e o movimento dos conceitos científicos devem
refletir a concatenação histórica fundamental dos fenômenos estudados por dita ciência.
O lógico é o reflexo sintético e corrigido do histórico, no sentido de que reflete
o desenvolvimento da realidade ajustado a leis e de que explica a necessidade desse
desenvolvimento. (Konstantinov: Fundamentos, pág. 306)
Função da síntese
A análise deve, portanto, ser completada pela síntese. Mas
esta não é uma tarefa tão banal como poderia fazer crer um exame superficial, conduzindo
a síntese à reunião pura e simples das partes componentes do Objeto. As críticas
feitas por Marx aos economistas burgueses e as aplicações concretas que fornece
da síntese em O Capital mostram que se trata de um processo extremamente
complexo. Marx entende por síntese a concretização do termo geral e único,
atingido pela análise, e a dedução, a partir desta, de suas expressões concretas
multiformes existentes na realidade. Segundo ele, a síntese é a reprodução do
concreto enquanto unidade do diverso. Se, na análise, o pensamento vai do singular,
do concreto, ao abstrato e ao geral, na síntese segue o trajeto inverso: do abstrato
e ao geral, na síntese segue o trajeto inverso: do geral às suas múltiplas manifestações,
às suas diversas formas de existência. Toda a essência e toda a força da síntese
residem em que a realidade não se apresenta mais como uma soma de fenômenos e de
processos isolados, mas como um todo em que os fenômenos, por fragmentados e disparatados
que sejam, acham-se reunidos em um só núcleo e subordinados às leis descobertas
e estudadas graças à análise. Marx entende por síntese o estudo e a reprodução no
pensamento do processo real de desenvolvimento, enquanto a análise não estuda e
não faz conhecer que a abstração desse processo. (Rosental: Dialectique,
pág. 413).
“Hegel definia, acertadamente, as categorias como abreviaturas
da multidão infinita de detalhes da realidade exterior. As categorias expressam,
em forma condensada, todo um conjunto de fenômenos, porquanto refletem o geral.”
(Rosental e Straks: Categorias, págs. 6-11).
Contradição e categorias
A fluidez dialética das categorias manifesta-se, também, no
fato de que se transformam, com os diversos nexos e relações. A realidade é em extremo
complexa e o que se manifesta em umas relações como causa, por exemplo, em outras
se converte em efeito, e vice-versa. Assim sucede com a economia, com as relações
econômicas, que fazem surgir uma determinada política. A economia, nessa concatenação,
opera como causa, enquanto a política aparece como efeito. Ora, a política, por
sua vez, engendra a ideologia, as concepções e teorias políticas, etc. Com respeito
à ideologia, a política opera como causa dessa nova relação. Esta fluidez das categorias
tem enorme importância, pois só em virtude dela as categorias podem servir de instrumento
que reflete com exatidão os complexíssimos e cambiantes nexos da realidade. (...)
A isto há que acrescentar a significação primordial que adquire o problema das contradições,
na dialética dos conceitos e categorias do pensamento, em plena concordância com
o caráter objetivo da realidade. Como é sabido, a fonte de desenvolvimento e, por
conseguinte, das mudanças qualitativas, da passagem dos fenômenos de um estado a
outro, deve buscar-se nas contradições internas que se dão em cada fenômeno, deve
buscar-se na luta mantida entre essas tendências e forças contrapostas. A luta de
contrários culmina na passagem de um estado qualitativo a outro. (...) As relações
e a ação mútua entre as categorias, a transformação de umas em outras, exigem que
as abordemos não como uma soma mecânica de conceitos, mas como sistema total de
categorias, dotado de determinada estrutura interna própria, e sujeito a determinada
ordem na passagem de umas categorias a outras. (Rosental e Straks: Categorias,
págs. 38-41 ).
Conceito de homem
Formar o conceito científico de homem significa descobrir
o que converteu o homem em homem, o que lhe permitiu elevar-se sobre o mundo circundante.
O marxismo demonstrou que a essência do homem consiste em sua capacidade de produzir
instrumentos. (Rosental e Straks: Categorias, pág. 307).
Conceitos e prática
Os conceitos não nascem arbitrariamente da mente humana. Como
Marx assinalou, os homens não começam estando em uma relação teórica com a realidade.
Ao contrário, a relação prática que guardam com ela constitui o ponto de partida
e o fundamento de sua atividade teórica. Os conceitos nascem da prática e resumem,
sintetizam o que previamente se deu na vida real, na prática. E, posto que a prática
se desenvolve historicamente, os conceitos surgem como “nós” que fixam na consciência humana uma determinada fase histórica
alcançada pela prática social. (Rosental e Straks: Categorias, págs. 328-329).
Traços das categorias
Todos sabem
já que o homem não pode passar sem conceitos gerais. Os físicos, por exemplo, estudam
as propriedades dos distintos corpos de conservar o estado inicial de repouso ou
de movimento uniforme. Mas não se podem limitar a isso. Diante deles surge, inelutavelmente,
uma pergunta: por que se manifestam estas propriedades em todos os corpos, que têm
de comum? Dessa forma, o estudo das propriedades dos diversos objetos serve de base
aos físicos para formular o conceito geral de “inércia”. O mesmo se deve dizer da
massa, da medida de inércia dos corpos. Ainda neste caso não é suficiente estudar
a massa dos distintos corpos: há que formular uma definição genérica do que é a
massa em geral. Da mesma maneira se forma, em Física, o conceito geral de “energia”.
É geral porque concentra todo o essencial que caracteriza não só a energia de um
corpo concreto, mas a de todos os corpos e processos dela dotados. Em Biologia,
podemos observar um quadro análogo. Esta ciência não estuda unicamente as distintas
espécies de peixes, mamíferos ou outros organismos vivos, mas estabelece o que é
a espécie em geral.
Os conceitos que expressam os traços, nexos e aspectos mais gerais dos fenômenos
e objetos chamam-se categorias. Cada ciência cria
conceitos científicos, categorias: “espécie”, “herança”, etc., em Biologia; “valor”,
“trabalho”, etc., em Economia Política; “elemento químico”, “reação química”, etc.,
em Química, e assim sucessivamente. São suficientes, no entanto, estas categorias,
estabelecidas nas ciências concretas? Pensemos um pouco. Cada uma delas estuda os
conceitos gerais, nos limites de sua ciência. Mas sabemos já que existem as propriedades
mais gerais das coisas e fenômenos do mundo. Que ciência formula esses conceitos
gerais? A Física, por exemplo, não pode fazê-lo, pois se limita ao âmbito de seu
ramo do saber. O mesmo ocorre com a Química, a Biologia, e outras ciências.
As propriedades
mais gerais das coisas refletem-se nas categorias filosóficas: “matéria”,
“movimento”, “espaço”, “tempo”, “qualidade”, “quantidade”, “contradição”, etc. As
categorias filosóficas são os conceitos mais gerais. É impossível, por conseguinte,
limitar-se às categorias criadas pela Física, a Química e outras ciências particulares.
No processo do conhecimento (processo cognoscitivo) criam-se categorias filosóficas
para refletir as propriedades mais gerais dos fenômenos do mundo existente. As categorias,
como qualquer outro conceito, são secundárias, derivadas. O estudo paulatino das
coisas do mundo real levou à formação de conceitos compreendidos, também os mais
gerais, quer dizer, as categorias filosóficas. Isto significa que a fonte das categorias
são os objetos e fenômenos, o mundo objetivo, que existem fora do homem. Por isso
as categorias têm caráter objetivo. (Yajot: Materialismo, págs. 136-137).”
Categorias e realidade
As categorias
filosóficas são conceitos que refletem os traços e nexos, aspectos e propriedades
gerais da realidade. (...) As leis e categorias da dialética estão vinculadas mutuamente.
Ao estudar as leis fundamentais da dialética marxista, vimos que elas representam,
em essência, uma relação, uma concatenação de categorias. (...) Por isso, sem conhecer
as categorias é impossível compreender as leis. Por outro lado, conhecer as leis
permite compreender a essência das categorias da dialética. Assim, a lei de unidade
e luta de contrários permite esclarecer o verdadeiro sentido de categorias opostas
como o conteúdo e a forma, a necessidade e a casualidade, a possibilidade e a realidade,
etc. (...)
As categorias
da dialética marxista são o resultado, a síntese da experiência multissecular
dos homens, de sua atividade de trabalho e de conhecimento. Em contato com o
processo da atividade prática, com os objetos e fenômenos do mundo, e ao conhecê-los,
o homem lhes foi destacando o essencial, o universal, e fixando os resultados em
categorias e conceitos. (...) As categorias são o resultado da atividade prática
e cognoscitiva do homem, são fases do conhecimento do mundo circundante pelo homem.
(...) Ao constituir degraus do conhecimento, ajudam os homens a orientar-se na complexa
rede de fenômenos da natureza e da sociedade, a descobrir a concatenação e dependência
mútuas das coisas, a ordem determinada, a regularidade de seu desenvolvimento e,
de acordo com ele, a atuar corretamente na prática. A dialética marxista salienta
a essência das categorias, as fontes de seu aparecimento e, sobretudo, seu caráter
objetivo. As fontes das categorias são os objetos e fenômenos existentes fora do
homem, cujos traços essenciais e mais gerais refletem (...) Outros aspectos importantíssimos
das categorias são sua interdependência, mutabilidade e mobilidade.
Refletem a unidade do próprio mundo material, a concatenação universal e a interação
de seus objetos e fenômenos. (Afanasiev: Filosofia, págs. 147-150).
Conhecimento e o universal
Tanto os objetos
e processos singulares como o universal, isto é, os traços, os nexos e qualidades
comuns nesses objetos singulares, assim como as leis que os regem, são dotados de
existência real, objetiva. No reino do pensamento, entretanto, o singular só se
conhece em seus traços comuns com outros objetos singulares. “Toda palavra (a linguagem)
— diz Lênin — é já uma generalização... Os sentidos mostram o real; o pensamento
e a palavra, o geral”. (...) Assim, o pensamento só pode conhecer e definir o singular
considerando-o como universal. O pensamento não pode expressar o singular senão
por meio do universal. O universal no pensamento, quer dizer, os conceitos e as
leis, é uma abstração do singular, uma síntese dos traços, das qualidades e dos
processos realmente observados em inumeráveis objetos e fenômenos singulares, em
uma só imagem, em uma só fórmula. A isso se acrescenta que o pensamento, ao refletir
o universal, o essencial, ao destacar o fundamental e necessário, vem a separar
do objeto o que tem de inessencial, de casual e secundário. O universal reflete
mais profundamente o objeto e proporciona um conhecimento mais fundo do singular,
já que põe de manifesto o que há de essencial, de dominante nesse objeto singular.
Nisso reside a enorme força e a superioridade do pensamento abstrato face ao conhecimento
sensível; nisso está a superioridade da abstração sobre a percepção imediata. (Rosental
e Straks: Categorias, págs. 261-271).
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