Editora:
Bertran Russell
ISBN: 978-85-2862-194-5
Tradução:
Milton Chaves de Almeida
Opinião:
★★★★☆
Páginas:
192
“Isso nos leva a
voltar no tempo e suas raízes são interessantes. Há 150 anos, nos primórdios da
Revolução Industrial, os americanos tinham uma imprensa bastante livre.4
Por exemplo, trabalhadores possuíam seus próprios jornais, tanto em fábricas
quanto em outros lugares, principalmente nos arredores da Nova Inglaterra. Na
época, alguns temas eram presença constante nas páginas da imprensa. Havia um
ataque feroz ao sistema industrial, com acusações de que estavam transformando
americanos livres em verdadeiros escravos. O trabalho assalariado era
considerado algo que não diferia muito da escravidão, mas o tema mais
impressionante era a oposição ao que alguns chamavam de “O Novo Espírito da
Época: enriquecer às custas dos outros.” E isso foi em meados do século XIX.
Esse era o “Novo Espírito” 150 anos atrás — o melhor negócio é enriquecer, sem
pensar nas necessidades dos outros. Era uma afiada percepção do espírito de
classe. Para os interessados na manutenção do poder e dos privilégios, seria
bom modificar o que as pessoas pensavam. Afinal, não iriam querer que elas se
dessem conta que pertenciam a uma classe oprimida. Chegamos, assim, à situação
atual, na qual o termo “classe” se tornou uma palavra indecente, quase um
palavrão — a pessoa não pode nem pensar em pronunciá-la.
Imagino que muitos
tenham lido o primeiro parágrafo de A
riqueza das nações na qual o autor fala sobre o açougueiro, o padeiro, as
pessoas trabalhando junto, numa situação em que a divisão do trabalho é a coisa
mais maravilhosa do mundo. Porém, poucos leitores devem ter chegado à página
450, onde ele condena veementemente a divisão do trabalho, pois transforma as
pessoas em criaturas extremamente estúpidas e ignorantes, dado que são
obrigadas a executar tarefas simples e repetitivas, no lugar de desenvolver e
exercitar sua inteligência e criatividade. Assim, ele lança um apelo para que
as sociedades civilizadas intervenham de modo a impedir que isso aconteça.
Afinal de contas,
somos seres humanos, e não autômatos. A necessidade de trabalhar não retira a
condição de ser humano. E a própria condição de ser humano implica no direito
às tradições culturais — não apenas às suas próprias tradições, mas também às
de muitas outras pessoas — e tornar-se não apenas um hábil operador, mas também
um ser intelectualizado. Alguém que seja capaz de pensar criativamente e de
forma independente, bem como pesquisar e questionar, e, desse modo, contribuir
com a sociedade. Sem isso, você pode muito bem ser substituído por um robô.
Enfim, acho que essas coisas simplesmente não podem ser ignoradas se quisermos
ter uma sociedade em que valha a pena viver.
Aliás, outra palavra
impronunciável é “lucros”. Portanto, quando você ouvir um político dizer:
“Precisamos gerar empregos”, reflita um pouco, visto que, quase sempre, é o
mesmo que se ele dissesse: “Temos que gerar lucros.” Eles não estão nem aí para
a geração de empregos, pois as pessoas que vivem dizendo: “Temos de gerar
empregos” são as mesmas que os exportam para o México e a China, já que isso
aumenta seus lucros, que é a verdadeira meta de seus anseios. Em suma, os
poderosos fizeram mudanças em sua retórica, na tentativa de impedir que as
pessoas vissem o que estava acontecendo — é uma atitude esperada de quem tem
muito poder nas mãos, mas precisamos entender como isso acontece.”
“Na última vez que
pesquisei sobre o assunto, vi que os responsáveis pelo recenseamento nem sequer
dividem as pessoas em classes sociais. Aliás, a ideia de classes sociais é algo
muito simples: Quem dá as ordens? Quem as obedece? Isso basicamente define a
divisão de classes sociais. Logicamente, ela tem as suas nuances e
complexidades, mas, basicamente, é isso.
Não somos
geneticamente diferentes das pessoas da década de 1930. Aquilo que foi feito
pode, portanto, ser feito de novo. E não deixe de considerar que, naquela
época, os avanços vieram após um período que não difere em nada do atual — um
tempo de grandes desigualdades, duras repressões, destruição do movimento
operário, numa sociedade bem mais pobre do que a atual e com menos
oportunidades. Podemos refazer o mesmo caminho e reorientar as recentes
inovações naquela direção. Isso precisa ser feito, mas não acontecerá
espontaneamente.”
“Quando vende um bem
seu qualquer, você continua na posse de si mesmo. Porém, quando vende o produto
de seu trabalho, você vende a si mesmo, perdendo os direitos dos homens livres
e tornando-se vassalo de estabelecimentos gigantescos, controlados por uma
aristocracia endinheirada que ameaça aniquilar qualquer um que ouse questionar
seu direito de escravizar e oprimir. As pessoas que trabalham nas fábricas
deveriam ser seus donos, e não ter o status de máquinas controladas por
déspotas do capital privado, que estão encravando princípios monárquicos no
solo democrático, rebaixando os níveis de liberdade e a plena fruição de direitos,
a dignidade da civilização, a qualidade da saúde, os bons costumes e a
inteligência à baixeza dos domínios rasteiros do novo feudalismo comercial.”
(“Panfletos de Fábrica”, as “Jovens
Operárias” de Lowell, Massachusetts, 1845)
“Fabricando consumidores
Estava claro e bem
entendido que, na visão da elite, era necessário controlar as massas por
intermédio de crenças e atitudes. Ora, uma das melhores formas de se controlar
as possíveis atitudes das pessoas é com aquilo que o importante economista
Thorstein Veblen denominou de “fabricação de consumidores”. Se for possível,
fabricar necessidades e tornar indispensável à vida das pessoas a aquisição de
determinados produtos, elas devem ser induzidas a cair na armadilha do consumo.
Desse modo, quem lesse as páginas de jornais de negócios da década de 1920,
veria artigos falando da necessidade de se induzir as pessoas a tomarem gosto
por supérfluos, tais como “produtos da moda”, pois isso faria com que não
incomodassem a elite.
Aliás, Bernays
realizou tamanhas façanhas na vida que vale a pena citá-las. A primeira delas
foi fazer com que as mulheres passassem a fumar.3 Como as mulheres
não fumavam naquela época, ele organizou grandes campanhas publicitárias — acho
que foi para a Chesterfield, na década de 1930 — para convencê-las que fumar
era o que chamaríamos hoje de atitude “chique”. Algo condizente com os tempos
modernos e que a mulher livre deveria fazer, e por aí vai. Impossível calcular
quantas dezenas de milhões de mortes podemos atribuir a esse sucesso. (Outro
grande sucesso dele foi na década de 1950, quando trabalhava para a United
Fruit Company, e convenceu as pessoas a derrubarem o governo democrático da
Guatemala — pois seus políticos estavam ameaçando o controle que a empresa
queria ter sobre a economia e a sociedade guatemalteca —, campanha que levou a
mais de cinquenta anos de horrores e atrocidades.)
Portanto, são
conceitos e valores da elite que vêm permeando nossa história desde longa data.
A indústria da publicidade teve um crescimento rápido com a busca desse
objetivo — fabricar consumidores e induzir as pessoas a caírem na armadilha de
um consumismo inescapável —, e isso é feito com grande sofisticação. A situação
ideal é a que temos hoje quando, por exemplo, adolescentes com tempo livre numa
tarde de sábado resolvem passear num shopping em vez de irem a uma biblioteca
ou a outro lugar qualquer. Certamente, essas crianças sentem-se da seguinte
forma: “Não terei conseguido nada na vida se eu não puder comprar mais um
aparelho eletrônico.”
A ideia é tentar
controlar todos, transformar a
sociedade inteira num sistema de consumo perfeito. O sistema perfeito seria uma
sociedade que funcionasse como uma díade
— isto é, aos pares. Essa dupla seria você e seu aparelho de televisão, ou
talvez você com seu iPhone e a Internet. Procuram incutir na mente das pessoas
imagens do que consideram uma vida ideal — quais os aparelhos que devem ter, o
que fazer para preservar a saúde etc. Gasta-se tempo e esforço adquirindo
coisas que não são necessárias — e que talvez até se jogue fora após algum
tempo —, mas que são símbolo de uma vida digna.”
3:
Ver “De Tabu Social a ‘Chama da Liberdade’: A Propaganda para a Venda de
Cigarros a Mulheres”, Amanda Amos e Margaretha Haglund, 2000, na página 153.
“Escolhas irracionais
Se você já fez algum
curso de economia, sabe que os mercados supostamente são baseados em
consumidores informados que fazem escolhas racionais. Nem preciso lhe dizer que
não é o que acontece. Se os anunciantes se guiassem pelos princípios lógicos do
mercado, então grandes empresas, como a General Motors, faria uma pequena
propaganda anunciando seus produtos, junto com uma descrição de suas
características, acompanhada de comentários da revista Consumer Reports, de
modo que a pessoa pudesse formar uma opinião sobre suas qualidades e
conveniência.
No entanto, as
propagandas de carros não são feitas dessa forma — geralmente, o que vemos numa
propaganda de carro é um astro do futebol, ou uma atriz de grande sucesso,
fazendo coisas loucas dentro de um veículo, como subir uma montanha ou algo
assim. Se você assiste à televisão de vez em quando, sabe que centenas de
milhões de dólares são gastos na tentativa de criar consumidores desinformados
que façam escolhas irracionais — esse é o objetivo das propagandas.
Alguns anos atrás, a
indústria da publicidade percebeu que havia uma parcela da população que não
estava sendo alcançada por seus esforços — a das crianças.4 É que,
pensavam eles, como as crianças não têm dinheiro, não faz sentido realizar
campanhas publicitárias voltadas para elas. Porém, finalmente compreenderam que
era um erro e que, embora elas não tenham dinheiro, seus pais têm. Assim,
desenvolveram um novo conceito na indústria da propaganda, o qual denominaram
de “fator amolação”. No mundo acadêmico, departamentos de psicologia aplicada
estudam várias formas de amolação — caso o anunciante queira que a criança
importune os pais para que eles comprem um determinado produto, anunciam de uma
determinada forma; caso o foco seja outro produto, anunciam de outra maneira.
Os pais estão
familiarizados com essas artimanhas porque veem a coisa acontecer. Quando
assisto à televisão com meus netos, por exemplo, percebo que, já aos 2 anos,
eles são inundados com propagandas — as coisas que seus pais têm de comprar para
eles. Tudo começa na infância e podemos ver isso claramente. Aliás, existem
bons estudos sobre os efeitos disso em crianças e adultos. Em suma, é uma das
formas de aprisionar pessoas na armadilha do consumo.
Outra importante
forma de aprisionamento das pessoas é levá-las a contrair dívidas. Não foi um
artifício inventado aqui, e tem uma história interessante. Na década de 1830,
quando os britânicos estavam abandonando suas práticas escravocratas nas
colônias, depararam-se com um problema. O que fariam quando os escravos
ficassem livres? Como seria possível fazê-los continuar trabalhando nas grandes
monoculturas de exportação? Afinal de contas, as terras eram abundantes e eles
poderiam simplesmente partir para outra região, conseguir um lote de terra e levar
uma vida bastante feliz. Ora, para resolver o problema, eles simplesmente
lançaram mão do método de dominação de sempre.
O que eles
precisavam fazer era induzi-los a cair na armadilha do consumismo. Enchê-los de
propaganda, tentá-los com ofertas sedutoras, e assim por diante, de modo que os
libertos adquirissem esses produtos de um jeito ou de outro. Eles passariam a
frequentar as lojas comerciais para comprá-los, se endividariam e, em pouco
tempo, estariam presos na armadilha consumista — e, no fim das contas, a
economia da escravidão estaria de volta.5”
4:
Ver País Fast Food: O lado nocivo da
comida norte-americana, Eric Schlosser, 2001, na página 154.
5:
Ver O Dobro do Trabalho Feito pelo
Trabalhador Livre: A Política Econômica do Trabalho de Presidiários na Região
Sul dos EUA, Alex Lichtenstein, 1996, na página 155.
“Minando as eleições
Quando essas mesmas
instituições — as do sistema de relações públicas — participam de campanhas
eleitorais, agem de forma idêntica. Procuram criar um eleitorado desinformado
que seja levado a fazer escolhas irracionais, quase sempre contra seus próprios
interesses.
A democracia parte
do pressuposto da existência de cidadãos bem-informados, tomando decisões
racionais. Porém, a indústria de relações públicas realiza campanhas para
entupir os eleitores de coisas inúteis, como ilusões, personalidades e assim
por diante. Afinal, é importante mantê-los distantes dos grandes problemas — e
a razão para isso é bastante clara. No que diz respeito aos grandes problemas,
existe um claro conflito entre políticas públicas, feitas por uma elite, e a
opinião pública. Por isso, tratam de induzir as massas a preocupar-se com
coisas irrelevantes e minar a democracia — e também contribuir com o objetivo
geral de marginalização e fragmentação política da população e canalizar suas
preocupações para longe daquilo que realmente poderia ser importante, na
condição de agentes participativos de uma sociedade livre, democrática e
vibrante, na qual trabalhassem por ela como um todo.
Enfim, querem que as
pessoas sejam meros espectadores, e não participantes. E terão uma “democracia
satisfatoriamente funcional” — de volta a Madison, passando pelo Memorando Powell e assim por diante. Isso acontece toda vez que realizam uma
dessas extravagâncias eleitoreiras.”
“Ao longo da década
de 1980, houve um aumento explosivo das campanhas publicitárias voltadas para o
consumidor infantil. Muitos trabalhadores, sentindo um peso na consciência pelo
fato de que vinham dedicando menos tempo aos filhos, começaram a gastar mais
dinheiro com as crianças. Um especialista em marketing chamou os anos de 1980
de “a década do consumo infantil”. Depois de anos ignorando quase totalmente o
potencial de consumo nas crianças, Madison Avenue começou a estudá-las e a pesquisar
sobre elas. (...) O crescimento do setor publicitário dedicado ao mercado
consumidor infantil tem sido conduzido por esforços objetivando o aumento do
consumo nesse mercado não apenas agora, mas no futuro também. Movidas pela
esperança de que lembranças nostálgicas de uma famosa marca da infância podem
levar o consumidor a comprá-la ao longo da vida inteira, as empresas estão
preparando agora estratégias publicitárias envolvendo a ideia de uma fidelidade
de consumo que se estenda do “berço ao túmulo”. É que elas passaram a acreditar
naquilo que Ray Kroc e Walt Disney haviam percebido muito tempo antes — a
“fidelidade à marca” de uma pessoa pode começar já aos dois anos de idade.
Aliás, pesquisas de mercado indicam que, muitas vezes, as crianças reconhecem
um logotipo de marca antes mesmo de se tornarem capazes de reconhecer o próprio
nome [...].
Nos dias atuais, o
grosso das campanhas publicitárias direcionadas a crianças tem por objetivo
obter resultados imediatos. “E não se trata apenas de induzir as crianças a
espernear”, explicou um marqueteiro numa entrevista para a Selling to Kids,
“mas também dar a elas um motivo específico para pedir que lhes comprem o
produto.” Anos atrás, o sociólogo Vance Packard comparou as crianças a
“assistentes de vendas” que tinham de persuadir outras pessoas, geralmente os
próprios pais, a comprar o que elas queriam.”
(País Fast Food: O lado nocivo da comida
norte-americana, Eric Schlosser, 2001)
“MARGINALIZAR A POPULAÇÃO
Martin Gilens, um
dos mais destacados cientistas políticos da atualidade, fez importantes estudos
sobre as correlações entre os anseios da população e as políticas públicas, com
base em dados de pesquisas de opinião. Por sinal, é um assunto muito fácil de
estudar — afinal de contas, políticas governamentais podem ser vistas, e
opinião pública surge dos dados das pesquisas de opinião. Num desses estudos,1
feito em conjunto com Benjamin Page, outro excelente cientista político, Gilens
escolheu para exame 1.700 decisões relacionadas com políticas públicas e as
comparou com os anseios do público e o interesse corporativo. O que elas
demonstram, e acho que convincentemente, é o fato de que políticas públicas não
têm nada a ver com os anseios do povo, e estão estreitamente vinculadas aos
interesses das grandes empresas. Em outro trabalho, ele demonstrou que cerca de
setenta por cento da população não exercem nenhuma influência na definição de
políticas públicas — é como se morassem em outro país. E quando examinamos o
nível de renda e de riqueza, o impacto das políticas públicas é ainda maior —
os ricos, de uma forma geral, conseguem o que eles querem.
Os dados dessas
pesquisas de opinião não são suficientemente detalhados para que pudéssemos
examinar a questão além dos dez por cento mais ricos da população, o que é meio
enganador, pois a verdadeira concentração de poder está na ínfima fração de um
por cento da população. No entanto, se o estudo tivesse chegado a esse nível de
requinte, teria sido óbvio o que constataríamos: essa pequena parcela consegue
tudo o que quer, porque, na prática, são eles que administram e controlam tudo.
O fato de políticas
públicas não corresponderem aos interesses da população não deveria surpreender
ninguém. Afinal, é o tipo de coisa que vem ocorrendo há muito tempo. A verdade é
que as políticas governamentais são feitas para instituir e preservar o poder
do Estado e das classes dominantes. Nos EUA, esse poder de classes está,
principalmente, nas mãos do setor corporativo. O bem-estar da sociedade está em
segundo plano e quase nunca recebe a atenção necessária. E a população sabe
disso. Por esse motivo temos essa grande hostilidade com as instituições — com
todas elas. Assim, quase sempre o apoio ao Congresso se expressa em números de
apenas um dígito; as pessoas não gostam da presidência; detestam as grandes
empresas; bancos são odiados — isso se estende por todos os setores. Até mesmo
a ciência é desprezada: “por que deveríamos acreditar nela?”.
Um sentimento de raiva difuso
Existe mobilização e
ativismo popular em nosso país, mas na direção de objetivos prejudiciais às
próprias pessoas que deles participam. São coisas que estão tomando forma de um
sentimento de raiva difuso — manifestações de ódio, ataques recíprocos, alvos
vulneráveis. Irracionalidade de pessoas agindo contra seus próprios interesses
— aliás, isso ocorre literalmente
falando. Apoio a políticos cujo objetivo é prejudicá-las ao máximo. Estamos
vendo essas coisas acontecerem bem diante de nossos olhos. Basta assistir à
televisão e navegar pela Internet para ver esse fenômeno todos os dias. É o que
acontece. Funciona como um agente de corrosão nas relações sociais, mas a finalidade é justamente esta. O
objetivo é fazer com que as pessoas se odeiem e tenham medo umas das outras,
que tratem de cuidar apenas de si e não façam nada por ninguém.
Donald Trump, por
exemplo. Faz muitos anos que venho escrevendo e falando sobre o perigo do
surgimento, nos Estados Unidos, de um ideólogo carismático, alguém que
conseguisse explorar o medo e o ódio que anda fervilhando, um perigo latente em
grande parte da sociedade, enfim, alguém que fosse capaz de desviar esse
sentimento para longe das verdadeiras causas de nossos males, canalizando-o na
direção de alvos frágeis e inofensivos. Contudo, faz muitos anos também que
esses perigos são reais, talvez ainda mais se considerarmos as forças que Trump
desencadeou, até porque ele não se enquadra na imagem de um verdadeiro
ideólogo. Na verdade, ele parece ter muito pouco de uma ideologia efetivamente
pensada exceto pelo eu e meus amigos.
Ele recebeu um apoio
enorme de pessoas com raiva e ódio de tudo e todos. Tanto é assim que, sempre
que Trump faz algum comentário horrível a respeito de alguém, sua popularidade
aumenta. É uma popularidade assentada em sentimentos de ódio e medo. O fenômeno
que estamos vendo aqui é de “ódio generalizado”. Em grande medida, por parte de
pessoas brancas, da classe operária, de integrantes da baixa classe média, de
pessoas que ficaram abandonadas e esquecidas durante o período do
neoliberalismo. Elas atravessaram uma geração inteira de estagnação e
decadência. E decadência, inclusive, no funcionamento da democracia, pois até
mesmo a atuação política mal reflete suas preocupações e a busca da
concretização de seus interesses. Tiraram tudo. Não existe crescimento econômico,
só para uma minoria. Todas as instituições estão contra. Por isso, elas têm um
desprezo imenso pelas instituições, principalmente pelo Congresso. Grande é a
preocupação que elas têm de que estejam perdendo seu próprio país porque um
“eles generalizado” está tomando conta de tudo. Essa forma de transformar em
bode expiatório aqueles que são mais vulneráveis, juntamente com a ilusão de
que estão sendo tratados com mimos e leniência pelas “elites liberais”, é algo
bem conhecido, acompanhado de seu habitual cortejo com resultados dolorosos. É
importante considerar que legítimos receios e preocupações das massas podem ser
enfrentados com políticas públicas sérias e construtivas.
Em 2008, muitos dos
seguidores de Trump votaram em Obama, acreditando na mensagem de “esperança e
mudanças”. Porém, viram muito pouca coisa ser feita e, agora, desiludidos,
foram seduzidos por um impostor oferecendo uma mensagem diferente, mas que
poderá levar a uma reação terrível quando sua imagem desmoronar. Todavia, os resultados
dessas promessas poderiam ser muito mais promissores se houvesse um programa
autêntico e expressivo, que verdadeiramente infundisse esperança na população e
prometesse gerar de fato, com a devida seriedade, mudanças extremamente
necessárias. Em vez disso, a resposta a esse estado de coisas é a manifestação
de um ódio generalizado contra tudo e contra todos. (...)
As tendências a que
nos referimos, que vão se materializando na sociedade americana, criarão, a
menos que sejam revertidas, uma sociedade extremamente ruim para se viver. Uma
sociedade cujos alicerces se assentarão na máxima vil de Adam Smith do “tudo
para nós, e nada para os outros”, uma sociedade movida pelo Espírito de Época
do “conquistar riquezas esquecendo-se de todos, exceto de si mesmo”, uma
sociedade na qual os instintos e sentimentos, normais ao ser humano, como
empatia, solidariedade, apoio mútuo, serão rejeitados. Não gostaria de ver meus
filhos vivendo nesse lugar.
Se uma sociedade se
baseia no controle da riqueza privada, ela refletirá esses valores — valores de
ganância e o aumento do ganho pessoal, em detrimento dos outros. Por enquanto,
uma pequena sociedade movida por esse princípio pode ser horrível, mas consegue
sobreviver. Porém, uma sociedade global baseada nesses princípios caminhará
para uma destruição em massa.”
1:
Ver “Testando Teorias da Política Americana: Elites, Grupos de Interesse e
Cidadãos Comuns”, Martin Gilens e Benjamin I. Page, 2014, na página 171.
“A sobrevivência da espécie
Acho que temos um
futuro muito sombrio pela frente. Digo isso considerando os graves problemas
que enfrentamos na atualidade. Existe uma questão que não deveria ser ignorada
sob hipótese alguma — a de que estamos num estágio da história em que, pela
primeira vez, nos defrontamos com questões decisivas para a sobrevivência da
espécie. Poderá a espécie humana continuar a existir, pelo menos de forma
digna? É um problema de fato.
Em 8 de novembro de
2016, o país mais poderoso da história, que deixará a marca de sua existência
no que está por vir, realizou uma eleição presidencial. O resultado do pleito
pôs o controle total do governo — o Executivo, o Congresso, a Suprema Corte —
nas mãos do Partido Republicano, que se tornou a mais perigosa organização da
história mundial.
Com exceção da
última frase, nada do que expus acima pode ser considerado controverso. A
última frase pode parecer estranha, ou até ultrajante. Mas será mesmo? Os fatos
indicam justamente o contrário. O partido vem se empenhando em acelerar ao
máximo a destruição da vida humana. Não existe nenhum precedente histórico de
uma atitude como essa.
Acha que é um
exagero? Então, considere o que acabamos de testemunhar. O candidato vitorioso
exige um rápido aumento do uso de combustíveis fósseis, incluindo o carvão; a
aniquilação de normas reguladoras; e a recusa a ajudar países em
desenvolvimento que estão tentando mudar para sistemas de produção de energia
limpa; enfim, de uma forma geral, correndo para a beira do abismo a toda
velocidade.
Já houve
consequências diretas dessa atitude. As negociações da COP 21, Conferência do
Clima para tratar de questões sobre mudanças climáticas, realizada em Paris,
tinham por objetivo o estabelecimento de um tratado oficial, mas seus
participantes tiveram que se contentar com promessas verbais de confirmação do
acordo, pois os representantes republicanos no Congresso se recusaram a aceitar
qualquer compromisso de caráter irrevogável. A COP 22, conferência subsequente
realizada em Marraquexe, destinava-se a preencher lacunas e remediar
deficiências com vistas a amarrar bem o acordo. Ela começou em 7 de novembro de
2016. Em 8 de novembro, dia de eleição nos EUA, a Organização Meteorológica
Mundial divulgou um relatório estarrecedor sobre a situação atual da destruição
do meio ambiente. Quando o resultado da eleição chegou ao conhecimento dos
participantes da conferência, eles começaram a se perguntar se o processo de
negociações podia continuar, já que o país mais poderoso do planeta havia
retirado seus representantes do encontro e iniciara então tentativas para
enfraquecê-lo. Por fim, a conferência foi encerrada — um espetáculo assombroso.
O líder da defesa da condição humana foi a China! E o líder de destruição do
planeta foi o “líder do Mundo Livre”. Mais uma vez, é difícil descrever com
exatidão um espetáculo triste como esse.
Não é menos difícil
achar palavras para explicar o fato absolutamente assombroso que, apesar da
ampla cobertura jornalística da extravagância eleitoreira nos Estados Unidos,
esse tipo de evento sobre o clima recebe uma insignificante menção na mídia.
Até eu sinto dificuldade para achar as palavras certas que elucidem esse
fenômeno.
Por isso, estamos
avançando, de olhos abertos, para um mundo em que nossos netos talvez não
consigam sobreviver. Vamos caminhando fatalmente na direção de um desastre
ambiental, e não apenas caminhando, mas correndo
ao encontro desse destino. Com a pressão dos grandes negócios, os Estados
Unidos liderando o aceleramento dessas ameaças, em grande parte por motivos
institucionais. É só o leitor prestar atenção nas manchetes. Na primeira página
do New York Times, por exemplo, vimos a chamada de uma reportagem sobre um
relatório revelador sobre a redução da calota polar no Ártico. E com isso
ficamos sabendo que seu derretimento chegou a um ponto muito além de tudo que
fora previsto por sofisticados modelos matemáticos computacionais, lembrando
que a calota polar do Ártico gera efeitos consideráveis sobre o clima como um
todo.
É um problema que se
agrava a cada dia, pois à medida que a calota polar derrete, há menos reflexão
dos raios solares. Isso permite que uma quantidade maior de energia solar se
concentre na atmosfera, criando assim um processo de gravidade crescente e
imprevisível, sem nenhuma possibilidade de controle. A matéria do jornal
relatou também as reações de governos e grandes empresas, que foi de entusiasmo.
Agora, pensaram eles, podemos acelerar o processo, pois novas áreas já estão
acessíveis a perfurações e à extração de combustíveis fósseis, e teremos
condições de expandi-las ainda mais. Sábia decisão, para não dizer o contrário.
Essa deliberação é
uma sentença de morte para os nossos descendentes.”
“As estruturas de autoridade não se
justificam por si mesmas
Acho que não somos
suficientemente inteligentes para projetar em todos os detalhes como seria uma
sociedade perfeitamente justa e livre. No entanto, acredito que podemos propor
algumas ideias e, sobretudo, nos questionar acerca da forma pela qual seríamos
capazes de avançar nessa direção. John Dewey,2 um dos mais
destacados filósofos sociais da primeira metade do século XX, defendia a tese
de que, enquanto todas as instituições — da indústria, do comércio, da imprensa
— não estiverem sob o controle de um sistema de participação efetivamente
democrática, não teremos uma sociedade democrática realmente funcional. Nas
palavras dele: “As políticas públicas serão a sombra do mundo dos negócios
projetada sobre a sociedade.” Bem, isso é essencialmente verdade.
Onde existirem
estruturas de poder, de autoridade, de dominação e de hierarquia — em que
alguém dá as ordens e outros obedecem —, elas não se justificam por si sós. Na
verdade, elas precisam justificar sua razão de ser. Elas precisam provar sua
necessidade de existência. Olhando de perto, veremos que normalmente elas não
conseguem justificar sua existência. Se não conseguem fazer isso, então temos que
desmantelá-las — na tentativa de expandir os domínios da liberdade e da
justiça, somente possível com o desmantelamento dessa estrutura ilegítima de
autoridade. É mais uma tarefa que cabe à população organizada, engajada e
dedicada: não apenas para regulá-las, mas também para questionar por que
existem e para que servem. É um conceito do componente libertário do Iluminismo
e do pensamento clássico liberal. É também o princípio mais importante do
anarquismo, mas anarquia também é democracia. E não acho que, sob nenhum
aspecto, um esteja em conflito com o outro. São apenas formas diferentes de se
considerar o mesmo problema — o da tomada de decisões, nas mãos de pessoas
preocupadas com grandes decisões, e o das suas consequências. Aliás, o
progresso que tivemos ao longo dos anos — ou pelo menos aquilo que todos nós,
com um sentimento de gratidão, nos convencemos de que foi progresso — veio
justamente assim.”
2: Ver The Later Works: 1925-1953, Volume 6: 1931-1932, John Dewey, 1985,
na página 173.
“Consideremos, por
exemplo, a liberdade de expressão, uma das mais importantes conquistas da
sociedade americana. Somos os primeiros do mundo neste particular. Ainda que
não seja verdadeiramente garantida pelos Direitos Fundamentais do Cidadão, na
Constituição. Questões relacionadas com a liberdade de expressão começaram a
ser levadas à apreciação da Suprema Corte no início do século XX. As maiores
contribuições vieram na década de 1960.3 Uma das mais importantes
foi um caso do movimento pelos direitos civis.4 Tínhamos então um
grande movimento popular, cujos integrantes vinham exigindo direitos, jamais
desistindo de lutar por seus objetivos.5 Naquela conjuntura, a
Suprema Corte impôs normas rígidas à liberdade de expressão. Vejamos outro
exemplo, o do direito das mulheres. Elas começaram identificando estruturas
opressoras, recusando a aceitá-las e aglomerando outras pessoas a elas. É assim
que se conquistam direitos.
Não existe um
remédio genérico. Existem remédios específicos para casos específicos, já que a
cura para todos os males não existe — pelo menos não que eu saiba. Os ativistas
foram as pessoas que conquistaram ou ajudaram a instituir os direitos que
desfrutamos hoje. Eles não vêm influenciando políticas públicas exclusivamente
com base em informações que recebem, eles vêm também contribuindo para a sua
compreensão. É um processo recíproco. Tenta-se fazer certas coisas. E
aprende-se com isso. Aprende-se como o mundo funciona e dessa forma
realimenta-se a percepção sobre a melhor maneira de seguir em frente.
A melhor forma de
aprender é interagindo, e isso se aplica até nas ciências avançadas. Basta
visitar um laboratório de pesquisas científicas para ver pessoas conversando,
trocando ideias. Elas vivem questionando umas às outras, lançando desafios,
suscitando reações nos colegas, nos alunos e por aí vai. Se você é uma pessoa
que vive isolada, talvez possa até ser um gênio capaz de descobrir e equacionar
certas coisas sozinho, mas gênios são casos raros. De forma geral, não se
avança quando não há recursos necessários, o devido apoio, ou ainda o incentivo
para tentar descobrir quem você é, o que está acontecendo no mundo, onde você
deveria buscar informações, saber como agir e assim por diante.
Assim, em sociedades
com organizações realmente funcionais e de peso considerável, tais como
sindicatos de trabalhadores — os sindicatos foram forças educacionais, e não
apenas instrumentos de luta, ou seja, foram um local onde a educação dos
trabalhadores era um fenômeno relevante —, você sabe o que fazer. Nelas, as pessoas
podem incentivar-se umas às outras. Conseguem manter-se informadas. Podem
questionar mutuamente seus pontos de vista e aperfeiçoá-los, entre outras
coisas mais. Desse modo, as pessoas conseguem vencer as instituições da elite
ao aprender aquilo que elas não querem que se aprenda. Como sempre, é uma luta
constante contra os poderosos.”
3:
Ver O Caso Judicial Brandeburg versus
Ohio, Suprema Corte dos Estados Unidos, 9 de junho de 1969, na página 174.
4:
Ver O Caso Judicial Edwards versus
Carolina do Sul, Suprema Corte dos Estados Unidos, 25 de fevereiro de 1963,
na página 175.
5:
Ver O Caso Judicial Times versus Sullivan,
Suprema Corte dos Estados Unidos, 9 de março de 1964, na página 176.
“Durante a Primavera
Árabe, nos primeiros dias dos protestos na Praça Tahrir, as pressões do governo
foram bastante significativas. Grande parte da mobilização foi realizada pelas
redes sociais, e o presidente Mubarak tomou a decisão de tirar a Internet do
ar. Qual foi o efeito dessa medida? A militância aumentou, pois as pessoas focaram no que realmente importa, isto é,
o contato cara-a-cara entre elas. Começaram, portanto, a falar umas com as outras. Aliás, temos muitas evidências de que
essas relações concretas — o ato de se organizar com outras pessoas
diretamente, conversar com elas no mundo real, escutá-las, e assim por diante —
gera resultados importantes. Sem dúvida, as redes sociais são úteis, mas não é
a mesma coisa que participar de um debate com outras pessoas diretamente.
Afinal de contas, somos seres humanos, e não robôs. Não podemos nos esquecer
disso.
Portanto, vamos
agora à seguinte questão: “O que podemos fazer?” Quase tudo que quisermos
fazer. A verdade é que, em comparação com sociedades semelhantes, a nossa é uma
sociedade com um alto nível de liberdade. Isso não foi um presente dos céus. A
liberdade que conquistamos foi conquistada com lutas populares árduas, dolorosas,
corajosas, e existe de fato. Herdamos esse legado — um legado que nos foi
deixado pelas lutas de outras pessoas. Nesta sociedade, existem enormes
oportunidades — visto que ainda é a sociedade mais livre do mundo, em muitos
aspectos. O governo tem uma capacidade muito limitada de nos coagir. As grandes
corporações podem até tentar nos coagir a fazer o que elas querem, mas não têm
os mecanismos para tanto. Podemos muito se as pessoas se organizarem — podemos
lutar por nossos direitos tal como fizeram nossos antepassados, e conseguir
muitas vitórias.
Acho que podemos ver
muito claramente alguns defeitos e falhas graves de nossa sociedade, em nosso
nível de cultura, em nossas instituições — os quais terão de ser corrigidos com
uma atuação fora da estrutura e do contexto comumente aceitos. Acredito que
precisamos descobrir novas formas de atuação política. Temos uma mudança em
andamento, principalmente entre os jovens, mas é geralmente neles mesmos que as
mudanças começam. E para onde essa mudança nos levará? Isso depende muito de
você. Ela nos levará para onde pessoas como você a direcionarem.
Trata-se de um tipo
de atuação que o falecido Howard Zinn, meu grande amigo durante anos, observou
com as seguintes palavras: “O que importa mesmo são as pequenas e incontáveis
ações de pessoas desconhecidas, que assentam as bases para o advento de
importantes acontecimentos que entram para a História.”6 São elas
que fizeram as coisas acontecerem no passado. São elas que as farão acontecer
no futuro.”
6:
Ver Você não Pode Ser Neutro num Trem em
Movimento: Uma História Pessoal dos Nossos Tempos, Howard Zinn, 1994, na
página 177.
“Ousei citar
declarações esporadicamente, embora com minúcias consideráveis, porque é típica
a situação atual em Washington. A situação ali reflete com precisão a situação
política em todo o país. Aquela não tem nada a ver com as realidades da vida
americana porque a última não apresenta nenhuma correlação com outros fatores.
É uma situação que explica a insatisfação e a indignação do povo para com os
velhos partidos e constitui uma oportunidade para um novo partido. Faz tempo
que as pessoas vêm afirmando que a política não tem importância nenhuma, que o
governo é simplesmente um lixo e mero fator de intromissão; que os capitães da
indústria e das finanças é que são os sábios, os líderes a cujas mãos as
fortunas do país estão seguramente confiadas.
As pessoas que vivem
reiterando essas coisas se esquecem, ou tentam esconder do público, de que a
confusão, as complicações, o caráter fútil, a irrelevância da política em
Washington é um mero reflexo da falência dos “líderes” do setor industrial, do
mesmo modo que a política, de uma forma geral, espelha, exceto quando ela
funciona como cúmplice, os interesses dos grandes negócios. Sem dúvida, portanto,
os impasses e a impotência do Congresso são o espelho da manifesta incapacidade
dos capitães da indústria e do setor financeiro de conduzir prosperamente os
negócios do país, como consequência natural do processo de tratarem de puxar a
brasa para a própria sardinha. Seria ridículo, quando não trágico, acreditar
que um apelo aos agentes de atividades não regulamentadas que nos fizeram cair
na crise atual bastará para que nos tirem dela, a menos que sejam poupados do
pesadelo de terem que enfrentar as consequências de uma reação política. O
expediente mágico de a pessoa ingerir pelos do cão que a mordeu, com vistas a
tentar curar-se de hidrofobia não é nada se comparado com o feitiço que leva à
crença de que os poderosos e privilegiados remediarão o descalabro que eles
mesmos criaram. Enquanto a política for apenas a sombra dos interesses dos
grandes negócios projetada na sociedade, uma simples rarefação atenuante de sua
trevosa densidade não mudará a essência do corpo político. O único remédio para
esse mal é uma nova reação política com base nos anseios da população e nas
realidades sociais.”
(The Later Works: 1925-1953, Volume 6: 1931-1932, John Dewey, 1985)
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