Editora: Paulus
ISBN: Bíblia do Peregrino (BPe) – 978-85-349-2005-6 / Bíblia de Jerusalém
(BJ) – 978-85-349-4282-9 / Bíblia Pastoral (BPa) – 978-85-349-0228-1
Tradução,
introdução e notas (BPa):
Ivo Storniolo e Euclides Martins Balancin
Tradução (BPe): Ivo Storniolo e José Bortolini
Notas (BPe): Luís Alonso Schökel
Opinião: N/A
Páginas: BPe – 189 / BJ – 147 / BPa – 117
Sinopse: Ver aqui
Epístolas
Paulinas aos: Romanos – Coríntios (1 e 2) – Gálatas – Efésios – Filipenses –
Colossenses – Tessalonicenses (1 e 2) – Timóteo (1 e 2) – Tito – Filemon –
Hebreus.
“Homem, você julga os outros? Seja quem for,
você não tem desculpa. Pois, se julga os outros e faz o mesmo que eles fazem,
você está condenando a si próprio. Sabemos, porém, que Deus é justo quando
condena os que praticam tais coisas. Mas você, que faz as mesmas coisas que
condena nos outros, pensa que escapará do julgamento de Deus? Ou será que você
despreza a riqueza da bondade de Deus, da sua paciência e generosidade,
desconhecendo que a bondade dele convida você à conversão? Pela teimosia e
dureza de coração, você está amontoando ira contra si mesmo para o dia da ira,
quando o justo julgamento de Deus vai se revelar, que pagará a cada um segundo suas obras: a vida eterna para aqueles
que perseveram na prática do bem, buscando a glória, a honra e a imortalidade;
pelo contrário, ira e indignação para aqueles que se revoltam e rejeitam a
verdade, para obedecerem à injustiça. Haverá tribulação e angústia para todo
aquele que pratica o mal, primeiro para o judeu, depois para o grego. Mas
haverá glória, honra e paz para todo aquele que pratica o bem, primeiro para o
judeu, depois para o grego. Deus não é parcial.”
(Rm 2,1-11 – BPa / BPe)
“Deus se mostrará fiel, ainda que todos os homens sejam
falsos.”
(Rm 3,4b – BPe)
“Assim como o pecado entrou no mundo através
de um só homem e com o pecado veio a morte, assim também a morte atingiu todos
os homens, porque todos pecaram. Antes de chegar a Lei, existia pecado no
mundo; mas, como não houvesse Lei, o pecado não era levado em conta. Contudo, a
morte reinou de Adão até Moisés, mesmo sobre aqueles que não haviam pecado,
cometendo uma transgressão igual à de Adão – que é figura daquele que havia de
vir.
O dom da graça, porém, não é como a falta. Se
todos morreram devido à falta de um só, muito mais abundantemente se derramou
sobre todos a graça de Deus e o dom gratuito de um só homem, Jesus Cristo. O
dom não é equivalente ao pecado de alguém. Pois o julgamento de um só pecado
terminou em condenação, ao passo que o perdão de muitos pecados termina em
absolvição. Porque se através de um só homem reinou a morte por causa da falta
de um só, com muito mais razão reinarão na vida aqueles que recebem a
abundância da graça e do dom da justiça, por meio de um só: Jesus Cristo.
Portanto, assim como pela falta de um só resultou a condenação para todos os
homens, do mesmo modo foi pela justiça de um só que resultou para todos os
homens a justificação que concede a vida. Assim como pela desobediência de um
só homem todos se tornaram pecadores, do mesmo modo, pela obediência de um só,
todos se tornarão justos.
A Lei sobreveio para dar plena consciência da
falta; mas, onde foi grande o pecado, foi bem maior a graça, para que, assim
como o pecado havia reinado através da morte, do mesmo modo a graça reine
através da justiça para a vida eterna, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo.
Que diremos então? Devemos permanecer no
pecado para que haja abundância da graça? De forma nenhuma! Uma vez que já
morremos para o pecado, como poderíamos ainda viver no pecado? Ou vocês não
sabem que todos nós, que fomos batizados em Jesus Cristo, fomos batizados na
sua morte? Pelo batismo fomos sepultados com ele na morte, para que, assim como
Cristo foi ressuscitado dos mortos por meio da glória do Pai, assim também nós
possamos caminhar numa vida nova. Se permanecermos completamente unidos a
Cristo com morte semelhante à dele, também permaneceremos com ressurreição
semelhante à dele. Sabemos muito bem que nossa velha condição humana foi
crucificada com Cristo, para que se anule a condição pecadora e assim não
sejamos mais escravos do pecado. De fato, quem está morto, está livre do pecado1.
Se morremos com Cristo, cremos que também viveremos com ele., Sabemos que
Cristo, ressuscitado da morte, não torna a morrer, a morte já não tem poder
sobre ele2. Porque morrendo, Cristo morreu de uma vez por todas para
o pecado; vivendo, ele vive para Deus. Assim também vocês considerem-se mortos
para o pecado e vivos para Deus, em Jesus Cristo.
Que o pecado não reine mais no corpo mortal
de vocês, submetendo-os às suas paixões. Não ofereçam os membros como
instrumento de injustiça para o pecado. Pelo contrário, ofereçam-se a Deus como
pessoas vivas, que voltaram dos mortos; e ofereçam os membros como instrumento
da justiça para Deus. Pois o pecado não os dominará nunca mais, porque vocês já
não estão debaixo da Lei, mas sob a graça.3
E daí? Devemos cometer pecados, porque já não
estamos debaixo da Lei, mas sob a graça? De forma nenhuma! Vocês não sabem que,
se vocês se entregam a alguém como escravos para obedecer, vocês se tornam
escravos daquele a quem obedecem – seja do pecado que leva à morte, seja da
obediência que conduz à justiça? Damos graças a Deus, porque vocês eram
escravos do pecado, mas obedeceram de coração ao ensinamento básico que lhes
foi transmitido. Assim, livres do pecado, vocês se tornaram escravos da justiça4.
Falo com palavras simples por causa da fraqueza de vocês. Assim como antes
vocês puseram seus membros a serviço da imoralidade e da desordem que conduzem
à revolta contra Deus, agora ponham seus membros a serviço da justiça para a
santificação de vocês.
Quando eram escravos do pecado, vocês eram
livres em relação à justiça. Que frutos colheram então? Frutos de que agora se
envergonham, pois o fim deles é a morte. Mas agora, livres do pecado e tornados
escravos de Deus, vocês dão frutos que conduzem à santificação e o fim deles é
a vida eterna. Pois a morte é o salário do pecado, mas o dom gratuito de Deus é
a vida eterna em Jesus Cristo, nosso Senhor.”
(Rm 5,12-6,23 – BPa / BPe)
1: A condição pecadora nos faz escravos (Jo
8,34) e devedores. Essa velha condição (Ef 4,22; Cl 3,9) é anulada ao ser
crucificada com Cristo (Gl 2,20). A escravidão era às vezes consequência de
dívidas impagáveis (Gn 47,25; Dt 15,12). (BPe)
2: Cristo desbanca e destrona o senhorio da
morte: ver 1Cor 15,54 que cita a versão grega de Os 13,14. Sua morte não é
cíclica, como a de deuses da vegetação (cf. Ez 8, 14), mas definitiva, como o
dia inaugurado em Is 60,19-20. (BPe)
3: Frente a concepções gregas que consideram
maus o corpo e o mundo material, Paulo afirma que o corpo pode e deve ser
instrumento do bem: concepção realista da unidade do homem e da sua
responsabilidade. O que é possível em regime de graça, não de lei. (BPe)
4: Paulo radicaliza o que disse antes: o
cristão não deve ser apenas instrumento, mas escravo de Deus e da justiça; deve
ser alguém que se empenha total e exclusivamente na realização do projeto de
Deus. E nesse serviço não existe relação comercial,
como no pecado: a recompensa é dom gratuito de Deus, que é a própria vida.
(BPa)
“O que nos resta dizer? Se Deus está a nosso
favor, quem estará contra nós? Ele não poupou seu próprio Filho, mas o entregou
por todos nós. Como não nos dará também todas as coisas junto com o seu Filho?
Quem acusará os escolhidos de Deus? É Deus quem torna justo! Quem condenará?
Jesus Cristo? Ele que morreu, ou melhor, que ressuscitou, que está à direita de
Deus e intercede por nós?
Quem nos poderá separar do amor de Cristo? A
tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada?
Como diz a Escritura: ‘Por tua causa somos postos à morte o dia todo, somos
considerados como ovelhas destinadas ao matadouro.’1 Mas, em todas
essas coisas somos mais do que vencedores por meio daquele que nos amou. Estou
convencido de que nem a morte nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem
o presente nem o futuro, nem os poderes nem as forças das alturas ou das
profundidades, nem qualquer outra criatura, nada nos poderá separar do amor de
Deus, manifestado em Jesus Cristo, nosso Senhor.2”
(Rm 8,31-39 – BPe)
1: A citação pertence a uma súplica coletiva
(Sl 44,11). O mesmo salmo (44,4) explica a vitória pela ação exclusiva de Deus.
(BPe)
2: A vitória de Jesus Cristo em Jo 16,33 é
aqui vitória nossa, pelo amor que Deus nos demonstrou na obra de Jesus Cristo.
Diz o Cântico dos Cânticos (8,6) que “o amor é forte como a morte”; Paulo está
dizendo que o amor é mais forte que a morte, que Deus nos ama para além da
morte; concluímos que esse amor é penhor de ressurreição. (BPe)
“Irmãos, pela misericórdia de Deus, peço que
vocês ofereçam os próprios corpos como sacrifício vivo, santo e agradável a
Deus. Esse é o culto autêntico de vocês. Não se amoldem às estruturas deste
mundo, mas transformem-se pela renovação da mente, a fim de distinguir qual é a
vontade de Deus: o que é bom, o que é agradável a ele, o que é perfeito.
Em nome da graça que me foi concedida, eu
digo a cada um de vocês: não tenham de si mesmos conceito maior do que convém,
mas um conceito justo, de acordo com a fé1, na medida que Deus
concedeu a cada um. Num só corpo há muitos membros, e esses membros não têm
todos a mesma função. O mesmo acontece conosco: embora sendo muitos, formamos
um só corpo em Cristo, e, cada um por sua vez, é membro dos outros. Mas temos dons
diferentes, conforme a graça concedida a cada um de nós. Quem tem o dom da
profecia, deve exercê-lo de acordo com a fé2; se tem o dom do
serviço, que o exerça servindo; se do ensino, que ensine; se é de aconselhar,
aconselhe; se é de distribuir donativos, faça-o com simplicidade; se é de
presidir à comunidade, faça-o com zelo; se é de exercer misericórdia, faça-o
com alegria.3
Que o amor de vocês seja sem hipocrisia:
detestem o mal e apeguem-se ao bem; no amor fraterno, sejam carinhosos uns com
os outros, rivalizando na mútua estima. Quanto ao zelo, não sejam preguiçosos;
sejam fervorosos de espírito, servindo ao Senhor. Sejam alegres na esperança,
pacientes na tribulação e perseverantes na oração. Sejam solidários com os
cristãos em suas necessidades e se aperfeiçoem na prática da hospitalidade.
Abençoem os que perseguem vocês; abençoem e
não amaldiçoem. Alegrem-se com os que se alegram, e chorem com os que choram.
Vivam em harmonia uns com os outros. Não se deixem levar pela mania de
grandeza, mas se afeiçoem às coisas modestas. Não se considerem sábios. Não
paguem a ninguém o mal com o mal; a preocupação de vocês seja fazer o bem a
todos os homens. Se for possível, no que depende de vocês, vivam em paz com
todos. Amados, não façam justiça por própria conta, mas deixem a ira de Deus
agir4, pois o Senhor diz na Escritura: ‘A mim pertence a vingança;
eu mesmo vou retribuir.’ Mas, se o seu inimigo tiver fome, dê-lhe de comer; se
tiver sede, dê-lhe de beber; desse modo, você fará o outro corar de vergonha.5
Não se deixe vencer pelo mal, mas vença o mal com o bem.6”
(Rm 12 – BPa)
1: A fé é aqui considerada no florescimento
dos dons espirituais distribuídos por Deus aos membros da comunidade cristã,
para assegurar sua vida e seu desenvolvimento. (BJ)
2: Ou “segundo a norma de fé” (cf. 1Cor 12,3,
onde a “confissão de fé” constitui o sinal de autenticidade dos carismas). (BJ)
3: A vida na comunidade cristã tem como
exigência básica o abandono da pretensão de ser o maior ou o mais importante,
para colocar-se com simplicidade a serviço dos outros. Todos precisam de cada
um, e cada um precisa de todos. A graça que Deus concede a cada um é o próprio
modo de ser de cada pessoa. E esse modo de ser, que é iluminado pela fé, se
coloca à disposição das necessidades dos outros, a fim de que todos possam
crescer, mediante a contribuição de cada um. (BPa)
4: Sem dúvida a ira divina que reserva para
si a punição do pecado. (BJ)
5: O cristão “se vinga” de seus inimigos
fazendo-lhes o bem. A imagem das brasas, símbolo de dor pungente, designa o
remorso que levará o pecador ao arrependimento. (BJ)
6: Paulo expõe as linhas-mestras do
comportamento cristão, principalmente no que se refere à vida comunitária. A
vida cristã deve ser inteiramente penetrada de sincero amor fraterno que, sem fraquezas
ou simulações, enfrente todas as situações, sem excluir ninguém, nem os
inimigos. (BPa)
“Não devais nada a ninguém, a não ser o amor
mútuo, pois quem ama o outro cumpriu a Lei1. De fato, os preceitos: Não cometerás adultério, não matarás, não furtarás,
não cobiçarás, e todos os outros se resumem nesta sentença: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.
A caridade não pratica o mal contra o próximo2.
Portanto, a caridade é a plenitude da Lei.”
(Rm 13,8-10 – BJ)
1: Na vida cristã a única tarefa que não tem
limites é o amor, pois ele não só resume tudo o que deve ser feito, mas é
também o espírito com que tudo deve ser feito. Como nos evangelhos, Paulo
também vê o amor como a expressão perfeita de toda a Lei. (BPa)
2: O próximo não é mais, como no Lv, o membro
do próprio povo, mas todo membro da família humana, unificada em Cristo. (BJ)
“Deixemos de julgar-nos mutuamente. Procurai
antes não provocar o tropeço ou a queda do irmão. Pelo ensinamento do Senhor
Jesus, eu sei e estou convencido disto: nada é impuro em si, mas o é para quem
o tem como tal.”
(Rm 14,13-14 – BPe)
“Nós, os fortes, devemos carregar as
fragilidades dos fracos e não buscar a nossa própria satisfação1.
Cada um de nós procure agradar ao próximo, em vista do bem, para edificar. Pois
também Cristo não buscou a sua própria satisfação, mas, conforme está escrito: Os insultos dos que te injuriaram caíram
sobre mim. Ora tudo o que se escreveu no passado é para nosso ensinamento
que foi escrito, a fim de que, pela perseverança e pela consolação que nos
proporcionam as Escrituras, tenhamos a esperança.
O Deus da perseverança e da consolação vos
conceda terdes os mesmos sentimentos2 uns para com os outros, a
exemplo de Cristo Jesus, a fim de que, de um só coração e de uma só voz,
glorifiqueis o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo.”
(Rm 15,1-6 – BJ)
1: Os cristãos mais conscientes não devem usar sua força
e prestígio para impor aos
outros a própria opinião e conseguir poderes sobre a comunidade. Não foi esse o
modo de proceder de Jesus Cristo, que veio para servir e dar a vida. O respeito
e o bem do outro são o maior sinal do cristão consciente. (BPa)
2: De agradar a seu próximo – Outras traduções: “(vos
conceda) viver em bom entendimento”, “estar em acordo entre vós”. (BJ)
“Os judeus pedem sinais e os gregos procuram
a sabedoria1; nós, porém, anunciamos Cristo crucificado, escândalo
para os judeus e loucura para os pagãos. Mas, para aqueles que são chamados,
tanto judeus como gregos, ele é o Messias, poder de Deus e sabedoria de Deus2.
A loucura de Deus é mais sábia do que os homens e a fraqueza de Deus é mais
forte do que os homens.
Portanto, irmãos, vocês que receberam o
chamado de Deus, vejam bem quem são vocês: entre vocês não há muitos
intelectuais, nem muitos poderosos, nem muitos de alta sociedade. Mas, Deus
escolheu o que é loucura no mundo, para confundir os sábios; e Deus escolheu o
que é fraqueza no mundo, para confundir o que é forte. E aquilo que o mundo
despreza, acha vil e diz que não tem valor, isso Deus escolheu para destruir o
que o mundo pensa que é importante. Desse modo, nenhuma criatura pode se
orgulhar na presença de Deus. Ora, é por iniciativa de Deus que vocês existem
em Jesus Cristo, o qual se tornou para nós sabedoria que vem de Deus, justiça,
santificação e libertação, a fim de que, como diz a Escritura: ‘Aquele que se
gloria, que se glorie no Senhor’.3”
(1Cor 1,22-31 – BPa)
1: Judeus e gregos estão à procura de seguranças humanas:
milagres que garantam a veracidade da mensagem (cf. Jo 4,48); sabedoria ou
doutrina satisfatória para a inteligência ávida de conhecer. Essa procura não é
condenável em si mesma; paradoxalmente, a cruz de Cristo há de lhe responder
(v. 24+). Caso, porém, o homem faça dessa procura a condição prévia e
indispensável para dar sua adesão a Cristo, ela se torna inadmissível. (BJ)
2: Humanamente, a cruz aparece como o contrário do que
judeus e gregos esperavam: derrota, em vez de manifestação gloriosa; loucura,
em vez de sabedoria. Mas, numa visão de fé, a cruz se apresenta como algo que
preenche e ultrapassa as expectativas: poder e sabedoria de Deus. (BJ)
3: Esse paradoxo, força do fraco, se prolonga e se
manifesta na comunidade de Corinto, composta de gente socialmente sem
importância (Tg 2,5; Mt 11,25); não são muitos os intelectuais, os poderosos, a
nobreza. Como outrora uns escravos no Egito (Dt 7,7-8; Is 49,7), assim agora
escolhe os contrários: gente iletrada, sem influência, sem títulos. A antítese
dos filósofos, “o ser e o não ser” adquire outro sentido na ordem da salvação:
ser cristão é ser nova criação (2Cor 4,17). Continua a antítese
confundir/gloriar-se: com o fraco Deus confunde ou faz fracassar o forte e
assim ninguém pode gloriar-se diante de Deus (Jr 9,22-23 sobre a falsa glória e
a autêntica; cf. Dt 8,17-18). Por meio de Jesus Messias comunicam-se aos fiéis
qualidades e ações de Deus: a sabedoria como sentido da vida (cf. Eclo 1,10), a
justiça que nos faz justos em nossa relação com Deus (tema da carta aos Romanos
cf. Jr 23,5s), a consagração (cf. Jo 17,19), o resgate como libertação da
escravidão (cf. 4,6.8; Sl 130,7). (BPe)
“Quanto a mim, pouco me importa ser julgado
por vocês ou por qualquer tribunal humano. Nem eu julgo a mim mesmo. É verdade
que a minha consciência de nada me acusa, mas isso não significa que eu seja inocente:
quem me julga é o Senhor. Por isso, não julguem nada antes do tempo; esperem
que chegue o Senhor. Ele porá às claras tudo o que se esconde nas trevas, e
manifestará as intenções dos corações. Então, cada um vai receber de Deus o
louvor que lhe corresponde.”
(1Cor 4,3-5 – BPa)
“É sabido que todos temos conhecimento. Porém
o conhecimento infla, ao passo que o amor1 edifica. Se alguém pensa
que já tem conhecida alguma coisa, ainda não conhece como se deve.”
(1Cor 8,1b-2 – BPe)
1: BPe e BPa traduzem como “amor”, BJ como “caridade”.
““Tudo me é permitido”, mas nem tudo convém.
“Tudo é permitido”, mas nem tudo edifica. Ninguém procure satisfazer aos seus
próprios interesses, mas aos do próximo.1”
(1Cor 10,23-242 – BJ)
1: O uso da liberdade deve ser “construtivo”; e só o será
se for dada preferência ao próximo, especialmente ao próximo necessitado. (BPe)
2: 1Cor 6,12b: “Tudo me é permitido”, mas não me deixarei
escravizar por coisa alguma.”
“Ainda que eu falasse línguas, as dos homens
e dos anjos,
se eu não tivesse o amor1,
seria como sino ruidoso
ou como címbalo estridente.
Ainda que eu tivesse o dom da profecia,
o conhecimento de todos os mistérios
e de toda a ciência;
ainda que eu tivesse toda a fé,
a ponto de transportar montanhas,
se não tivesse o amor,
eu não seria nada.
Ainda que eu distribuísse
todos os meus bens aos famintos,
ainda que entregasse
o meu corpo às chamas,
se não tivesse o amor,
nada disso me adiantaria.
O amor é paciente,
o amor é prestativo;
não é invejoso, não se ostenta,
não se incha de orgulho.
Nada faz de inconveniente,
não procura seu próprio interesse,
não se irrita, não guarda rancor.
Não se alegra com a injustiça,
mas se regozija com a verdade.
Tudo desculpa, tudo crê,
tudo espera, tudo suporta.
O amor jamais passará.
As profecias desaparecerão,
as línguas cessarão,
a ciência também desaparecerá.2
Pois o nosso conhecimento é limitado;
limitada é também a nossa profecia.
Mas, quando vier a perfeição,
desaparecerá o que é limitado.
Quando eu era criança,
falava como criança,
pensava como criança,
raciocinava como criança.
Depois que me tornei adulto,
deixei o que era próprio de criança.
Agora vemos como em espelho
e de maneira confusa;
mas depois veremos face a face.3
Agora o meu conhecimento é limitado,
mas depois conhecerei
como sou conhecido.
Agora, portanto, permanecem
estas três coisas:
a fé, a esperança e o amor.
A maior delas, porém, é o amor4.”
(1Cor 13 – BPa)
1: Da mesma maneira que em 1Cor 8, em todo o
poema BJ traduz a palavra como caridade
e não amor como nas outras bíblias.
2: Os carismas válidos em si ficam
relativizados ao ser comparados com a plenitude do amor; são expedientes
provisórios. (BPe)
3: Os espelhos antigos, de metal polido, não
eram tão perfeitos como os nossos de mercúrio. Ver frente a frente significa o
contato pessoal de Moisés com o Senhor (Nm 12,6-8); era o resultado da luta de
Jacó (Gn32,31) e era a esperança do salmista (17,15). (BPe)
4: O caminho que ultrapassa a todos os dons e
ao qual todos os membros da comunidade devem aspirar é o amor. “Deus é amor”
(1Jo 4,8), Jesus é o enviado do amor (Jo 3,16), e o centro do Evangelho é o
mandamento do amor (Mc 12,28-34), que sintetiza toda a vontade de Deus (Rm
13,8-10). O amor é a fonte de qualquer comportamento verdadeiramente humano,
pois leva a pessoa a discernir as situações e a criar gestos oportunos, capazes
de responder adequadamente aos problemas. Os outros dons dependem do amor, não
podem substituí-lo, e sem ele nada significam. O amor é a força de Deus e
também a força da pessoa aliada a Deus. É a fortaleza inexpugnável que sustenta
o testemunho cristão, pois “tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo
suporta”. O amor é eterno e transcende tempo e espaço, porque é a vida do
próprio Deus, da qual o cristão já participa. É maior do que a fé e a
esperança, que nele estão contidas. (BPa)
“Assim, queridos irmãos, ficai firmes,
inabaláveis, progredindo sempre na obra do Senhor, cientes de que a vossa
fadiga não é vã no Senhor.”
(1Cor 15,58 – BJ / BPe / BPa)
“Visto que somos colaboradores de Deus, nós
exortamos vocês para que não recebam a graça de Deus em vão. Pois Deus diz na
Escritura: ‘Eu escutei você no tempo favorável, e no dia da salvação vim em seu
auxílio’. É agora o momento favorável. É agora o dia da salvação.
De nossa parte, evitamos dar qualquer motivo
de escândalo, para não desacreditar nosso ministério. Pelo contrário, em tudo
nos recomendamos como ministros de Deus: pela grande perseverança nas
tribulações, necessidades, angústias, açoites, prisões, desordens, fadigas,
vigílias e jejuns; com integridade, conhecimento, paciência e bondade, pela
atuação do Espírito Santo, pelo amor sem fingimento, pela palavra da verdade,
pelo poder de Deus, pelas armas ofensivas e defensivas da justiça. Na glória e
no desprezo, na boa e na má fama; tidos como impostores e, no entanto, dizendo
a verdade; como desconhecidos e, no entanto, conhecidos; como agonizantes e, no
entanto, estamos vivos; como castigados e, no entanto, livres da morte; como
tristes e, no entanto, sempre alegres; como indigentes e, no entanto,
enriquecendo a muitos; nada tendo, mas tudo possuindo.1
Coríntios, eu lhes falo com franqueza: meu
coração está aberto para vocês. Em mim, não falta lugar para os acolher, mas em
troca vocês têm o coração estreito. Paguem a nós com a mesma moeda. Eu lhes
falo como a filhos; abram também o coração de vocês!”
(2Cor 6,1-13 – BPa / BPe)
1: Paradoxos. São sete, e parecem derivados
do mistério pascal com algo do espírito das bem-aventuranças. O que os homens
julgam desprezível é o valor autêntico. Ver Sl 118,18.
Pensam que a mensagem evangélica é mentira,
sendo a pura verdade. Ressoa a polêmica entre profetas autênticos e falsos (Jr
23; Ez 13). “Desconhecidos”, ou seja, ignorados de propósito; e no entanto
presentes como cidade sobre um monte. “Morrendo”, ou seja, em perigo constante
de morte, por causas humanas ou naturais; mas vivos de uma vida superior.
“Punidos...”: Sl 118,18; At 5,40. “Tristes”: “Felizes os que agora chorais,
porque rireis” (Lc 6,21 b). “Pobres”: “Felizes os pobres, porque o reinado de
Deus lhes pertence” (Lc 6,20). “Necessitados”: Lc 18,29s. (BPe)
“Quando existe boa vontade, somos bem aceitos
com os recursos que temos; pouco importa o que não temos. Não queremos que o
alívio para os outros seja causa de aflição para vocês; mas que haja igualdade.
Neste momento, o que está sobrando para vocês vai compensar a carência deles, a
fim de que o supérfluo deles venha um dia compensar a carência de vocês. Assim
haverá igualdade, como está na Escritura: ‘A quem recolhia muito, nada lhe
sobrava; e a quem recolhia pouco, nada lhe faltava’.”
(2 Cor 8,12-15 – BPa)
“Nada podemos contra a verdade; só temos
poder em favor da verdade.1”
(2Cor 13,8 – BPa)
1: Trata-se da verdade do evangelho, e quer
dizer que todo o poder do apóstolo está submetido ao serviço do evangelho.
(BPe)
“Cristo nos libertou para que sejamos
verdadeiramente livres. Portanto, sejam firmes e não se submetam de novo ao
jugo da escravidão.
Eu, Paulo, declaro: se vocês se fazem circuncidar,
Cristo de nada adiantará para vocês. E a todo homem que se faz circuncidar, eu
declaro: agora está obrigado a observar toda a Lei. Vocês que buscam a justiça
na Lei se desligaram de Cristo e se separaram da graça. Nós, de fato,
aguardamos no Espírito a esperança de nos tornarmos justos mediante a fé,
porque, em Jesus Cristo, o que conta não é a circuncisão ou a não-circuncisão,
mas a fé que age por meio do amor.”
(Gl 5,1-6 – BPa)
“É por isso que eu dobro os joelhos diante do
Pai, de quem recebe o nome toda família, no céu e na terra. Que ele se digne,
segundo a riqueza da sua glória, fortalecer a todos vocês no seu Espírito, para
que o homem interior de cada um se fortifique. Que ele faça Cristo habitar no
coração de vocês pela fé. Enraizados e alicerçados no amor, vocês se tornarão
capazes de compreender, com todos os cristãos, qual é a largura e o
comprimento, a altura e a profundidade1, de conhecer o amor de
Cristo, que supera qualquer conhecimento, para que vocês fiquem repletos de
toda plenitude de Deus.
Deus, por meio do seu poder que age em nós,
pode realizar muito mais do que pedimos ou imaginamos; a ele seja dada a glória
na Igreja e em Jesus Cristo por todas as gerações, para sempre. Amém!
Por isso, eu, prisioneiro no Senhor, peço que
vocês se comportem de modo digno da vocação que receberam. Sejam humildes,
amáveis, pacientes e suportem-se uns aos outros no amor. Mantenham entre vocês
laços de paz, para conservar a unidade do Espírito. Há um só corpo e um só
Espírito, assim como a vocação de vocês os chamou a uma só esperança: há um só
Senhor, uma só fé, um só batismo. Há um só Deus e Pai de todos, que está acima
de todos, que age por meio de todos e está presente em todos.
Por isso, abandonem a mentira: cada um diga a
verdade ao seu próximo, pois somos membros uns dos outros. Vocês estão com
raiva? Não pequem; o sol não se ponha sobre o ressentimento de vocês. Não deem
ocasião ao diabo. Quem roubava, não roube mais; ao contrário, ocupe-se
trabalhando com as próprias mãos em algo útil, e tenha assim o que repartir com
os pobres. Que nenhuma palavra inconveniente saia da boca de vocês; ao
contrário, se for necessário, digam boa palavra, que seja capaz de edificar e
fazer o bem aos que ouvem.
Não entristeçam o Espírito Santo, com que
Deus marcou vocês para o dia da libertação. Afastem de vocês qualquer aspereza,
desdém, raiva, gritaria, insulto, e todo tipo de maldade. Sejam bons e
compreensivos uns com os outros, perdoando-se mutuamente, assim como Deus
perdoou a vocês em Cristo.”
(Ef 3,14-4,6.25-32 – BPa)
1: Nós reconhecemos em nosso espaço três
dimensões. Os hebreus concebiam quatro dimensões (Jó 11,5-8). Porque não
concebiam que a linha de profundidade, subterrânea, continuasse para cima. A
superfície da terra, que o homem vivo pisava, era um corte total. Como se podia
imaginar que do Xeol partisse uma linha contínua até o céu? Segundo uma
especulação posterior, a cruz simbolizava as quatro dimensões, era o vértice do
universo. (BPe)
“Se algum poder tem uma exortação em nome de
Cristo, ou um consolo afetuoso, ou um espírito solidário, ou a ternura do
carinho, levai à plenitude minha alegria, sentindo as mesmas coisas, com amor
mútuo, concórdia e procurando as mesmas coisas.
Nada façais por ambição ou vanglória, mas com
humildade tende os outros como melhores. Ninguém procure o próprio interesse, e
sim o dos outros1. Tende os mesmos sentimentos de Cristo Jesus.
Ele, apesar de sua condição divina,
não usou de seu direito de ser tratado como
um Deus,2
mas se esvaziou de si
e tomou a condição de escravo,
fazendo-se semelhante aos homens.
E mostrando-se em figura humana,3
humilhou-se,
tornou-se obediente até à morte,
morte de cruz.
Por isso, Deus o exaltou e lhe concedeu
um título superior a todo título,
para que, diante do título de Jesus,
todo joelho se dobre,
no céu, na terra e no abismo;4
e toda língua confesse
para glória de Deus Pai:
Jesus Cristo é o Senhor!”
(Fl 2,1-11 – BPe / BJ)
1: Com um desenrolar avassalador de
motivações, Paulo introduz sua exortação à caridade e à humildade. Ambos os
temas são conhecidos de sobra; o acerto e a importância desses vv. estão na
conexão: a humildade, resultado e condição de uma caridade autêntica e
duradoura. Se o egoísmo é o contrário do amor (1Cor 10,24), o orgulho é seu
inimigo capital. Deve-se colocar essas linhas entre a simples proposta do amor
como resumo de todos os mandamentos (Mt 22,37-40 par.) e a grande explanação de
1Cor 13. (BPe)
2: Como não-pecador (2Cor 5,21; Jo 8,46; 1Jo
3,5; Hb 4,15; 1 Pd 2,22), Cristo não teria de morrer, porque a morte é punição
pelo pecado (Gn 3,3; Is 54,16; Sb 1,12-14; 2,23-24; encontra-se a mesma ideia
em certos apócrifos como Henoc, 4 Esdras e o 2 Baruc). Ele, portanto, tem o
direito de viver eternamente, o que é característica divina (Gn 3,4-5). (BJ)
3: “Se esvaziou” (ekénosen; curiosa assonância com eskénosen de Jo 1,14), expressão audaz e vigorosa, que nos faz
pensar por contraste na “plenitude”; “humilhou-se” (v. 8) é equivalente mais
suave. A condição de escravo é simplesmente a condição humana submetida a Deus.
Faz-se “à imagem e semelhança” (homoiómati)
do homem, dos homens. (BPe)
4: O gesto significa a homenagem de adoração
(cf. Mt 28,9.17; Lc 24,51-52: homenagem ao ressuscitado; cf. Rm 1,4). A
extensão aqui a todo o universo e textos como 1Cor 15,24-28 colocariam a
homenagem do hino no final dos tempos. Os três planos de adoradores são como os
de Ap 5,13. Preste-se atenção na homenagem do Abismo ou reino dos mortos, pois
no AT era opinião comum que os mortos não louvam a Deus (p. ex. Is 38,18s; Sl
30,10; 88,11-13); está mais em sintonia com Sl 22,30 “diante dele se prostrarão
as cinzas da tumba, em sua presença se curvarão os que descem ao pó”. (BPe)
“Quem ensina outra coisa e não se atém às
palavras sadias de nosso Senhor Jesus Cristo e a um ensinamento religioso, é um
vaidoso que nada entende, um doente de disputas e controvérsias de palavras.
Daí brotam invejas, discórdias, maledicência, suspeitas malignas, discussões
intermináveis, próprias de pessoas mentalmente corrompidas, alheias à verdade,
que pensam que a religião é um negócio.1 Grande negócio é a religião
para quem sabe contentar-se, já que nada trouxemos ao mundo e nada poderemos
levar. Tendo roupa e alimento nos contentaremos.2 Os que se afadigam
para enriquecer caem nas tentações e armadilhas e múltiplos desejos insensatos
e profanos, que precipitam as pessoas na ruína e na perdição. A cobiça é a raiz
de todos os males: por entregar-se a ela, alguns se distanciaram da fé e se
atormentaram com muitos sofrimentos.3
Tu, ao contrário, homem de Deus, foge de tudo
isso; procura a justiça, a piedade, a fé, o amor, a paciência, a bondade.
Combate o nobre combate da fé. Apega-te à vida eterna, para a qual foste
chamado quando fizeste tua nobre profissão diante de muitas testemunhas. Na
presença de Deus, que dá vida a tudo, e de Cristo Jesus, que prestou testemunho
diante de Pôncio Pilatos com sua nobre confissão, eu te recomendo que conserves
o mandamento sem mancha nem repreensão, até que apareça o Senhor nosso Jesus
Cristo, que mostrará a seu tempo o bem-aventurado e único Soberano, o Rei dos
reis e Senhor dos senhores, o único imortal que habita na luz inacessível, que
ninguém viu nem pode ver. A ele a honra e o poder para sempre. Amém.”
(1 Tm 6,3-16 – BPe)
1: O autor os caracteriza duramente em sua
atitude de vaidade, nas consequências lamentáveis, na raiz de tudo, que é a
cobiça. Trata-se de uma generalização convencional, pois outros dirão que a
raiz de todos os males é a soberba. Contudo, a análise é correta: o afã de
lucro vicia também o ensinamento, como acontecia com os falsos profetas
denunciados por Miquéias (Mq 3,1-3). O afã de enriquecer-se desacredita o
ensinamento: Paulo quis demonstrar explicitamente seu desinteresse por alguma
coisa. A “autarquia” era virtude recomendada por filósofos gregos; o autor
corrobora seu valor, aludindo provavelmente a textos bíblicos (cf. Jó 1,21; Ecl
5,14; Sl 49,17). Pelo tema, aqui encaixaria o texto de Mt 6,17-19 sobre a
riqueza. (BPe)
2: Muito expressivas são as declarações de
Ecl 5,15 e Jó 1,21. Lê-se em Pr 30,8: “não me dês riqueza nem pobreza,
concede-me minha porção de pão”. (BPe)
3: Piedade é a maneira prática de viver que
testemunha o verdadeiro seguimento do Evangelho e a “sã doutrina” que dele
procede. O texto mostra como perceber claramente quando uma doutrina é
“doentia”: o desejo desenfreado de lucro, o amor ao dinheiro. Qualquer doutrina
que aceite essa prática, percorre infalivelmente o caminho contrário ao
Evangelho, à fé e à salvação, pois se fundamenta numa idolatria, que é geradora
de inveja, brigas, blasfêmias, corrupção e mentira. (BPa)
“Tu, pois, meu filho, fortifica-te na graça
que está em Cristo Jesus. O que de mim ouviste na presença de muitas
testemunhas, confia-o a homens fiéis, que sejam idôneos para ensiná-lo a
outros.1 Assume a tua parte de sofrimento como um bom soldado de
Cristo Jesus2. Ninguém, engajando-se no exército, se deixa envolver
pelas questões da vida civil, se quer dar satisfação àquele que o arregimentou.
Do mesmo modo um atleta não recebe a coroa se não lutou segundo as regras. O
agricultor que trabalha deve ser o primeiro a participar dos frutos. Entende o
que eu digo; e o Senhor te dará compreensão em todas as coisas. Lembra-te de
Jesus Cristo, ressuscitado dentre os mortos, da descendência de Davi, segundo o
meu evangelho, pelo qual eu sofro, até às cadeias, como malfeitor. Mas a
palavra de Deus não está algemada! É por isso que tudo suporto, por causa dos
eleitos, a fim de que também eles obtenham a salvação que está em Cristo Jesus,
com a glória eterna.
Esta palavra merece crédito:
Se com ele morremos, com ele viveremos.
Se com ele sofremos, com ele reinaremos.
Se nós o renegamos, também ele nos renegará.
Se lhe somos infiéis, ele permanece fiel,
pois não pode renegar-se a si mesmo.
Recorda todas estas coisas, atestando diante
de Deus que é preciso evitar as discussões de palavras: elas não servem para
nada, a não ser para a perdição dos que as ouvem. Procura apresentar-te a Deus
como um homem provado, um trabalhador que não tem de que se envergonhar, que
dispensa com retidão a palavra da verdade.3 Evita o palavreado vão e
ímpio, já que os que o praticam progredirão na impiedade; a palavra deles é
como uma gangrena que corrói, entre os quais se acham Himeneu e Fileto. Eles se
desviaram da verdade, dizendo que a ressurreição já se realizou4;
estão pervertendo a fé de vários.
Não obstante, o sólido fundamento colocado
por Deus permanece, marcado pelo selo desta palavra5: O Senhor conhece os que lhe pertencem. E
ainda: Aparte-se da injustiça todo aquele
que pronuncia o nome do Senhor.
Numa grande casa não há somente vasos de ouro
e de prata; há também de madeira e de barro; alguns para uso nobre, outros para
uso vulgar. Aquele, pois, que se purificar destes erros será um vaso nobre,
santificado, útil ao seu possuidor, preparado para toda boa obra.
Foge das paixões da mocidade. Segue a
justiça, a fé, a caridade, a paz com aqueles que, de coração puro, invocam o
nome do Senhor. Repele as questões insensatas e não educativas. Tu sabes que
elas geram brigas. Ora, um servo do Senhor não deve brigar; deve ser manso para
com todos, competente no ensino, paciente na tribulação. É com suavidade que
deve educar os opositores, na expectativa de que Deus lhes dará não só a
conversão para o conhecimento da verdade, mas também o retorno à sensatez,
libertando-os do laço do diabo, que os tinha cativos de sua vontade.”
(2Tm 2 – BJ / BPe)
1: Tocamos aqui ao vivo na “tradição”,
transmissão do “depósito” (1Tm 6,20+), com quatro elos sucessivos. (BJ)
Está aqui descrito o princípio e processo de
difusão e tradição, controlado ou garantido por testemunhas. Comparar com o
mesmo princípio em Sl 78, que menciona “pais, filhos, geração vindoura, seus
filhos, descendentes, seus filhos”. (BPe)
2: Os soldados eram mercenários e se
reembolsavam com o saque; mas o soldado de Cristo é chamado apenas a sofrer por
ele (comparar com 2,24). (BPe)
3: (...) No final se rompe a simetria pela
parte forte, pela bondade e misericórdia de Deus (cf. Os 11,8-9; Ex 36,22; Rm
10,11). O dom e a oferta de Deus são irrevogáveis; se o homem os rejeita, ele o
reconhece e o sanciona. (BPe)
4: O dogma da ressurreição era particularmente
difícil de ser aceito pelos espíritos gregos (At 17,32; 1Cor 15,12). Himeneu e
Fileto talvez o interpretassem de modo puramente espiritual, da ressurreição
interior operada pelo batismo (Rm 6,4+; Ef 2,6+), ou de certa ascensão mística
para Deus. Paulo alertara os coríntios contra uma concepção muito material
(1Cor 15,35-53+). (BJ)
5: As duas inscrições estão gravadas na pedra
ou documento fundamental. Sendo a Igreja o edifício, as fundações aqui podem
ser Cristo (1Cor 3,11), ou os apóstolos (Ef 2,20; cf. Ap 21,14), ou ainda a fé
apoiada sobre a palavra do Deus fiel (2 Tm 2,13). Os dois textos bíblicos se
completam; Deus guarda os que ele ama (Nm 16,5) e eles devem viver na justiça
(Nm 16,26; Is 26,13; 52,11; Sl 6,9). (BJ)
“Enquanto isso, malfeitores e impostores vão
de mal a pior, enganando e sendo enganados.”
(2Tm 3,13 – BPe)
“A palavra de Deus é viva, eficaz e mais
penetrante do que qualquer espada de dois gumes; ela penetra até o ponto onde a
alma e o espírito se encontram, e até onde as articulações e medula se tocam;
ela sonda os sentimentos e pensamentos mais íntimos. Não existe criatura que
possa esconder-se de Deus; tudo está exposto e nu aos olhos dele; e a ele
devemos prestar contas.”
(Hb 4,12-15 – BPa / BPe)
“A fé é um modo de já possuir aquilo que se
espera, é um meio de conhecer realidades que não se veem1. Pela fé
compreendemos que o mundo foi formado pela palavra de Deus, o visível a partir
do invisível.”
(Hb 11,1.3 – BPa / BPe)
1: (...) Por todo o contexto, parece
preferível a interpretação subjetiva, pois se trata de atitudes fundamentais,
provocadas e sustentadas por algo objetivo, isto é, a promessa de Deus. Dessa
forma, a fé da qual o autor fala, exceto no primeiro artigo, se parece mais com
a esperança.
O processo é lógico: precede uma promessa de
Deus, o homem confia nela (fé) e espera. Uma tradução um tanto livre da
definição pode ser: a posse do que se espera, a percepção do que não se vê. Não
se vê, porque é futuro; e segundo os judeus, o futuro fica às costas (cf. 2Cor
4,18). O “invisível”, não manifesto, é aqui o que não existe ou o caos informe
que não tem forma evidente. (BPe)
“Perseverem no amor fraterno1. Não
se esqueçam da hospitalidade, pois algumas pessoas, graças a ela, sem saber
acolheram anjos. Lembrem-se dos presos, como se vocês estivessem na prisão com
eles. Lembrem-se dos que são torturados, pois vocês também têm um corpo. Que
todos respeitem o matrimônio e não desonrem o leito nupcial, pois Deus julgará
os libertinos e adúlteros. Que a conduta de vocês não seja inspirada pelo amor
ao dinheiro. Cada um fique satisfeito com o que tem, pois Deus disse: ‘Eu nunca
deixarei você, nunca o abandonarei’.2 Assim, podemos dizer com
ânimo: ‘O Senhor está comigo, eu não temo. O que é que me poderá fazer um
homem?’3
Lembrem-se dos dirigentes, que ensinaram a
vocês a Palavra de Deus. Imitem a fé que eles tinham, tendo presente como eles
morreram. Jesus Cristo é o mesmo, ontem e hoje, e será sempre o mesmo.4”
(Hb 13,1-8 – BPa)
1: O amor fraterno não é puramente sentimento
interior; é comportamento expresso por atitudes concretas, dentro e fora da
comunidade: hospitalidade, solidariedade com os presos e os torturados,
respeito na vida matrimonial, espírito de partilha. O v. 7 mostra que os
dirigentes cristãos ensinavam a Palavra de Deus, e a confirmavam com o
testemunho que muitas vezes lhes trouxe a morte, e assim eles se tornaram
exemplo e estímulo para a comunidade. (BPa)
2: Conselhos vários confirmados com citações
da Escritura. O primeiro é o “amor fraterno”, que inclui hospitalidade,
solidariedade, desinteresse. Sobre a “hospitalidade”, pensa em Abraão (Gn 18).
Os “presos”: ver o juízo final segundo Mateus (Mt 25,36). Sobre fornicadores e
adúlteros: Pr 5-7; Eclo 23. “Contentar-se”: Lc 3,14; 1Tm 6,8. “Não te abandonarei”:
Dt 31,6 em outro contexto, mas com valor geral. (BPe)
3: Citação de Sl 27,1-3. (BPe)
4: Por seu testemunho na vida e na morte,
Jesus Cristo tornou-se o modelo para a realização definitiva do mundo humano. A
tarefa dos cristãos é continuamente redescobrir Jesus e apresentá-lo como ideal
concreto para a própria geração. Fora de Jesus, nada é absoluto e definitivo. O
mundo humano precisa ter os olhos fixos em Jesus, a fim de criticar o presente
e o passado e assim criar novos momentos históricos.
O verdadeiro culto dos cristãos a Deus é o
louvor que o reconhece como Deus, e ao mesmo tempo relativiza tudo o mais. Em
relação ao próximo, esse culto consiste na partilha e na solidariedade. (BPa)
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