Editora: Paulus
ISBN: Bíblia do Peregrino (BPe) – 978-85-349-2005-6 / Bíblia de Jerusalém (BJ)
– 978-85-349-4282-9 / Bíblia Pastoral (BPa) – 978-85-349-0228-1
Tradução, introdução
e notas (BPa):
Ivo Storniolo e Euclides Martins Balancin
Tradução (BPe): Ivo Storniolo e José Bortolini
Notas (BPe): Luís Alonso Schökel
Opinião: N/A
Páginas: BPe – 164 / BJ – 108 / BPa – 95 (com respectivos apêndices)
Sinopse: Ver aqui
“Não se enganem, meus queridos irmãos: qualquer
dom precioso e qualquer dádiva perfeita vêm do alto, desce do Pai dos astros1,
no qual não há fases ou períodos de mudança. Por sua própria iniciativa, ele nos
gerou por meio da Palavra da verdade, para que nos tornássemos as primeiras dentre
as suas criaturas.
Vocês já sabem, meus queridos irmãos: cada um
seja pronto para ouvir, mas lento para falar, e lento para ficar com raiva, porque
a raiva do homem não produz a justiça que Deus quer2. Por isso, deixem
de lado qualquer imundície e sinal de malícia, e recebam com docilidade a Palavra
que lhes foi plantada no coração e que pode salvá-los.
Sejam praticantes da Palavra, e não apenas ouvintes,
iludindo a si mesmos. Quem ouve a Palavra e não a pratica, é como alguém que observa
no espelho o rosto que tem desde o nascimento; observa a si mesmo e depois vai embora,
esquecendo a própria aparência. Mas, quem se concentra numa lei perfeita, a lei
da liberdade, e nela continua firme, não como ouvinte distraído, mas praticando
o que ela manda, esse encontrará a felicidade no que faz.3
Se alguém pensa que é religioso e não sabe controlar
a língua, está enganando a si mesmo, e sua religião não vale nada. Religião pura
e sem mancha diante de Deus, nosso Pai4, é esta: socorrer os órfãos e
as viúvas em aflição, e manter-se livre da corrupção do mundo.5
Queridos irmãos, não misturem com certos favoritismos
pessoais a fé que vocês têm em nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória. Por
exemplo: entra na reunião de vocês uma pessoa com anéis de ouro e vestida com elegância;
e entra também uma pessoa pobre, vestida com roupas velhas. Suponhamos que vocês
deem atenção à pessoa que está vestida com elegância e lhe dizem: ‘sente-se aqui,
neste lugar confortável’; mas dizem à pessoa pobre: ‘fique aí em pé’; ou então:
‘sente-se aí no chão, perto do estrado dos meus pés.’6 Nesse caso, vocês
estão fazendo diferença entre vocês mesmos e julgando os outros com péssimos critérios.
Ouçam, meus queridos irmãos: não foi Deus quem
escolheu os que são pobres aos olhos do mundo, para torná-los ricos na fé7
e herdeiros do Reino que ele prometeu àqueles que o amam? E, no entanto, vocês desprezaram
o pobre! Ora, não são os ricos que oprimem a vocês e os arrastam perante os tribunais?
Não são eles que difamam o nome sublime que foi invocado sobre vocês?
Se cumprirem a lei mais importante da Escritura:
‘Ame o seu próximo como a si mesmo’, vocês estarão agindo bem. Mas, se vocês fazem
diferença entre as pessoas, estão cometendo pecado, e a Lei os condena como culpados.
Aquele que observa a Lei toda, mas falha num só ponto, torna-se culpado de violar
a Lei inteira. De fato, aquele que disse: ‘Não cometa adultério’, também disse:
‘Não mate.’ Portanto, se você não comete adultério, mas mata, será condenado como
violador da Lei.
Falem e ajam como pessoas que vão ser julgadas
pela lei da liberdade, porque o julgamento será sem misericórdia para quem não tiver
agido com misericórdia. Os misericordiosos não têm motivo de temer o julgamento.8
Meus irmãos, se alguém diz que tem fé, mas não
tem obras, que adianta isso? Por acaso a fé poderá salvá-lo? Por exemplo: um irmão
ou irmã não têm o que vestir e lhes falta o pão de cada dia. Então alguém de vocês
diz para eles: “Vão em paz, se aqueçam e comam bastante”; no entanto, não lhes dá
o necessário para o corpo. Que adianta isso? Assim também é a fé: sem as obras,
ela está completamente morta.
Alguém poderia dizer ainda9: ‘Você
tem a fé, e eu tenho as obras. Pois bem! Mostre-me a sua fé sem as obras, e eu,
com as minhas obras, lhe mostrarei a minha fé.’ Você acredita que existe um só Deus?
Muito bem! Só que os demônios também acreditam, e tremem! Insensato, quer ver como
a fé sem as obras não tem valor? Quando nosso pai Abraão ofereceu o filho Isaac
sobre o altar, não foi pelas obras que ele se tornou justo? Vocês podem perceber
que a fé cooperou com as obras dele, e que pelas obras essa fé se tornou perfeita.
E assim se cumpriu a Escritura que diz: ‘Abraão acreditou em Deus, e isso lhe foi
creditado como justiça.’ E Abraão foi chamado amigo de Deus.
Como vocês estão vendo, o homem é justificado
pelas obras, e não somente pela fé. Do mesmo modo, a prostituta Raab: ao dar hospitalidade
aos mensageiros e ao fazê-los voltar por outro caminho, não foi ela justificada
pelas suas obras?
De fato, do mesmo modo que o corpo sem o espírito10
é cadáver, assim também a fé: sem as obras ela é cadáver.11”
(Tg 1,16-2,26 – BPa / BPe)
1: O título “Pai dos astros” é surpreendente.
É normal: Senhor dos Exércitos (siderais); Sl 90,2 diz que o universo foi
“gerado”. Pai tem aqui um sentido fraco, de autor ou causa. Os astros têm fases
de escuridão. “O que há de mais brilhante que o sol? Pois também ele tem
eclipses” (Eclo 17,31). Deus não tem fases de escuridão, por isso pode enviar
sempre sua luz benéfica. A imagem do “nascimento” do pecado e da morte se
contrapõe o símbolo positivo, em que é Deus quem gera filhos, ou quem os adota
(cf. Sl 2,7), pela pregação do evangelho (1Jo 3,1) (...). (BPe)
2: A ira de Deus é sua reação ao mal e sua
condenação, e é justa. A ira do homem leva à vingança, que não realiza a
justiça querida por Deus, mas acrescenta injustiça (cf. Am 1,11). (BPe)
3: Tiago chama a atenção para a essência da
vida cristã: ouvir a palavra do Evangelho e colocá-la em prática. A fé não se
resume em afirmações que podem ser ouvidas e decoradas; ela é compromisso que
leva a tomar atitudes concretas e cheias de consequências. Centrado no
mandamento do amor, o Evangelho é a lei da liberdade, pois o amor não se
restringe a exigir a obediência a uma lista de obrigações; ele é comportamento
criativo, que sabe dar resposta libertadora e construtiva em qualquer situação.
(BPa)
4: Cf. Mt 6,9; 1Cor 15,24; Ef 5,20. A
expressão já usada no AT (Dt 32,6; cf. Is 63,16; Eclo 23,1.4; Sb 2,16). O culto
espiritual agradável a Deus toma forma concreta no comportamento reto e no
serviço aos fracos (cf. Dt 27,19; Is 11,17; Jr 5,28 etc.). (BJ)
5: Temos aqui um dos pontos centrais do Novo
Testamento: o culto que se pede aos cristãos não se resume em cerimônias ou em
saber fórmulas de cor. O verdadeiro culto é a entrega de si mesmo a Deus para
viver a justiça na prática: não difamar o próximo (língua); socorrer e defender
os pobres e marginalizados (órfão e viúva) não comprometer-se com a estrutura
injusta da sociedade (corrupção do mundo). (BPa)
6: Ver o princípio enunciado pelo rei Josafá
na sua reforma da magistratura: “Nosso Deus não admite injustiças,
favoritismos, nem subornos” (2Cr 19,7). (BPe)
7: Os pobres (1,9-10+) possuem a riqueza
verdadeira (cf. 1Cor 1,17-29). (BJ)
8: Se o AT admite parcialidade, é a favor do
desvalido em qualquer situação. A inclinação para o necessitado é um ato de
piedade que tempera uma justiça rigorosa, impiedosa; uma justiça abstrata, que
impõe uma igualdade mecânica, ignorando as desigualdades humanas; uma justiça
que se torna injustiça: summum ius sununa
iniuria. Assim é a lei “do reino, de homens livres”, não fundada na
escravidão (v. 12); faz com que a piedade acompanhe a justiça, como no programa
de governo do Sl 101. O autor menciona ricos e pobres como caso típico: ver o
agudo e irônico comentário de Eclo 13,1-8. Discriminar, embora não seja feito
em contexto de tribunal, tem algo de julgamento, porque se traduz em decisões.
(BPe)
Deus prefere os pobres e, portanto, essa é a
única preferência que se justifica na sociedade humana. A dignidade dos pobres
repousa no fato de que eles são ricos na fé e herdeiros do Reino (cf. Mt 5,3;
11,25-27). Os ricos são indignos porque difamam o nome, isto é, a própria
pessoa de Jesus (cf. At 9,5) oprimindo, perseguindo e distorcendo a justiça
contra aqueles que se comprometem com o projeto de Deus. O favoritismo em prol
dos ricos não se concilia com a fé cristã, porque se choca com o mais importante
dos mandamentos. Segundo o contexto, próximo, aqui, significa o pobre e
oprimido. Qualquer tipo de favoritismo em favor do rico não é simplesmente
desobediência a um dos pontos da lei de Deus, mas à lei inteira, que se resume
no amor ao pobre. O cristão se rege pelo Evangelho, que tem como centro o
mandamento do amor (= lei da liberdade, cf. nota em 1,19-25). E este mandamento
se realiza na prática da misericórdia, concretizada na preferência pelos pobres
e marginalizados, tornando-se a matéria única do julgamento (cf. Mt 25,31-46).
(BPa)
9: Isto é, ao interlocutor do parágrafo
anterior que Tiago passa a refutar. (BJ)
10: Os vv. 17.20.24 têm a sua conclusão na
comparação com um corpo privado do sopro da vida. (BJ)
11: O autor provavelmente conhece a doutrina
de Paulo sobre a fé e as obras, e parece reagir contra as consequências
abusivas de tal doutrina. Antes de tudo, deve-se notar que Paulo se refere às
“obras da lei” mosaica ou judaica, não às obras simplesmente; não admite que
tais obras sejam condição para a salvação e menos ainda que estabeleçam um
direito a ela. Tiago, por seu turno, pensa em obras que um cristão realiza já
no contexto da fé. Ou seja, que a chave está na distinção: as obras (da lei)
como meio para assegurar para si a justiça perante Deus, ou as obras (de homens
livres) como consequência da fé. Mas, preocupado em precaver contra
interpretações perigosas, toma a citação bíblica de Paulo (Gn 15,6) e a
retorce, destacando outro aspecto do texto bíblico, sem respeitar a sequência
cronológica, ou seja, pondo Gn 22 antes de Gn 15. (BPe)
O único meio de salvação é a fé, a adesão a
Jesus Cristo. Essa fé, porém, não é coisa teórica ou mero sentimento interior;
é o compromisso que se manifesta concretamente em atos e fatos visíveis (cf. Mt
7,21). Tiago toma dois exemplos do Antigo Testamento, que podem ser comparados
com Hb 11,31 e, principalmente, com Rm 4 e Gl 3. Aparentemente, Tiago e Paulo
tiram conclusões opostas, ao usar o mesmo exemplo. Notemos, porém: Paulo diz
que Abraão se tornou justo por meio da fé, e não mediante a prática da Lei.
Tiago diz mais: a fé que justificou Abraão é uma realidade que se traduz na
prática de atos concretos. Ao falar de prática da Lei, Paulo afirma que nenhuma
observância de regras pode levar à salvação, e que a fé é o princípio de toda a
vida cristã. Tiago, por sua vez, salienta que a fé se traduz no amor, e este
realiza atos concretos. Paulo diz a mesma coisa: “a fé age por meio do amor”
(Gl 5,6). (BPa)
“Todos falhamos muitas vezes: aquele que não falha
com a língua é homem íntegro, capaz de frear o corpo inteiro.1 Pomos
freio nos cavalos para que nos obedeçam, e assim guiamos todo o seu corpo. Observai
os navios, tão grandes e arrastados por ventos impetuosos: com um leme minúsculo
o piloto os guia para onde quer. Da mesma forma a língua: é um membro pequeno e
se gaba de grandes ações. Observai como uma faísca incendeia uma floresta inteira.
A língua, também, é um fogo. Como um mundo de injustiça, a língua, instalada entre
nossos membros, contamina o corpo inteiro e, alimentada pelo fogo do inferno, inflama
o curso da existência. A raça humana é capaz de domar e domesticar todo tipo de
feras: aves, répteis e peixes. A língua ninguém consegue domar: mal incansável,
cheio de veneno mortífero.2 Com ela bendizemos o Senhor e Pai, e com
ela amaldiçoamos os homens criados à imagem de Deus. Da mesma boca saem bênção e
maldição. Meus irmãos, não deve ser assim. Brota de uma fonte, do mesmo olheiro,
água doce e salgada? Pode, irmãos meus, a figueira dar azeitonas e a videira dar
figos? Ou uma fonte salgada dar água doce?”
(Tg 3,2-12 – BPe)
1: Diz o Eclesiástico: “Feliz o homem a quem
suas próprias palavras não afligem” (Eclo 14,1); e também: “quem não pecou com
a língua?” (Eclo 19,16). (BPe)
2: Por seu poder mortífero, o veneno é afim
do fogo. A imaginação bíblica popular põe o veneno na língua da serpente, e os
poetas não buscam a exatidão científica em suas imagens. “Afiam a língua como
serpentes, com veneno de víboras atrás dos lábios” (Sl 140,4). (BPe)
“De onde surgem os conflitos e competições que
existem entre vocês? Não vêm exatamente dos prazeres que guerreiam nos seus membros?
Vocês cobiçam, e não possuem; então matam. Vocês têm inveja, e não conseguem nada;
então lutam e fazem guerra. Vocês não recebem, porque não pedem; e vocês pedem,
mas não recebem, porque pedem mal, com intenção de gastarem em seus prazeres1.
Idólatras! Vocês não sabem que a amizade com o mundo é inimizade com Deus? Quem
quer ser amigo do mundo é inimigo de Deus.2 Ou vocês acham que é à toa
que a Escritura diz: ‘Deus reclama com ciúme o espírito que ele fez habitar em nós’?
Mas ele dá uma graça maior. É por isso que a Escritura diz: ‘Deus resiste aos soberbos,
e aos humildes dá a sua graça.’ Portanto, sejam submissos a Deus; resistam ao diabo,
e este fugirá de vocês. Aproximem-se de Deus, e ele se aproximará de vocês. Pecadores,
purifiquem as mãos! Indecisos, purifiquem o coração! Reconheçam a própria miséria,
cubram-se de luto e chorem! Que o riso de vocês se transforme em luto, e a alegria
em tristeza! Humilhem-se diante do Senhor, e ele os elevará.
Irmãos, não fiquem criticando uns aos outros!
Quem critica o irmão ou julga seu irmão, está criticando uma lei e julgando uma
lei. E se você julga uma lei, você não é alguém que obedece a uma lei, mas alguém
que a julga. Ora, só um é o legislador e juiz: aquele que pode salvar e destruir.
Quem é você para julgar o próximo?3”
(Tg 4,1-12 – BPa)
1: Se há má intenção, o Senhor não escuta;
não vale para tal caso o “pedi e recebereis” (cf. Sl 68,18-19). Semelhante
pedido profana a oração. Já falou da oração de súplica em 1,5-8, e voltará a
falar dela no fim da carta. (BPe)
2: (...) Sendo o mundo rival de Deus, o amor
a ele é uma forma de idolatria. (BPe)
3: Como em português, a palavra “julgar”
procede do âmbito forense e se estende ao campo ético do pensamento e da
palavra. O autor retém a conotação judicial e por isso menciona a lei, segundo
a qual se julga. Quem se arroga o direito de julgar coloca-se acima da lei e a
submete a julgamento. (BPe)
O julgamento pertence a Deus somente (1,12;
2,4; 5,7-8; Mt 7,1p+; Rm 2,1; cf. Sl 5,11+; 9,9+). Aquele que julga seu próximo
desafia a lei régia do amor (2,8) e se substitui indevidamente à justiça
divina. (BJ)
“O que sabeis do amanhã? O que é vossa vida? Sois
uma névoa que aparece por um instante e logo desaparece. Deveríeis, antes, dizer:
Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo.1”
(Tg 4,14-15 – BPe)
1: Daqui vem a expressão portuguesa “se Deus
quiser”. (...) (BPe)
“Quem sabe fazer o bem e não o faz é culpado.”
(Tg 4,17 – BPe)
“Pois bem, agora vós, ricos, chorai e gemei por
causa das desgraças que estão para vos sobrevir. A vossa riqueza apodreceu e as
vossas vestes estão carcomidas pelas traças. O vosso ouro e a vossa prata estão
enferrujados e a sua ferrugem testemunhará contra vós e devorará as vossas carnes.
Entesourastes como que um fogo nos tempos do fim! Lembrai-vos de que o salário,
do qual privastes os trabalhadores que ceifaram os vossos campos, clama, e os gritos
dos ceifeiros chegaram aos ouvidos do Senhor dos exércitos.1 Vivestes
faustosamente na terra e vos regalastes; vós vos saciastes no dia da matança. Condenastes
o justo e o pusestes à morte: ele não vos resiste.2”
(Tg 5,1-6 – BJ)
1: Tiago critica agora os proprietários que
se enriquecem à custa dos trabalhadores. Visando unicamente ao lucro, esses
latifundiários cometem graves injustiças sociais: retenção do salário devido aos
operários (cf. Dt 24,14); acumulação de riquezas que não revertem para o bem
comum, mas servem unicamente para uma vida regalada e luxuosa; opressão
jurídica e condenações conseguidas graças ao suborno contra os pobres inocentes
que não têm meios de defesa. Fruto do roubo e da injustiça, o tesouro amontoado
pelos ricos será testemunho que os condenará na hora do julgamento. (BPa)
2: BPe traduz a última frase de maneira
distinta: “Não resistirá Deus contra vós?”. BPa e BJ têm tradução similar, o
justo não pôde resistir a condenação imposta pelo rico.
“Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus
Cristo, que, segundo sua grande misericórdia e pela ressurreição de Jesus Cristo
da morte, vos regenerou para uma esperança viva, uma herança incorruptível, incontaminável
e que não murcha, reservada para vós no céu. Pela fé, o poder de Deus vos guarda
para uma salvação disposta a revelar-se no último dia.1 Por isso estais
alegres, embora por pouco tempo tenhais de suportar diversas provas. Se o ouro,
que perece, é aquilatado no fogo, vossa fé, que é mais preciosa, será aquilatada
para receber louvor, honra e glória, quando Jesus Cristo se revelar.2
Não o vistes, e o amais; sem vê-lo, credes nele e vos alegrais com alegria indizível
e gloriosa3, pois recebereis, como termo de vossa fé, a salvação pessoal.
Por isso, cingidos mentalmente e sóbrios, colocai
toda a vossa esperança nessa graça que vos será concedida quando Jesus Cristo se
revelar. Como filhos obedientes, não vos deixeis modelar pelos desejos de antes,
quando vivíeis na ignorância; pelo contrário, visto que é santo aquele que vos chamou,
sede vós também santos em todo o vosso agir4; pois assim está escrito:
Sede santos, porque eu sou santo. E se chamais Pai àquele que julga imparcialmente
as ações de cada um, agi com cautela durante vossa permanência na terra. Sabei que
vos resgataram de vossa vã conduta recebida em herança, não com prata e ouro corruptíveis,
mas com o precioso sangue de Cristo, cordeiro sem mancha nem defeito, predestinado
antes da criação do mundo e revelado no final dos tempos, em vosso favor. Por meio
dele credes em Deus, que o ressuscitou da morte e o glorificou; dessa forma, vossa
fé e esperança5 se dirigem a Deus. Purificai vossas consciências, submetendo-vos
à verdade, e amai os irmãos sem fingimento, de coração; amai-vos intensamente uns
aos outros, pois fostes regenerados, não de uma semente corruptível, mas pela palavra
incorruptível e permanente do Deus vivo6. Pois toda carne é erva e sua
beleza como flor do campo; a erva resseca, murcha a flor, mas a palavra do Senhor
permanece sempre. Essa palavra é a boa notícia que vos foi anunciada.”
(1Pd 1,3-9.13-25 – BPe)
1: O novo nascimento pelo batismo é
participação na vida de Jesus ressuscitado. Trata-se de nascimento para outra
vida e outra história, dando aos cristãos esperança incomparavelmente superior
a qualquer outro ideal humano. Assim como Deus havia concedido a herança da
terra ao povo da antiga aliança, também o povo da nova aliança recebe como
herança a própria vida de Deus (cf. 2Pd 1,4). O cristão vive impulsionado para
a vida plena que está sempre em via de se manifestar. (BPa)
2: “Ó Deus, puseste-nos à prova, tu nos
refinaste como se refina a prata” (Sl 66,10); “Deus os pôs à prova e os
encontrou dignos de si, provou-os como o ouro no crisol” (Sb 3,5s; mais
exemplos em Is 48,10; Zc 13,9; Ml 3,3). (BPe)
3: “Felizes os que crerão sem ter visto” (Jo
20,29; cf. 2Cor 5,7). (BPe)
4: O homem deve imitar a santidade de Deus
(Lv 19,2). Ora, é amando os outros (cf. Lv 19,15), como esclarece Jesus, que o
cristão imita a Deus, distinguindo-se dos gentios e tornando-se filho de Deus
(Mt 5,43-48p). Mas, de onde tirar a força necessária para isso? A tradição
apostólica, invertendo os dados do problema, entende que é por sermos filhos de
Deus (1Pd 1,23+) que somos capazes de imitar a Deus (1Pd 1,14-16; 1Jo 3,2-10;
Ef 5,19, porque o Deus-amor (1Jo 4,8) se torna o princípio do nosso agir. Paulo
vê nesta imitação de Deus a restauração da obra criadora (Cl 3,10-13; Ef 4,24).
(BJ)
5: O resgate (Rm 3,25+), pelo sangue de
Cristo (Mt 26,28+1 Ap 1,5; 5,9), bem como a sua ressurreição resultam do
desígnio eterno do Pai (v. 20), que consagrava assim o seu novo povo de “fiéis”
(cf 1Ts 1,7; 2,10.13 etc.). Nesta seção, podem-se notar ecos de uma catequese
ou mesmo de uma liturgia batismal. (BJ)
6: Ou: “a Palavra do Deus vivo e eterno”. –
Germe de vida, a Palavra de Deus constitui o ponto de partida do nosso renascimento
divino e nos dá a possibilidade de agir de acordo com a vontade de Deus
(1,22-25; Tg 1,18+; Jo 1,12s; 1Jo 3,9; cf. 2,13s; 5,18), porque ela é dotada de
poder (1 cor 1,18; 1Ts 2,13; Hb 4,12). Para Tg, a Palavra é ainda a Lei mosaica
(1,25); para 1Pd, é a pregação evangélica (1,25; cf. Mt 13,18-23p); para Jo, é
o Filho de Deus em pessoa (1,1+). Paulo vê no Espírito o princípio que nos
transforma em filhos de Deus (Rm 6,4+), mas o Espírito é o dinamismo da
Palavra. (BJ)
“Finalmente, sede todos1 concordes,
compassivos, fraternos, misericordiosos, humildes; não pagueis mal com mal nem injúria
com injúria; ao contrário, bendizei, pois para isto fostes chamados: para herdar
uma bênção, Se alguém quer viver e passar anos prósperos, guarde sua língua do mal
e seus lábios da falsidade; afaste-se do mal e faça o bem, procure a paz e corra
atrás dela. Porque os olhos do Senhor estão fixos no honrado, seus ouvidos escutam
suas súplicas; mas o Senhor enfrenta os malfeitores.2”
(1Pd 3,8-12 – BPe)
1: Esta exortação resume todas as
precedentes: fraternidade (2,17); harmonia dos corações (cf. Rm 12,9-13 etc.);
perdão aos inimigos (Mt 5,44p; 1Ts 5,15; Rm 12,14.17-21). (BJ)
2: Pedro se dirige agora à comunidade toda.
Para que ela se torne um lar, ele apresenta os elementos mais importantes: compaixão,
que consiste em participar da situação do outro; amor fraterno, que tem
como ponto central o serviço; misericórdia, que torna possível a
convivência entre irmãos que erram; espírito humilde, que não ambiciona
o poder e não leva à rivalidade e opressão.
E como comportar-se com aqueles que
hostilizam a comunidade? O princípio fundamental é pagar o mal com o bem.
Isso não significa ser passivo ou omisso. Ao contrário, agindo assim, os
cristãos se tornam abençoados e portadores da bênção; ao mesmo tempo, tornam-se
instrumentos de julgamento que desmascara e desarma os que praticam o mal.
(BPa)
“Sobretudo, conservai vivo o amor mútuo, pois
o amor cobre uma multidão de pecados. Praticai a hospitalidade recíproca, sem murmurar.
Cada um, como bom administrador da multiforme graça de Deus, ponha a serviço dos
outros o carisma que tiver recebido. Se fala, como se pronunciasse oráculos de Deus;
se serve, como se o fizesse com a força de Deus concede; de modo que em tudo Deus
seja glorificado por meio de Jesus Cristo, a quem corresponde a glória e o poder
pelos séculos dos séculos. Amém.”
(1Pd 4,8-11 – BPe)
“Por isso, façam esforço para pôr mais virtude
na fé, mais conhecimento na virtude, mais autodomínio no conhecimento, mais perseverança
no autodomínio, mais piedade na perseverança, mais fraternidade na piedade e mais
amor na fraternidade. De fato, se vocês tiverem essas virtudes em abundância, elas
não permitirão que vocês se tornem inúteis ou infrutíferos no conhecimento de nosso
Senhor Jesus Cristo. Mas aquele que não tem essas virtudes é cego e míope, pois
se esqueceu da purificação de seus pecados antigos. Por isso mesmo, irmãos, procurem
com mais cuidado firmar o chamado que escolheu vocês. Agindo desse modo, nunca tropeçarão.
De fato, é assim que será amplamente aberta para vocês a entrada no reino eterno
de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.”
(2 Pd 1,5-11 – BPa)
1: Conhecer o testemunho de Jesus abre para a
humanidade a possibilidade de conversão ou mudança radical: de um lado, a
ruptura com as estruturas idolátricas da sociedade; de outro, o início de uma
nova caminhada que leva de modo crescente à participação na própria natureza de
Deus, princípio e fim da vocação humana (cf. Gn 1,26-27). Esse conhecimento
fornece também os meios para a caminhada cristã, as oito virtudes enumeradas
nos vv. 5-7, que têm como início a fé e como fim último o amor. (BPa)
“Se dizemos que não temos pecado, enganamos a
nós mesmos, e a Verdade não está em nós. Se reconhecemos os nossos pecados, Deus,
que é fiel e justo, perdoará nossos pecados e nos purificará de toda injustiça.
Se dizemos que nunca pecamos, estaremos afirmando que Deus é mentiroso, e a sua
palavra não estará em nós.1
Meus filhos, eu lhes escrevo tais coisas para
que vocês não pequem. Entretanto, se alguém pecou, temos um advogado junto do Pai:
Jesus Cristo, o justo. Ele é a vítima de expiação pelos nossos pecados; e não só
os nossos, mas também os pecados do mundo inteiro.2
Para sabermos se conhecemos3 a Deus,
basta ver se cumprimos os seus mandamentos. Quem diz que conhece a Deus, mas não
cumpre os seus mandamentos, é mentiroso, e a Verdade não está nele. Por outro lado,
o amor de Deus se realiza de fato em quem observa a Palavra de Deus. É assim que
reconhecemos que estamos com ele: quem diz que está com Deus deve comportar-se como
Jesus se comportou.
Quem afirma que está na luz, mas odeia o seu irmão,
ainda está nas trevas. Quem ama o seu irmão permanece na luz, e nele não há ocasião
de tropeço. Ao contrário, quem odeia o seu irmão está nas trevas: caminha nas trevas
e não sabe aonde vai, porque as trevas lhe cegaram os olhos.4
Vocês sabem que Jesus é justo; reconheçam, pois,
que todo aquele que pratica a justiça nasceu de Deus.5”
(1 Jo 1,8-2,6.9-11.29 – BPa / BPe)
1: (Estes vv.) são um apelo à sinceridade
radical, diante do autoengano e do “fazer dele um mentiroso” (ver 5,10). Pois
quem nega seu pecado não pode receber a purificação pelo sangue de Jesus; quem
o confessa, a recebe. Sendo tão importante a confissão do pecado, baste
recordar textos como Pr 20,9: “Quem se atreverá a dizer... estou limpo de
pecado?” (Sl 32,3-5; 1Rs 8,46). É “fiel e justo”: como parte justa/inocente, pode
perdoar a parte culpada; como fiel, cumprirá a promessa. (BPe)
2: A Igreja que não se reconhece pecadora
vive em farisaísmo, e consequentemente faz de Deus um mentiroso, tornando-o
cúmplice dos pecados dela. Com efeito, a revelação mostra que Deus perdoa o
pecado. E mais: Cristo entregou a sua própria vida para que os homens sejam
libertados da injustiça e tenham a vida. É confessando os próprios pecados que
a Igreja declara ao mundo a inocência e a justiça do Deus vivo. (BPa)
3: Este conhecimento (Os 2,22+) é a fé (Jo
3,12+), que empenha todo o modo de agir (3,23; 5,1), de tal sorte que a conduta
é o critério para reconhecer a vida em Cristo (v. 5; 3,10; 4,13; 5,2). (BJ)
4: O conhecimento de Deus se demonstra por
uma prática concreta, isto é, quando a pessoa faz a vontade de Deus. Essa
vontade foi revelada e concretizada em Jesus e consiste no mandamento novo,
como é expresso em Jo 13,34-35. E é a prática do mandamento do amor que faz as
pessoas e os grupos sociais saírem do próprio egoísmo e do isolamento, que
geram a morte, para viverem as relações fraternas que geram a vida. (BPa)
5: João começa novo tema: Deus é justo. Jesus
Cristo manifestou inteiramente a Deus porque, através de sua vida, mostrou
concretamente o que é a justiça divina. Do mesmo modo, quem pratica a justiça
mostra que é filho do Deus justo, à semelhança de Jesus. Não basta ser batizado
para ser filho de Deus: é preciso praticar a justiça. Essa realidade, porém,
ainda está em crescimento, e só se realizará totalmente quando puderem contemplar
toda a glória de Jesus Cristo. O mundo não reconhece o Deus justo, porque o
princípio que rege a vida do mundo é a injustiça. Desse modo, o mundo considera
como inimigos perigosos o Deus justo e seus filhos que revelam a justiça. (BPa)
“Porque esta é a mensagem que ouvistes desde o
início: que nos amemos uns aos outros, não como Caim, que, sendo do Maligno, matou
o seu irmão. E por que o matou? Porque suas obras eram más, ao passo que as do seu
irmão eram justas.1 Não vos admireis, irmãos, se o mundo vos odeia. Nós
sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos. Aquele que não
ama permanece na morte. Todo aquele que odeia o seu irmão é homicida; e sabeis que
nenhum homicida tem a vida eterna permanecendo nele.2 Nisto conhecemos
o Amor: ele deu a sua vida por nós. E nós também devemos dar a nossa vida pelos
irmãos. Se alguém, possuindo os bens deste mundo, vê o seu irmão na necessidade
e lhe fecha o coração, como permanecerá nele o amor de Deus? Filhinhos, não amemos
com palavras nem com a língua, mas com ações e em verdade. Desse modo saberemos
que estamos do lado da verdade; e diante de Deus poderemos tranquilizar nossa consciência;
e isso, mesmo que a nossa consciência nos condene, porque Deus é maior do que a
nossa consciência, e ele conhece todas as coisas. Caríssimos, se o nosso coração
não nos acusa, temos confiança diante de Deus; e tudo o que lhe pedimos recebemos
dele, porque guardamos os seus mandamentos e fazemos o que lhe é agradável. Este
é o seu mandamento: crer no nome do seu Filho Jesus Cristo e amar-nos uns aos outros
como ele nos deu o mandamento. Aquele que guarda os seus mandamentos permanece em
Deus e Deus nele; e nisto reconhecemos que ele permanece em nós, pelo Espírito que
nos deu.3”
(1 Jo 3,11-24 – BJ / BPa)
1: A figura de Caim é tirada de Gn 4 através
de tradições rabínicas, que acrescentam dados ao relato bíblico original. O
amor se manifesta nas obras (Is 58,7; Pr 3,27-28; Dt 15,7), se reconhece nelas
e tranquiliza a consciência (v. 19). (BPe)
2: O ódio é uma forma de homicídio incipiente
e pode conduzir ao homicídio consumado. Ao ser inimigo da vida alheia, confina
a este mundo a própria. Ver Mt 5,21s; Jo 8,44.
3: (...) O tema está indissoluvelmente unido
à fé em “seu Filho Jesus Cristo”. Como opostos a esse amor, propõe o caso
extremo do homicídio e o mais frequente, a negação de ajuda. No meio da
perícope insere outro item, o da consciência (kardia).
O eixo desse parágrafo é o amor/ódio ao
próximo, que está unido de forma assimétrica a vida/morte, O amor leva vida, é
sinal de vida e comunica vida. O ódio leva morte e produz morte. Mas o amor,
este é o paradoxo, pode enfrentar a morte para salvar a vida de outro. Cristo
morrendo deu vida e deixou exemplo de sacrifício por amor (Jo 13,34-35;
15,12-13). (BPe)
3,11-24: O dom do Espírito produz nas pessoas
a contínua memória e compreensão sobre a pessoa de Jesus (cf. Jo 14,26). É o
Espírito, portanto, que gera a fé em Jesus e fé é compromisso que produz vida
nova. Essa vida, porém, não se traduz apenas por um conhecimento intelectual,
mas pela prática do mandamento do amor, que não significa apenas amar com
sentimento e com afeto, mas através de ações concretas que promovam a vida e a
liberdade dos irmãos. A prática do amor não tem limites, pois devemos amar como
Jesus amou: assim como ele foi até o fim dando sua vida por nós, também nós
devemos dar a vida pelos irmãos. O Evangelho não pede que sejamos perfeitos
para depois amar; pede-nos, sim, que amemos concretamente, certos de que Deus é
maior do que a nossa consciência e compreende e perdoa todas as nossas
imperfeições. (BPa)
“Amados, amemo-nos uns aos outros, pois o amor
vem de Deus. E todo aquele que ama, nasceu de Deus e conhece a Deus. Quem não ama
não conhece a Deus, porque Deus é amor. Nisto se tornou visível o amor de Deus entre
nós: Deus enviou o seu Filho único a este mundo, para dar-nos a vida por meio dele.
E o amor consiste no seguinte: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que
nos amou, e nos enviou o seu Filho como vítima expiatória por nossos pecados.
Amados, se Deus nos amou a tal ponto, também nós
devemos amar-nos uns aos outros. Ninguém jamais viu Deus. Se nos amamos uns aos
outros, Deus está conosco, e o seu amor se realiza completamente entre nós.1”
(1Jo 4,7-12 – BPa)
1: O centro da vida é a prática do amor. Esse
amor testemunha concreta e visivelmente o conhecimento e a união que temos com
Deus, com seu Filho e com o Espírito. De fato, Deus Pai torna-se conhecido
pelos homens no ato de dar, por amor, o seu Filho ao mundo (Jo 3,16). O Filho é
conhecido pela entrega de si mesmo, no amor, até o fim (Jo 13,1). O Espírito
gera a memória do Pai e do Filho nos cristãos, isto é, a própria vida no amor.
A fé na Trindade é a teoria de uma prática que se expressa no amor concreto aos
irmãos, a quem Deus ama. A incoerência fundamental seria afirmar uma fé na
Trindade que não correspondesse à prática do amor. João deixa claro que o
julgamento de Deus será feito sobre a prática do amor vivida ou não (cf. Mt
25,31-46). Por isso, quem ama não teme o julgamento. (BPa)
“Todo aquele que crê que Jesus é o Messias é filho
de Deus; e todo aquele que ama o Pai ama o Filho1. Nisto reconhecemos
que amamos os filhos de Deus: quando amamos a Deus e cumprimos os seus mandamentos.
Porque amar a Deus significa observar os seus mandamentos. E os seus mandamentos
não são pesados, porque todo aquele que nasceu de Deus vence o mundo. E esta é a
vitória que vence o mundo: a nossa fé. De fato, quem pode vencer o mundo, senão
aquele que acredita que Jesus é o Filho de Deus?
Este é aquele que veio pela água e pelo sangue2:
Jesus Cristo. (Ele não veio apenas pela água, mas pela água e pelo sangue.) E é
o Espírito quem dá testemunho, porque o Espírito é a Verdade. Portanto, são três
que dão testemunho: o Espírito, a água e o sangue, e os três estão de acordo entre
si. Se aceitamos o testemunho dos homens, com maior razão aceitamos o testemunho
de Deus. E o testemunho de que falamos é de Deus: ele deixou um testemunho do seu
Filho.
Quem acredita no Filho de Deus, tem esse testemunho
dentro de si mesmo. Quem não acredita em Deus, faz dele um mentiroso, porque não
acredita no testemunho que ele deu em favor do seu Filho. E o testemunho é este:
Deus nos deu a Vida eterna, e esta Vida está em seu Filho. Quem tem o Filho, tem
a Vida; quem não tem o Filho de Deus, não tem a Vida.3”
(1Jo 5,1-12 – BPa / BPe)
1: Quem ama a Deus ama também os filhos de Deus.
O amor de Deus se realiza pelo amor ao próximo, critério da sinceridade desse
amor (3,14.17-19; 4,20) e o primeiro dos mandamentos, com os quais nos achamos
comprometidos pelo amor de Deus (vv. 2-3; cf. 2,3-5; 3,22-24; Jo 13,34+;
15,10-14; Mt 22,36-40p; Rm 13,9; Gl 5,14). Portanto, é a fé que julga o amor, a
fé pela qual o homem nasce de Deus (3,1; Jo 1,12+). (BJ)
2: A água e o sangue que jorraram do lado de
Jesus, quando foi aberto pela lança. (BJ)
3: Todos nós buscamos a plenitude da vida;
mas, onde ela se encontra? A Bíblia nos responde: Deus é vida plena e, graças
ao seu amor por nós, ele deu sua própria vida através de seu Filho encarnado.
Os homens têm acesso à vida através da fé. E é a fé que acolhe o dom que Deus
realiza em Jesus. É esta fé que faz experimentar desde já a vida eterna. Mas, o
que é a fé? É o compromisso com o testemunho que Jesus deu desde o batismo
(água) até a sua morte (sangue). E quem desperta esse compromisso é o Espírito,
que nos faz recordar, compreender e viver esse testemunho de Jesus, que dissipa
todo egoísmo, mentira e morte (vence o mundo). (BPa)
“Ao Anjo da Igreja em Laodicéia, escreve: Assim
fala o Amém1, a Testemunha fiel e verdadeira, o Princípio da criação
de Deus2. Conheço tua conduta: não és frio nem quente. Oxalá fosses frio
ou quente! Assim, porque és morno, nem frio nem quente, estou para te vomitar de
minha boca. Pois dizes: sou rico, enriqueci-me e de nada mais preciso. Não sabes,
porém, que és tu o infeliz: miserável, pobre, cego e nu!3”
(Ap 3,14-17 – BJ)
1: Lembrança de Is 65,16, onde “Amém” aparece
já como nome divino (cf. Ap 1,5+). (BJ)
2: Cristo é identificado aqui com a Sabedoria
e com a Palavra criadora (cf. Pr 8,22; Sb 9,1s; Jo 1,3; Cl 1,15-17; Hb 1,2).
(BJ)
3: A nudez espiritual de Laodiceia está em
contraste com sua prosperidade e suficiência. O contrário acontecido em Esmirna
(2,9). (BJ)
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