Editora: Companhia Editora Nacional
Tradutor: Brenno Silveira
Opinião: ★★★★☆
Páginas: 190
Sinopse: Ver Parte
I
“A primeira grande figura do movimento
romântico é Rousseau, mas, até certo ponto, só expressou tendências já
existentes. As pessoas cultas da França, no século XVIII, admiravam grandemente
aquilo a que chamavam sensibilité, o
que significava uma predisposição à emoção e, mais particularmente, à emoção da
simpatia. Para ser totalmente satisfatória, a emoção tem de ser direta e
violenta, sem ser orientada de modo algum pelo pensamento. O homem de
sensibilidade seria levado às lágrimas ante a vista de uma simples família
miserável de camponeses, mas permaneceria frio ante planos bem elaborados
destinados a melhorar a sorte dos camponeses como classe social. Supunha-se que
os pobres eram mais virtuosos do que os ricos; o sábio era considerado como um
homem que se retira da corrupção das cortes para desfrutar dos prazeres
tranquilos de uma existência rural sem ambições. Como estado de espírito
passageiro, esta atitude pode ser encontrada em poetas de quase todas as
épocas.”
“Por mais ardentemente que eu, ou toda a
humanidade, possa desejar algo, por necessário que possa ser à felicidade
humana, não há razão alguma para se supor que esse algo exista. Não há nenhuma
lei da natureza que garanta que a humanidade deva ser feliz. Toda a gente pode
ver que isto é verdade com respeito à nossa vida aqui na Terra, mas, por uma
curiosa distorção, nossos próprios sofrimentos nesta vida são transformados num
argumento a favor de uma melhor vida no além. Não empregaríamos tal argumento
em nenhum outro sentido. Se tivéssemos comprado de um homem dez dúzias de ovos
e a primeira dúzia estivesse toda podre, não inferiríamos que as noves dúzias
restantes deveriam ser de uma qualidade extraordinária; não obstante, este é o
tipo de raciocínio que “o coração” nos anima a fazer como uma consolação para
os nossos sofrimentos aqui embaixo.”
“O
Contrato Social de Rousseau tornou-se a Bíblia da maioria dos líderes
da Revolução Francesa, mas, sem dúvida, como é o destino das Bíblias, não foi
lido com cuidado, sendo ainda menos entendido por muitos de seus discípulos.”
“O efeito mais importante da produção pela
máquina sobre o panorama imaginativo do mundo é um imenso aumento no sentimento
do poder humano. Isto é apenas uma aceleração do processo que começou antes do
alvorecer da história, quando, com invenção das armas, diminuiu o temor dos
homens ante os animais selvagens e, com a invenção da agricultura, o seu temor
da fome. Mas a aceleração foi tão grande a ponto de produzir uma visão
radicalmente nova das coisas nos que manejam as forças que a técnica moderna
criou. Nos tempos antigos, as montanhas e as quedas d’água eram fenômenos
naturais; agora, uma montanha incômoda pode ser abolida e uma queda d’água
necessária pode ser criada. Nos tempos antigos, havia desertos e regiões
férteis; agora, o deserto pode ser convertido, se o homem achar que isso vale a
pena, em regiões florescentes, enquanto que as regiões férteis podem ser
transformadas em desertos pelos otimistas dotados de insuficiente conhecimento
científico. Em outros tempos, os camponeses viviam como seus pais e seus avós
haviam vivido; nem todo o poder da Igreja podia acabar com as cerimônias pagãs,
às quais se teve de dar roupagens cristãs, identificando-as com os santos
locais. Agora as autoridades podem decretar o que os filhos dos camponeses
devem aprender na escola, podendo transformar a mentalidade dos lavradores no
período de uma geração, como se supõe que isto haja sido conseguido na Rússia.
Surge, deste modo, entre os que dirigem os
negócios ou estão em contato com aqueles que o fazem, uma nova crença no poder:
primeiro, no poder do homem em seus conflitos com a natureza e, depois, no
poder dos governantes ante os seres humanos, cujas crenças e aspirações
procuram controlar por meio da propaganda científica, principalmente a
educação. O resultado disso é uma diminuição do que é fixo; nenhuma mudança
parece impossível. A natureza é a matéria-prima, do mesmo modo que a parte da
raça humana que não participa efetivamente do governo. Há certos conceitos
antigos que representam a crença dos homens nos limites do poder humano;
destes, os principais são Deus e a verdade. (Não quero dizer que estes dois
estejam logicamente relacionados).
Tais conceitos tendem a dissipar-se; mesmo que não sejam explicitamente
negados, perdem sua importância, sendo conservados apenas de maneira
superficial. Toda esta visão é nova, e é impossível dizer-se de que modo a
humanidade se adaptará a ela. Já produziu cataclismos imensos e, sem dúvida,
produzirá outros no futuro. Construir uma filosofia capaz de competir com
homens embriagados ante a perspectiva de um poder quase ilimitado e, ainda, com
a apatia dos que não dispõem de poder, constitui a tarefa mais urgente de nosso
tempo.
Embora muitos ainda creiam sinceramente na
igualdade humana e na democracia teórica, a imaginação do homem moderno está
profundamente afetada pelo padrão de organização social sugerido pela
organização da indústria no século XIX, que é essencialmente antidemocrático.
De um lado, há os capitães de indústria e, do outro lado, a massa dos
trabalhadores. Esta ruptura da democracia, partindo de dentro, não é ainda
reconhecida pelos cidadãos comuns dos países democráticos, mas tem sido a
preocupação da maioria dos filósofos a partir de Hegel, e a viva oposição que
descobriam entre os interesses dos muitos e dos poucos encontrou expressão
prática no fascismo. Entre os filósofos, Nietzsche colocou-se,
despudoradamente, ao lado dos poucos; Marx, com todo o entusiasmo ao lado dos
muitos. Talvez Bentham haja sido o único filósofo importante que tentou uma
reconciliação dos interesses em conflito; por conseguinte, incorreu na
hostilidade de ambas as partes.
Para se formular qualquer ética moderna
satisfatória das relações humanas, será essencial reconhecer as necessárias
limitações do poder dos homens sobre o meio não humano, bem como as limitações
desejáveis do de uns sobre outros.”
“A glorificação do Estado, quanto ao que se
refere aos tempos modernos, começa com a Reforma. No Império Romano, o
imperador era deificado e o Estado adquiria, assim, um caráter sagrado; mas os
filósofos da Idade Média, com poucas exceções, eram eclesiásticos e, por
conseguinte, colocaram a Igreja acima do Estado.
Lutero, contando com o apoio dos príncipes
protestantes, iniciou a prática contrária; a Igreja luterana, em seu todo, era
erastiana. Hobbes, que, politicamente, era protestante, desenvolveu a doutrina
da supremacia do Estado, e Spinoza, em geral, coincidiu com ele. Rousseau
acreditava, como vimos, que o Estado não devia tolerar outras organizações
políticas. Hegel era ardorosamente protestante, da facção luterana; O Estado
prussiano era uma monarquia absoluta erastiana. Estas razões poderiam fazer com
que se esperasse encontrar o Estado altamente valorizado por Hegel, mas, mesmo
assim, chega ele a extremos que causam assombro.
Diz-nos em A Filosofia da História, que “o Estado é a vida moral existente
verdadeiramente realizada”, e que toda a realidade espiritual possuída por uma
criatura humana só o é através do Estado. “Pois sua realidade espiritual
consiste nisto: em que a sua própria essência – a Razão – está
objetivamente presente nele, em que possui existência objetiva imediata para
ele … Pois a verdade é a unidade da vontade universal e subjetiva, e o
universal deve ser encontrado no Estado, em suas leis, em seus arranjos
universais e racionais. O Estado é a ideia Divina, tal como esta existe sobre a
terra”. E ainda: “O Estado é a corporificação da liberdade racional,
realizando-se e reconhecendo-se numa forma objetiva … O Estado é a ideia
do Espírito na manifestação exterior da Vontade Humana e de sua Liberdade’.
A Filosofia do Direito, na parte que se refere ao Estado, desenvolve a mesma doutrina de
maneira um pouco mais ampla. “O Estado é a realidade da ideia moral – o
espírito moral, como a visível vontade substancial, evidente para si mesmo, que
pensa e se conhece, e realiza o que conhece na medida em que o conhece”. O
Estado é racional em si mesmo e por si mesmo. Se o Estado existisse só para os
interesses dos indivíduos (como afirmam os liberais), um indivíduo podia ser ou
não um membro do Estado. Este tem, no entanto, uma relação totalmente diferente
com respeito ao indivíduo: como é Espírito objetivo, o indivíduo só tem
objetividade, verdade e moralidade enquanto é membro do Estado, cujo verdadeiro
conteúdo e finalidade é a união como tal. Admite-se que possa haver Estados
maus, mas estes simplesmente existem, e não tem nenhuma realidade, ao passo que
o Estado racional é infinito em si mesmo.
Ver-se-á que Hegel pretende para o Estado
quase a mesma posição que Santo Agostinho e seus sucessores católicos
pretendiam para a Igreja. Há, no entanto, dois aspectos em que a reivindicação
católica é mais razoável que a de Hegel. Em primeiro lugar, a Igreja não é uma
associação geográfica fortuita, mas um corpo unido por um credo comum, a que
seus membros atribuem uma importância suprema; há, pois, na sua própria
essência, a incorporação do que Hegel chama a “ideia”. Em segundo lugar, há uma
única Igreja Católica, ao passo que há muitos Estados. Quando cada Estado, em
relação com seus súditos, é tão absoluto como Hegel o faz, é difícil achar um
princípio filosófico com que regular as relações entre os diferentes Estados.
Com efeito, neste ponto, Hegel abandona sua linguagem filosófica, recaindo no
estado de natureza e na guerra de todos contra todos de Hobbes.”
“Quanto pior é a nossa lógica, mais interessantes
são as consequências a que dá origem.”
“Byron, embora se sentisse igual a Satanás,
jamais se atreveu colocar-se inteiramente no lugar de Deus. Este passo
imediato, no desenvolvimento do orgulho, foi dado por Nietzsche, que diz: “Se
existissem deuses, como é que eu iria suportar não ser Deus? Por conseguinte, não há deuses”.
Observe-se a premissa suprimida deste silogismo: “Tudo o que humilhe o meu
orgulho deve ser julgado falso”. Nietzsche, como Byron, e ainda em grau mais
elevado, tinha uma educação piedosa, mas, tendo um intelecto melhor, achou uma
saída melhor que o Satanismo. Não obstante, continuou a revelar muita simpatia
por Byron. Diz ele:
“Tragédia é que não podemos acreditar nos
dogmas da religião no coração e na cabeça, mas, por outro lado, o
desenvolvimento da humanidade nos tornou tão dolorosamente sensíveis que
precisamos do tipo mais elevado dos meios de salvação e de consolo: daí surge o
perigo de que o homem possa morrer dessangrado pela verdade que reconhece.
Byron expressa isso em versos imortais:
O pensar é conhecimento: os que mais sabem
Têm de lamentar mais a verdade fatal.
A Árvore da Ciência não é a da vida.
Às vezes, embora raramente, Byron se aproxima
mais do ponto de vista de Nietzsche. Mas, em geral, a teoria ética de Byron, ao
contrário de sua prática, permanece estritamente convencional.
O grande homem, para Nietzsche, é divino;
para Byron, usualmente, um Titã em guerra consigo mesmo. No entanto às vezes,
descreve um sábio não muito diferente de Zaratustra – o Corsário, em seu
trato com os seus seguidores:
Ainda dobra suas almas com essa imperiosa
arte
Que fascina, guia, embora gele o coração
vulgar.
E este
mesmo herói “odiava demais os homens para sentir remorso”. Uma nota ao pé da
página nos assegura que o Corsário está realmente na natureza humana, já que
traços semelhantes são revelados por Genserico, rei dos vândalos, por Ezzelino,
o tirano gibelino, e por um certo pirata da Louisiana.”
“O ideal de Bentham, como o de Epicuro, era a
segurança, não a liberdade. “As guerras e as tormentas são boas para ser lidas,
mas a paz e a calma são melhores para se suportar”.”
“Em seu tratado sobre os sofismas políticos
diz, Bentham numa linguagem que parece antecipar a de Marx, que as morais
sentimentais e ascéticas servem os interesses da classe governante e são
produto de um regime aristocrático. Os que ensinam a moral do sacrifício,
continua ele, não são vítimas do erro: querem que os outros se sacrifiquem por
eles.”
“Marx, como Bentham e James Mill, nada queria
com o romantismo; sua intenção foi sempre ser científico. Sua economia é um
produto da economia britânica clássica, mudando apenas a força propulsora. Os
economistas clássicos, conscientes ou inconscientemente, procuravam sempre o
bem-estar do capitalista, em oposição tanto ao proprietário rural como ao
assalariado; Marx, pelo contrário, entregou-se à tarefa de representar os
interesses dos assalariados. Teve na juventude – como se vê no Manifesto
Comunista de 1848 – o fogo e a paixão apropriados para um novo
movimento revolucionário, como o liberalismo havia tido no tempo de Milton. Mas
teve sempre a preocupação de apelar para as provas, não confiando jamais em
qualquer espécie de intuição extra científica.
Qualificava a si mesmo de materialista, mas não
do tipo do século XVIII. Seu materialismo, que, por influência de Hegel, ele
chamava “dialético”, diferia, num aspecto importante, do materialismo
tradicional, tendo mais afinidade com o que agora se chama instrumentalismo. O
velho materialismo, dizia ele, considerava erroneamente a sensação como
passiva, atribuindo, assim, primordialmente, a atividade ao objeto. Na opinião
de Marx, toda sensação ou percepção é uma interação entre sujeito e objeto; o
objeto puro, à parte a atividade do percipiente, é uma mera matéria-prima, que
se transforma por meio do processo que faz com que seja conhecida. O
conhecimento, no antigo sentido de contemplação passiva, é uma abstração
irreal; o processo que realmente se verifica é o processo de manipulação de coisas. “A questão de
saber se a verdade objetiva pertence ao pensamento humano, não é uma questão de
teoria, mas uma questão prática”, diz ele. “A verdade, isto é, a realidade e o
poder do pensamento, deve ser demonstrada na prática. A discussão quanto à
realidade ou a não realidade de um pensamento que está isolado da prática é uma
questão puramente escolástica … os filósofos apenas interpretaram o mundo de diversas maneiras, mas a tarefa real
consiste em modificá-lo”.
Penso que podemos interpretar Marx como
significando que o processo que os filósofos chamaram a procura do conhecimento
não é, como se pensou, um processo em que o objeto é constante, enquanto que
toda adaptação está da parte do conhecedor. Pelo contrário, sujeito e objeto, o
conhecedor e a coisa conhecida, estão num contínuo processo de adaptação mútua.
Ele chama o processo “dialético” porque este nunca se completa de todo.”
“Bergson afirma que a liberdade real é
possível: “Somos livres quando nossos atos surgem de toda a nossa
personalidade, quando a exprimem, quando tem essa indefinível semelhança com
ela que, às vezes, encontramos entre o artista e a sua obra”.
Em geral, não há razões para as suas
opiniões, mas ele confia em sua atração inerente e no encanto de um estilo
magnífico. Como os anunciantes, confia na enunciação vivida e variada, bem como
na explicação aparente de muitos fatos obscuros. As analogias e os símiles,
principalmente, constituem uma parte bastante considerável de todo o processo
pelo qual recomenda suas opiniões ao leitor. O número de comparações referentes
à vida, em sua obra, excede ao de qualquer poeta meu conhecido. A vida, diz
ele, é como uma concha que se parte em pedaços que são também conchas. É como
um feixe. Inicialmente, era “uma tendência para se acumular num depósito, como
fazem principalmente as partes verdes dos vegetais”. Mas o depósito é para ser
cheio de água fervendo, da que sai o vapor; “os jorros têm de estar caindo
incessantemente, cada um dos quais é um mundo”. Ou, ainda, “a vida aparece em
sua inteireza como uma imensa onda que, partindo de um centro, se estende para
fora, e que na quase totalidade de sua circunferência é detida e convertida em
oscilação: num único ponto o obstáculo foi forçado e o impulso passou
livremente”. Depois, há um ponto culminante, em que a vida é comparada a uma
carga de cavalaria. “Todos os seres organizados, do mais humilde ao mais
elevado, das primeiras origens da vida, até à época em que nos achamos, em
todos os lugares e em todos os tempos, não fazem outra coisa senão evidenciar
um único impulso, o inverso do movimento da matéria e em si mesmo indivisível.
Tudo que vive se mantém unido, e tudo se submete ao mesmo tremendo impulso. O
animal se impõe à planta, o homem cavalga sobre os animais, e toda a
humanidade, no espaço e no tempo, é um imenso exército galopando ao lado,
adiante e atrás de cada um de nós numa carga arrasadora, capaz de abater toda
resistência e eliminar muitos obstáculos, talvez até a morte”.
Sem dúvida, uma grande parte da filosofia de
Bergson, provavelmente a parte a que se deve a sua maior popularidade, não se
baseia em argumentos e não pode ser desfeita por argumentos. Sua descrição
imaginativa do mundo, considerada como esforço poético, não é, em seu todo,
susceptível de aprovação ou desaprovação. Shakespeare diz que a vida não é
senão uma sombra errante; Shelley diz que é como uma redoma de cristal
multicolorido; Bergson diz que é uma concha que se quebra em partes que são,
por sua vez, conchas. Se gostarmos mais da imagem de Bergson, isso é tão justo
quanto legítimo.”
“A filosofia, durante toda a sua história,
tem consistido de duas partes misturadas inarmonicamente: de um lado, uma
teoria sobre a natureza do mundo; de outro, uma doutrina ética ou política
quanto à melhor maneira de se viver. O fato de não se haver conseguido separar
as duas com suficiente clareza foi a origem de muito pensamento confuso. Os
filósofos, desde Platão a William James, permitiram que suas opiniões quanto à
constituição do universo fossem influenciadas pelo desejo de edificação moral;
sabendo, como suportaram, quais as crenças que tornariam os homens virtuosos,
inventaram argumentos, com frequência muito sofísticos, para provar que tais
crenças eram verdadeiras. De minha parte, reprovo esta tendência, baseado tanto
em razões morais como intelectuais. Moralmente, um filósofo que emprega sua
competência profissional para qualquer outra coisa que não seja a busca
desinteressada da verdade, é culpado de uma espécie de traição. E quando dá por
assentado, antes de o indagar, que certas crenças, verdadeiras ou falsas, são
de molde a promover boa conduta, está limitando, desse modo, o escopo de sua
especulação filosófica, tornando sua filosofia trivial; o verdadeiro filósofo
está preparado para examinar todos os
conceitos prévios. Quando são colocados quaisquer limites, consciente ou
inconscientemente, à busca da verdade, a filosofia é paralisada pelo temor,
preparando-se o terreno para uma censura governamental que castigue aqueles que
proferem “pensamentos perigosos” – e, com efeito, o filósofo já
estabeleceu uma tal censura sobre as suas próprias investigações.
Intelectualmente, o efeito das considerações
morais errôneas sobre a filosofia foi impedir, num grau extraordinário, o
progresso.”
“Nesta agitação de fanatismos em conflito,
uma das poucas forças unificadores é a veracidade científica, com o que desejo
referir-me ao hábito de basear nossas crenças em observações e inferências tão
impessoais e tão afastadas de preconceitos locais e temperamentais quanto é
possível às criaturas humanas. Haver insistido na introdução desta virtude na
filosofia, e haver inventado um método poderoso mediante o qual ela pode
tornar-se fecunda, constituem os méritos principais da escola filosófica a que
pertenço. O hábito de meticulosa veracidade, adquirido na prática deste método
científico, pode estender-se a todas as esferas da atividade humana,
produzindo, onde quer que exista, uma diminuição do fanatismo e um aumento da capacidade
de simpatia e de entendimento mútuo. Ao abandonar uma parte de suas pretensões
dogmáticas, a filosofia não deixa de sugerir e inspirar um modo de vida.”
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