Editora: Objetiva
ISBN: 978-85-7302-306-0
Opinião: ★★☆☆☆
Páginas: 620
Sinopse: Para
Júlio Cortazar, conto é aquele texto que corre em poucas linhas e em alta
velocidade narrativa, capaz de nocautear o leitor com seu impacto dramático
concentrado. Coube ao professor Italo Moriconi o desafio lançado pela Objetiva
de garimpar os cem melhores textos do gênero produzidos no Brasil ao longo do
século XX. Um trabalho que deixasse de lado os rígidos critérios acadêmicos e
fosse pautado somente pela qualidade e sabor dessas pequenas obras-primas. O
resultado é a coletânea Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século, um
passeio pela mais deliciosa e contundente ficção curta produzida no Brasil
entre 1900 e o fim dos anos 90. Uma antologia capaz de traduzir as mudanças do
país e as inquietações de várias gerações de brasileiros, em cem anos de
produção literária. A prova de que a arte do gênero não cessa de melhorar em
nossa literatura.
“Um carnaval sem aventuras não é carnaval.
(...) Não há quem não saia no carnaval disposto no excesso, disposto aos
transportes da carne e às maiores extravagâncias. O desejo, quase doentio é
como incutido, infiltrado pelo ambiente. Tudo respira luxúria, tudo tem da
ânsia e do espasmo, e nesses quatro dias paranoicos, de pulos, de guinchos, de
confianças ilimitadas, tudo é possível. Não há quem se contente com uma...
– Nem com um, atalhou Anatólio.
– Os sorrisos são ofertas, os olhos suplicam,
as gargalhadas passam como arrepios de urtiga pelo ar. É possível que muita
gente consiga ser indiferente. Eu sinto tudo isso. E saindo, à noite, para a
porneia da cidade, saio como na Fenícia saíam os navegadores para a procissão
da Primavera, ou os alexandrinos para a noite de Afrodite. (...)
Na terça desliguei-me do grupo e caí no mar
alto da depravação, só, com uma roupa leve por cima da pele e todos os maus
instintos fustigados. De resto a cidade inteira estava assim. É o momento em
que por trás das máscaras as meninas confessam paixões aos rapazes, é o
instante em que as ligações mais secretas transparecem, em que a virgindade é
dúbia e todos nós a achamos inútil, a honra uma caceteação, o bom senso uma
fadiga. Nesse momento tudo é possível, os maiores absurdos, os maiores crimes;
nesse momento há um riso que galvaniza os sentidos e o beijo se desata
naturalmente.”
(O bebê de tarlatana rosa – João do Rio)
“Foi decerto por isto que me nasceu, esta
sim, espontaneamente, a ideia de fazer uma das minhas chamadas “loucuras”. Essa
fora aliás, e desde muito cedo, a minha esplêndida conquista contra o ambiente
familiar. Desde cedinho, desde os tempos de ginásio, em que arranjava
regularmente uma reprovação todos os anos; desde o beijo às escondidas, numa
prima, aos dez anos, descoberto por Tia Velha, uma detestável de tia; e
principalmente desde as lições que dei ou recebi, não sei, duma criada de
parentes: eu consegui no reformatório do lar e na vasta parentagem, a fama
conciliatória de “louco”. “É doido, coitado!” falavam. Meus pais falavam com
certa tristeza condescendente, o resto da parentagem buscando exemplos para os
filhos e provavelmente com aquele prazer dos que convencem de alguma
superioridade. Não tinham doidos entre os filhos. Pois foi o que me salvou,
essa fama. Fiz tudo o que a vida me apresentou e o meu ser exigia para se
realizar com integridade. E me deixaram fazer tudo, porque eu era doido,
coitado. Resultou disso uma existência sem complexos, de que não posso me
queixar um nada.”
(O Peru de Natal - Mário de Andrade)
“Ela estava tão aflita que embora fizesse
frio se abanava com uma revista. Tentei convencê-la de que não devia se abanar,
mas acabei achando que era melhor que o fizesse. Ela precisava fazer alguma
coisa, e a única providência que aparentemente podia tomar naquele momento de
medo era se abanar. Ofereci-lhe meu jornal dobrado, no lugar da revista, e ficou
muito grata, como se acreditasse que, produzindo mais vento, adquirisse maior
eficiência na sua luta contra a morte.”
(Um braço de mulher – Rubem Braga)
“O divertimento é uma espécie de injúria aos
infelizes.”
(A moralista – Dinah Silveira de Queiroz)
“Não gosto de olhar o Corcundinha. Ele tem
mais de seis tiques diferentes. “Você está melhorando dos tiques”, eu disse;
mas que besteira, ele não estava, por que eu disse aquilo? “Estou, não estou?”,
disse ele satisfeito, piscando várias vezes com incrível rapidez o olho
esquerdo.”
(A força humana – Rubem Fonseca)
“Mas Leninha também não ia acreditar nessa
história da condessa, que acabou tendo um fim triste como todas as histórias
verdadeiras.”
(A força humana – Rubem Fonseca)
“(...) e me deu vontade de rezar, e de ter
amigos, o pai vivo, e um automóvel. E fui rezando lá por dentro e imaginando
coisas, se tivesse pai ia beijar ele no rosto, e na mão tomando benção, e seria
seu amigo e seríamos ambos pessoas diferentes.”
(A força humana – Rubem Fonseca)
“Toda família tem uma virgem abrasada no
quarto.”
(O Vampiro De Curitiba – Dalton Trevisan)
“A copeira servia à francesa, meus filhos
tinham crescido, eu e a minha mulher estávamos gordos. É aquele vinho que você
gosta, ela estalou a língua com prazer. Meu filho me pediu dinheiro quando
estávamos no cafezinho, minha filha me pediu dinheiro na hora do licor. Minha
mulher nada pediu, nós tínhamos conta bancária conjunta.”
(Passeio noturno – Rubem Fonseca)
“Vocês não sabem o que é ter estudado interno
cinco anos num colégio de padres jesuítas: chegava a Semana Santa e a gente se
sentia culpado pela morte de Jesus Cristo...”
(A morte de D.J. em Paris – Roberto Drummond)
“O mesmo Gil jura que são de Shakespeare os
versos “trepar é humano, chupar divino” e desvia o olhar para o centro da mesa,
depois de diagnosticar silenciosamente minha paranoia.”
(Correspondência completa – Ana Cristina
César)
“Perguntei se ele já tinha comido minha mãe
pra me dar conselho.”
(A maior ponte do mundo – Domingos
Pellegrini)
“Ele sabia, na pele, que quem ama não fica
rico. E, se vacilar, nem sobrevive.”
(Guardador – João Antonio)
“Era desses feriados tediosos, todos os
amigos queridos, todos os sujeitos interessantes, todas as amigas disponíveis
viajando, restando os neuróticos, os chatos e os vampiros na cidade.”
(O vampiro da Alameda Casabranca – Márcia
Denser)
“(Se as suas poesias fossem boas), mas não
eram. Não eram mesmo. Ocas, delírios vagos, desconexos, de um concretismo de
cabeça dura e reticências. Na mesma construção e com a mesma ênfase conviviam
vísceras e sangue, cosmos e eternidade, como se essas palavras não
significassem nada além de meros sons poéticos convencionais. Quando a coisa
começava a esquentar, ele sempre botava as tais palavras definitivas como Deus,
Espaço, Eternidade, Morte, e esquecia as preposições, tornando tudo assim
delirantemente obscuro, como se possuísse uma chave, um código para sua
decifração. Para os leigos, as garotas bonitas e os novos-ricos quanto menos se
entende, mais a coisa deve ser boa. Palavras bonitas é igual a ideias bonitas.
É gongórico, elementar. O Poeta conhecia muito bem esse princípio e aplicava-o
até à exaustão. A minha, por exemplo.”
(O vampiro da Alameda Casabranca – Márcia
Denser)
“A cidade está cheia desses cursinhos de balé
e bordado, as festinhas movidas a vinho, coca e mau humor de suas excelências,
seus namorados, pelos quais elas são capazes de se foder por toda a eternidade,
em troca de um sobrenome enganchado no rabo e um apartamento nos Jardins: os
homens têm as angústias, as mulheres, os interesses, e por aí vai.”
(O vampiro da Alameda Casabranca – Márcia Denser)
“E (ele) só pensava em duas coisas: garotas e
moto. E isso quer dizer que não pensava.”
(O vampiro da Alameda Casabranca – Márcia
Denser)
“E concordaram, bêbados, que estavam ambos
cansados de todas as mulheres do mundo, suas tramas complicadas, suas
exigências mesquinhas. Que gostavam de estar assim, agora, sós, donos de suas
próprias vidas. Embora, isso não disseram, não soubessem o que fazer com elas.”
(Aqueles dois – Caio Fernando Abreu)
“E retifica aquela reportagem: não chegou
sequer a perder a virgindade naquela lua-de-mel, os dois tão desajeitados. Dor
sentiu, confirma: teria um estreitamento vaginal? Um hímen demasiado
resistente? Mas não se falava dessas coisas, naquele tempo, e então tudo foi se
ajeitando, ou se destruindo, em silêncio.
Lana, garante o repórter, só atingiu a
maturidade sexual por volta dos 40 anos, ao cabo de um aprendizado com um total
de 18 homens – o que, ele acrescenta, já parece um número modesto, para os
padrões atuais.”
(Toda Lana Turner tem seu Johnny Stompanato –
Sonia Coutinho)
“Sorri para ela, no espelho, um rosto sem
nenhuma inocência, mas ao qual o tempo conferiu um toque de pureza cínica.
Até onde posso ir, até onde irei,
questiona-se Melissa, estremecendo, porque os anos tinham passado, como um
vento frio. E, entre maridos, viagens, uma carreira movimentada, tragédias –
ah, tantas coisas se haviam tornado, de repente, definitivas. Amores perdidos,
aventuras não vividas e, o que é pior, não mais desejadas.”
(Toda Lana Turner tem seu Johnny Stompanato –
Sonia Coutinho)
“E, como disse o poeta Whitman num poema
corretamente intitulado “A Woman Waits for Me”, sexo contém tudo, corpos,
almas, significados, provas, purezas, delicadezas, resultados, promulgações,
canções, comandos, saúde, orgulho, mistério maternal, leite seminal, todas as
esperanças, benefícios, doações e concessões, todas as paixões, belezas,
delícias da terra.”
(A Confraria Dos Espadas – Rubem Fonseca)
“Como membro da Confraria dos Espadas eu
acreditava, e ainda acredito, que a cópula é a única coisa que importa para o
ser humano. Foder é viver, não existe mais nada, como os poetas sabem muito
bem.”
(A Confraria Dos Espadas – Rubem Fonseca)
“Puxei-a para o quarto e joguei-a na cama.
Com a língua, umedeci sofregamente e por muito tempo as fendas de seu corpo.
Quando a cobri, ela quis. Abriu-se como fruta que se racha no solo. O desejo é
vagalhão enfurecido, avalanche que se nutre do próprio excesso para melhor
derrubar e engolir. Iniciado, nada pode detê-lo. Se abrissem a porta e me
vissem dentro de minha irmã, gozando-a, meu sêmen estancaria? Penso que não.
Uma vez explodindo, é esperar que a convulsão cesse por si mesma. Assim, fomos
de roldão nas asas da carne até que o esgotamento nos fez dormir, eu ainda com
o membro dentro dela.”
(Olho – Miriam Campello)
“Você está vivendo no apartamento como se
morasse num quarto de hotel. Você liga o aparelho de televisão. Você e os
móveis se entreolham de perfil, como bandido e polícia se estranham um ao outro
no filme que está sendo exibido a está hora da madrugada.”
(Days Of wine And
Roses – Silviano Santiago)
“Você traduz as carícias iniciais trocadas
com Roy pelos nomes mais grosseiros dos órgãos sexuais envolvidos na batalha do
leito e, com a fita métrica da retina, mede tamanho, diâmetro e largura e, com
a sensibilidade dos ouvidos, faz a listagem completa dos ruídos malcheirosos e
envergonhados e, com a suavidade do tato, apalpa espessura e asperezas,
descrevendo em seguida os túneis vulgares lubrificados pela saliva pastosa e as
rotas clandestinas perseguidas e finalmente permitidas e devassadas. Você
menospreza a ânsia gerada pelos movimentos repetitivos, ridículos e nada
monótonos, enxergando nela o prejuízo do suor que se tornara pegajoso e
nojento, a sujeira das peles lambuzadas que reclamam sabão e o banho de
chuveiro e o cansaço dos músculos que teriam optado pelo descanso naquela noite
de dia cansativo. Você descreve o gozo sexual enunciando os vários nomes do
líquido, quanto mais sórdidos os nomes, e nojentos, mais vantajosos, você
descreve o gozo sexual medindo a quantidade expelida de líquido e a frequência,
atendo-se a dados complementares como a indolência ou a agressividade do
esguicho. A memória das suas experiências amorosas com Roy são como os dois
espelhos ovais e reflexivos do guarda-roupa, que a decoração fim-de-século
permitia ter ao lado da cama do casal. Recordando, você se vangloria da
capacidade que tem de oferecer, pele, boca, dentes, órgãos, músculos e líquido
que satisfazem.”
(Days Of wine And
Roses – Silviano Santiago)
Um comentário:
JESUS TE AMA
Porque Deus amou o mundo que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
João 3:16
Porque Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.
João 3:17
Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, ea verdade, ea vida: ninguém vem ao Pai, senão por mim.
João 14:6
Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado.
Marcos 16:16
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