quinta-feira, 21 de maio de 2009

Travessuras da menina má - Mario Vargas Llosa

Editora: Alfaguara
ISBN: 978-85-7302-808-9
Opinião★★★☆☆
Páginas: 306
 
“‘Bem, não vamos esquecer que é chilena’, insistia, ‘e o forte das mulheres desse país não é a virtude’.”


“– É isso que os franceses chamam de fiasco – disse, rindo. – Sabe que é a primeira vez que me acontece com um homem?
– Quantos você teve? Deixe adivinhar. Dez? Vinte?
– Sou péssima em matemática – respondeu, irritada.”


“Tentei imaginar sua infância, pobre no inferno que é o Peru para os pobres, e sua adolescência, talvez ainda pior, as mil indignidades, entregas, sacrifícios, concessões que deve ter feito, no Peru, em Cuba, para ir em frente e chegar onde havia chegado. E como se tornara dura e fria por ter de se defender com unhas e dentes contra a desgraça, todas as camas que deve ter conhecido para não ser esmagada neste campo de batalha que suas experiências a convenceram que é a vida. Eu sentia uma ternura imensa por ela. Estava certo de que sempre iria amá-la, para minha fortuna e também para meu infortúnio.”


“Eu adorei Earl’s Court, fiquei apaixonado pela sua fauna. O bairro cheirava a juventude, música, vida sem antolhos nem cálculos, grandes doses de ingenuidade, vontade de aproveitar o dia, rejeição da moral e dos valores convencionais em busca de um prazer que excluía os velhos mitos burgueses da felicidade – o dinheiro, o poder, a família, a posição, o sucesso social – e se encontrava nas formas simples e passivas de existência: a música, os paraísos artificiais, a promiscuidade e um desinteresse absoluto por todos os outros problemas que atingiam a sociedade. Com seu hedonismo pacífico, tranquilo, os hippies não faziam mal a ninguém; tampouco se metiam a apóstolos, não queriam convencer nem recrutar a população com quem tinham rompido para levar sua vida alternativa: só queriam que os deixassem em paz, absortos em seu egoísmo frugal e seu sonho psicodélico. (...)
Muitos hippies, talvez a maioria, vinha das classes média ou alta, e sua rebelião era familiar, dirigida contra a vida cheia de regras dos pais, contra tudo aquilo que consideravam a hipocrisia dos seus costumes puritanos e as fachadas sociais que disfarçavam seu egoísmo, espírito de isolamento e falta de imaginação. Eles eram extremamente simpáticos com seu pacifismo, seu naturismo, seu vegetarianismo, a esforçada busca de uma vida espiritual que desse transcendência à sua rejeição de um mundo materialista e corroído por preconceitos classistas, sociais e sexuais dos quais não queriam nem saber. Mas tudo aquilo era anárquico, espontâneo, sem centro nem direção, sequer ideias, porque os hippies – pelo menos os que eu conheci de perto –, embora se identificassem com a poesia dos beatniks – Allen Ginsberg recitou seus poemas, cantou e dançou música indiana em plena Trafalgar Square diante de milhares de jovens –, na verdade liam bem pouco ou não liam nada. Sua filosofia não se baseava no pensamento e na razão, mas sim nos sentimentos: no feeling.”


“E lembrava sempre de um apocalíptico desplante de Salomón Toledano que um dia, na sala de intérpretes da Unesco, resolveu nos interpelar assim: “E se, de repente, sentirmos que vamos morrer e nos perguntarmos ‘Que rastro deixaremos da nossa passagem por este canil?’, a resposta seria: nenhum, não fizemos nada, além de falar pelos outros. O que significa, então, ter traduzido milhões de palavras se não nos lembramos de nenhuma, porque nenhuma merecia ser lembrada?” Não admirava que o Trujimán fosse impopular entre a turma da profissão.
Um dia disse a ele que o odiava, porque aquela frase, que vez por outra me vinha à memória, me convenceu da total inutilidade da minha existência. (...)
Por isso, em 1979, quando Salomón Toledano anunciou, muito excitado, que tinha aceitado uma proposta para trabalhar em Tóquio durante um ano, como intérprete exclusivo da Mitsubishi, eu me senti um pouco aliviado. Era uma boa pessoa, um espécime interessante, mas havia qualquer coisa nele que me entristecia e me assustava, porque me revelava certos meandros secretos do meu destino.”


“Mesmo o cinema, os concertos, a leitura, os discos eram apenas meios de ocupar o tempo e não atividades que me entusiasmassem, como antes. Também por esse motivo eu sentia rancor de Kuriko. Por sua culpa, eu perdera as ilusões que fazem da existência algo mais do que uma soma de rotinas.”


“Para qualquer pessoa, é mais difícil viver na verdade que na mentira”.

“Ele tinha orgulho de dizer que poucas vezes errou em toda sua longa vida profissional.
– Algumas, sim, porque só quem nunca erra é Deus, e talvez o Diabo, moço.”

Um comentário:

Ariane Muler disse...

Bela lista de livros, alguns eu li, Adoro Albert Camus e Umberto Eco e Herman Hesse ( q não está na sua lista ) Belo blog . Bjos