Editora: Livro distribuído
Opinião: ★★★★☆
Páginas: 103
Sinopse: “A
última palavra do desespero, da revolta, da maldição. A poesia tudo deve a
Rimbaud. Até agora ninguém o superou em audácia e imaginação.” (Henry Miller)
Embora tenha parado de escrever aos 21 anos, Arthur
Rimbaud (1854-1891) foi uma das vozes poéticas mais talentosas já vistas, e sua
pequena obra influenciou os maiores escritores dos séculos XIX e XX. Uma
temporada no inferno, de 1873 é o visceral relato em prosa
poética do homem perscrutando as suas profundezas e origens. De uma riqueza
imagética sem precedentes na literatura, os textos deste livro visitam sonhos e
terras distantes, desejo de solidão e sede de conhecimento, o passado ancestral
e a busca pelo desconhecido. Deles emerge o homem rebelde e aventureiro,
vivendo – como dizia Verlaine a respeito de Rimbaud – a própria “vida
inimitável”.
““Sempre serás hiena, etc...” exclama o demônio
que me coroou de tão amáveis papoulas. “Vence a morte com todos os teus apetites,
com todo o teu egoísmo e todos os pecados capitais”.”
“Não ignoro que fui sempre de raça inferior. Não
posso compreender a revolta. Minha raça só se rebelará para saquear: como os lobos
ao animal que não mataram.”
“A quem me alugar? Que besta é preciso adorar?
Que santa imagem atacar? Que corações destruirei? Que mentira devo sustentar? Sobre
que sangue caminhar?”
“O sono em meio às riquezas é impossível.”
“O tédio já não é o meu amor. As cóleras, a libertinagem,
a loucura, – dos quais conheço todos os impulsos e todas as consequências – todo
o meu fardo está deposto. Apreciemos sem vertigem a extensão de minha inocência.”
“Não sou prisioneiro de minha razão. Disse: Deus.
Quero a liberdade na salvação: como alcançá-la? Os gostos fúteis abandonaram-me.
Já não preciso de sacrifícios nem de amor divino. Não tenho saudades do século dos
corações sensíveis. Cada um tem sua razão, desprezo e caridade: retenho meu lugar
no alto desta angélica escala de bom senso.”
“E é ainda a vida! - Se a condenação é eterna!
Um homem que quer mutilar-se está condenado, não é assim? Acredito-me no inferno,
logo estou nele. É o cumprimento do catecismo. Sou escravo de meu batismo. Pais,
fizestes a minha desgraça e a vossa! Pobre inocente! - O inferno nada pode contra
os pagãos. - É a vida. Mais tarde, as delícias da condenação serão mais profundas.
Um crime, depressa, que as leis humanas me precipitem no nada.”
“Deveria ter o meu inferno pela cólera, meu inferno
pelo orgulho, – e o inferno da preguiça; um concerto de infernos. Morro. De cansaço.
É o túmulo, vou para os vermes, horror de horrores! Satã, farsante, queres dissolver-me
com teus feitiços? Exijo. Exijo! Um golpe de tridente, uma gota de fogo.”
“Ele diz: “Não amo as mulheres: sabemos que o
amor está por ser reinventado. Já não podem desejar senão uma posição segura. Alcançada,
o coração e a beleza são postos à margem: não resta senão álgido desdém, o alimento
do casamento, hoje (...)”.”
“Declara-me que sente remorsos, que tem esperanças:
isto não deve importar-me. Fala com Deus? Talvez devesse eu mesma dirigir-me a Deus.
Estou no mais profundo abismo, e não sei mais rezar.”
“A moral é uma fraqueza do cérebro.”
“Tive que viajar, distrair os encantamentos concentrados
em meu cérebro. Do mar, que eu amava como se ele me fosse lavar de uma mancha, via
emergir a cruz consoladora. Eu havia sido condenado pelo arco-íris. A Felicidade
era a minha fatalidade, o meu remorso, o meu verme: a minha vida sempre seria demasiado
imensa para dedicá-la à força e à beleza.”
“– Tive razão ao desprezar esses bons sujeitos
que não perderiam ocasião de uma carícia, parasitas do asseio e da saúde de nossas
mulheres, hoje que elas tão pouco se entendem conosco. Tive razão de todos os meus
desprezos: por isso me evado! Evado-me? Eu me explico. Ainda ontem suspirava: “Céus!
somos tantos os condenados cá em baixo! Quanto a mim faz tanto tempo que pertenço
a essa legião! Conheço-os um por um. Aliás nos reconhecemos sempre; detestamo-nos.
Ignoramos a caridade Somos, porém, corteses; nossas relações com o mundo corretíssimas”.
É assombroso. O mundo! Os mercadores, os ingênuos! – Não estamos desonrados. – Mas
os eleitos, como nos receberiam?”
“– Mas compreendo que meu espírito dorme. Se estivesse
sempre desperto, a partir deste instante, alcançaríamos logo a verdade que provavelmente
nos rodeia com seus anjos em pranto!...”
“Mas por que ter saudades de um eterno sol, se
estamos empenhados na descoberta da claridade divina, – longe dos que morrem nas
estações?”
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