sábado, 15 de abril de 2023

Clube da luta, de Chuck Palahniuk

Editora: LeYa

ISBN: 978-85-8044-449-0

Tradução: Cassius Medauar

Opinião: ★★★☆☆

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Páginas: 272

Sinopse: Considerado um clássico desde a sua publicação em 1996, Clube da luta é hoje reconhecido como um dos romances mais originais e provocativos de sua década. O humor negro de Chuck Palahniuk narra a história de um jovem funcionário que descobre que sua frustração e ira não podem ser acalmadas com o consumo desenfreado que a mídia oferece. Ele encontra alívio e redenção após horas de luta em pequenos clubes escondidos nos porões de bares da cidade. O clube da luta é idealizado por Tyler Durden, que acredita ter encontrado uma maneira de viver fora dos limites da sociedade e de suas regras sem sentido. Mas o que está por vir de sua mente pode piorar muito daqui para a frente.



“Primeiro Tyler me arruma um emprego de garçom, depois enfia um revólver na minha boca e diz que o primeiro passo para a vida eterna é morrer.”

 

 

“Onde estaria Jesus se ninguém tivesse escrito os evangelhos?”

 

 

“O primeiro clube da luta foi apenas Tyler e eu trocando socos.

Antes, se eu chegasse em casa nervoso, sabendo que minha vida não estava seguindo o plano de cinco anos que tinha traçado, bastava limpar o apartamento ou dar um trato no carro. Um dia eu morreria sem nenhuma cicatriz, mas teria um belo apartamento e um lindo carro. Muito belo mesmo e também muito lindo, até que a poeira se acumulasse neles ou então o novo dono os pegasse. Nada é estático. Até a Mona Lisa está caindo aos pedaços. Desde que o clube da luta começou metade dos meus dentes está mole.

Talvez o autoaperfeiçoamento não seja a resposta.

Tyler nunca conheceu o pai dele.

Talvez a autodestruição seja a resposta.

Tyler e eu ainda vamos juntos ao clube da luta, que fica no porão de um bar depois que ele fecha no sábado à noite, e a cada semana que você vai tem mais gente lá.

Tyler fica embaixo de uma luz bem no meio do porão de concreto escuro, e ele pode ver a luz refletindo em cem pares de olhos no escuro. A primeira coisa que ele grita é:

− A primeira regra do clube da luta é que você não fala sobre o clube da luta.

− A segunda regra do clube da luta é que você não fala sobre o clube da luta – Tyler grita.

Já eu convivi com meu pai por uns seis anos, mas não me lembro de nada. Ele começa uma vida nova com outra família em outra cidade a cada seis anos. Isso não parece muito com ele formando uma família, e sim com ele abrindo uma franquia.

O que você vê no clube da luta é uma geração de homens criados por mulheres.

Tyler fica ali parado embaixo da luz cercado pela escuridão de mais de meia-noite do porão cheio de homens e recita as outras regras: dois homens por luta, uma luta de cada vez, nada de sapatos ou camisas e as lutas duram o quanto tiverem que durar.

− E a sétima regra – Tyler grita −, é que se for sua primeira noite no clube da luta você tem que lutar.

O clube da luta não é como futebol americano na televisão. Você não está assistindo a um bando de homens que não conhece e que estão em alguma parte do mundo batendo uns nos outros ao vivo, mas com dois minutos de atraso na imagem por causa do satélite, comerciais de cerveja a cada dez minutos e uma pausa para a identificação do canal. Depois de ter estado no clube da luta, assistir ao futebol americano é como assistir a um filme pornô quando poderia estar transando de verdade e loucamente.

O clube da luta lhe dá uma razão para ir sempre à academia, para cortar cabelos e unhas bem curtos. Na academia há sempre um monte de caras tentando parecer homens, como se ser homem significasse parecer com o que um escultor ou um diretor de arte dizem que deve ser.”

 

 

“O que acontece no clube da luta não acontece em palavras. Alguns caras precisam de uma luta toda a semana. Nesta semana Tyler diz que serão apenas os primeiros cinquenta caras que passarem pela porta, e só. Não mais do que isso.

Na semana passada eu escolhi um cara e nós dois entramos na lista para uma luta. Ele deve ter tido uma semana ruim, pois prendeu meus braços atrás de minha cabeça e bateu meu rosto contra o chão de concreto até meus dentes cortarem as bochechas, o olho ficar inchado e sangrar, e, depois que eu disse para parar, olhei para baixo e vi metade do meu rosto impresso em sangue no chão.

Tyler ficou em pé ao meu lado e nós dois ficamos olhando para o grande O da minha boca pintado com sangue e a pequena fenda do meu olho olhando para nós lá do chão, e então Tyler diz:

− Legal.

Aperto a mão do outro cara e digo que foi uma ótima luta.

O cara responde:

− Que tal outra na semana que vem?

Tento sorrir por baixo de todos os inchaços e digo: olha só para mim. Que tal no mês que vem?

Você não se sente tão vivo em nenhum outro lugar do jeito que se sente no clube da luta. Quando é você e outro cara sob aquela única luz no meio e todos os outros assistindo. O clube da luta não tem a ver com ganhar ou perder as lutas. E não tem a ver com palavras. Você vê um cara vir aqui pela primeira vez e a bunda dele parece uma massa de pão branco. Quando o vê aqui seis meses depois, ele parece esculpido em madeira maciça. Esse cara acredita que pode lidar com qualquer coisa. Aqui há barulhos e grunhidos igual na academia, mas o clube da luta não tem a ver com ficar bonito. Há gritos histéricos em línguas diferentes igual em uma igreja, e quando acorda no domingo à tarde você se sente salvo.

Depois de minha última luta, o cara que me enfrentou passa um pano no chão enquanto ligo para meu convênio de saúde para liberar minha entrada no pronto-socorro. No hospital, Tyler diz que eu caí.

Às vezes Tyler fala por mim.

Eu fiz isso comigo mesmo.

Lá fora o sol começava a nascer.

Você não fala sobre o clube da luta porque, a não ser durante cinco horas, das duas às sete da manhã do domingo, o clube da luta não existe.

Quando inventamos o clube da luta, nem eu nem Tyler havíamos estado em uma briga. Quem nunca esteve em uma luta pensa várias coisas. Pensa em se machucar, em sobre o que é capaz de fazer com outro homem. Fui o primeiro cara com que Tyler se sentiu seguro o bastante para perguntar sobre isso, quando estávamos bêbados em um bar onde ninguém ligava pra nós, então Tyler falou:

− Quero que me faça um favor. Quero que me de um soco o mais forte que conseguir.

Eu não queria fazer aquilo, mas Tyler me explicou tudo, falando sobre não querer morrer sem cicatrizes, de estar cansado de ver apenas os profissionais lutando e de querer saber mais sobre si mesmo.

E sobre autodestruição.

Naquela época a minha vida parecia completa demais, e talvez tenhamos que quebrar tudo para construir algo melhor em nós mesmos.”

 

 

“Meu pai sempre dizia:

− Case antes do sexo ficar tedioso, senão você nunca se casará.

Minha mãe dizia:

− Nunca compre nada com zíper de náilon.

Eles nunca disseram nada que valesse a pena ser bordado em uma almofada.”

 

 

“Tem um monte de coisas que não queremos saber sobre as pessoas que amamos.”

 

 

“Tenho me comportado muito mal.

Atendo o telefone e é Tyler, que diz:

− Saia agora. Tem uns caras te esperando no estacionamento.

Pergunto que caras.

− Eles estão esperando – Tyler responde.

Sinto cheiro de gasolina em minhas mãos.

Tyler continua:

− Pegue a estrada. Eles têm um carro lá fora. Um Cadillac.

Ainda estou dormindo.

Agora não tenho certeza se Tyler é um sonho.

Ou se sou parte de um sonho dele.”

 

 

“− Se você é homem, é cristão e vive na América, seu pai é o seu modelo de Deus. E se você não conheceu seu pai, se ele desapareceu, morreu ou quase nunca está em casa, no que você acredita em relação a Deus?

Isso tudo é o dogma de Tyler Durden. Rabiscado em pedacinhos de papel enquanto eu dormia e depois entregues a mim para que digitasse e fizesse cópias em meu trabalho. Já li tudo. Provavelmente até o meu chefe leu tudo.

− O que você acaba fazendo – o mecânico continua – é passar a vida procurando um pai e um Deus. O que precisa considerar é a possibilidade de Deus não gostar de você. Pode ser que Deus nos odeie. Isso não é a pior coisa que poderia acontecer.

Tyler achava que conseguir chamar a atenção de Deus sendo mau era melhor que não conseguir atenção nenhuma. Talvez porque seja melhor o ódio de Deus do que a indiferença Dele.

Se você pudesse ser o pior inimigo de Deus ou um nada, o que escolheria?

Somos os filhos do meio de Deus, de acordo com Tyler Durden, e não temos lugar especial na história nem atenção.

A menos que consigamos chamar a atenção de Deus, não teremos a menor chance de danação ou redenção.

O que é pior, o Inferno ou o nada?

Apenas se formos pegos e punidos é que poderemos ser salvos.

− Queime o Louvre – o mecânico diz – e limpe a bunda com a Mona Lisa. Dessa forma, Deus pelo menos saberá nosso nome.

Quanto mais fundo você descer, mais alto voará. Quanto mais longe correr, mais Deus vai o querer de volta.

− Se o filho pródigo nunca tivesse saído de casa, o bezerro cevado ainda estaria vivo.

Não é o suficiente ser apenas mais um dentre os grãos de areia da praia e as estrelas do céu.”

 

 

“− Creiam em mim e vocês morrerão para sempre.”

 

 

“− Eu vejo os homens mais fortes e inteligentes que já viveram – ele diz, o rosto delineado pelas estrelas que aparecem pela janela do motorista. – E esses homens estão enchendo tanques de carros e servindo mesas.

A inclinação da testa, as sobrancelhas, a linha do nariz, os cílios, a curva dos olhos, o contorno plástico da boca, o jeito de falar, tudo delineado em preto pelas estrelas.

− Se pudéssemos colocar esses homens em campos de treinamento e terminar de criá-los.”

 

 

“Pergunto sobre Tyler em todos os lugares para os quais eu vou.

Se eu o encontrar, as doze carteiras de motorista dos meus sacrifícios humanos estarão no meu bolso.

Em cada bar que entro, em todos eles mesmo, vejo caras detonados. Em cada bar eles me abraçam e querem me pagar uma cerveja. É como se eu já soubesse quais bares têm clubes da luta

Pergunto se eles já viram um cara chamado Tyler Durden.

É idiotice perguntar se eles conhecem o clube da luta.

A primeira regra do clube da luta é não falar sobre o clube da luta.

Mas por acaso viram Tyler Durden?

Eles respondem que nunca ouviram falar dele, e me chamam de senhor.

Mas talvez possa encontrá-lo em Chicago, senhor.”

 

 

““Somos os filhos do meio da história, criados pela televisão para acreditar que algum dia seremos milionários, astros de filme ou da música, mas não seremos. E estamos entendendo isso agora – Tyler falou. – Então não venha foder com a gente.”

 

 

“Ah, que besteira. Isto é um sonho. Tyler é uma projeção. Ele é um transtorno dissociativo de identidade. Um estado de fuga psicogênica. Tyler Durden é minha alucinação.

− Que se foda essa merda toda – Tyler fala. – Talvez você seja minha alucinação esquizofrênica.

Eu estava aqui primeiro.

Ele responde:

− Sim, sim, claro. Bom, vamos ver quem estará aqui por último.”

 

 

“Tem um velho ditado que diz que você sempre mata aquilo que ama, bom, a recíproca também é verdadeira.

E a recíproca é muito verdadeira.”

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