Editora: Civilização Brasileira
ISBN: 978-65-5802-063-9
Tradução: Alcione Araújo e Pedro Hussak
Opinião: ★★★☆☆
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Páginas: 142
Sinopse: Neste drama
estão todos mortos e, ao contrário do que acreditavam, percebem que o inferno
não é uma câmara de tortura, mas uma sala de estar ao estilo do Segundo Império
francês. Lá eles irão – eternamente – espionar, provocar, tentar seduzir e,
acima de tudo, dilacerar uns aos outros. “O inferno são os outros.” Essa é,
certamente, a frase que pontua Entre quatro paredes, peça escrita pelo
filósofo existencialista Jean-Paul Sartre em 1944 e publicada no ano seguinte.
“GARCIN: — Você sabe o que as pessoas falam do lado de
lá, né?
CRIADO: — Sobre o quê?
GARCIN:— Bem... (Com
um gesto vago e amplo.) Sobre tudo isso.
CRIADO: — Como é que você pode acreditar nessas
besteiras? Gente que nunca botou os pés aqui. Porque se tivessem vindo...
GARCIN:— É.
Os dois riem.
GARCIN (Ficando
sério de repente.):— Cadê as estacas?
CRIADO: — O quê
GARCIN:— As estacas, as grelhas, os foles de couro?
CRIADO: — Você está de brincadeira?
GARCIN (Olhando
para ele.):— Não, não. Eu não estou de brincadeira. (Silêncio. Anda pela sala.) Sem espelhos nem janelas, é claro. Nada
de quebrar.”
“GARCIN:— Então você me achou com cara de carrasco? E
como é que se reconhecem os carrascos? Você pode me dizer?
INÊS: — Eles parecem estar sempre com medo.
GARCIN:— Medo? Essa foi demais. E de quem? Das suas
vítimas?
INÊS: — Sei do que estou falando, eu me olhei num
espelho.”
“INÊS: — Você é muito bonita. Queria ter flores para lhe
dar as boas-vindas.
ESTELLE: — Flores? Ah, sim. Eu adorava as flores. Mas
aqui não dá, elas iriam murchar: é quente demais. Enfim, o essencial é manter o
bom humor, não é mesmo? Você...
INÊS: — Sim, na semana passada. E você?
ESTELLE: — Eu? Ontem. A cerimônia nem acabou ainda. (Ela fala com muita naturalidade, mas como
se estivesse vendo o que descreve.) O vento balança o véu da minha irmã.
Ela faz o que pode pra chorar. Vamos, vamos, mais um esforço. Pronto! Duas
lágrimas, duas lagriminhas brilhando embaixo do crepe de seda. Nossa, Olga
Jardet está horrorosa esta manhã. Ela está segurando a minha irmã pelo braço.
Não chora por causa do rímel. Acho que no seu lugar eu também... era minha
melhor amiga.
“ESTELLE: — E, enfim, o que tudo isso significa? Talvez
nós nunca tenhamos sido tão vivos. Se for absolutamente necessário dar nome a
este... estado de coisas, proponho que nos intitulemos “os ausentes”, seria
mais correto. Há quanto tempo você está ausente?
GARCIN:— Mais ou menos um mês.
ESTELLE: — De onde você é?
GARCIN:— Do Rio.
ESTELLE: — E eu, de Paris. (Pausa longa.) Você ainda tem alguém por lá?
GARCIN:— Minha mulher. (Mesmo gesto que Estelle.) Ela foi ao quartel, como todos os dias;
não a deixaram entrar. Olha entre as barras da grade. Ela ainda não sabe que eu
estou ausente, mas está desconfiando. Agora, está andando. Está toda de preto.
Não está chorando; nunca chorava mesmo. Está o maior sol, e ela está toda de
preto andando pela rua deserta, com esses grandes olhos de vítima. Ah! Ela me
dá nos nervos.”
“ESTELLE: — Eu não posso suportar que estejam esperando
alguma coisa de mim. Me dá logo vontade de fazer tudo ao contrário.”
“GARCIN:— Se ao menos tivessem me colocado com homens...
os homens sabem ficar calados.”
“INÊS: — Não tenho mais nenhum álibi (...). Estou seca
por dentro. Não posso dar nem receber; como é que você quer que eu te ajude? Um
galho morto que o fogo vai queimar.”
“INÊS: — Tudo é uma armadilha. Mas que me importa? Eu
também sou uma armadilha.”
“INÊS: — Somente os atos decidem a respeito do que a
gente quis.”
“GARCIN:— Então, é isto o inferno. Eu não poderia
acreditar... Vocês se lembram: enxofre, fornalhas, grelhas... Ah! Que piada.
Não precisa de nada disso: o inferno são os Outros.”
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