Editora: Novo Século
ISBN: 978-85-4280-412-6
Tradução: Michele Gerhardt MacCulloch
Opinião: ★★★☆☆
Páginas: 398
Sinopse: Nessa versão em prosa da graphic novel,
Stuart Moore adapta uma das histórias mais famosas do universo Marvel para um
livro de tirar o fôlego.
Homem de Ferro e Capitão
América são dois membros essenciais para os Vingadores, a maior equipe de
super-heróis do mundo. Quando uma trágica batalha deixa um buraco na cidade de
Stamford, matando centenas de pessoas, o governo americano exige que todos os
super-heróis revelem sua identidade e registrem seus poderes.
Para Tony Stark – o Homem de
Ferro – é um passo lamentável, porém necessário, o que o leva a apoiar a lei.
Para o Capitão América, é uma intolerável agressão à liberdade cívica.
Assim começa a Guerra Civil.
“Agora, porém, Tony
começava a notar que alguma outra coisa o incomodava. Thor não havia sido apenas
seu amigo; o deus do trovão era o eixo, o centro dos Vingadores. Tony e Capitão
eram homens cheios de força de vontade, cada um com seus pontos fortes e fracos:
o Capitão era guiado pelo coração e pelo instinto, Tony pela fé no poder da indústria
e da tecnologia. Muitas vezes depois que a equipe foi fundada, eles quase foram
aos tapas por causa de alguma estratégia ou sacrifício. E todas as vezes, Thor levantou
aquela voz retumbante que não deixava espaço para discussões. Ele os lembrava de
suas responsabilidades ou ria da tolice deles, e sua risada gigantesca sempre os
unia. Ou, então, ele apenas se colocava atrás dos dois e dava tapinhas em suas costas,
com tanta força que quase fundia a armadura de Tony em sua pele. (...)
Tony sofrera por Thor
no último mês. A dor e a frustração que sentiam foi motivo de discussão entre Os
Vingadores: após dezenas, centenas de batalhas juntos, o amigo e companheiro deles
aparentemente morrera sozinho, em uma guerra disputada bem longe dali, em algum
outro plano de existência totalmente diferente. Os Vingadores não apenas estavam
impotentes para ajudar o amigo, como provavelmente não poderiam sequer ter percebido
a batalha que tirou a vida dele.”
“Aranha se debruçou
sobre uma intricada máquina, uma treliça de vidro e metal. Ben franziu a testa.
– Melhor não mexer
nisso.
– Foi mal. Reed não
vai gostar?
– Pior. Ele vai passar
vinte minutos explicando o que ela faz.”
“No momento em que
Tony Stark subiu na tribuna, sentiu um frio na barriga. Olhou em volta, confuso.
Já havia participado de dezenas de coletivas ali, na sala de imprensa principal
da Stark Enterprises.
De repente, ele se
deu conta: É isso. A última vez que a sala de imprensa ficou tão cheia assim foi
há dois anos, quando – impulsivamente e sem planejar – revelou ao mundo o segredo
da sua vida: que ele era o Homem de Ferro.
Tony limpou a garganta
e se aproximou do microfone.
– Já estivemos aqui
antes?
Uma onda de risos encheu
a sala. Tony
– Geralmente, quando
estou de pé na frente de um grupo de pessoas, começo com estas palavras: Meu nome
é Tony. E eu sou alcoólatra.
A multidão riu novamente,
um pouco nervosa. Pelo menos, não são hostis.
– Isso aqui é diferente,
claro. Mas estranhamente similar. – Ele fez uma pausa de efeito, tomando um gole
de sua água com gás. – Uma das primeiras coisas que se aprende durante a recuperação
é que você tem de jogar limpo com as pessoas, em todos os níveis. Comecei esse processo
dois anos atrás. A minha identidade como Homem de Ferro é de conhecimento público,
assim como meus impostos, minha história familiar e o histórico detalhado de meus
dolorosos fracassos pessoais. A minha vida não é apenas um livro aberto; é praticamente
um texto eletrônico com código aberto com licença da Creative Commons – mais risos.
– Mas existe uma coisa
que as pessoas que não têm o meu… problema… costumam não entender. Um alcoólatra
não busca ajuda quando as coisas estão indo bem para ele. Alguns de nós precisam
chegar ao fundo do poço. Outros chegam a um ponto em que o estilo de vida, os efeitos
cumulativos sobre si mesmos e sobre outras pessoas ficam pesados demais para suportar.
Ainda assim, alguns experimentam um momento de clareza. Um breve e vívido
lampejo de seu futuro, do destino terrível que espera por ele se não mudar.
– Senhoras e senhores,
Stamford (quando o combate dos Novos Guerreiros contra um grupo de vilões resultou
em mais de novecentas mortes de civis) o acidente que foi o meu momento de clareza.
Tem muita coisa na minha vida das quais me envergonho, mas tenho muito orgulho da
minha carreira como super-herói. Salvei milhares de vidas, coloquei centenas de
criminosos perigosos atrás das grades e impedi dezenas de catástrofes antes que
elas sequer pudessem acontecer. Fundei os Vingadores, a primeira equipe de super-heróis
do mundo, cuja longa história de bons trabalhos fala por si.
– Não, não, não aplaudam.
Não quero o aplauso de vocês hoje; não é por isso que estou aqui. Porque outra lição
que aprendi é que decidir não tomar o primeiro gole não é o fim da jornada de um
alcoólatra em direção à luz. É apenas o primeiro passo.
– E para mim, para
a comunidade super-humana, da qual me orgulho fazer parte, a minha decisão de ir
a público, de revelar os detalhes da minha vida para vocês, foi o Primeiro Passo.
Hoje é o próximo passo.
Ele fez uma pausa,
a garganta seca. Seu olhar correu pela sala, analisando o mar de repórteres, escrevendo
e digitando furiosamente em seus dispositivos eletrônicos.
– Super-humanos, meta-humanos,
heróis, vilões. Como quer que vocês os chame, eles se proliferaram enormemente na
última década. Alguns nasceram com habilidades físicas e mentais superiores; outros
recebem seus poderes por meio de acidentes. Outros, como eu, desenvolveram meios
tecnológicos de melhorar seus dons naturais. Outros, sem nenhum poder de verdade,
fazem justiça com as próprias mãos, vestindo fantasias e saindo nas ruas. E outros
ainda, são seres alienígenas, total ou parcialmente humanos.
– Vivemos em um mundo
assustador e incerto. Guerras estouram no Oriente Médio e em outros lugares; o medo
do terrorismo ainda não acabou. Em todo o país, famílias enfrentam a ameaça de ruína
financeira, de não realizar o Sonho Americano que sempre foi a promessa desta nação.
O Sonho que tem sido tão bom pra mim, pessoalmente.
– Então, estou aqui
hoje, um homem, para prometer a vocês: eu farei o que puder para tornar o mundo
um pouco menos assustador. Não posso resolver a economia mundial, e não posso fazer
muito a respeito de ataques nucleares ou biológicos. Mas eu posso, e vou, resolver
o problema das armas super-humanas de destruição em massa.
– De hoje em diante,
qualquer homem, mulher ou alienígena que for para as ruas ou para os céus tentar
usar seus dons naturais ou artificiais em um cenário público, deve seguir os seguintes
passos. Primeiro, deve se registrar on-line no Departamento de Segurança Nacional,
um processo rápido e simples. Entre as informações requeridas estão: o verdadeiro
nome e endereço do solicitante, informações para contato 24 horas, nível de experiência
e extensão das habilidades super-humanas, se tiver.
– Esse formulário será
rapidamente avaliado por mim e pelo Secretário de Defesa – o secretário assentiu.
– Dependendo da nossa avaliação, várias coisas podem acontecer depois. A pessoa
pode ser aprovada para atividade meta-humana sob os termos da Lei de Registro de
Super-humanos. Ela receberá um contrato severo, informando sobre as diretrizes de
comportamento apropriado, e um distintivo emitido pela S.H.I.E.L.D. Essa pessoa
também receberá um salário de acordo com sua experiência e habilidade, além de plano
de saúde, tudo isso supervisionado pelo governo federal e pela S.H.I.E.L.D.
Tony fez uma pausa
para respirar.
– Se o solicitante
não tiver muita experiência, ele receberá uma licença condicional, que o permitirá
que exercer suas habilidades depois, e só depois, de ter concluído um curso intensivo
de oito semanas em um dos vários centros de treinamento que serão estabelecidos
pela S.H.I.E.L.D. Esses centros são ultrassecretos e ficam longe de qualquer grande
centro urbano, assim não haverá nenhum perigo para a população civil durante o processo
de treinamento. Uma vez que o solicitante tiver concluído o curso, ele será avaliado
por um conselho formado por super-heróis experientes. Se for considerado responsável
e competente no uso de seus poderes, uma licença total será emitida. Caso contrário,
ele terá a opção de retomar o curso de treinamento ou se aposentar.
– É claro que haverá
aqueles solicitantes que mostrarão ser um perigo real ou potencial para o público,
seja por imprudência, falta de moral ou pela natureza incontrolável de seu poder.
A eles será negada a oportunidade de praticar suas habilidades. Acreditamos que
isso seja justo. Um homem pode possuir o conhecimento de como construir uma bomba
atômica, mas isso não lhe dá o direito de montar uma no meio da Times Square – Tony
fez uma pausa. – Acreditem em mim, descobri isso aos nove anos.
O grupo riu. Está dando
certo, pensou Tony. Eles estão realmente me apoiando.
– Vou responder a algumas
perguntas agora, depois tenho uma surpresa para vocês. Mas antes que façam qualquer
pergunta, quero lembrar-lhes que nada disso é decisão minha. É a lei; foi apropriadamente
votada pelo Congresso e assinada pelo presidente. Ele me pediu, pessoalmente, para
supervisionar a implementação da Lei de Registro de Super-humanos, e eu aceitei.
É meu privilégio e dever em vários aspectos.”
“Capitão tossiu, depois
fez uma careta. Tudo doía: seu rosto, seus braços, suas pernas. Tony realmente lhe
maltratara.
Falcão terminou de
colocar a atadura e deu um passo atrás.
– Você parece uma múmia
que acabou de fugir da tumba – disse o homem alado. – Mas ainda lhe sobraram alguns
dentes.
– E tenho a intenção
de usá-los – respondeu o Capitão.”
“Outro raio. Reed virou-se
para olhar para Thor, majestoso e cruel no centro da carnificina.
Chuva pingava de seus
cabelos louros, mal o tocando.
– Thor – chamou Reed.
– Pode parar. O esquadrão de limpeza da S.H.I.E.L.D. assume daqui.
– Peter – disse Tony.
– Os prisioneiros ficam por sua conta. Precisamos fazer uma lista deles antes…
– CUIDADO!
Tony levantou a cabeça
– tarde demais. Golias agigantava-se sobre eles, com pelo menos seis metros de altura
– Sue nunca o tinha visto tão alto. O grito de dor de Golias enchia o ar; ele não
tinha nenhuma proteção contra a frequência das ondas. Mas segurava sobre a cabeça
um enorme tonel químico, pingando um líquido verde.
Com um uivo de agonia,
ele jogou sua carga em cima do Homem de Ferro.
Adaga – olhos arregalados
em agonia – disparou uma saraivada de raios. O tonel atingiu o Homem de Ferro; os
raios atingiram o tonel; e o tonel explodiu formando uma enorme bola de fogo.
Mulher-Hulk, foi atingida
pela bola de fogo, gritou e correu, sua roupa estava em chamas. Viúva Negra se apressou
para ajudá-la.
As chamas estavam altas,
chamuscando um helicóptero da S.H.I.E.L.D. que pairava sobre a fábrica. A aeronave
se inclinou, girou no céu – e atingiu Miss Marvel, que estava em pleno voo. Ela
berrou, assustada, e caiu no solo.
Meu Deus, pensou Sue. Será que eles mataram Tony?
Lentamente, a bola
de fogo diminuiu. E, no seu centro, agachado e apoiado em um joelho, apareceu a
silhueta do Homem de Ferro.
– Estou bem – a voz
de Tony soou no transmissor de Sue. – Só um pouco queimado.
E então, ela notou:
os gemidos em sua orelha cessaram.
A bola de fogo não
matou Tony, mas desativou a frequência de ondas. A Resistência estava se levantando:
Gavião Arqueiro, Falcão, Tigresa, Adaga e os Jovens Vingadores.
Capitão América levantou
um braço e gritou:
– Atacar!
Em seguida, ele tombou
pra frente e caiu no chão.
Mais uma vez, o mundo
explodiu em trajes correndo e golpes poderosos. Homem-Aranha encarou Célere, seus
tentáculos se esforçando para pegar o adolescente a toda velocidade. Falcão alçou
voo, bombardeando o Coisa em um mergulho. Gavião Arqueiro tentava acertar uma flecha
na Viúva Negra; ela contra -atacava lançando seus ferrões no herói, que se esquivava.
Miss Marvel levantou
devagar do chão da fábrica, recuou ao tentar se apoiar no braço ferido. Seus olhos
estavam vermelhos de fúria.
Capitão América estava
deitado imóvel, de cara com o concreto. Falcão gritou para Gavião Arqueiro:
– Gavião! Pegue o Capitão.
Temos que tirá-lo daqui!
Sue virou-se para Reed
e implorou:
– Reed, temos que acabar
com isso!
Sue teve a impressão
de ver uma faísca de medo nos olhos dele.
– Eu já desativei o
Thor.
– Como assim, desativou?
Tony Stark veio andando
trôpego, sua armadura estalando. A explosão o havia danificado.
– Reagrupar – ordenou
Tony. – Temos de…
Mas Golias virou o
seu enorme corpo na direção dos Vingadores reunidos. Abaixou-se, agarrou o chão
embaixo de seus pés e puxou. Eles tombaram e voaram. Rajadas de poder por
todo lado; Miss Marvel se debatia no ar. Homem-Aranha lançou uma teia que agarrou-se
a uma viga rachada.
Thor virou-se para
assistir ao caos. Raios brilhavam.
Falcão mergulhou do
céu, carregando Gavião Arqueiro, que apontou para o corpo imóvel do Capitão.
Lentamente, o deus
do trovão pegou seu martelo.
Golias virou-se para
ele.
– Prepare-se para o
retorno mais breve da história, Thor.
Não, pensou Sue. Oh, não…
O martelo de Thor brilhou,
com mais intensidade que nunca. Com um estrondo ensurdecedor, raios emanaram dele,
avançando pelo ar…
… e atingiu diretamente
o peito de Golias.
Havia sangue, raios
e chuva, e o corpo de seis metros de altura de Golias caiu para trás no muro dos
fundos da fábrica. Aterrissou quebrando plástico, metal e concreto.
Ainda invisível, Sue
rastejou até ele. Não se importava com o que Reed pensava. Não se importava se a
S.H.I.E.L.D. a pegasse. Não se importava se Thor lançasse mais raios, fazendo dela
outra vítima.
Tocou a mão gelada
de um metro de comprimento de Golias, viu fumaça saindo do buraco onde antes ficava
o coração dele. Ela soube: Golias estava morto.
A chuva continuava
caindo com força. Mas as batalhas haviam cessado. Miss Marvel segurava o próprio
braço, estremecendo de dor. Mulher-Hulk estava caída, as queimaduras cobriam metade
de seu corpo. Homem de Ferro ainda estava ajoelhado, sem equilíbrio, tentando reiniciar
seus sistemas criticamente danificados.
A S.H.I.E.L.D. sobrevoava,
assistindo com frios olhos mecânicos.
Todos eles permaneciam
imóveis, fitando o corpo de seis metros de um herói que ousou desafiar a Lei de
Registro de Super-humanos.
Sue não sentia nada.
Só frio. Só conseguia pensar em uma coisa, a única que vinha à sua mente, a frase
que Tony Stark pronunciara em sua famosa coletiva de imprensa: “Stamford foi meu
momento de clareza”.
Este, ela percebeu, é o meu.”
“Capitão escolheu as
palavras com cuidado.
– E você está disposto
a deixá-los impunes por isso?
Adaga fez uma careta.
– Eles podem fazer
o que quiser agora. Thor está do lado deles.
– Aquele não era Thor
– afirmou Capitão. – Era algum Frankenstein que eles construíram para o exército
de super-heróis deles. Você não conhecia Thor, garota. Não pense… nem por um momento…
que ele teria assassinado um homem bom como Bill Foster.”
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