Editora: Geração
ISBN: 978-85-8130-201-0
Opinião: ★★★★☆
Páginas: 400
Quem é
supremamente vaidoso, se acha
sempre
supremamente modesto.
Esse ser
existe materializado em FhC
(superlativo
de PhD). Um umbigo delirante.
Millôr
Fernandes (1923-2012)
“Essa é do tempo em que o melhor jornal do Brasil era o Jornal
do Brasil – o JB. Em suas páginas de opinião, abrigava a coluna do
humorista Millôr Fernandes, sobre quem o cineasta Glauber Rocha escreveu a
outro grande humorista:
“Não adianta, Henfil. O homem mais inteligente do Brasil é o Millôr
Fernandes.”
Nas páginas do JB, Millôr deu início à desconstrução de dois
ex-presidentes da República que escreveram livros. Em 2002, ele
publicaria Crítica da Razão Impura ou O Primado da
Ignorância, sobre duas obras, de José Sarney e FHC. De Brejal dos Guajas,
de Sarney , ele diz que “só um gênio conseguiria fazer um livro errado da
primeira à última página”. Ele escreve quando Sarney, na presidência da
República, “ameaça” dedicar-se apenas à literatura, o que, segundo o humorista,
já seria motivo de impeachment:
Brejal dos Guajas só pode ser considerado um livro porque, na
definição da Unesco, livro “é uma publicação impressa, não periódica com um
mínimo de 49 páginas”. O Brejal tem 50. Materialmente Sir Ney excedeu-se em uma
página. Contam os íntimos que o “escritor”, depois de 20 anos de esforço bateu
o ponto final na página 50 e gritou, aliviado, pra dona Kyola: “Mãiê, acabei!”
Já sobre o livro de FHC, Dependência e Desenvolvimento na
América Latina, escrito durante o “exílio” no Chile em 1970 junto com o
chileno Enzo Faletto, Millôr explica primeiro por que resolveu ler:
De uma coisa ninguém podia me acusar – de ter perdido meu tempo lendo FhC. Achava
meu tempo mais bem aproveitado lendo o Almanaque da Saúde da Mulher.
Mas quando o homem se tornou vosso presidente achei que devia ler o Mein
Kampf dele, quando lutava bravamente, no Chile, em sua Mercedes (“A
mais linda Mercedes azul que vi na minha vida”, segundo o companheiro Weffort,
na tevê, quando ainda não sabia que ia ser ministro), e nós ficávamos aqui,
numa boa, papeando descontraidamente com a amável rapaziada do Dops/Doi-Codi.
Quando afinal arranjei o tal opus magnum – Dependência e
Desenvolvimento na América Latina –, tive que dar a mão à palmatória. O
livro é muito melhor do que eu esperava. De deixar o imortal Sir Ney morrer de
inveja. Sem qualquer parti pris, e sem poder supervalorizar a obra,
transcrevo um trecho, apanhado no mais absoluto acaso, para que os leitores
babem por si:
“É evidente que a explicação técnica das estruturas de dominação no caso
dos países latino-americanos, implica estabelecer conexões que se dão entre os
determinantes internos e externos, mas essas vinculações, em qualquer hipótese,
não devem ser entendidas em termos de uma relação ‘causal-analítica’, nem muito
menos em termos de uma determinação mecânica e imediata do interno pelo
externo. Precisamente o conceito de dependência, que mais adiante será
examinado, pretende outorgar significado a uma série de fatos e situações que
aparecem conjuntamente em um momento dado e busca-se estabelecer, por seu
intermédio, as relações que tornam inteligíveis as situações empíricas em
função do modo de conexão entre os componentes estruturais internos e externos.
Mas o externo, nessa perspectiva, expressa-se também como um modo particular de
relação entre grupos e classes sociais de âmbito das nações subdesenvolvidas. É
precisamente por isso que tem validez centrar a análise de dependência em sua
manifestação interna, posto que o conceito de dependência utiliza-se como um
tipo específico de ‘causal-significante’ – implicações determinadas por um modo
de relação historicamente dado e não como conceito meramente ‘mecânico-causal’,
que enfatiza a determinação externa, anterior, que posteriormente produziria
‘consequências internas’.”
E ainda pediu para que esqueçamos o que escreveu. Quem é que
conseguiria se lembrar?
Millôr, na sequência, lança um concurso:
Qualquer leitor que conseguir sintetizar, em duas ou três linhas (210
toques), o que o ociólogo preferido por 9 entre 10 estrelas da ociologia da
Sorbonne quis dizer com isso, ganhará um exemplar do outro clássico já
comentado na primeira parte desta obra:Brejal dos Guajas – de José
Sarney.
Millôr desafia seus leitores, e você que me lê:
“Se não acreditam que o trecho foi escolhido ao acaso, leiam o livro
todo. Vão ver o que é bom!”
O humorista destaca passagem mais
ininteligível do que se estivesse escrita em sânscrito:
“É oportuno assinalar aqui a influência dos livros como de Talcott
Parsons, The Social System, Glencoe, The Free Press 1951, ou o de
Robert K. Merton, Social Theory and Social Structure, Glencoe, The
Free Press 1949, desempenharam um papel decisivo na formulação desse tipo de
análise do desenvolvimento. Em outros autores enfatizaram-se mais os aspectos
psicossociais da passagem do tradicionalismo para o modernismo, como em Everett
Hagen, On the Theory of Social Change, Home Wood, Dorsey Press
1962, e David McClelland, The Achieving Society, Princeton, Van Nostrand 1961.
Por outro lado, Daniel Lemer, em The Passing of Traditional Society:
Modernizing the Middle East, Glencoe, The Free Press 1958, formulou em
termos mais gerais, isto é, não especificamente orientados para o problema do
desenvolvimento, o enfoque do tradicionalismo e do modernismo como análise dos
processos de mudança social.”
Millôr nos convida a apreciar a pândega literária:
Amigos, não é genial? Formulou (em termos mais gerais,
isto é, não especificamente orientados para o problema do
desenvolvimento) o enfoque (do tradicionalismo e do
modernismo) como análise (dos processos de mudança social).
Formulou o enfoque como análise!
É demais! É demais! E sei que o vosso sábio governante, nosso FhC,
espécie de Sarney barroco-rococó, poderia ir ainda mais longe.
Poderia analisar a fórmula como enfoque.
Ou enfocar a análise como fórmula.
É evidente que só não o fez em respeito à simplicidade de estilo.
Millôr não vê salvação:
O que me impressiona é que esse homem, que escreve mal – se aquilo é
escrever bem, o meu poodle é bicicleta – e fala pessimamente – seu falar é
absolutamente vazio, as frases se contradizem entre si, quando uma frase não se
contradiz nela mesma – é considerado o maior sociólogo brasileiro”.”
“Aloysio Biondi, “produto direto de Monteiro Lobato” segundo ele mesmo,
“doutor em tudo” segundo o colega Washington Novaes, é o jornalista de economia
e política mais completo que conhecemos. Intrépido e solitário marinheiro,
rasgou as águas do neoliberalismo (eufemismo para o neocolonialismo, a velha
expoliação imperialista), avançou contra a corrente do pensamento único,
apontou no nascedouro que as privatizações seriam bons negócios para os
compradores e péssimos para o Brasil.
Seu testemunho sobre a Era FHC, O Brasil Privatizado, de
1999, baseia-se em acervo pessoal de informações e na memória infalível. Aponta
erros, favorecimentos, prejuízos para o povo. Na obra, que vendeu mais de 150
mil exemplares e se encontrava esgotada em 2013, nos abeberamos para a seguinte
entrevista póstuma.
Outro
argumento que tinha muita força, Aloysio, era de que estatais dão prejuízo,
tiram dinheiro da saúde, da educação, e logo depois de privatizadas passam a
dar lucro, e tal.
Esse
argumento, largamente repetido para o povo, é igualmente falso.
Temos a
lista aqui, dos pontos a considerar, para explicar os lucros rápidos das
empresas privatizadas. Vamos lá: tarifas e preços.
Vamos lá. Os
reajustes de 100%, 300%, 500% antes da privatização garantem lucros aos novos
donos. E há aumentos até de última hora, como o reajuste de 58% para as contas
de energia no Rio dias antes do leilão da Light.
Demissões.
O governo
fez demissões maciças antes de privatizar, isto é, gastou bilhões com
indenizações e direitos trabalhistas, que seriam de responsabilidade dos
“compradores”. São Paulo demitiu 10.026 funcionários de sua ferrovia, a Fepasa,
de 1995 a 1998. E ficou ainda responsável pelo pagamento a 50 mil (50 mil!)
aposentados. No Rio, o governo estadual demitiu 6.200 de 12.000 funcionários de
seu banco, Banerj. Além disso, os “compradores” receberam folhas de pagamento
mais baixas – e isto vale para todas as privatizadas.
Dívidas
“engolidas”, o que vem a ser isso?
Eis um ponto
que nunca ficou claro para o povo brasileiro: em 30 anos, desde o fim dos anos
1960, o governo frequentemente usou estatais para “segurar” a inflação ou
beneficiar certos setores da economia, ditos “estratégicos”.
Como assim?
Houve
períodos em que o governo evitou reajustes de preços e tarifas de produtos
(como o aço) e serviços fornecidos pelas estatais, na tentativa de reduzir as
pressões e controlar as taxas de inflação. Esses achatamentos e congelamentos
de preços foram os principais responsáveis por prejuízos ou baixos lucros de
algumas estatais, que passavam a acumular dívidas, sofrendo então nova sangria
de recursos, representada pelos juros a pagar sobre as dívidas. Certo ou
errado, as estatais foram usadas como arma contra a inflação por governos que
achavam que o combate à carestia era a prioridade do país. O mal é que nunca
foi suficientemente explicado ao povo que essa decisão arruinava as estatais,
dando motivo a falsas acusações de “incompetência”, “sacos sem fundo”.
E quando
veio a onda de privatizações...
Aí o governo
fez exatamente o contrário. Primeiro, já vimos, aumentou os preços cobrados
pelas empresas a privatizar (até 300% no aço) e tarifas (até 500%, repita-se).
Falta a
história das dívidas “engolidas”.
É o que é
espantoso. O governo “engoliu”, passou para o Tesouro dívidas das estatais,
bilhões e bilhões que os “compradores” deveriam pagar – mesmo a longo prazo,
mediante acordo com os credores.
Os
compradores, como no poema do Manuel Bandeira, encontraram a casa limpa e a
mesa posta. Você poderia nos dar exemplos?
A Cosipa,
Companhia Siderúrgica Paulista: o governo ficou responsável por dívidas de R$
1,5 bilhão, além do governo paulista adiar a cobrança de R$ 400 milhões de
imposto atrasado – ICMS, Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços.
E quanto o
governo recebeu pela venda?
Só R$ 300
milhões. Quer dizer, o governo “ganhou” uma dívida de R$ 1,5 bilhão e os
“compradores” pagaram somente R$ 300 milhões.
Parece
mulher de malandro que apanha e ainda pede desculpa por gemer... E a venda da
CSN?
A venda da
Companhia Siderúrgica Nacional, de Volta Redonda, não foi diferente. O governo
“engoliu” dívidas de no mínimo R$ 1 bilhão. Então, pode-se entender que, com
essa política, ficou muito fácil para os “compradores” ter grandes lucros
rapidamente: já no primeiro ano, além das tarifas e preços majorados, além da
folha salarial reduzida, eles se livraram de pagar prestações dessas dívidas,
bem como os juros. Receberam as empresas limpinhas, prontas para lucrar.
Revoltante.
Mas vamos a outro ponto, das “dívidas transferidas”. O governo, escreve você no
livro, sempre dizia que, além do preço da venda, devia-se levar em conta as
dívidas das estatais transferidas para o comprador.
Nesse
argumento há uma dupla mentira. Primeiro, há as dívidas “engolidas”, sobre as
quais os meios de comunicação nunca falam. Em segundo lugar, no caso das
dívidas que permaneceram com os “compradores”, é preciso lembrar que eles
contavam com o faturamento para pagá-las. E as dívidas “engolidas” o governo
tem de pagar com dinheiro do povo. Dinheiro nosso.
E o que são
os “prejuízos bondosos”, que também nunca vimos mencionados na mídia?
Trata-se de
uma vantagem, sobre a qual nunca se fala, de que desfrutam os “compradores” de
bancos estatais – à custa da Receita Federal, do pagamento de impostos. Eles
podem usar os prejuízos que os bancos estatais “comprados” tenham acumulado nos
balanços.
Mas usar,
como?
Eles puderam
subtrair esse prejuízo de seu próprio lucro, reduzindo-o e, portanto,
diminuindo também o imposto de renda a pagar. O banco “comprador” do gaúcho
Meridional pôde usar um prejuízo de R$ 230 milhões em seu benefício.
Quanto
pagaram pelo Meridional?
Apenas R$
267 milhões. Como usaram os R$ 230 milhões, o “gasto” seria na verdade de meros
R$ 37 milhões.
Houve caso
de venda de estatal com dinheiro em caixa, não?
Por incrível
que pareça, sim. A Vale foi entregue a Benjamin Steinbruch com R$ 700 milhões
em caixa.
É demais!
E mais,
simplesmente espantoso: a Telesp tinha em caixa nada menos que R$ 1 bilhão (com
letra b, mesmo), ao ser entregue à espanhola Telefonica, segundo
entrevista do diretor da empresa “compradora” à Gazeta Mercantil em
janeiro de 1999. Lembrete: a Telefonica pagou entrada de R$ 2,2 bilhões pela
Telesp. Então o desembolso na verdade foi de apenas R$ 1,2 bilhão.
E isto era
pago tudo à vista...
Não: na
maioria das privatizações, em prestações. E com juros vergonhosamente baixos.
Mesmo no caso das teles, houve parcelamento, cuidadosamente escondido por todo
o noticiário.
Havia outros
tipos de truque?
Nas
primeiras privatizações, o governo chegou a aceitar que o pagamento fosse
totalmente feito em moedas podres...
... moedas
podres?...
... isto,
títulos antigos emitidos pelo governo, que podiam ser comprados por até metade
de seu valor. A própria CSN foi “vendida” no leilão por 1,05 bilhão, quase a
totalidade em moedas podres, R$ 1,01 bilhão, e apenas R$ 38 milhões pagos em
dinheiro. Há mais surpresas, porém. Mesmo moedas podres usadas
nos leilões, o que é geralmente desconhecido pela opinião pública, também foram
vendidas à prestação, financiadas pelo BNDES...
Mas como
pode?...
... era o
próprio banco do governo que tinha moedas podres guardadas e colocava em
leilão, para os interessados, em condições incríveis: até 12 anos para pagar e
com juros privilegiados. Ou ainda: os compradores não precisavam desembolsar
dinheiro vivo nem mesmo para comprar as moedas podres... Sem gastar, viraram
“donos” de estatais construídas com dinheiro – bilhões de reais – de todos nós,
brasileiros, ao longo de décadas.
Em resumo, a
privataria não reduziu nossa dívida nem o “rombo” do governo.
Ao contrário,
as privatizações contribuíram para aumentá-los. E o governo ficou com dívidas,
e sem as fontes de lucros para pagá-las. Ironicamente, o governo reconheceu
isto com todas as letras. Na carta de intenções que o ministro da Fazenda Pedro
Malan enviou ao FMI, inconscientemente o governo confessa que o equilíbrio das
contas ficou mais difícil porque... deixou de contar com os lucros que as
estatais ofereciam como contribuição para cobrir o rombo até serem vendidas.
É de pasmar!
Pasme, mas é
verdade.
O governo
anunciava ainda – está no seu livro – outra vantagem das
privatizações: criariam novos motores na economia com a contratação de
encomendas a nossas indústrias, graças aos “gigantescos investimentos” nas
telecomunicações, energia, área petrolífera, ferrovias...
... ao
contrário! Com a conivência e até incentivos do governo, foram realizando
importações, torrando dólares e ampliando o rombo da balança comercial
(exportações menos importações). Além disso, passaram a fazer remessas maciças
para seus países – lucros, dividendos, juros, até pagamento de “assistência
técnica” ou “compra de tecnologia” das matrizes. Decisões do governo poderiam
levar à redução das importações, mas as remessas às matrizes vão ficar. Para
sempre.
Antes de
privatizar, você disse, o governo elevou os investimentos nas telecomunicações
de R$ 3,5 bilhões para R$ 7 bilhões ao ano, mas o faturamento dos fabricantes
brasileiros recuou, empresas fecharam, o desemprego aumentou...
O ralo está
nas importações. As multinacionais – e beneficiadas por financiamentos do BNDES
– passam a importar maciçamente. Alguns equipamentos chegam a usar 97% de
componentes importados. Celulares chegam a usar de 85% a 100% – são apenas
montados aqui. O governo tinha acenado com a obrigatoriedade de 35% de peças
nacionais. Recuou para 20%. E nas vésperas do leilão, descartou qualquer
obrigatoriedade e estabeleceu, apenas, que o BNDES financiaria fabricantes
brasileiros, mas em seguida houve novo recuo: financiamentos apenas para os
“compradores”. Em suma, nas primeiras “concorrências” para compra de
equipamentos em março de 1999, a Telefônica, compradora da Telesp, não convidou
uma única empresa brasileira para disputar as encomendas.
Quer dizer
que a tão propalada “desindustrialização” começou lá atrás?
Começou lá
atrás.
Você mostra
que o déficit no setor das teles atingiu cifras “assombrosas”, US$ 8 bilhões,
capaz de devorar o valor das exportações e saldos positivos de outros setores,
“sobretudo agricultura”. Mas e o tamanho da sangria geral?
O dado (para
todos os setores) é assustador: as remessas passaram de algo entre US$ 600
milhões e US$ 700 milhões por ano para atingir a faixa dos US$ 7,8 bilhões em
1998. Um salto de 1.000%, ou dez vezes maior. O mesmo fenômeno ocorreu com o
pagamento de “assistência técnica” e “compra de tecnologia” (manobra usada
também para remessa disfarçada de lucro às matrizes), que saltou de US$ 170
milhões para US$ 1,7 bilhão, de 1993 a 1998.
Esta foi a
herança maldita que Lula recebeu em 2003?
Sem dúvida.”
“Repórter é que nem goleiro: precisa ter sorte.”
“Como costuma acontecer com multinacionais que sugam um país, a Light
encontrou testas de ferro à altura – o maior de todos foi Antonio Gallotti,
filho de imigrantes italianos fixados em Santa Catarina, nascido em 1910, dono
de uma gargalhada que conquistava as pessoas. Dizia-se dele que, junto com seu
amigo Azevedo Antunes, “dono” do Amapá e suas jazidas de manganês, por sua vez
testa de ferro da Bethlehem Steel e da Hanna Mining, conseguia juntar toda a
burguesia nacional em menos de uma semana. Útil para mobilizar a nata do
empresariado na cruzada para derrubar João Goulart em 1964.
O homem da Light foi apontado como o próprio coração da manobra pela
qual os adversários do trabalhismo amealharam dólares às dezenas de milhões a
fim de, na campanha eleitoral de 1962, eleger poderosa bancada antijanguista
para o Congresso.
Foi “uma orgia de dinheiro”, diria mais tarde Walter Clark, lembrando
que pela TV Rio, que ele dirigia, “recebeu verba equivalente a três vezes o seu
faturamento”, mesmo não estando alinhada aos golpistas. Estima-se que o IBAD,
Instituto Brasileiro de Ação Democrática, despejou naquela campanha US$ 20
milhões. A Light contribuiu com US$ 2 milhões, em mensalidades entre dezembro
de 1961 e agosto de 1963. Nada mais natural que o testa de ferro da Light seja
na década seguinte contemplado com uma negociata – a inconfidência do próprio
Gallotti numa mesa do restaurante carioca Antonio’s permite inferir que lhe
rendeu US$ 39 milhões.
Estamos em meados de 1979. O jornalista Sebastião Nery é comentarista
político na TV Bandeirantes. Antônio Carlos Magalhães, o ACM, político baiano
afinado com a ditadura e então presidente da Eletrobras, procura o jornalista:
“Nery, você não fala o que quer? Quero ver se tem coragem de denunciar a
compra da Light pelo governo, meses antes do contrato acabar e a Light voltar a
ser do país a preço zero. O japonês (Shigeaki Ueki, ministro de Minas e
Energia) e o Gallotti estão armando a maior negociata no fim do governo Geisel:
comprar a Light, que daqui a poucos meses será do governo de graça, por
centenas de milhões de dólares, com uma grande distribuição de comissões.”
Diz o Barão de Itararé, jornalista e humorista gaúcho, que negociata é
um bom negócio para o qual não fomos convidados. Pelo visto, não convidaram
ACM. Sebastião Nery denunciou a trama do “estranho negócio e comissões para
comprar por 400 milhões de dólares a Light, cuja concessão estava acabando”. Ao
que tudo indica, entre os citados só Nery perdeu dinheiro: foi demitido.”
“FHC deve ter uma frustração predileta como ex-presidente: a Petrobras
ele não conseguiu entregar – ou desnacionalizar, como preferem os eufemistas.
Bem que tentou, e com afinco. FHC começou a causar-lhe danos já ministro da
Fazenda de Itamar, em 1993: cortou-lhe 52% do orçamento, e sem fundamentação
nem justificativa técnica; e manejou preços de modo a que, no semestre anterior
ao Plano Real, nossa estatal tivesse aumentos mensais dos combustíveis de 8%
abaixo da inflação enquanto as empresas norte-americanas do setor os aumentavam
32% acima da média inflacionária. Culminou quebrando o monopólio de exploração
e refino, ao sancionar em 1997 a “nova Lei do Petróleo”, a 9.478, que revogava
a famosa 2.004, sancionada por – adivinhe: Getúlio Vargas. Eis estudo para
acadêmicos e outros interessados: como é que o filho e neto de militares
nacionalistas vira tão ferrenho entreguista.
No site da Associação dos Engenheiros da Petrobras, Aepet,
em 11 de agosto de 2009, constam os exemplos acima apontados, e outros,
compondo o texto Dez Estragos Produzidos pelo Governo FHC no Sistema
Petrobras. Seu autor é Fernando Leite Siqueira, presidente da Aepet. Com
ele vamos conversar em 5 de junho de 2012 e confirmar que, na Era FHC, houve
até terrorismo contra a Petrobras.
FHC quebrou o monopólio, baixou lei que dá 100% do petróleo a quem
produz, com obrigação de pagar só os royalties em dinheiro e
mais uma participação em torno de 11%.
“Ou seja, uma empresa paga 21% ao país e fica com 100%
do petróleo, quando na média mundial dos países exportadores a
empresa fica com 80% do petróleo.”
Como a gente
conseguiu impedir que a Petrobras fosse privatizada no governo FHC?
O esquema
era o seguinte: ele dividiu a Petrobras em 40 unidades de negócio, incluiu um
artigo 64 na Lei do Petróleo que ele fez, dizendo que a Petrobras poderia
transformar essas unidades em subsidiárias, cada refinaria, cada plataforma
etc., e privatizá-las. Pela lei vigente, não poderia sem autorização do
Congresso.
Era uma por
uma?
E começaram
pela Refap, Refinaria Alberto Pasqualini, no Rio Grande do Sul. Transformaram
em subsidiária junto com a Repsol da Argentina, sendo a Repsol acionista
majoritária. Só que fizeram um negócio tão absurdo, que geraram um prejuízo de
dois bilhões de dólares para a Petrobras. Nós entramos na justiça e ganhamos
liminar suspendendo essa operação. A próxima refinaria já estava escolhida,
depois a segunda plataforma. Era o processo sugerido pelo presidente suíço,
porque a Petrobras é empresa emblemática, e privatizar de uma vez gera reações
do povo brasileiro.
Como vocês
conseguiram brecar isso nas ruas?
Nas ruas
chegamos com ajuda do Reichstul. Um belo dia ele chamou a Aepet no sindicato para
comunicar que estava mudando o nome da empresa para Petrobrax. Contratou uma
firma de comunicação para esse trabalho, pagou uma boa grana.
Alexandre
Machado e companhia.
É, e fez um
discurso, que a Petrobras estava sendo internacionalizada e tal, e precisava um
nome mais pronunciável para os estrangeiros. Queria dizer “novos
proprietários”, né? Falei “presidente, queria alertá-lo de que está rasgando a
segunda bandeira brasileira”. Ele me respondeu: “Eu não chamei vocês aqui para
pedir opinião, chamei para comunicar, a decisão já está tomada.” Convoquei
entrevista coletiva, a repercussão na mídia foi imediata. Ele teve de voltar
atrás, que aí o povo sentiu que realmente a Petrobras estava em risco de ser
desnacionalizada. E o Reichstul um mês depois foi destituído do cargo.
Durante a
greve dos petroleiros, a Veja fez uma capa do FHC com capacete militar. Fala-se
numa tentativa de atentado naquela época, além de repressão violenta.
O Jornal do
Brasil noticiou que foi presa uma caminhonete da Globo com explosivos próximo a
uma refinaria. Certamente seria um atentado atribuído aos petroleiros. O
relatório de um jornalista de Campinas relata. Agora acessei na Internet uma
tese de mestrado, jornalista ou economista da Unicamp, e fala disso. No livro
dos 50 anos da Aepet no nosso site tem as informações [www.aepet.org.br].
Foi uma
espécie de atentado frustrado como no Riocentro, não?
Tem um fato
que vou falar agora. Descobrimos um relatório do Conselho Nacional do Petróleo,
mudou o nome para Departamento Nacional de Combustíveis, DNP: havia mais de 20
dias as empresas não retiravam combustível das bases da Petrobras, com objetivo
de faltar para os postos, portanto para os consumidores, e atribuir à greve dos
petroleiros. Um jornalista suíço cobrou das empresas jornalísticas brasileiras
o estabelecimento da verdade. E a grande mídia não desfez a falsa acusação
porque defendia interesse estrangeiro na privatização da Petrobras. A minha
ideia é de que seria um atentado terrorista atribuído aos petroleiros. FHC
queria desbaratar a resistência às privatizações. Aí o que aconteceu? Todos os
demais sindicatos brasileiros perderam a coragem. Passaram a lutar pela
subsistência, contra as demissões, porque o FHC começou um processo de
privatização e demitiu cerca de 30, 40 por cento dos funcionários... um
processo maquiavélico. FHC enfureceu a categoria, para induzir à greve, fechou
todo sindicato petroleiro do Brasil por mais de um ano. Isso fez parte da
estratégia de eliminar uma das forças mais capacitadas para impedir a
privatização.
Mesmo assim
não conseguiram?
Nós botamos
na imprensa que a intenção era desnacionalizar. Não só privatizar, era
desnacionalizar. Houve aí uma reação da opinião pública, em cima do Petrobrax,
e eles recuaram.”
“Volta e meia temos chamado Collor de Fernando I e FHC de Fernando II.
De fato, há dois pontos comuns. Primeiro: no governo esticado de Fernando II figurariam
importantes nomes da área econômica que serviram ao governo relâmpago de
Fernando I: Pedro Malan, negociador da dívida externa; Marcílio Marques
Moreira, ministro da Fazenda; e o próprio FHC só não pertenceu ao governo
Collor, como chanceler, porque levou uma bronca de Mário Covas que o impediu de
ingressar no governo. Segundo: após o governo tampão de Itamar (1992-1995),
Fernando II retoma Fernando I no ajuste de nossa economia à “nova ordem
mundial” comandada pelo FMI, Fundo Monetário Internacional, e Banco Mundial –
nos quais quem apita são europeus (um pouco) e americanos (muito).
Devíamos “desregular o mercado” para dar liberdade total aos capitais
privados, “abrir” a economia, rever direitos dos trabalhadores, reformar o
estado – e privatizar estatais. Malan era diretor do Banco Mundial e Marcílio
Marques Moreira, nosso embaixador em Washington – percebe as ligações?
A Era FHC já estaria liquidada em fins de 1998, não fosse o governo
“compartilhado” com o FMI e o Tesouro dos Estados Unidos (como a política
econômica tucana desastrosa havia quebrado o país, o FMI emprestou dezenas de
bilhões de dólares para que o Brasil não declarasse moratória e, em
contrapartida, teve a prerrogativa de determinar como a economia deveria ser
conduzida, recolonizando o Brasil) Para fazer jus a empréstimo de emergência de
US$ 41 bilhões, FHC mandou seus homens das finanças “negociar” – com Stanley
Fisher, diretor do FMI, e Lawrence Summers, subsecretário do Tesouro americano
– metas fiscais, de inflação, mudanças em nossas leis, inclusive na
Constituição, previdência social, direitos dos funcionários públicos e dos
aposentados, que FHC chamaria de “vagabundos”.
Primeiro removeu-se Chico Lopes do Banco Central – Stanley Fisher o
achou meio “inflexível”; Chico Lopes foi substituído por Armínio Fraga. No
mesmo dia, 1º de fevereiro de 1999, à noite, Fisher desembarca em Brasília e,
após 36 horas de discussões, sai um comunicado sobre o novo acordo com o FMI.
Especifica como deve comportar-se o governo para receber os US$ 41 bilhões –
dos quais não ficou aqui um cêntimo, investidores e especuladores os tomaram e
levaram embora, deixando a dívida para os brasileiros pagar.
Maluquice ou entreguismo explícito: o comunicado estava escrito em
inglês! Os rapazes todos e as moças (Pedro Malan, Andrea Calabi, Chico Lopes,
Edward Amadeo, Gustavo Franco, Eliana Cardoso, André Lara Resende, Persio
Arida, Pio Borges, Armínio Fraga, Francisco Gros, Edmar Bacha, Geraldo
Brindeiro) fizeram doutorado nos “Steites”.”
Assim, tal como FHC pensa em francês, a rapaziada pensa em inglês.
Nada a estranhar que um Armínio Fraga, no início de outubro de 1999,
falando a empresários em Nova Iorque, desaconselhasse investimentos em Minas
Gerais. E que um Lara Resende, em novembro de 1998, tenha anunciado que
pretendia “mudar-se já” para os Estados Unidos.
“Eles não agem como brasileiros, porque pouco lhes interessa a miséria,
a fome e a morte de nossa gente”, escreveu no Correio Braziliense na
época o jornalista Mauro Santayana. “Se ainda continuam aqui, é porque aqui é
mais fácil ganhar o dinheiro que investirão em sua pátria de escolha, os
Estados Unidos.”
Nada a estranhar que um Pedro Malan, em janeiro de 1999, tenha
denunciado Minas e Rio Grande do Sul ao Banco Mundial e ao BID porque seus
governadores, o gaúcho Olívio Dutra e o mineiro Itamar Franco, questionaram os
termos do acordo de suas dívidas com a União. A submissão era tal que, a fim de
ajustar as contas para cumprir as exigências, cortaram o dinheiro das cestas
básicas para os mais pobres. A Folha de S. Paulo noticiou em
19 de setembro de 1999:
O Fundo permitiu, na última revisão do programa com o governo
brasileiro, um aumento dos gastos sociais como forma de aliviar o custo social
agravado pela crise cambial de janeiro.
Se o FMI “permitiu”, não é preciso dizer mais nada sobre a subserviência
de FHC e seus homens e mulheres. No livro Os Homens do Presidente,
o jornalista Luiz Marcos Gomes aponta na introdução a improbabilidade de
havermos tido na história governo que promoveu tantos “negócios com bens
públicos”. Nem se viu tanta desenvoltura com que os dois grupos, PUC-Rio e
tucanos paulistas, “transitam livre e impunemente entre altos cargos do serviço
público e do setor privado, sobretudo o financeiro”; usam informações
privilegiadas, favorecendo interesses e, “frequentemente, auferindo vantagens
pessoais”, bastando ver “quantos se tornaram banqueiros, homens e mulheres
ricos, alguns até milionários”.
“A família Jereissati é dona de meio Ceará; e Tasso, que presidiu o
PSDB, articulou a aliança com o PFL em 1994. Em 1990, tentou com FHC atrelar os
tucanos a Collor: foram barrados pelo grupo de Mário Covas. O irmão Carlos, no
leilão das teles, abocanhou a Telemar, dona da telefonia fixa do Rio ao Ceará.
A família da mulher, Queiroz, é dona da outra metade do Ceará – juntos, dominam
as comunicações (TV Globo e TV Bandeirantes), distribuidoras (Coca-cola), a
construção civil, a hotelaria, os shopping centers.
Tasso não admite contestação. Em outubro de 2010, leva José Serra a
Canindé, cidade de turismo religioso. Cabos eleitorais tucanos distribuíram
panfleto contra Dilma Rousseff. O frade, incomodado porque a comitiva chegou
com a missa em andamento, mostra o panfleto ao final e diz que “ninguém pode
falar em nome da Igreja”. Tasso quis pegar o padre pra Cristo. Chamando-o de
petista, só não o socou porque assessores impediram. A proeza não mereceu
sequer nota no Jornal Nacional, nem nos grandes jornais e revistas.”
“Antônio Carlos Magalhães (ACM), era médico, empresário e político
baiano, déspota esclarecido. Mandava na Bahia desde a ditadura (1964-1985). Mas
cercava-se de bons técnicos e paparicava artistas. Apelidado Toninho Malvadeza,
rompeu com o esquema militar que impunha Maluf em 1985 como presidente eleito
pelo Colégio Eleitoral. Em campanha, hospedado num hotel em Salvador, Maluf
teve de subir centenas de degraus até seu apartamento: ACM havia cortado a
energia no bairro. Nos anos 1950, na Câmara Federal, o alagoano Tenório
Cavalcanti acusa o presidente do Banco do Brasil, baiano Clemente Mariani, de
desviar verbas. ACM aparteia dizendo que Tenório era “ladrão”. O alagoano saca
o revólver e faz ACM tremer: “Atira!” Tenório ri, recolhe o revólver e diz: “Só
mato homem.”
Costurou a aliança PFL-PSDB que elegeu FHC. O jornalista Sebastião Nery
dizia que ACM era o presidente noturno e FHC, o primeiro-ministro diurno. O
atrito entre os dois precipitou o Proer, programa de salvação do sistema
financeiro, em 1995. O banco baiano Econômico entra em crise (mandou para fora
mais de US$ 300 milhões e não honrou cheque administrativo de R$ 100 milhões).
FHC ia intervir e ACM com sua tropilha ruma para o Alvorada. FHC recua e surge
o Proer, “buraco negro” que em 16 meses já havia consumido mais de US$ 40
bilhões.
Moral: diante de ACM, FHC não era Itamar.”
“Em 1998, Pedro Malan preparou discurso ininteligível para FHC
pronunciar como candidato à reeleição, comprometendo-se a cumprir exigências do
FMI que contrariavam a promessa de acabar com o desemprego. Bendito “grampo” do
BNDES: numa gravação, vemos Malan pedir a Lara Resende para submeter o texto à
aprovação de Stanley Fisher, mandachuva do FMI.”
“O primeiro computador surge em 1946. Pesa 30 toneladas – uns quatro
elefantes como aquele que Juan Carlos I de Espanha matou na África em 2012; e
ocupa 160 metros quadrados – tamanho de uma casa para uma família de cinco
pessoas. Se tivessem fabricado um laptop naquele tempo, seriam necessárias 20
pessoas para carregar. Só em 1977 a Apple cria o micro de mesa, mesmo assim uma
carroça. Em 2008, o supercomputador construído pela IBM atinge o marco de fazer
mais de um quatrilhão de cálculos por segundo.
Apesar de todo o progresso tecnológico do início do século XXI, não há
computador que calcule o tamanho dos rombos nas telecomunicações, estradas,
energia, metrô paulistano, pedágios e outras áreas, desde 1995 no estado de São
Paulo e nos oito anos de FHC no Palácio do Planalto. Quem sabe na era da
computação quântica.”
““Não prendi ninguém”, gabou-se o presidente certa vez.
Impossível, porém, criar réguas para mensurar o estrago das bombas de
fome e doenças criadas por políticas erradas, vidas arruinadas, desemprego,
violência social, migração e emigração forçadas, autoexílio em busca de dias
melhores; e os rombos de bilhões e bilhões que significam menos escolas,
hospitais, ambulâncias, casas populares, saneamento básico. Um colega de ofício
de FHC, Gilberto Felisberto Vasconcellos, em O Príncipe da Moeda,
escreve:
O governo entreguista
do sociólogo FHC poderá no futuro ser visto como um novo marco que aprofundou o
golpe de 1964, apesar da vigência do sistema representativo e da ausência de
presos políticos.”
Um comentário:
Sem comentários, muito hilário: "Qualquer leitor que conseguir sintetizar, em duas ou três linhas (210 toques), o que o ociólogo preferido por 9 entre 10
estrelas da ociologia da Sorbonne quis dizer com isso, ganhará um exemplar do outro clássico já comentado na primeira parte desta obra: Brejal dos Guajas – de José
Sarney."
Escandaloso a parte das privatizações.
"Apesar de todo o progresso tecnológico do início do século XXI, não há computador que calcule o tamanho dos rombos nas telecomunicações, estradas, energia, metrô paulistano, pedágios e outras áreas, desde 1995 no estado de São Paulo e nos oito anos de FHC no Palácio do Planalto. Quem sabe na era da computação quântica.”
Novamente, terminou bem a postagem com o trecho de Gilberto Vasconcelos: "O governo entreguista do sociólogo FHC poderá no futuro ser visto como um novo marco que aprofundou o golpe de 1964, apesar da vigência do sistema representativo e da ausência de presos políticos.”
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