sábado, 22 de julho de 2023

USA (03): O grande capital, de John dos Passos

Editora: Benvirá

ISBN: 978-85-64065-43-7

Tradução: Marcos Santarrita

Opinião: ★★★★☆

Páginas: 712

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Sinopse: O grande capital apresenta os Estados Unidos em ascensão, em um crescimento desenfreado, que o levaria ao crash de 1929. É o momento do sucesso material e, diriam alguns, do declínio moral. Depois da guerra, surge o mercado de capitais, Lindenberg faz o primeiro voo solo, Henry Ford fabrica seus automóveis, e as relações amorosas se misturam aos negócios que se estendem de Nova York a Hollywood. Em busca do sucesso, regado a ganância e luxúria, os personagens são influenciados pelo tipo de vida que requer recompensa rápida. Milhões ganhos hoje na bolsa de valores são perdidos amanhã. O capitalismo competitivo transforma-se em capitalismo monopolista. A trilogia, iniciada em Paralelo 42, com trabalhadores do campo a bordo de um trem indo para o oeste norte-americano rumo a Chicago, termina com homens de negócio a bordo de um avião sobrevoando o litoral em direção à Golden Gate. Com este livro, John dos Passos encerra a trilogia mais ambiciosa e bela da história da literatura americana do século XX.


 

“— Aguentamos a guerra, mas a paz nos liquidou.”

 

 

“— Puxa — disse ele, rindo no rosto dela —, eu mal sei como agir.

— Deve ser uma mudança e tanto... em relação ao lado de lá. Mas aja com naturalidade. É o que eu faço.

— Oh, não, a gente sempre mete os pés pelas mãos quando age com naturalidade.”

 

 

“— Mas, Mary, o que eu quero é fazer com que esses rapazes entendam que muitas vezes o próprio trabalhador é seu inimigo nessas coisas.

— O trabalhador se lasca de qualquer jeito — disse Gus — e eu não sei se são os amigos ou os inimigos que mais lascam eles.”

 

 

“— Eu não preciso lembrá-la que nasce um tolo a cada minuto.”

 

 

“Mandaram o chofer deixá-las a duas quadras da casa e foram a pé até lá por um beco entre poeirentos conjuntos de bangalôs como aqueles onde tinham morado quando chegaram à Costa anos atrás.

Margo cutucou Agnes.

— Isso lhe lembra alguma coisa?

Agnes virou-se para ela de cenho franzido.

— A gente só deve se lembrar das coisas agradáveis e bonitas, Margie.”

 

 

“Digam-nos, doutores em filosofia, quais são as necessidades de um homem. Pelo menos um homem precisa nãoserpreso nãotermedo nãoterfome nãoterfrio não ficar sem amor, não trabalhar para um poder que nunca viu.”

 

 

“— Mas, Jerry como você aguenta? Se o Estado de Massachusetts pode matar esses dois inocentes enfrentando o protesto do mundo inteiro isso significa que nunca mais voltará a haver justiça na América

— E quando foi que houve, para início de conversa? — disse ele com um risinho sem alegria, curvando-se para encher o copo dela. — Já ouviu falar de Tom Mooney?

O branco ondulado dos cabelos dele dava um ar estranhamente jovem a seu rosto vermelho e inchado

— Mas tem alguma coisa de tão pacífico, tão honesto neles; a gente sai com uma tal sensação de grandeza depois de vê-los. Francamente, são grandes homens.

— Tudo que você diz só torna mais notável fato de já não terem sido executados há anos.

— Mas a gente comum, a gente trabalhadora, não vai permitir isso.

— É a gente comum que se diverte mais com a tortura e execução dos grandes homens... Se não for recuar muito eu gostaria de saber quem foi que exigiu execução de nosso amigo Jesus Cristo?”

 

 

“— Não vejo como um homem que ainda tenha um mínimo de virilidade possa deixar de ser vermelho... mesmo um jornalista pequeno-burguês.

— Meu caro Don, você deve saber a esta altura que a gente empenhou a virilidade em troca de uma chapinha de metal na época da Primeira Guerra Mundial... quer dizer, se é que se tinha alguma... Creio que há divergências a esse respeito.”

 

 

“Acabavam de esgueirar-se pela multidão até a porta quando uma jovem russa de negro com lindos olhos negros e sobrancelhas arqueadas veio correndo atrás deles.

— Oh, não devem sair. Leocadia Pavlovna gosta tanto de vocês. Ela gosta daqui, é informal... a bohème. É disso que gostamos em Leonora Ivanovna. Ela é bohème e nós também. Nós a adoramos.

— Infelizmente temos um compromisso de negócios — disse J. W. solenemente.

A jovem russa estalou os dedos, dizendo:

— Oh, negócios, é nojento... A América seria tão boa sem os negócios.”

 

 

“— Precisamos de dinheiro, senão tudo se lasca.”

 

 

“Quando tentou me passar uma garrafa, eu disse “Diabos, não, Ed”, ele se chama Ed também, “não vou beber um trago até depois da revolução e aí vou estar tão doido que nem vou precisar”.

Mary deu uma risada.

— Acho que todos devíamos fazer isso, Eddy... mas às vezes me sinto tão cansada e desencorajada à noite.

— Claro — disse Eddy, tornando-se sério. — A gente desanima pensando que eles têm todas as armas e todo o dinheiro e nós não temos nada.

— Uma coisa que você vai ter, camarada Spellman, é um par de luvas quentes e um bom casaco antes de fazer a próxima viagem.

O rosto sardento dele enrubesceu até a raiz dos cabelos ruivos.

— Falando sério, srta. French, eu não sinto frio. Pra falar a verdade, o motor esquenta tanto naquele velho monte de sucata que me esquenta mesmo no maior frio... Depois da próxima viagem a gente vai ter de botar uma nova embreagem e isso vai custar mais grana do que a gente pode economizar no leite... Estou lhe dizendo que o negócio está ruim nas minas de carvão neste inverno.

— Mas aqueles mineiros têm uma disposição de espírito tão maravilhosa — disse Mary.

— O problema, srta. Mary, é que com a barriga vazia a gente só mantém a disposição de espírito por certo tempo.”

 

 

“— Quero saber tudo sobre a greve dos mineiros — dizia George, franzindo as sobrancelhas. — É uma pena que os líderes locais tenham escolhido momento errado.

Mary se enfureceu.

— O tipo de observação que eu esperava de um homem como você. Se esperássemos um momento favorável não haveria greve alguma... Não há momento favorável para os trabalhadores.”

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