Editora: Expressão Popular
ISBN: 978-85-7743-074-1
Tradução: Cláudia Schilling, Magda Lopes e Maria
Carbajal
Opinião: ★★★★☆
Páginas: 728
Sinopse: Ver Parte
I
“Em 29 de novembro, enquanto os rebeldes limitam-se
a cercar e provocar a coluna de Sánchez Mosquera, Ciro Redondo morre ao tentar penetrar
nas posições inimigas, e os reforços conseguem romper o cerco dos rebeldes, obrigando-os
a se retirarem. A pena pela perda do nosso querido companheiro Ciro Redondo foi
muito grande, e a ela uniu-se o sentimento por não havermos podido aproveitar a
vitória contra Sánchez Mosquera. Dias depois, Che escreve a Fidel: Era um
bom companheiro, e, principalmente, um dos seus maiores suportes no que se refere
à obsessão pela luta. Acho que seria justo que recebesse o título de comandante,
embora isso agora só sirva para fins históricos, que é a única coisa à qual muitos
de nós podemos aspirar.”
“Passaram-se quatro meses e meio desde que foi
nomeado comandante, e Che sente-se fracassado. Dirigiu algumas escaramuças de sucesso,
cujos resultados iniciais não conseguiu explorar, teve que se retirar diversas vezes,
teve que abrir mão de sua querida base de El Hombrito, entra em choque continuamente
com a direção do movimento na planície e desconsiderou os conselhos de Fidel, arriscando-se
muito, e agora está ferido. Esta sensação explica porque fica a cargo de um destacamento
e devolve a Fidel o comando direto da parte mais importante da sua coluna, dirigida
por Ramiro Valdés. E talvez ainda seja muito cedo para ele poder avaliar os dois
grandes sucessos que obteve nesses meses: criou uma rede camponesa muito ampla,
que tem por ele verdadeira adoração e respeito, e conseguiu criar a sua volta uma
aura mágica – o Che é justo, igualitário, aquele tipo de homem que não pede para
ninguém fazer o que ele próprio não faça.
Estes dois elementos valem muito mais do que parece.
E Fidel, em vez de tirá-lo do comando da Coluna 4, perceberá o valor disso.”
“A intervenção de Fidel no segundo combate
de Pino del Agua fez com que, dias depois, um grupo de oficiais, inclusive eu, lhe
enviasse um documento (...) pedindo-lhe, em nome da Revolução, que não arriscasse
sua vida inutilmente. Este documento, um tanto infantil, que fizemos impelidos pelos
desejos mais altruístas, acreditamos não ter merecido nem uma leitura de sua parte.
E nem é preciso dizer que não lhe deu a mínima importância. Era um pouco chocante
que comandantes, capitães e chefes de pelotão, que dirigiam o combate na base do
exemplo, da lei dos mau-mau, pedissem a Fidel que fizesse o contrário. Ameijeiras
conta: “Dava gosto ver alguns daqueles combatentes novatos, às vezes quase adolescentes,
levantar-se no meio do combate, quando todo mundo estava grudado no chão com as
balas silvando nos ouvidos: Fulano, olhe pra mim. A lei dos Mau! Então, levantava-se
galhardamente no meio das balas e disparava sua arma contra o inimigo. Em seguida,
o aludido também o imitava (...) Para resumir, esta era a lei dos mau. Lutar de
pé e avançar no meio das balas ou atirar de frente contra os aviões. Coisas de homens
que hoje parecem coisas de loucos.”
“A melhor defesa contra as bombas era um palito
apertado entre os dentes. Outra defesa eram as cavernas. Mas a melhor defesa era
perder o medo delas”, costumavam dizer os camponeses dessa região de Sierra Maestra,
seguindo ao pé da letra os ensinamentos de Che, que, sob bombardeio tinha um comportamento
insólito – às vezes ficava olhando para os aviões sem se proteger em um refúgio,
como se quisesse provar algo, demonstrar algo para si mesmo.”
“Em Minas del Frío, Che admite em seu grupo outro
adolescente, Jesús Parra, de 16 anos, que havia conhecido com impaludismo no posto
de comando de Fidel. Parra, além de ter sido engraxate e ajudante de cozinha, também
havia feito um curso de datilografia durante três meses, e escrevia 25 palavras
por minuto; isso foi mais que suficiente para Che levá-lo em consideração e na coluna
dizerem que ele era um “intelectual”. Para Parra, Che dará uma explicação da razão
de ele se cercar de jovens: “dizia que os jovens eram mais loucos, arriscavam-se
mais e não pensavam muito”. Era seu próprio retrato?
E esses jovens loucos estudam história de Cuba,
treinam com paus à guisa de fuzis e passam fome, e até chegam a organizar uma greve
de fome, que Che termina com sete palavras e dez insultos, além da ameaça de fuzilá-los
a todos, e como castigo deixa-os cinco dias sem comer, em “greve de fome”. Castellanos,
que desta vez tinha sido apenas observador, diz: “Che percebeu que a situação era
grave, mas não se podia fazer nada, porque não havia comida”.”
“Chega o dia 9 de abril. Anos mais tarde, Ameijeiras
recapitulava o caminho percorrido: “O Moncada, o 30 de novembro, o Granma, Alegría
del Pío, La Plata, a entrevista de Herbert Matthews, o Corinthia, o Uvero, a morte
de Frank País e a greve que ela provocou em quase todo o país, os dois combates
de Pino del Agua, San Lorenzo, Mota y El Hombrito, a II Frente e a III Frente Frank
Muñoz, a guerrilha do Diretório Revolucionário em Escambray, a noite das cem bombas,
o sequestro de Fangio, Camilo na planície; além dos levantes no leste, Camaguey
e Lãs Villas, deixaram claro a seriedade do movimento revolucionário.”
“Nos dias seguintes à greve de abril, Che, em
uma de suas visitas ao posto de comando de Fidel, chega acompanhado por um guia
a uma cabana onde o exército acaba de destruir um comboio de abastecimento para
os rebeldes. O abandono da região, os cadáveres de homens e animais, assustam o
guia, que se negou a me acompanhar, alegou desconhecimento do terreno e simplesmente
subiu em seu cavalo e nos separamos de forma amigável. Eu tinha uma Beretta e, com
ela engatilhada e levando o cavalo pelas rédeas, entrei nos primeiros cafezais.
Ao chegar a uma casa abandonada, um barulho enorme me assustou a tal ponto que quase
me fez disparar, mas era apenas um porco, também assustado pela minha presença.
Lentamente, e com muito cuidado, percorri as poucas centenas de metros que me separavam
da nossa posição, que encontrei totalmente abandonada (...) Toda aquela cena não
tem para mim outro significado senão o da satisfação que experimentei por ter vencido
o medo durante um trajeto que me pareceu eterno até chegar, finalmente – e sozinho
– ao posto de comando. Esta noite, me senti valente.
Dias mais tarde, em um choque com as tropas de
Sánchez Mosquera, Che fica isolado. O inimigo lançou, de início, alguns tiros
de morteiro, sem maior pontaria. Por um momento, aumentou o tiroteio a minha direita,
e fui inspecionar as posições, mas no meio do caminho começou também pela esquerda.
Mandei meu ajudante a algum lugar e fiquei só entre os dois extremos dos disparos. À minha esquerda, as forças de Sánchez Mosquera, depois de disparar alguns obuses
de morteiro, subiram a colina em meio a uma gritaria descomunal. Nosso pessoal,
com pouca experiência, não conseguiu disparar, a não ser um ou outro tiro isolado,
e saiu correndo colina abaixo. Sozinho, em um curral desguarnecido, vi aparecerem
diversos capacetes de soldados. Um deles começou a correr colina abaixo, perseguindo
nossos combatentes, que entravam nos cafezais. Disparei contra ele com a Beretta,
sem atingi-lo, e imediatamente diversos fuzis me localizaram e começaram a atirar.
Empreendi uma corrida em ziguezague, levando sobre os ombros mil balas em uma enorme
cartucheira de couro, e seguido pelos gritos de desprezo de alguns soldados inimigos.
Ao chegar perto do abrigo das árvores, minha pistola caiu. Meu único gesto altivo
dessa manhã triste foi me deter, voltar sobre os meus passos, recolher a pistola
e sair correndo, cumprimentado, desta vez, pela pequena nuvem de pó que as balas
dos fuzis levantavam à minha volta. Quando me considerei a salvo, sem saber dos
meus companheiros nem do resultado da ofensiva, fiquei descansando, entrincheirado
atrás de uma grande pedra no meio da montanha. A asma, que piedosamente me havia
deixado correr alguns metros, agora se vingava de mim e meu coração pulava dentro
do peito. Ouvi o ruído de galhos se quebrando pelos passos de pessoas que se aproximavam.
Já não podia mais continuar fugindo (que era na verdade o que eu tinha vontade de
fazer), mas desta vez era outro companheiro nosso extraviado, um recruta recém-incorporado
à tropa. Sua frase de consolo foi mais ou menos a seguinte: “Não se preocupe,
comandante, eu morro aqui com o senhor”. Eu não tinha vontade de morrer, e tive
a tentação de xingar a mãe dele, mas acho que não o fiz. Nesse dia, me senti covarde.”
“Em 10 de agosto, no último episódio da ofensiva,
discute-se em Las Mercedes a última entrega de prisioneiros. Fidel novamente mostra
seu talento, fazendo com que um prisioneiro libertado seja mais útil, por ferir
profundamente o moral do inimigo, do que um prisioneiro que deve ser alimentado
e vigiado.”
“Um informe emitido pelo SIM em 27 de dezembro
sobre o estado das tropas de batista em Santa Clara mostra, de forma bastante objetiva,
as dificuldades que o coronel Casillas iria encontrar: “Em geral, as tropas daquela
província estão invadidas pelo pessimismo e se queixam de nunca terem sido ouvidas
em nenhuma das oportunidades em que tiveram que enfrentar os rebeldes – sempre em
maior número – e solicitam reforços de homens e munição”. O informe não diz a verdade;
em todos os combates, as tropas de Batista tinham enfrentado forças inimigas iguais
ou inferiores em número, e não superiores; os rebeldes também eram inferiores em
armamento, mas se colocavam sempre na ofensiva e as suas carências eram compensadas
por seu elevado moral e uma excelente direção, tanto no plano geral quanto em relação
aos destacamentos e pelotões.
Em dez dias, as tropas de Che e do diretório arrebataram
à ditadura um território de mais de 8 mil quilômetros quadrados, com uma população
de quase 250 mil habitantes; tomam 12 quartéis do exército, assim como da guarda
rural, da polícia e da marinha em oito povoados e pequenas cidades; forçam a retirada
das guarnições de outra meia dúzia de povoados e pequenas cidades; capturam quase
800 prisioneiros e obtêm aproximadamente 600 armas longas e muita munição. Operando
com grande flexibilidade e acelerando o ritmo da ofensiva – conforme vão descobrindo
os pontos fracos do inimigo – os rebeldes têm um custo muito baixo em mortos e feridos
(apenas 11 mortos em toda a campanha). Mas, certamente, a grande diferença é o extraordinário
comando da guerra de guerrilhas desenvolvida por Che: a velocidade da ofensiva e
seu ritmo desconcertante. Entre o combate de Fomento e o de Guayos e Cabaiguán transcorrem
61 horas, mas entre a conquista destas cidades e o ataque a Placetas transcorrem
apenas duas horas, e entre a ocupação de Placetas e o início do ataque a Remedios
e Caibarien, somente 12 horas. Ele aproveita todas as fraquezas do inimigo e a tremenda
força dos invasores – aqueles jovens camponeses aparentemente incansáveis, valentes
até as raias da loucura, irônicos, risonhos, fortemente motivados, solidários entre
si, orgulhosos, mimados pela admiração popular e dirigidos por capitães e tenentes
que também não ficavam nada a dever, e que tinham pago com seu sangue a ofensiva.
Nenhum dos capitães rebeldes sai ileso, e vários tenentes rebeldes são feridos antes
de serem promovidos a capitães...”
“A organização clandestina e até a UPI – por meio
de um telegrama que informa que Batista enviaria outros 2 mil homens para Santa
Clara – tinha lhes proporcionado abundante informação sobre as tropas que tinham
à sua frente: o trem blindado com seus 380 soldados, morteiros, um canhão, bazucas
e metralhadoras; a guarnição de Leoncio Vidal, o principal quartel da província,
com 1.300 homens, tanques e carros de combate; a delegacia de polícia, com 400 homens
entre policiais, informantes e soldados, além de dois tanques-cometa, dois tanques
de menor tamanho e uma série de pequenos destacamentos reunindo mais de 200 soldados.
No total, são quase 3.200 homens de Batista, aos quais é necessário acrescentar
o apoio ativo da aviação. Che está especialmente preocupado porque tínhamos uma
bazuca sem munição e teríamos de enfrentar uma dúzia de tanques, mas também sabíamos
que, para fazer isso de forma efetiva, precisaríamos chegar aos bairros mais povoados
da cidade, onde a eficiência dos tanques diminui muito.
Para o ataque, Che conta com sete pelotões reunindo
214 homens, a centena de homens que forma a coluna do diretório e outros 50 recrutas
de Caballete de Casa, comandados por Pablo Ribalta e que tinham acabado de receber
suas armas, entre os quais há alguns ex-combatentes da II Frente que passaram para
suas fileiras. São quase nove soldados para cada rebelde e as forças de Che partem
para o ataque. Todos os manuais militares concordariam que a ação que o comandante
Guevara está planejando realizar é uma loucura. Pretende tomar a iniciativa e enfrentar
uma guarnição superior em uma proporção de nove para um em números, e que conta
com um poder de fogo infinitamente superior ao seu; renuncia a concentrar uma parte
importante de seus guerrilheiros para realizar a operação, avança com tropas que
quase não tinham descansado ou dormido nos últimos dez dias (alguns homens do pelotão-suicida
estão há três noites sem dormir, da mesma forma que os combatentes do pelotão Alfonso
Zayas) e a munição é escassa. Mas a guerra do povo não segue manuais. Che sabe que
a velocidade da sua ofensiva impede que a ditadura possa enviar reforços a Santa
Clara; luta contra forças desmoralizadas e conta com apoio popular. Mas, principalmente,
conta com o surpreendente poder de combate de seus homens, curtidos nos combates
dos últimos 11 dias, convencidos da justiça da sua causa e também da proximidade
da vitória. Sabe que o exército ficaria preso na cidade que pensava defender e que
pode ir isolando os redutos das forças militares para lutar contra eles separadamente.
Também acredita que a batalha será longa.
Che só erra no último ponto.”
“À frente da coluna, rumo a Santa Clara, cavalgava
a fama dos rebeldes conhecidos como mau-mau. Os boatos asseguram que eram cavaleiros
magnânimos que libertavam seus prisioneiros depois de lhes explicar as razões da
revolução, assistiam seus próprios feridos e também os do inimigo, nunca abandonavam
um companheiro em combate, advertiam previamente dos seus ataques, recusavam-se
a derramar sangue inutilmente, vingavam as ofensas ao povo e nunca eram derrotados.”
“Vaquerito (comandante do pelotão-suicida) arrisca-se
muito. Seus companheiros recriminam-no, mas ele responde como sempre: “Nunca ouvimos
a bala que vai nos matar”. Instala-se em um terraço da rua Garófalo, a 50 metros
da delegacia, com Orlando Beltrán e Leonardo Tamayo – que se recuperou de seus ferimentos
no hospital de Cabaiguán e voltou à linha de combate. Orlando conta: “Tínhamos acabado
de chegar quando vimos um grupo de seis guardas correndo pelo meio do parque. Atacamos,
mas dois tanques que estavam por perto, na rua, começaram a disparar com as ‘30’.
Tamayo continua: “Eu gritei: Vaquerito, jogue-se no chão que vão te matar! Não obedeceu.
Pouco depois, da minha posição gritei: O que está acontecendo? Por que não está
atirando? Ele não respondeu. Olhei e vi que estava coberto de sangue. Imediatamente,
o levamos até o médico. O disparo foi mortal. Um tiro de M-1 na cabeça”.
Che, que está indo ao encontro dos atacantes pelo
túnel que tinha sido feito derrubando as paredes, cruza com os homens que levam
o corpo do Vaquerito. As crônicas recolhem a frase desolada do comandante diante
do mais agressivo de seus capitães, o mais pitoresco e o mais temerário: Perdi cem
homens. (...) Alguns soldados lutavam chorando. (...) Pouco depois, Orestes Colina
encontra-se com Che, que está acompanhando por um tenente do exército que tinha
sido feito prisioneiro, e em um ataque de raiva diz: “O que devíamos fazer era matar
este aqui”. Che responde suavemente: Você acha que somos iguais a eles?”
“Era sempre um contraste nossa atitude para
com os feridos e aquela do exército, que não apenas assassinava nossos feridos,
como abandonava os seus. Esta diferença foi surtindo efeito no decorrer do tempo
e constitui um dos fatores do triunfo. Lá, com muita dor da minha parte, que sentia
como médico a necessidade de manter reservas para nossas tropas, Fidel ordenou que
se entregassem aos prisioneiros todos os remédios disponíveis para o cuidado dos
soldados feridos. E foi isso que fizemos.”
“Enquanto em Santa Clara os combatentes de Che
e o diretório mantêm um controle férreo sobre as armas e a situação nas ruas, em
Havana a multidão está fazendo a justiça há tanto tempo esperada; uma espécie de
vandalismo racional e seletivo que dirige as multidões que atacam as estações da
Shell, que apoiava Batista e lhe proporcionava os tanques; destroem os cassinos,
propriedade da máfia estadunidense e do submundo de Batista; arrebentam os parquímetros,
um dos negócios escusos do sistema; assaltam as casas das personalidades do regime
(na de Mujal jogam o aparelho de ar condicionado pela janela). O descontrole do
aparelho repressor, que se desagrega cada vez mais a cada minuto que passa, devido
à fuga em massa dos dirigentes de Batista, gera um vazio de poder que nem Cantillo
nem Barquín são capazes de preencher. As forças revolucionárias recusam-se a negociar.
Os estúdios de televisão são tomados por populares que denunciam os horrores da
repressão levada a cabo por Batista.”
“O combatente Mustelier pede a Che que lhe permita
ir a Oriente para visitar sua família, mas o comandante da coluna responde rispidamente
que não.
– Che, mas a revolução já ganhou.
– Não, ganhamos a guerra. A revolução começa
agora.”
“Diante da campanha estadunidense, Fidel contra-ataca
em um discurso proferido em 21 de janeiro na frente do palácio, comparando os crimes
da ditadura com os de Nuremberg e ratificando o direito da justiça popular e dos
fuzilamentos. Submete a referendo – pelo método de levantar as mãos – a justiça
que está sendo aplicada aos torturadores para saber se é considerada correta. Segundo
Carlos Franqui – diretor do jornal Revolución nessa época: Um sim unânime
e descomunal respondeu à pergunta de Fidel. Uma pesquisa nacional privada determina
que 93% da população está de acordo com os julgamentos e fuzilamentos” (...).
O tema é explosivo. A pressão popular entre os
setores sociais favoráveis à revolução é enorme e Fidel sente que ceder nesta primeira
fase às pressões estadunidenses é renunciar à soberania. O diário dirigido por Franqui
conta que os fuzilamentos eram a resposta aos “bárbaros que arrancaram olhos, castraram,
queimaram a carne ou arrancaram testículos, destroçaram unhas, introduziram ferro
nas vaginas das mulheres, queimaram pés, cortaram dedos, enfim, criaram em Cuba
uma paisagem espantosa” e declara: “Ontem ouvimos o Che responder a um grupo de
milicianos que queria dar uma lição a uns delatores que ainda estavam soltos”.
– Nem vocês nem ninguém pode atuar por conta
própria. Existem tribunais revolucionários. Se algum de vocês atuar por contra própria,
ordenarei que seja preso e julgado por um tribunal revolucionário.
Sem dúvida, Che é favorável aos julgamentos sumários,
mas são totalmente irreais as versões geradas entre os exilados cubanos que o transformaram
em “O açougueiro de La Cabaña”, responsável pela maior parte dos fuzilamentos que
tiveram lugar em Havana. Em La Cabaña funcionam os Tribunais Revolucionários 1 e
2; o primeiro julga policiais e militares e o segundo (que não aplicou a pena de
morte), civis. O TRI, dirigido por Miguel Ángel Duque de Estrada, aplica a pena
de morte em diversos casos; pelo menos durante o mês de janeiro há duas dúzias de
sentenças de morte. Che não participa em nenhum dos tribunais, mas na sua condição
de comandante da guarnição, revisa as apelações. Não deve ter tido dúvidas ao ratificar
as condenações, acreditava na justiça e nos últimos anos tinha ficado muito duro
e capaz de enfrentar situações deste tipo.”
“Em 7 de fevereiro (de 1960), o Diário Oficial
publica um curioso decreto mediante o qual adquirem a nacionalidade cubana “por
nascimento” os comandantes rebeldes de origem estrangeira que tenham ocupado este
cargo durante, pelo menos, um ano de processo revolucionário. Trata-se claramente
de uma lei de exceção e que tem apenas um beneficiário – o comandante Ernesto Guevara.
Homenagem e reconhecimento.
No dia seguinte, Che estreia sua nova nacionalidade
fazendo um discurso muito radical em favor da reforma agrária, no qual expressa,
mais uma vez, sua identidade com os camponeses. Já sou bastante guajiro, o ar
da cidade não foi feito para mim. Em El Pedrero, onde passou algum tempo em
um dos acampamentos durante a campanha de Las Villas, lançará um chamado à revolta
agrária radical: Hoje, estamos decididos a chegar até o latifúndio, a atacá-lo
e a destruí-lo (...) O exército rebelde está disposto a levar a reforma agrária
às últimas consequências (...) A reforma agrária deve ser feita em ordem, para que
não se cometam abusos (...) mas na terra que pertence ao povo, que a ocupou ou tomou
pela revolução, não haverá um só comandante das nossas forças, nem um só soldado
deste exército, que seja capaz de atirar contra os camponeses, que sempre foram
nossos amigos... Se alguém pretende tirá-los dela, têm todo o direito de pegar uma
arma e impedir que o façam. Incita à formação de associações de camponeses,
constituídas de baixo para cima pelo voto popular.”
“Uma mulher pergunta-lhe se, por acaso, as casas
dos camponeses queimadas pela ditadura aparecerão nos livros de história.
– Não, não aparecerão nos livros de história...
serão reconstruídas imediatamente.”
“Agora estamos em uma posição em que somos
muito mais do que simples fatores de uma nação; constituímos neste momento a esperança
da América ainda não redimida. Os olhos de todos os grandes opressores e também
daqueles que não perderam a esperança estão voltados para nós. Da nossa atitude
futura, da nossa capacidade para resolver os múltiplos problemas, depende em grande
parte o desenvolvimento dos movimentos populares na América e cada passo que damos
é vigiado pelos olhos onipresentes do grande credor e pelos olhos otimistas dos
nossos irmãos da América.”
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