quinta-feira, 24 de março de 2022

O Conde de Monte Cristo (Volume 2), de Alexandre Dumas

Editora: Zahar

ISBN: 978-85-7665-361-5

Tradução, apresentação e notas: André Telles e Rodrigo Lacerda

Opinião: ★★★★☆

Páginas: 714

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Sinopse: Ver Volume 1


 

O sr. de Villefort, apesar de seu poder de autocontenção, estava nitidamente perturbado. Ao tocar sua mão, Monte Cristo sentiu que ela tremia.

“Decididamente, só as mulheres para saberem dissimular”, disse Monte Cristo consigo mesmo.”

 

 

— Admitam, senhores — disse ele —, que, ao se alcançar um certo nível de fortuna, nada é mais necessário que o supérfluo, assim como admitirão as senhoras que, ao se alcançar um certo nível de exaltação, nada mais concreto que o ideal, não é? Ora, levando adiante esse raciocínio, em que reside o maravilhoso? No que não compreendemos. O que é um bem verdadeiramente desejável? O que não podemos possuir. Ora, ver coisas que eu não posso compreender, proporcionar-me coisas impossíveis de possuir, eis o estudo de toda a minha vida. Consigo isso de duas maneiras: com dinheiro e vontade.”

 

 

“— Um capitalista aflito é como um cometa, pressagia sempre alguma desgraça no mundo.”

 

 

— Então é verdade — disse Villefort, respondendo muito antes ao seu próprio pensamento do que às palavras da sra. Danglars — que todos os nossos expedientes deixaram vestígios, uns escuros, outros luminosos, em nosso passado! Então é verdade que todos os nossos passos nesta vida são como a marcha do réptil sobre a areia sulcando o solo! Que tristeza! Para muitos, esse rastro é um rastro de lágrimas! (...)

— Creio que da sua parte, cavalheiro, seu puritanismo exagera a situação — disse a sra. Danglars, cujos olhos tão belos iluminaram-se fugazmente. — Esses rastros, mencionados pelo senhor, foram deixados por todas as juventudes ardentes. No fundo das paixões, além do prazer, há sempre uma pitada de remorso. Foi para isso que o Evangelho, esse eterno recurso dos sofredores, ofereceu-nos como esteio a admirável parábola da menina pecadora e da mulher adúltera38. Dessa forma, confesso, reportando-me a esses delírios de juventude, às vezes acho que Deus me perdoará, pois, se não a desculpa, pelo menos a compensação esteve presente nos meus sofrimentos; mas o senhor, que tem o senhor a temer de tudo isso, visto que aos homens todos desculpam e o escândalo enobrece?

— A senhora me conhece — replicou Villefort —, não sou um hipócrita, ou pelo menos não faço hipocrisia sem motivos. Se a minha fronte é severa, é porque muitos infortúnios a cobriram; se o meu coração virou pedra, foi para resistir aos golpes que recebeu. Eu não era assim na minha mocidade, eu não era assim naquela noite de noivado em que estávamos todos sentados em torno de uma mesa da rua do Corso em Marselha. Porém, desde então, muita coisa mudou em mim e ao meu redor; passei a vida a perseguir coisas difíceis e a destruir, diante das dificuldades, aqueles que, voluntária ou involuntariamente, por livre-arbítrio ou por acaso, viram-se colocados no meu caminho para me proporcionar tais empecilhos. É raro aquilo que ardentemente desejamos não ser ardentemente proibido por aqueles de quem o queremos obter ou de quem o tentamos arrancar. Nesse sentido, a maior parte das vilanias dos homens simplesmente apareceu diante deles, disfarçada sob a forma especiosa da necessidade; além do mais, cometida a maldade num momento de exaltação, de medo ou delírio, vemos que teria sido possível passar perto dela e a evitado. O meio que teria sido correto empregar, que não enxergamos na hora, cegos que estávamos, apresenta-se aos nossos olhos claro e simples; então nos dizemos: “Como não fiz isso em vez daquilo?” As damas, ao contrário, muito raramente são atormentadas por remorsos, pois muito raramente a decisão emana delas, seus infortúnios quase sempre lhes são impostos, seus erros quase sempre são o crime de um outro.”

38 “da menina pecadora e da mulher adúltera”: a pecadora perdoada e amada, Lucas, VII, 36-50; a mulher adúltera, João, VIII, 1-11.

 

 

“— Oh, a maldade dos homens é muito profunda — disse Villefort —, pois é mais profunda que a bondade de Deus.”

 

 

— O sr. Danglars então jantou em sua casa?

— Sim. (...)

— Falaram de mim?

— Não foi pronunciada uma palavra.

— Que pena.

— Por que lamenta? Se o esqueceram, me parece, ao agirem assim não fizeram o que o senhor desejava?

— Meu caro conde, se não falaram de mim é porque pensaram muito, e é isso que me desespera.”

 

 

“— Há apenas uma coisa de que sou cioso no mundo, é de que o bem que eu faça nasça de mim.”

 

 

“As ideias não morrem, sire, às vezes adormecem, mas despertam mais fortes que antes.”

 

 

“Os corações mais corrompidos só acreditam no mal ao fazê-lo repousar sobre um interesse qualquer: o mal inútil e sem causa é repulsivo como uma anomalia.”

 

 

“— Meu caro amigo, há de compreender que nunca se deve ser impermeável. Quando se vive com loucos, convém fazer o aprendizado da loucura.”

 

 

“Por sua vida pregressa e pela decisão inflexível que tomara de não recuar diante de nada, o conde viera a saborear delícias insuspeitadas nas lutas que às vezes travava com a natureza, que é Deus, e com a sociedade, que pode muito bem ser vista como o diabo.”

 

 

As feridas morais têm essa particularidade: elas se escondem, mas não se fecham. Sempre dolorosas, prontas a sangrar quando tocadas, elas permanecem vivas e abertas no coração.”

 

 

Os homens autenticamente generosos estão sempre prontos a se compadecer quando a desgraça do inimigo supera os limites do seu ódio por ele.”

 

 

“O sigilo é fácil de manter para os ricos e poderosos.”

 

 

““Oh não, senhor, desde a minha infância vi acontecerem muitas coisas à minha volta. Compreendi-as muito bem, para que o infortúnio cause sobre mim mais impressão do que o merece. Desde que me conheço, nunca fui amada por ninguém: tanto pior! Isso levou-me naturalmente a não amar ninguém: tanto melhor! Agora já sabe a minha profissão de fé”.”

 

 

Em todo cérebro bem-organizado, a ideia predominante, e há sempre uma, a ideia predominante, nós dizíamos, é aquela que, após ter adormecido por último, é sempre a primeira iluminada pelo despertar do pensamento.

Andrea ainda não abrira inteiramente os olhos e seu pensamento predominante já o agarrava e lhe soprava no ouvido que dormira demais.”

 

 

“—Não adianta os filósofos falarem, os homens práticos sempre irão desmenti-los nesse aspecto: o dinheiro é consolo para muitas coisas.”

 

 

As mulheres têm instintos infalíveis, explicam inclusive o maravilhoso por uma álgebra concebida por elas mesmas.”

 

 

“Há situações que os homens captam com o instinto, mas são incapazes de comentar com a inteligência. O maior poeta, nesse caso, é aquele que solta o grito mais veemente e espontâneo. A massa toma esse grito por um relato completo, e tem motivos para se contentar com isso, e mais motivos ainda para julgá-lo sublime quando é autêntico.”

 

 

— Prepare-se, Maximilien — disse-lhe com um sorriso —, deixamos Paris amanhã.

— Não tem mais nada a fazer aqui? — perguntou Morrel.

— Não — respondeu Monte Cristo —, e Deus queira que não tenha feito em excesso.”

 

 

— Há existências predestinadas, cujo primeiro erro esfacela todo o futuro.”

 

 

— Oh, conde, tenha pena de mim! Conde, estou tão infeliz!

— Conheci um homem mais infeliz que você, Morrel.

— Impossível.

— Ai de mim! — disse Monte Cristo. — Este é um dos orgulhos da nossa funesta humanidade: cada homem julga-se mais infeliz que outro infeliz que chora e geme ao seu lado.”

 

 

“É preciso ter desejado morrer para saber como é bom viver.”

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