terça-feira, 8 de março de 2022

As crônicas de Nárnia: A última batalha, de C.S.Lewis

Editora: Martins Fontes

ISBN: 978-85-7827-069-8

Tradução: Paulo Mendes Campos

Opinião: ★★★☆☆

Análise em vídeo: Clique aqui
Link para compra: Clique aqui

Páginas: 124

Sinopse: Ver Parte I



– Bem – disse Tirian –, daqui vamos para o Norte. Por sorte, a noite está estrelada, e nossa jornada agora será bem mais curta, pois esta manhã nos desviamos muito, ao passo que agora iremos direto. Se formos interpelados, mantenham a calma; farei o possível para falar como um detestável, cruel e orgulhoso lorde calormano. Se eu puxar a espada, Eustáquio, faça o mesmo; e você, Jill, coloque-se atrás e fique com o arco a postos. Mas se eu gritar “Para casa”, então fujam para a torre. E, quando eu tiver dado o sinal de retirada, não tentem lutar – nem um golpe sequer –, pois esse tipo de falsa bravura em guerras já arruinou muitos planos excelentes.”

 

 

“– Ninguém deve chamar o demônio sem saber o que está fazendo.”

 

 

De qualquer forma, a gente se sente bem melhor depois de tomar uma decisão.”

 

 

“– Uma morte nobre é um tesouro que ninguém é pobre demais para comprar.”

 

 

– Você, Eustáquio, controle-se e não fique aí xingando feito um moleque de rua! Um guerreiro nunca diz palavrões. Palavras corteses e golpes duros são sua única linguagem.”

 

 

– Como disse um poeta, “um inimigo nobre é a melhor dádiva depois de um amigo nobre”.”

 

 

“Existe certo tipo de felicidade e assombro que faz a gente ficar séria. É bom demais para se estragar com piadinhas.”

 

 

_____________________

 

 

Três maneiras de escrever para crianças

 

 

“Quando escrevemos longamente sobre crianças vistas pelos olhos de adultos, o sentimentalismo tende a se introduzir, ao passo que a realidade da infância, tal como todos nós a vivemos, tende a se excluir. Ora, todos nós nos lembramos de que nossa infância, tal como a vivemos, era infinitamente diferente de como os adultos a viam. Foi por isso que, quando perguntaram a Sir Michael Sadler qual sua opinião sobre uma nova escola experimental, ele respondeu: “Não vou dar nenhuma opinião sobre nenhum desses experimentos enquanto as crianças não crescerem para nos dizer o que realmente aconteceu.”

 

 

“Inclino-me quase a afirmar como regra que uma história para crianças de que só as crianças gostam é uma história ruim. As boas permanecem. Uma valsa da qual você só gosta enquanto está dançando não é uma boa valsa.”

 

 

“O conto de fadas é acusado de dar às crianças uma falsa impressão do mundo em que vivem. Na minha opinião, porém, nenhum outro tipo de literatura que as crianças poderiam ler lhes daria uma impressão tão verdadeira. As histórias infantis que se pretendem “realistas” tendem muito mais a enganar as crianças. Quanto a mim, nunca achei que o mundo real pudesse ser igual aos contos de fadas. Acho que eu esperava que escola fosse igual às histórias da escola. As fantasias não me enganavam, as histórias de escola, sim... Todas as histórias em que as crianças passam por aventuras e sucessos que são possíveis, no sentido de que não rompem as leis da natureza, mas quase infinitamente improváveis, tendem muito mais que os contos de fadas a criar falsas expectativas.

Quase o mesmo argumento responde à popular acusação de escapismo, embora a questão, nesse caso, não seja tão simples. Será que os contos de fadas ensinam as crianças a se recolher num mundo em que todos os desejos se realizam – numa “fantasia” no sentido técnico-psicológico do termo – em vez de enfrentar os problemas do mundo real? Bem, é aqui que o problema se torna sutil. Mais uma vez, vamos comparar o conto de fadas com a história escolar ou qualquer outra história que seja rotulada como “Livro para Meninos” ou “Livro para Meninas” em vez de “Livro Infantil”. Não há dúvida de que ambos despertam desejos e os satisfazem imaginariamente. Temos vontade de passar através do espelho, de chegar ao país das fadas. Também temos vontade de ser aquele aluno ou aluna imensamente popular e bem-sucedido, de ser o menino ou a menina de sorte que descobre a trama do espião ou monta o cavalo que nenhum caubói consegue domar. Os dois anseios, porém, são muito diferentes. O segundo, especialmente quando voltado para algo tão próximo como a vida escolar, é voraz e extremamente sério. Sua realização no nível imaginário é de fato compensadora: nós a buscamos, fugindo das decepções e humilhações do mundo real, e somos mandados de volta a ele com uma insatisfação nem um pouco divina. Trata-se sempre de lisonjear o ego. O prazer consiste em imaginar-se objeto de admiração. O outro anseio, o anseio pelo país das fadas, é muito diferente. Em certo sentido, a criança não anseia pelo país das fadas da mesma maneira que o garoto anseia por ser o herói da sexta série. Será que alguém supõe que ele, de fato e prosaicamente, anseia pelos perigos e desconfortos de um conto de fadas? – que seu desejo é de fato que houvesse dragões na Inglaterra contemporânea? De jeito nenhum. Seria muito mais verdadeiro dizer que o país das fadas desperta no menino um anseio por algo que ele não sabe o que é. Comove-o e perturba-o (enriquecendo toda a sua vida) com a vaga sensação de algo que está além de seu alcance, e, longe de tornar insípido ou vazio o mundo exterior, acrescenta-lhe uma nova dimensão de profundidade. O menino não despreza as florestas de verdade por ter lido sobre florestas encantadas: a leitura torna todas as florestas de verdade um pouco encantadas. Trata-se de um tipo especial de anseio. O menino que lê a história “escolar” do tipo que tenho em mente deseja o sucesso e fica infeliz (quando termina o livro) porque esse sucesso lhe escapa; o menino que lê o conto de fadas simplesmente deseja e sente-se feliz no próprio ato de desejar. Sua mente não esteve concentrada nele mesmo, como acontece frequentemente nas histórias mais realistas.”

Nenhum comentário: