Editora: Zahar
ISBN: 978-85-7665-361-5
Tradução, apresentação e notas: André Telles e Rodrigo Lacerda
Opinião: ★★★★☆
Páginas: 714
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Sinopse: O Conde de Monte Cristo é um clássico da
literatura mundial que mexe com a imaginação e a sensibilidade de milhões de
leitores há mais de 170 anos. E essa obra-prima está de volta na edição
brasileira que merece, que traz o texto integral na tradução viva que venceu o
prêmio Jabuti, 170 gravuras de época e mais de 500 notas explicativas, além de
uma magnífica apresentação e cronologia de vida e obra do autor. A edição
impressa é composta de dois volumes com acabamento em capa dura num lindo box.
Manipulando com maestria os cordões da trama, Alexandre
Dumas prende o leitor numa teia de peripécias de tirar o fôlego – traições,
denúncias anônimas, tesouros fabulosos, envenenamentos e vinganças – e
apresenta uma galeria de personagens que retrata o espectro social de um mundo em
transformação. Um livro maravilhoso numa edição imperdível.
“—Dizem que alegria não faz mal, por isso entrei sem avisar.”
“— Não
sou orgulhoso, mas estou feliz, e acho que a felicidade cega ainda mais que o
orgulho.”
“—Sempre tive mais medo de uma pena, de um tinteiro e de uma folha de
papel que de uma espada ou uma pistola.”
“— Palavras grandiloquentes pedem homens à altura delas.”
“—
Senhor, quero voltar ao assunto desse clube da rua Saint-Jaques.
—
Os cavalheiros da polícia parecem gostar muito desse clube. Por que não
procuraram melhor? Teriam-no encontrado.
—
Não o encontraram, mas estão no rastro.
— É
o que dizem sempre, sei muito bem disso: quando a polícia falha, diz que está
no rastro, e o governo espera tranquilamente o dia em que ela vem lhe dizer,
com o rabo entre as pernas, que perdeu esse rastro.
—
Sim, mas encontraram um cadáver; o general Quesnel foi morto, e em todos os
países do mundo isso se chama assassinato.
— O
senhor disse um assassinato? Mas nada prova que o general tenha sido vítima de
um assassinato: todos os dias encontram-se pessoas no Sena que nele se lançaram
por desespero, que se afogaram sem saber nadar.
—
Meu pai, o senhor sabe muito bem que o general não se afogou por desespero, e
que ninguém se banha no Sena, pelo menos no mês de fevereiro. Não, não, não se
iluda, essa morte é claramente qualificada como assassinato.
— E
quem assim a qualificou?
— O
próprio rei.
— O
rei! Eu o julgava suficientemente filósofo para compreender que não existe
assassinato em política. Em política, meu caro, sabe tão bem quanto eu, não
existem homens, mas ideias; não existem sentimentos, mas interesses; em
política, ninguém mata um homem: suprime-se um obstáculo, ponto final.”
“—
Com efeito — respondeu Villefort, observando o pai com espanto —, com efeito, o
senhor me parece bem-informado.
—
Meu Deus, a coisa é muito simples; os senhores, que detêm o poder, os senhores
contam apenas com os recursos fornecidos pelo dinheiro; quanto a nós, que o
esperamos, contamos com os fornecidos pelo devotamento.
— O
devotamento? — desdenhou Villefort, rindo.
—
Sim, o devotamento; é assim que chamamos, em bom francês, a ambição que espera.”
“Dantès esgotara o círculo dos recursos humanos. Como dissemos que devia
acontecer, voltou-se então para Deus.”
“Havia quatro ou cinco anos que Edmond ouvia apenas o seu carcereiro, e
um carcereiro nunca é um homem para um prisioneiro: é uma porta viva acrescentada
à sua porta de carvalho; é uma barra de carne, acrescentada às suas barras de
ferro.”
“Aprender não é saber; há sabidos e sábios; é a memória que faz os
primeiros, é a filosofia que faz os outros.”
“— Oh, não se iluda! Sofro menos porque há menos força para sofrer. Na
sua idade, temos fé na vida, é privilégio da mocidade acreditar e ter
esperança; mas os velhos veem a morte com mais lucidez.”
“Talvez o genovês fosse como algumas pessoas inteligentes, que nunca
sabem o que devem saber e só acreditam no que lhes interessa acreditar.”
“Dantès
seguiu adiante, voltando-se de tempos em tempos. Ao chegar ao cume de uma
rocha, pôde observar, trezentos metros abaixo dele, seus companheiros, a quem
Jacopo acabava de encontrar e que já se ocupavam ativamente dos preparativos do
almoço, enriquecido, graças à habilidade de Edmond, com uma peça capital.
Edmond
observou-os por um instante com o sorriso compreensivo e triste do homem
superior.
—
Daqui a duas horas — disse ele —, essas pessoas voltarão a partir, cinquenta
piastras mais ricas do que antes, para irem, arriscando a vida, atrás de outras
cinquenta; depois voltarão, seiscentas libras mais ricas, para dilapidar esse
tesouro numa cidade qualquer, com a soberba dos sultões e a confiança dos
nababos. Hoje a esperança faz com que eu despreze sua riqueza, que me parece a
mais profunda miséria; amanhã talvez a decepção faça com que eu seja obrigado a
olhar essa profunda miséria como a suprema felicidade... Oh, não! — exclamou
Edmond. — Isso não vai acontecer; o sábio, o infalível Faria não iria se
enganar apenas no tocante a esse assunto. Aliás, morrer ou continuar a levar
aquela vida miserável e inferior eram a mesma coisa.
Assim,
Dantès, que havia três meses não aspirava senão à liberdade, já não tinha
liberdade suficiente e aspirava à riqueza; a culpa disso não era sua, mas de
Deus, que, limitando a força do homem, proporcionou-lhe desejos infinitos!”
“O coração se despedaça quando, após ter se dilatado exageradamente pelo
bafejo quente da esperança, ele retorna e se encerra na fria realidade!”
“— Só se consola aqueles que querem ser consolados.”
“Por
mais bondosos que sejamos, o senhor entende, logo paramos de visitar as pessoas
que nos entristecem.”
“— Não raro passamos ao lado da felicidade sem a ver, sem a olhar, ou,
quando a vemos e olhamos, sem a reconhecer.”
“Quando mostramos uma cidade que
já visitamos a um amigo, exibimos a mesma vaidade que ao mostrar uma mulher de
quem fomos amantes.”
“Temos
que admitir, para vergonha de um dos representantes mais dignos da nossa moda,
embora há quatro anos sulcasse a Itália em todos os sentidos, Albert não tivera
uma única aventura amorosa.
Às
vezes Albert tentava brincar a esse respeito, mas no fundo ficava singularmente
mortificado; ele, Albert de Morcerf, um dos moços mais concorridos, continuava
deixando a desejar. A coisa era ainda mais penosa na medida em que, de acordo
com o modesto costume dos nossos queridos compatriotas, Albert partira de Paris
com a convicção de que teria os maiores sucessos na Itália e faria as delícias
do bulevar de Gand com o relato de suas façanhas.
Coitado!
Não lhe acontecera nada disso: as encantadoras condessas genovesas, florentinas
e napolitanas estavam presas não aos seus maridos, mas aos seus amantes, e
Albert adquirira a cruel convicção de que as italianas levam pelo menos uma
vantagem sobre as francesas, a de serem fiéis à sua infidelidade.
Não
quero dizer que na Itália, como em toda parte, não haja exceções.”
“—
O ódio é cego, a raiva atordoa, e aquele que serve a vingança arrisca-se a
beber uma bebida amarga.
—
Sim, se for pobre e desastrado; não, se for milionário e habilidoso.”
“—
No primeiro degrau do cadafalso, a morte arranca a máscara que carregamos a
vida inteira e o verdadeiro rosto aparece.”
“— O cavalheiro foi soberano do próprio futuro — disse o conde de Morcerf
com um suspiro —, e escolheu o caminho das flores.
—
Precisamente, senhor — replicou Monte Cristo, com um desses sorrisos que um
pintor jamais será capaz de reproduzir e que levaria um fisiologista à loucura
se o tentasse analisar.”
“— Cada revolução tem suas catástrofes.”
“Aquele que espera o momento de cometer um assassinato julga sempre ouvir
gritos roucos no ar.”
“— Tínhamos também, fosse do lado de Aigues-Mortes, fosse nas Martigues,
fosse em Bouc75, uma
dúzia de entrepostos nos quais armazenávamos as mercadorias e nos quais, em
caso de necessidade, encontrávamos refúgio contra agentes alfandegários e
policiais. O contrabando é uma profissão que rende muito quando nela aplicamos
alguma inteligência, secundada por certo vigor; quanto a mim, vivia nas
montanhas, tendo agora uma dupla razão para temer policiais e agentes da
alfândega, visto que qualquer comparecimento perante os juízes podia gerar um
inquérito, que esse inquérito é sempre uma incursão no passado, e que no meu
passado podia-se descobrir agora uma coisa mais grave que charutos introduzidos
por contrabando ou barris de aguardente circulando sem autorização. Assim,
preferindo mil vezes a morte à prisão, fiz coisas espantosas, que, mais de uma
vez, me provaram ser o excessivo apego que dispensamos ao corpo, na prática, o
único obstáculo ao êxito de projetos que exigem decisão rápida e execução
vigorosa e determinada. Com efeito, depois que sacrificamos nossas vidas,
deixamos de ser iguais aos outros homens, ou melhor, os outros homens deixam de
ser nossos iguais, e qualquer um que tomou essa resolução sente, na mesma hora,
suas forças decuplicarem e seu horizonte se ampliar.”
75:
“fosse nas Martigues, fosse em Bouc”: Martigues, cidade francesa situada no
departamento de Bouches-du-Rhône entre a laguna de Berre e o Mediterrâneo, os
quais são ligados pelo canal de Carconte; Bouc é um canal secundário do canal
que liga Marselha ao Reno; o porto de Bouc é uma localidade às margens daquele.
“— Quanto a esse Benedetto, tão mal batizado77, nunca tentou descobrir
seu rastro? Nunca procurou saber seu paradeiro?
—
Nunca, se soubesse onde estava, em vez de ir ao seu encontro, teria fugido como
de um monstro. Não, felizmente, nunca mais ouvi falar dele pela boca de ninguém
neste mundo; espero que tenha morrido.
—
Não espere isso, Bertuccio — disse o conde. — Os maus não morrem assim, pois
Deus parece tomá-los sob sua proteção para usá-los como instrumento de suas
vinganças.”
77:
“tão mal batizado”: Benedetto, em italiano, significa “abençoado”.
“— Amo os fantasmas; nunca ouvi dizer que os mortos
tivessem feito em seis mil anos o mal que os vivos fazem em um dia.”
“—
Sr. conde — disse Bertuccio —, os cavalos que menciona não estavam à venda.
Monte
Cristo deu de ombros:
—
Saiba, sr. intendente, que tudo está sempre à venda para quem sabe dar o preço.”
“Em geral, o sr. de Villefort fazia ou retribuía poucas visitas. Sua
mulher visitava para ele: era um costume aceito na sociedade, que punha na conta
das graves e numerosas ocupações do magistrado o que na realidade não passava
de orgulho calculado, uma quintessência de aristocracia, enfim, uma aplicação
do axioma: Finge valorizar-te e serás valorizado, que é cem vezes mais
útil em nossa sociedade que o axioma grego: Conhece-te a ti mesmo,
substituído em nossos dias pela arte menos difícil e mais vantajosa de conhecer
os outros.”
“Em matéria de especulação, contudo, o homem põe e o dinheiro dispõe.”
“—
Mas, enfim, Valentine — replicou Maximilien —, por que não ter esperanças, por
que ver o futuro sempre sombrio?
—
Ah, meu amigo, porque eu o julgo pelo passado!”
“— O homem somente será perfeito quando for capaz de criar e destruir
como Deus; destruir, ele já sabe, é meio caminho andado, realmente.”
“—
Ah! — disse Monte Cristo. — Mas o senhor nunca me deu a entender que a solução
seria tão imediata.
—
Que posso fazer? As coisas caminham imperceptivelmente; enquanto não pensamos
nelas, elas pensam em nós; e, quando nos voltamos, somos surpreendidos pela
direção que tomaram.”
“— Veja, eu observava vocês duas ainda há pouco e, pela minha honra,
embora fazendo justiça à beleza da srta. Danglars, não entendia como um homem
poderia se apaixonar por ela.
— É
porque, como você dizia, Maximilien, eu estava aqui e minha presença o fazia
injusto.
—
Não... mas cá entre nós... uma questão de simples curiosidade e que emana de
certas ideias que formei sobre a srta. Danglars.
—
Oh, muito injustas, sem que eu saiba exatamente quais são. Quando vocês nos
julgam, a nós, pobres mulheres, não devemos esperar indulgência.
—
Com a ressalva de que, entre vocês, vocês são justíssimas umas com as outras!
—
Porque, quase sempre, há paixão em nossas opiniões.”
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