Editora: InterSaberes
ISBN: 978-85-8212-611-0
Opinião: ★★★☆☆
Páginas: 184
Sinopse: O objetivo deste livro é explicar as ideias
e os conceitos de pensadores consagrados no campo das ciências sociais e
humanas. Para isso, apresentamos referências essenciais para que você tenha uma
compreensão aprofundada dessa área do conhecimento humano. Dividido em doze
capítulos, o conteúdo retrata uma linha do tempo da construção do pensamento
epistemológico. Os temas abordados incluem: conceito de epistemologia; as
possibilidades do conhecimento; o empirismo; o positivismo; a dialética; a
hermenêutica; o que é ciência?
“A epistemologia
ou teoria do conhecimento é um ramo da filosofia “que indaga pela
possibilidade, origem, essência, limites, pelos elementos e pelas condições do
conhecimento” (Urbano Zilles, A teoria do conhecimento, 1994, p 11).
Composta de dois termos gregos — episteme (“ciência”) e logia
(“conhecimento”) —, a palavra epistemologia significa “conhecimento
filosófico sobre a ciência”.
Como seu próprio
nome indica, a teoria do conhecimento tem como objetivo explicar ou interpretar
filosoficamente o conhecimento humano. Busca um critério de certeza sobre ele,
ou seja, a adequação entre o objeto do conhecimento e seu conteúdo, a coerência
entre o pensamento e a realidade por ele intencionada. (...)
As questões
clássicas da teoria do conhecimento foram apresentadas de forma sucinta por
Johanes Hessen, em sua obra Teoria do conhecimento:
1. Pode o sujeito apreender ou conhecer
realmente o objeto? Questão da possibilidade.
2. De onde se originam os conteúdos da
consciência cogniscente: da razão ou da experiência? Questão da origem do
conhecimento humano.
3. Em que consiste o conhecimento? Questão da
essência do conhecimento.
4. Há outro conhecimento além do racional?
Questão das formas de conhecimento humano.
5. Que critério nos diz se conhecimento é ou
não verdadeiro? (Hessen, 1987)
A teoria do
conhecimento permite que a metodologia possa analisar as condições e os limites
de realidade dos meios de investigação e dos instrumentos linguísticos do saber
científico.”
“A filosofia grega
teve no diálogo a sua origem e a sua forma literária, e a pesquisa filosófica encontrou
no diálogo uma forma de realização perfeita. O essencial no diálogo é
conversar, discutir, perguntar; responder. A comunicação se torna o espetáculo
mais belo da Terra. O diálogo tem como princípio a tolerância. Nele, aprende-se
a liberdade de respeitar e de suportar outros pontos de vista e de propor os
seus princípios sem impô-los.”
“A dialética pode
ser vista como uma teoria das leis gerais do movimento, do desenvolvimento do
mundo e do conhecimento do homem. É definida como um modelo mental dos
processos de modificações e de desenvolvimento do mundo. Enfim, é o diálogo das
coisas entre si, das coisas com os homens e dos homens consigo mesmos e com os
outros homens. Em parte, ela faz renascer na consciência a importância do
diálogo, que já se verificava na Grécia Antiga.”
“A ciência
moderna, independentemente da sua área de estudo, constitui-se a partir de um
conjunto de proposições comparadas e relacionadas entre si, formando um todo.
Tanto a razão como a experiência contribuem para a construção desse
conhecimento. Com o uso da razão, o cientista imagina, inventa ou descobre as
leis; pela experiência, confirma-as ou rejeita-as. Pela razão procura explicar,
compreender e unificar os fatos observados; pela experiência e por
experimentos, tenta mostrar que suas explicações são, de fato, verdadeiras ou
que são falsas, produzindo, então, uma nova teoria. Para que uma teoria ou lei
possa ser reconhecida cientificamente, tem de estar de acordo com determinadas
exigências, estabelecidas nas regras do método científico.
Epistemólogos e
cientistas já atribuíram várias características ou propriedades à ciência
moderna. Seguem alguns exemplos dessas características: OBJETIVA, porque estuda
objetos concretos; EXPERIMENTAL, porque necessita estar baseada na experiência
e nos experimentos; PRECISA, porque deve ser exata o máximo possível; METÓDICA,
porque deve observar cuidadosamente todas as regras do método científico;
RESÍVEL, porque pode modificar-se e corrigir-se; PRÁTICA, porque pode ter
aplicações concretas por meio da técnica; PROVÁVEL, porque muita coisa que está
sendo verificada pode ser tomada como muito próxima da verdade; SISTEMÁTICA,
porque uma verdade científica está relacionada com outra, formando um todo.
O conhecimento
científico é uma construção lógica e intelectual que está solidificada nas
regras científicas da coerência dos princípios teóricos, da observação e da
experimentação. Espera-se que os resultados obtidos possam contribuir para a
mudança dos princípios teóricos ou construir novos. Mas isso não significa que
esses princípios apresentam a realidade em si mesma. Eles apenas revelam a
estrutura e o modelo de funcionamento da realidade, por meio das explicações
sobre os fenômenos observados. Portanto, a ciência não afirma nenhuma verdade
absoluta, e sim uma verdade próxima da realidade, que está sujeita a
modificações, complementos teóricos ou até mesmo à substituição por outra
teoria mais apropriada.
O discurso
científico apropria-se do poder do evento, coisa que o discurso mítico não
fazia. Isso gerou no homem moderno a convicção de que o discurso da ciência é
poderoso e que o conhecimento mais recente é o mais poderoso, porque lutou
contra os outros, refutou-os e venceu. Mais do que um progresso na compreensão
da experiência humana, as ciências demonstram a vontade do homem de ampliar seu
poder sobre a natureza e sobre a própria condição humana. Com isso, espera-se
que o homem vença aspectos angustiantes, tendo uma existência mais jubilosa.
(...)
Com a revolução
científica, a ciência buscou novos modelos e métodos para assegurar sua
cientificidade e credibilidade, nos moldes da matemática, vista como exata,
rigorosa, objetiva, universal, necessária e desprendida da subjetividade e do
valor. Passou, assim, a ser definida como produtora de um conhecimento que se
apropria do real e explica-o de forma objetiva, por meio de leis universais.”
“A pergunta que
fica é a seguinte: Será que existe algum critério que permite separar as
proposições científicas das demais proposições? Para o epistemólogo Karl
Raimund Popper (1902-1994), é possível. Segundo ele, devem ser chamados de
científicos somente os enunciados que podem ser relacionados, confrontados e
julgados pelos fatos.
Segundo Popper, o
que faz uma proposição ser científica é seu conteúdo experimental, e não sua
veracidade ou falsidade. Ou seja, tudo aquilo que, de um modo ou de outro, pode
ser colocado diante dos fatos para ser julgado é científico, mesmo que seja
falso. Científico é sinônimo de testável, experimentável, falsificável.
É importante
salientar que existem muitos temas que não têm natureza experimental e,
portanto, não podem ser submetidos a uma abordagem pela ciência experimental.
Não é possível aplicar o método científico aos conhecimentos filosóficos,
teológicos e matemáticos.
O fato de o
conhecimento científico estar baseado em fatos não garante que seja mais certo
e mais objetivo que outros tipos de conhecimento. É interessante ressaltar que
o conhecimento científico é somente uma forma de conhecimento. Não é a única
nem a melhor nem a mais certa. A sua vantagem é poder ser julgado pelos fatos
mais facilmente.
O filósofo Karl
Popper fez uma reelaboração do conceito filosófico-científico da verdade.
Durante muitos séculos, considerou-se que a correspondência exata, ou a verdade
entre uma ideia e a realidade, estava na coerência interna dos conceitos. No
período moderno, tinha-se a concepção de que o falso ou a inverdade de uma
teoria significava falta de coerência e que a contradição entre seus princípios
ou entre seus conceitos era sinônimo de falta de confiabilidade. A proposta do
autor era ver a teoria científica por outro ângulo, ou seja, pela possibilidade
de uma teoria ser falsa ou falsificada.
Segundo Popper, a
riqueza de uma teoria científica está justamente na possibilidade de estar
aberta a novos fatos, desconstruindo, assim, princípios e conceitos tidos como
verdadeiros. Nessa nova leitura de ciência, o valor de uma teoria não se
restringe à verdade, mas à sua falseabilidade. A ideia de progresso científico
é essencialmente ver uma teoria se constituindo e se corrigindo por meio de
novos fatos, e não enclausurada dentro de conceitos e de princípios fechados.
Em outras palavras, uma teoria é um conceito.”
“A crise atual com
que as ciências humanas e sociais se deparam diz respeito à constituição do
sujeito, isto é, a qual é a sua identidade, a qual grupo pertence. Como dizem
os cientistas políticos,
Globalização diz respeito à multiplicidade de
relações e interconexões entre Estados e sociedades, conformando o moderno
sistema mundial. Focaliza o processo pelo qual os acontecimentos, as decisões e
as atividades em uma parte do mundo podem vir a ter consequências
significativas para indivíduos e coletividades em lugares distintos do globo. (McGrow, Conceptualizing Globas Politics,
1992, p. 23)
A globalização
modela a subjetividade segundo os interesses e as disputas dos capitais e das
hegemonias políticas, tornando a relação da sociedade com o indivíduo
extremamente complexa. Hoje, invadem-se culturas inteiras com pacotes de
informações, entretenimentos e ideias, rompendo-se fronteiras e
desconsiderando-se a história e as ideias que caracterizam o modo de ser de
cada pessoa, ou seja, a sua individualidade. Como diz Marshall McLuhan, citado
por Octavio Ianni (1996, A sociedade global, p. 48), “A cultura
eletrônica da aldeia global coloca-nos ante uma situação na qual sociedades
inteiras comunicam-se mediante uma espécie de ‘gesticulação macroscópica’, que
não é em absoluto linguagem no sentido usual”.
O reflexo dessa
situação global está presente nas mídias de massa, que impõem padrões
estéticos, éticos e políticos. Segundo Foucault, essas mídias têm tal poder
sobre a subjetividade que assumem o controle sobre certos comportamentos,
determinando, assim, certos movimentos sociais e interferindo, sobretudo, no
consumo de determinados produtos, em suma, invadindo a subjetividade e
gerenciando a vida do indivíduo. (...)
O maior desafio
hoje é a ideia de autonomia em relação ao sujeito e ao objeto, visto que o
objeto se autoconstrói. Faz-se necessária uma reorganização democrática da
sociedade, perpassando pelo desenvolvimento da ciência e da técnica. Essas
transformações estão diretamente ligadas à questão da subjetividade;
modificando a visão de que as diferenças sociais não significam desigualdade
social, mas pluralidade.
É preciso uma
diversidade de experiências em diferentes grupos e indivíduos, dando espaço
para que os grupos ditos excluídos possam mostrar suas identidades específicas,
tornando-se sujeitos de suas vidas. O desafio maior com que os cientistas se
deparam no contexto atual é com a hierarquização das diferenças sociais e
culturais.
As ciências
humanas e sociais buscam a constituição dos sujeitos contemporâneos para que
possam desenvolver socialmente seus potenciais de diferença e preservar, assim,
a sua individualidade e seu modo de ser; considerando sexo, raça, religião,
cultura e as formas de manifestação de seus desejos e comportamentos. Objetivam
também que essa individualização ou subjetividade, ou identidade cultural, não
seja legitimada como desigualdade social. A envergadura científica está
justamente no âmbito das fronteiras mundiais, isto é, implica resgatar;
pesquisar as nacionalidades, as regionalidades de cada povo e cultura,
retomando, com isso, a criatividade e a subjetividade humana.”
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