Editora: Vida
Nova
ISBN:
978-85-2750-218-4
Opinião: ★☆☆☆☆
Páginas: 230
Sinopse: No
Brasil de hoje, muitos púlpitos estão proclamando uma nova mensagem através de
todo o país. Tem sido pregado que a saúde e a prosperidade se encontram à
disposição de todos os que se achegam a Cristo e reivindicam seus direitos
diante de Deus. Portanto, não há motivos pelo qual o cristão deva passar por
doenças ou sofrimentos.
Com boas razões essa mensagem tem sido chamada de
evangelho da prosperidade, pois ela proclama as boas novas de sucesso na vida.
Não é de admirar que seja acolhida por muitas pessoas que a ouvem. Mas, será
que ela é bíblica? A Bíblia realmente faz tais promessas àquele que crê? O que
Cristo oferece para esta vida: uma coroa ou uma cruz?
Neste livro, o Professor Alan Pieratt, Ph.D., da
Faculdade Teológica Batista de São Paulo*, responde a cada uma dessas
perguntas, com erudição e zeloso amor cristão. As informações que ele apresenta
sobre as raízes da teologia da prosperidade por certo deixarão o leitor
surpreso.
“Ao identificar a lei em Gálatas como sendo a
lei mosaica de Deuteronômio 28, Hagin entendeu de forma completamente errônea a
natureza da salvação e tornou insignificante a necessidade que o homem tem de
um salvador. Não é somente da pobreza e da doença que precisamos ser redimidos,
mas, acima de tudo, da culpa do pecado cometido.
Hagin interpreta de forma errada o
relacionamento entre o Antigo Testamento e o Novo. Ele afirma que, hoje, os
cristãos passam por doenças e pobreza como resultado da maldição da lei
mosaica. Isto só pode ter um significado: a lei mosaica aplica-se à igreja
cristã de hoje. Mas, seguramente, isso representa uma completa confusão entre
Israel e a igreja e revela que ele confunde o Antigo Testamento com o Novo. A
igreja não se encontra debaixo da lei de Moisés (cf. Rm 3.19 e Ef 2.14). Se
fosse assim, todos os homens deveriam se submeter à circuncisão, as festas
judaicas deveriam ser observadas, poderíamos ingerir apenas comida kosher, sacrifícios deveriam ser
oferecidos no templo, etc. Mas a lei foi abolida para a igreja e portanto, as
maldições de Deuteronômio 28 não têm aplicação direta para ela.
Hagin interpreta mal a natureza da doença.
Ele diz que o cristão passa por doenças, porque a maldição da lei mosaica
sobrevém àquele que não afirma seus direitos por meio da expiação. Mas se é
assim, qual a razão que leva o restante da humanidade a sofrer doenças e
pobreza? A resposta bíblica para esta pergunta está no fato de que o mundo não
é aquilo que deveria ser, por causa da queda de Adão, registrada em Gênesis
Com Adão, a raça humana inteira ficou sujeita
a doenças, miséria e morte. As doenças alistadas em Deuteronômio 28 não faziam
parte desse julgamento divino sobre o mundo como um todo, mas representavam o
julgamento prometido aos judeus que desobedecessem. Ele não está ligado à
fraqueza do corpo, que faz parte de nossa natureza decaída. Paulo disse que
habitamos um “corpo de humilhação” (Fp 3.21) e que nosso homem exterior está se
corrompendo (2 Co 4.16). Ele afirma que toda a criação “geme” debaixo da
maldição do sofrimento (Rm 8.19, 20), incluindo os cristãos. O corpo humano
será transformado um dia, para ser como Cristo (Fp 3.21), mas esse dia ainda
não chegou.
Finalmente, assim como Hagin não entendeu o
significado da lei em Gálatas 3, ele também identificou de forma errada a
bênção de Abraão como sendo prosperidade material. Ele escreve: “A primeira
coisa que Deus prometeu a Abraão foi que iria enriquecê-lo. ‘Você quer dizer
que Deus vai enriquecer todos nós?’ Sim, é isto que quero dizer” (Redimidos, 8). Mas isso perde totalmente
de vista aquilo que Paulo está tentando dizer nessa passagem. Ele está
explicando que as nações gentílicas foram incluídas na esperança da salvação
por meio de Abraão. Isso fica muito claro em Gálatas 3.7-9:
Sabei, pois, que os da fé é que são filhos de Abraão. Ora, tendo a
Escritura previsto que Deus justificaria pela fé os gentios, preanunciou o
evangelho a Abraão: Em ti serão abençoados todos os povos. De modo que os da fé
são abençoados com o crente Abraão.
A expiação abriu as portas para que os
gentios fossem contados como filhos de Abraão, que é sempre mencionado no Novo
Testamento como exemplo de um homem que, por meio de sua fé, encontrou
salvação, não riqueza. Ele ficou conhecido como o pai dos que creem, exemplo
supremo de um homem de fé (Rm 4.12-16; Gl 3.6, 9), não por ser rico e próspero,
mas porque teve fé para deixar sua terra (Hb 11.8), para confiar na promessa
que Deus fez de lhe dar um filho em sua velhice (Hb 11.11) e até para
sacrificar seu próprio filho, quando este lhe foi solicitado (Hb 11.17; Tg
2.21). O ponto central de Hebreus 11 é que os santos de Deus, incluindo Abraão,
foram fiéis apesar dos problemas, não por serem prósperos. A maioria deles nem
levou uma vida de prosperidade, mas, em vez disso, morreu martirizada. A fé que
eles demonstraram honrou a Deus por ser fé apesar das circunstâncias, não uma
fé que muda as circunstâncias para melhor.
Por outro lado, em oposição à interpretação
de Hagin, a prosperidade física de Abraão nunca é um assunto de interesse na
Bíblia. Nos 216 versículos que mencionam o patriarca, não existe qualquer
indício de que a riqueza que lhe foi dada fosse importante para ele como pessoa
ou elemento essencial de sua relação com Deus. Portanto, ver na promessa de
Deus a Abraão uma referência básica às riquezas materiais não passa de uma
interpretação grosseira.
A conclusão dessa exegese de Gálatas 3 é que
Hagin identificou erroneamente tanto a maldição quanto a bênção referidas na
passagem. A maldição debaixo da qual a humanidade se encontra sofrendo não é
simplesmente a doença ou a pobreza, mas a ira de Deus dirigida ao homem por
causa do pecado. Assim como a maldição de Gálatas 3 é muito mais profunda e
mais terrível do que Hagin supõe, igualmente a bênção é muito mais maravilhosa.
Hagin coloca-a dentro dos limites da riqueza e prosperidade física, mas, de
fato, ela é nada mais nada menos do que a salvação. Somos abençoados porque,
pela fé, tornamo-nos filhos de Abraão e herdamos o direito de nos assentar com
ele no reino. Embora o próprio Hagin possa não ser um materialista que busca
lucro pessoal, ao destacar a prosperidade material e as bênçãos físicas como
resultado da fé, ele está transformando o cristianismo numa religião de
supermercado, onde as pessoas vão, pagam e esperam receber em troca a
satisfação de suas necessidades.
Deve-se notar que esta compreensão errônea de
Gálatas 3 é a chave para a interpretação da Bíblia, segundo os ensinos da
prosperidade. Identificar a lei como sendo a lei mosaica e a bênção como
prosperidade material torna-se a base interpretativa de todos os outros textos
que versam sobre salvação. Por exemplo, Mateus 8.17, referindo-se a Cristo, diz
o seguinte:
“... para que se cumprisse o que fora dito
por intermédio do profeta Isaías: Ele mesmo tomou as nossas enfermidades e
carregou com as nossas doenças”. Esta citação de Isaías 53.4, 5 é interpretada
da perspectiva da doutrina da prosperidade e considerada como prova de que a
redenção inclui a promessa de saúde perpétua para o cristão. Não pode haver
dúvida de que Mateus (veja também 1 Pedro 2.24) está se referindo aos
benefícios físicos e espirituais da expiação. Mas a questão não é se a redenção
envolve o homem como um todo. É claro que sim. Tanto o corpo quanto a alma
serão um dia redimidos (Rm 8.23). A questão é se essa redenção aplica-se
completamente aqui e agora, nesta vida. Por ora, basta observar que, nesse
versículo, a expressão “para que se cumprisse” não significa que a profecia foi
completamente cumprida naquela época ou no tempo vivido hoje pela igreja, sendo
que nada mais resta. Tanto em sua execução quanto em seus benefícios, a
redenção é um processo, e nem todos esses benefícios já foram alcançados.
Outros dois versículos geralmente
interpretados por Hagin da perspectiva da doutrina da prosperidade são Mateus
15.26 e Êxodo 15.26. Sobre este último afirma-se que se trata da primeira
promessa de cura na Bíblia. Junto com textos como Salmos 103.3 (Ele é quem
perdoa todas as tuas iniquidades; quem sara todas as tuas enfermidades),
afirma-se que a cura estava e está à disposição de todos os que creem. Mas não
se explica como essas promessas do Antigo Testamento se relacionam com a
expiação de Cristo, que apareceria somente séculos depois. Na passagem de
Mateus, a cura da enfermidade efetuada por Jesus é chamada de “o pão dos filhos”.
Há quem afirme que isso pode significar só uma coisa: a cura é uma norma para
os cristãos de hoje (Bailey, 1977; Soares, 1987), uma vez que todos os cristãos
são filhos de Deus. Nos dois versículos, o que está em jogo são os benefícios
da expiação.
Eles foram plenamente recebidos? Teríamos nós
o direito de esperar a cura completa do corpo e da alma quando nos tornamos
cristãos?
Precisa ser observado que em nenhum dos
versículos existe a promessa de que todas as enfermidades serão curadas, mas
apenas uma declaração de fé no sentido de que, quando a cura acontece, Deus é
sua fonte. Dizer que Deus é quem cura não é o mesmo que dizer que Deus é quem
sempre opta por curar, ou quem cura automaticamente, ou quem confere o direito
à cura. É simplesmente dizer que, quando existe cura, ela vem de Deus.
Resumindo, o erro básico da doutrina da
prosperidade está em pressupor que a expiação de Cristo removeu não somente a
culpa do pecado, mas também suas consequências. Em outras palavras, ela afirma
que não apenas fomos perdoados de nossos pecados, mas os efeitos do pecado
também foram removidos. Mas Paulo deixa claro que as consequências do pecado
não serão removidas nessa vida. É exatamente por isso que toda a criação geme
(2 Co 5.4), aguardando o dia em que a redenção se completará. Por enquanto, o
mundo continua decaído em natureza, e a vida ainda é curta e difícil. Muita
coisa da expiação está no futuro. Esse ponto constitui nossa primeira grande
resposta à teologia de Hagin e, portanto, precisa receber toda atenção.”
“Em segundo lugar, consideramos a promessa e
a exigência quanto à saúde e às riquezas. O neófito que ouve pela primeira vez
a pregação da prosperidade pressupõe que as promessas não têm limites. Ele ouve
que o fiel pode ter sempre saúde e ser próspero ou pelo menos tem direito a
isso. Quanto mais ouve, o discípulo da prosperidade aprende que existem regras
ou procedimentos a serem respeitados: não duvidar, reivindicar a bênção em voz
alta, exigir seus direitos, usar sempre o nome de Jesus, etc. Entretanto, o
fato é que as exigências não param quando essas regras já foram obedecidas. Há
um peso maior a ser carregado. O fiel passa a entender que ele não somente tem
o direito, mas a obrigação de ser próspero, pois a posse dessas bênçãos prova
que ele é uma pessoa de fé que está debaixo da aprovação e da bênção de Deus.
Em outras palavras, as próprias promessas dos ensinos da prosperidade
transformam-se em exigências. Este é o segredo dessa doutrina. Se o fiel fica
doente ou está longe do sucesso, ele está falhando como cristão. É por isso que
não há lugar para visitas em hospitais no ensino da prosperidade. A pessoa
doente é como Jó: encontra-se debaixo dos olhares de acusação de seus amigos.
Saúde e sucesso perpétuos são tanto promessas quanto exigências da doutrina da
prosperidade. Este é um peso muito grande para ser carregado, porque, mais cedo
ou mais tarde, todo cristão enfrentará problemas. Quando eles aparecem para o
seguidor dos ensinos da prosperidade, culpa e dúvida surgem como consequências.
Com o passar do tempo, muitos abandonam o movimento, ao perceberem que aqueles
ensinos não resolverão seus problemas, mas farão somente com que se sintam
culpados por causa da presença deles.
Contrastando com isso, na espiritualidade
bíblica o cristão tem o direito de falhar. A Bíblia exige que perseveremos na
fé e no amor por Deus e pelos homens, mas em nenhum lugar ela insinua que saúde
e prosperidade são sinais da graça de Deus. Pelo contrário, o sucesso não é
critério pelo qual o favor de Deus pode ser medido. Jó, Asafe, Paulo e o autor
de Hebreus foram extremamente claros nesse ponto. Em outras palavras, as
promessas que a Bíblia faz ao cristão são bem diferentes daquelas concedidas no
ensino da prosperidade, pois o cristianismo é uma religião da vida do porvir,
não da vida do agora. Isso é bem expresso por Warfield, que escreve:
Nosso Senhor nunca permitiu que se imaginasse, sequer por um momento,
que a salvação que ele trouxe é fundamentalmente para esta vida. Sua religião
destacava-se por ser de outro mundo. Ele com frequência apontava para o além,
fazendo com que os homens vissem ali seu verdadeiro lar e nele colocassem suas
esperanças e aspirações. (Counterfeit Miracles. Banner of Truth Trust, 1972, p.
177)
Com respeito a esta vida, a Bíblia tem pouco
a oferecer em termos de promessas de melhorias. Ela não promete que pelo fato
de uma pessoa ter se arrependido de seus pecados e crido em Cristo, o salário
dela irá aumentar ou sua saúde melhorar.
Pelo contrário, a palavra do Senhor nas
Escrituras, diante da doença, frequentemente é essa: “a minha graça te basta”
(2 Co 12.9). Cristo nunca foi visto enriquecendo qualquer de seus seguidores.
Em vez disso, o único conselho de economia que a Bíblia oferece é no sentido de
que lancemos sobre ele nossa ansiedade, pois ele tem cuidado de nós (1 Pe 5.7).
Melhorias na saúde ou no padrão de vida podem ocorrer na vida do cristão, mas
caso ocorram, elas se devem ao abandono de velhos hábitos e à adoção de
outros.”
“Embora na espiritualidade bíblica seja
oferecida muita coisa ao cristão, as exigências também não são poucas.
Começamos por dizer que a fé deve ser do tipo que se caracteriza por humildade
e gratidão e que reconhece que tudo que vem da mão de Deus é pura dádiva (Ef
2.8-19). Não há lugar para coisas como “reivindicar direitos diante de Deus”.
Em segundo lugar, ela deve ser do tipo que procura servir a Deus e aos homens.
Na espiritualidade bíblica, Deus nunca é procurado como meio para se atingir um
fim, como se o cristão viesse buscar a bênção que ele pode oferecer, em vez de
buscar o próprio Deus. O “eu” nunca é o centro de atenção na espiritualidade
bíblica. Antes, a verdadeira espiritualidade olha para o lado de fora, na
direção de Deus e de nosso semelhante. Portanto, o alvo da vida cristã é servir
a Deus e aos homens (Fp 2.12; 1 Pe 4.2), e revela-se de grande importância o
fato de Paulo ter usado as mais fortes imagens que pôde achar para declarar
essa verdade (1 Co 9.19; 2 Tm 2.2-5).”
“A expressão “teologia da glória” serve bem
para caracterizar o evangelho da prosperidade, pois este prega e ensina que a
vida do cristão deve ser uma vida de vitória. Hagin expressa exatamente esse
ponto, ao escrever:
Nosso problema é que temos pregado uma religião de “cruz”, sendo que precisamos
pregar uma religião de “trono”... Na verdade, a Cruz é um lugar de derrota, ao
passo que a Ressurreição é um lugar de triunfo. Quando se prega a cruz, está-se
pregando morte e deixa-se o povo na morte. Morremos, sim, mas ressuscitamos com
Cristo. Estamos assentados com Ele. Essa é a nossa posição atual: Estamos
assentados com Cristo no lugar de autoridade, nos lugares celestiais.
(Autoridade, 23, 24.)
Observe bem a frase “a nossa posição atual...
nos lugares celestiais”. É exatamente isto que significa a teologia da glória.
Essa espiritualidade foi encontrada primeiramente entre os cristãos coríntios
(McConnell, 1988). De fato, talvez eles possam ser chamados os primeiros
defensores da prosperidade, pois pensavam em si mesmos como filhos do rei que
já haviam começado seu reinado nesta vida. Eles não se sentiam bem com a vida
sacrificial e o sofrimento de Paulo, pois o fraco, o doente e o pobre não têm
lugar nessa espiritualidade. Por essa razão, Paulo teve de defender seu
ministério apostólico várias vezes (2 Co 10.7-18; 11.5-33; 12.1-6). Eles se
impressionavam apenas com pregadores que revelavam poder, prestígio e
prosperidade.
Em contraste com isso, a teologia da
cruz mede todas as coisas pelo padrão do sofrimento de Cristo. Ela diz que as
exigências do cristianismo são grandes porque o sacrifício de Cristo foi
grande. Ela também diz que o discípulo não é maior do que seu mestre e, se
Cristo teve de sofrer, seus discípulos também precisam estar dispostos a fazer
o que for necessário a serviço dele (Mc 8.34). Aquele que não age assim, não é
digno de Cristo (Mt 10.38). Isso significa que devemos crucificar nossos
desejos pelas coisas do mundo, em vez de exigi-los como parte de nossos
direitos (Gl 5.24; Tg 4.4; 1 Jo 2.15-17). Por causa da cruz, Cristo tem todo o
direito de insistir em obediência, serviço, autonegação e sacrifício. Paulo
disse: “... pregamos a Cristo crucificado” (1 Co 1.23; 2.2). Esta era a
primeira verdade do cristianismo e tinha de ser estabelecida antes que fosse
ensinada qualquer outra doutrina ou insinuado algum outro estilo de vida.
A exemplo dos coríntios de tanto tempo atrás,
o evangelho da prosperidade fala da cruz somente em termos dos benefícios que
dela podemos auferir, nunca das exigências que ela nos faz. Pressupõe-se que
Jesus foi para a cruz a fim de que a pessoa que crê não precisasse ir para lá e
que o fiel pode colher a glória sem participar da vergonha. Esta é a essência
da teologia da glória. É a teologia de outro evangelho.”
Um comentário:
A titulação atribuída ao autor na sinopse não pôde ser confirmada (sequer o currículo lattes dele foi encontrado).
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