Editora: Civilização Brasileira
ISBN: 978-85-200-1407-3
Opinião: ★★☆☆☆
Páginas: 128
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Sinopse: Com
linguagem acessível, Eduardo Moreira, que vem sendo citado por ícones das
esquerdas brasileiras – como Luiza Erundina, Fernando Haddad, Guilherme Boulos
e Ciro Gomes –, oferece, em O que os donos do poder não querem que você
saiba, meios para que os leitores descubram por si mesmos por que ser bem
informado é algo valioso – um valor real, palpável e até financeiro.
O autor oferece ferramentas para que todos possam
entender como funcionam o capitalismo – “um modelo que depende intrinsicamente
da desinformação em massa” – e o lucrativo mundo das finanças. Discute como o
sistema manipula sentimentos ancestrais, comuns a todas as pessoas, para vender
mais produtos e serviços. E também analisa o que o sistema capitalista e o
socialista têm de melhor.
Sem cair em dogmatismos e fórmulas prontas, Eduardo
Moreira apresenta as duras verdades que os ricos e poderosos buscam esconder
com gastos astronômicos em propaganda e com a compra de influência a favor de
seus próprios interesses. Desejando contribuir com a formação de um pensamento
crítico, genuíno e emancipado, o autor compartilha com leitores e leitoras suas
descobertas ao longo de sua vida profissional e pessoal sobre o sistema
político, econômico e financeiro em que estamos inseridos.
“Infelizmente vivemos em um mundo onde conhecemos muito pouco sobre
aquilo que usamos, defendemos ou criticamos. Um mundo de aparências,
preconceitos, propagandas e enganos. Sabemos pouco sobre o que comemos, sobre
nossos investimentos, sobre as estruturas políticas e de poder, e também sobre
o que queremos. E é desse universo de desconhecimento, de comportamento míope e
de manada que alguns poucos se aproveitam para ter cada vez mais poder,
dinheiro e meios.”
“Vamos
focar agora nas pessoas que precisam de dinheiro. (...) Vamos pensar, por
exemplo, em alguém que queira abrir um novo negócio. Imaginemos que essa pessoa
tenha apenas metade do dinheiro de que precisará para empreender seu sonho. Só
existem duas maneiras de ela conseguir a outra metade: ou pegará emprestado ou
chamará alguém para ser seu sócio. No primeiro caso, precisará emitir um
comprovante (um título) para que o credor (aquele que lhe emprestou o dinheiro)
possa cobrar a devolução da quantia numa data futura. No caso de chamar um
sócio, precisará também emitir um certificado para essa pessoa poder provar que
é agora também dona do negócio – e, portanto, tem direito a uma parcela de seus
resultados. O comprovante que a pessoa emite para o credor que lhe emprestou
dinheiro é um título de dívida, ou título de renda fixa. E o
comprovante emitido para o sócio é uma ação. Agora a notícia bombástica:
TODO o mercado financeiro resume-se a somente esses dois títulos, os de
dívida e as ações!
Bancos
(não falei que voltaríamos a eles?) e corretoras de valores têm a função de
intermediar o dinheiro que é utilizado por pessoas e empresas, e fazem isso
através da emissão de dívidas (títulos de renda fixa) e da troca ou emissão de
participações em sociedades (as ações). Tudo o que você faz num banco resume-se
a isso. Do dinheiro parado em conta corrente até os fundos de investimentos,
CDBs, negociações no Tesouro Direto e mais aquela centena de produtos
aparentemente complicados – todos são ou uma dívida ou uma participação
societária!”
“Títulos
de capitalização são simplesmente sorteios, como as loterias, só que com
prêmios ridiculamente menores. Títulos de capitalização deveriam ser proibidos
por lei de serem vendidos. Pelo menos de serem vendidos como o são, apresentados
como uma forma de investimento. “Compre este título de capitalização, receba
seu dinheiro corrigido pela inflação e ainda concorra a 10 carros novos (ou a
uma casa, um prêmio da loteria federal etc.)!” Quanta maldade fazer isso com as
pessoas. Aprenda como funcionam esses títulos nas linhas a seguir e nunca mais
você os comprará (ou deixará um amigo comprá-los). A mecânica é simples e
funciona assim: a taxa de juros da maioria dos países é maior do que a
inflação, e a diferença entre as duas taxas é o que chamamos de juro real, ou
seja, quanto você ganha de verdade em poder de compra, caso invista nos títulos
de renda fixa do governo. Por exemplo, imagine que a taxa básica de juros da
economia brasileira seja de 12% e a inflação seja de 7% – a taxa de juro real é
de 5%. Quando você investe em um título de capitalização de um banco, ele lhe
paga os 7% desse nosso exemplo, referentes à inflação. E, com os 5% que sobram,
compra alguns poucos carros ou bilhetes de loteria para sortear entre os
desinformados compradores dos títulos. E todo o resto do dinheiro embolsa como
lucro. Títulos de capitalização não são investimentos, são sorteios da pior
qualidade! Se, em vez de comprar títulos de capitalização, você investir o
dinheiro em títulos do governo e fizer suas apostas toda semana diretamente na
loteria federal, por exemplo, seu dinheiro renderá muito mais, e, caso você
ganhe o sorteio, o prêmio será muito melhor do que as migalhas que o banco vai
lhe dar. Não gaste sua sorte por tão pouco.”
“Quando
você coloca seu dinheiro em um banco, imagina que o risco de perdê-lo é igual
ao risco de o banco quebrar, mas, na maioria das vezes, esse raciocínio é
absolutamente equivocado. Bancos são apenas grandes cofres. Se o
dinheiro está parado na sua conta corrente sem estar aplicado em lugar algum,
esse raciocínio é verdadeiro; ou seja, se o banco quebrar, você perde seu
dinheiro e, portanto, deveria sempre buscar o banco de maior solidez (que não
necessariamente é aquele que faz mais propaganda). No entanto, na maior parte
do tempo, seu dinheiro não está parado na conta corrente, mas aplicado em algum
investimento. E, em boa parte desses casos, pouca diferença faz o banco em que
você está: importa mesmo o investimento em si!
Vamos
a um exemplo prático, os fundos de investimento. Poucas pessoas sabem, mas
fundos de investimento são pessoas jurídicas, com CNPJ próprio, diferente dos
bancos que os vendem. O que isso quer dizer? Que, quando você investe em um
fundo, seu dinheiro deixa aquele banco e vai para outro lugar! E, a partir
desse momento, seu risco passa a ser equivalente aos investimentos que estão
sendo feitos dentro do fundo.
Supondo
que você esteja no banco mais sólido do país e, segundo a sugestão de seu
gerente, investiu no fundo que tem títulos de empresas ruins à beira da
falência, você pode perder todo o seu dinheiro e o banco não terá
responsabilidade alguma de ressarci-lo. Aconteceu isso há pouco tempo no Brasil
com muitos fundos de ações distribuídos por grandes bancos, que tinham participações
em empresas que tiveram seu valor dizimado a quase zero. Os fundos sofreram e
seus investidores perceberam que pouco adiantou terem escolhido com tanto
cuidado o banco em que depositaram seu dinheiro. Da mesma forma, se você está
em um banco ou empresa financeira menor, mas investe em um fundo com bons
ativos, essa empresa pode ter problemas, mas você estará protegido porque seu
dinheiro não está mais lá, está no fundo.
Pensem
o que isso significa. Se bancos têm fundos de investimento que rendem menos do
que as empresas menores, e o risco dos dois é o mesmo (ou bem semelhante), qual
seria a reação imediata e sensata de todos? Tirar todos seus investimentos dos
bancos grandes e transferi-los para os que são focados em investimentos. O que
seria um desastre para os grandes bancos. A solução? Vender a falsa impressão
de que é tudo uma coisa só, e que você só está “seguro” de verdade ali. E tome
de bicicleta nas ruas. É por isso que em países desenvolvidos, onde a população
tem uma melhor educação financeira, 95% das pessoas chegam a ter seus
investimentos fora dos grandes bancos. No Brasil, só 5% conseguiu escapar de
suas armadilhas.”
“Bancos
(a maioria deles) cobram inúmeras tarifas de seus clientes e quase todas fora
dos fundos. E, curiosamente, as pessoas não descontam esses gastos daquilo que
ganharam nos investimentos. Deveriam! Quando o fizerem, vão perceber que
provavelmente estariam mais bem servidos guardando dinheiro no colchão do que
deixando nos bancos. Parece um exagero, uma loucura falar isso, mas até um
determinado valor é a mais pura verdade.
Há
pouco tempo fiz essa conta para uma das colunas que escrevo num dos grandes sites
de economia e negócios do país, e o valor era acima de 100 mil reais. Ou seja,
para qualquer valor menor do que esse, você estaria mais bem servido deixando o
dinheiro parado no cofre de casa do que aplicado no fundo do banco – dado que
as tarifas corroeriam mais do que você ganharia de juros reais. Como num truque
de mágica, os bancos conseguem fazer seus clientes não prestarem atenção nos
mecanismos que criam para ganhar o seu dinheiro.
Recentemente
o país parou em protestos porque os transportes públicos iriam ter suas tarifas
aumentadas em alguns centavos. Não entendo como não param o país para protestar
contra o fato de que os cinco maiores bancos do país cobram mais de 100 bilhões
de reais anualmente em tarifas! Talvez o maior imposto que a maioria da
população pobre do país pague hoje seja esse, para os bancos. Claro, um imposto
mascarado, não oficial, mas um tributo real e avassalador.
A
caderneta de poupança mereceria uma nota, também, descrevendo por que está
sempre, em qualquer condição econômica, como um dos piores investimentos
disponíveis (e um dos mais lucrativos para os bancos). Em vez de escrever,
porém, deixo uma pergunta ao leitor: se a caderneta de poupança fosse realmente
um bom investimento para as pessoas, precisaria de tanta propaganda e haveria
tanto interesse em ser vendida pelos bancos? Façam seu dever de casa e
descubram.”
“O capitalismo sobrevive somente em função da
propaganda que faz dele o que não é. Mais propriamente dito: da propaganda de
um sistema que oferece a todos (os que se dedicarem bastante) a oportunidade de
um dia se tornarem ricos e felizes. E é eficiente como ninguém mais vendendo
essa ideia. (...)
Partindo de uma análise simplista
(depois pretendo sofisticá-la um pouco), não me parece razoável imaginar que o
sistema que torna os oito indivíduos mais ricos do mundo detentores da metade
da riqueza de toda a população mundial (quase 4 bilhões de pessoas) tenha
qualquer chance de ser justo. “Mas o mundo não é todo capitalista e essa
comparação mistura alhos com bugalhos ao colocar todos países e sistemas num
bolo só” – diriam alguns, já partindo para a defesa. É verdade, mas os oito
mais ricos e a maior parte dos 4 bilhões mais pobres estão em países
capitalistas.
Imaginar como um sistema assim
pode ser estável é, antes de tudo, filosoficamente intrigante. Costumo comparar
o capitalismo com aqueles sabonetes que trazem no rótulo a mensagem de que
matam 99% das bactérias e germes. Imagine todas as bactérias defendendo o uso
desse sabonete! É exatamente assim que funciona o capitalismo. Incrível!
E a comparação com o sabonete é
ótima para mostrar a primeira grande artimanha publicitária desse sistema. O
capitalismo usa o 1% das bactérias que sobrevivem como seus garotos-propaganda!
Pronto, se elas sobrevivem é porque o sistema dá chances. Assim, ele tira a
responsabilidade da desigualdade e concentração de renda do sistema... e a joga
para as pessoas.
Funciona assim: “Seu Zé era
ajudante de pedreiro quando pequeno. Morava com os pais num casebre de uma
favela na cidade e fazia somente uma refeição por dia. Mas Seu Zé nunca deixou
de ser otimista. Trabalhava de dia e estudava de noite, porque sonhava um dia
ser alguém na vida. Aos 16 anos, abriu seu primeiro negócio. Trabalhava nos
fins de semana e sempre investiu o dinheiro que ganhava no seu negócio,
acreditando que um dia seria grande. Hoje, ele é dono de uma empresa com 3 mil
funcionários e fatura 100 milhões de reais por ano”. Pronto: se o Seu Zé, um
representante do 1% das bactérias sobreviventes, conseguiu é porque o sistema é
meritocrático e justo! Quanta ingenuidade acreditar que é assim que funcionam
os sistemas quando a realidade é tão diferente.
Em primeiro lugar, as pessoas
esquecem que existem milhares, talvez milhões de pessoas, que, assim como Seu
Zé, também estudaram e trabalharam de maneira correta e incansável, mas
simplesmente não chegaram lá. Seu Zé é somente uma excrescência incrivelmente
útil ao sistema capitalista. Matematicamente falando, é como se as pessoas
estivessem confundindo causa e efeito, imaginando que todos que fazem como Seu
Zé têm sucesso, quando a verdade é que os pouquíssimos que tiveram sucesso talvez
tenham feito o mesmo que Seu Zé. Este é um erro comum, que numericamente pode
ser descrito e compreendido na matemática pelo Teorema de Bayes.
Em segundo lugar, ninguém compara
o que todos os outros que já eram ricos fizeram com o que foi preciso Seu Zé
fazer para se tornar rico, para ver se realmente existiu qualquer traço de
justiça no processo. Afinal, não basta que Seu Zé tenha se esforçado muito para
se tornar rico e bem-sucedido. Para que o sistema fosse justo, esta deveria ser
a realidade da maior parte dos que são ricos. Nada passa mais longe disso do
que a realidade no capitalismo. As horas de trabalho, de estudo e de esforço
dos mais pobres é infinitamente maior, na média, do que aqueles que ocupam o
topo do sistema. Por isso a análise dita meritocrática é realizada sempre e
somente com os que “chegaram lá” e nunca com os que estão lá.
A dura realidade é que a maioria
das pessoas que estão nas camadas de cima da pirâmide social têm conhecimento,
habilidade e esforço “médios”: são medíocres. Se, num passe de mágica, todos
virassem pobres e tivessem de começar a vida do zero, a avassaladora maioria
permaneceria pobre até o resto de seus dias, sem conseguir escapar das camadas
mais baixas do cruel funil do capitalismo. Não tentem me convencer, portanto,
de que esse sistema é meritocrático. A não ser que nascer rico seja um grande
mérito.
Mas o fenômeno de Seu Zé não para
por aí, e é por isso que personagens como ele são a essência da estabilidade
política do capitalismo. Ele faz com que toda a base da pirâmide, os milhões de
pobres e miseráveis, defenda seu maior algoz. Vendo de fora, é uma das coisas
mais esdrúxulas e difíceis de entender – pessoas exploradas, massacradas,
esmagadas por um sistema que, mesmo assim, são capazes de defender. Insisto:
isso acontece porque Seu Zé faz com que todos os outros acreditem que também
será possível para eles chegar lá um dia.
Falar para as pessoas que estão
na base da pirâmide sobre um sistema com uma distribuição de renda mais justa e
equilibrada – algo que talvez signifique menos indivíduos com iates de 100 pés,
casas de 2 mil metros quadrados e aviões particulares – soa como se estivessem
tirando dessas pessoas a chance de um dia conquistar tudo isso. Como se um dia
fossem fazê-lo! As estatísticas são tão desfavoráveis que se pode afirmar que nunca
irão!
A (falsa) esperança é portanto a
base política do capitalismo. Difícil não concordar com
Nietzsche que a esperança, olhada sob esse prisma, seja um dos maiores males do
homem, por prolongar seu sofrimento. Percebam como a indústria que vende
esperança é forte, reparem quantas coisas baseiam-se exclusivamente nela. As
religiões, as loterias, os jogos de azar, os investimentos de risco e tantos
outros exemplos estão à nossa frente.”
“O capitalismo sempre será o sistema no qual
pobres trabalham para ver o resultado de seu esforço refletido na melhoria da
vida alheia, nesse caso a dos ricos. Não se trata de uma afirmação genérica,
estudantil ou midiática. Trata-se de um fato concreto, mensurável e passível de
prova. Somos iludidos pelo famoso conceito criado por Adam Smith em seu livro A
riqueza das nações de que existe, no capitalismo, uma mão invisível que
orienta e distribui os recursos de uma forma ótima.
Sorte para o sistema que essa mão
é invisível, pois, na hora em que as pessoas forem capazes de vê-la, o sistema
tenderá à ruína.”
“Por
fim, é curioso ver como funciona, na prática, a ideologia pregada pelos
participantes do sistema financeiro, aquela que defende a livre competição e a
meritocracia como pilares fundamentais de um modelo justo – ideologia, aliás,
que é representativa de toda a elite capitalista. Em todas as últimas grandes
crises do setor financeiro mundial, os grandes bancos, prestes a quebrar, foram
pedir socorro adivinhem a quem? Ao Estado! Aquele mesmo, que é taxado como
pesado, ineficaz, desnecessário e corrupto. Mas que, no final das contas, é
quem os salva. E de onde vem o dinheiro? Bem, fica como lição de casa deste
capítulo para o leitor. (Se tiverem dificuldade em descobrir, revejam o caso
dos planos de saúde.)
O
fato é que os integrantes do topo da pirâmide são capitalistas quando se trata
dos ganhos, mas socialistas para suas perdas!
Existe
uma frase famosa, utilizada por banqueiros ao redor do mundo em referência aos
grandes bancos. Dizem que são “too big to fail”, ou seja, muito grandes
para ir à falência. Sabem – com a certeza de estarem olhando um dado, e não uma
variável do sistema – que, se esses bancos passarem por qualquer dificuldade
séria que implique o risco de quebrar, o Estado os salvará. E vêm com a velha
explicação de que é melhor para todos que assim seja feito, pois a quebra de um
grande banco seria ainda mais prejudicial para toda a população do que os
custos estatais para ajudá-lo.
Pode
ser que o motivo seja legítimo e verdadeiro. Mas isso não tira em nada a força
do ponto. Bancos, assim como a elite capitalista, insisto, são capitalistas no
sucesso e socialistas na derrota. A crise de 2008 foi incrivelmente didática
nesse sentido. Bancos fizeram operações de empréstimos imobiliário muito acima
do que seus balanços permitiriam dentro de um limite seguro e razoável.
Ganharam muito dinheiro das pessoas durante um bom tempo. Como todo dinheiro
ganho, deveriam entender que havia também riscos associados.
Num
certo momento, o mercado virou, e muitas pessoas passaram a não pagar suas
dívidas aos bancos. Quando eles se viram em dificuldade e com prejuízos
enormes, a quem foram pedir ajuda? Aos governos! E os empréstimos “podres” que
tinham em seus balanços foram transferidos para os balanços de seus governos –
o que aumentou muito o nível de endividamento e consequentemente o custo do
Estado para pagar suas dívidas. Além de o governo ter uma dívida que aumentou,
as novas emissões de títulos (necessárias para honrar as que iam vencendo) eram
feitas a taxas cada vez maiores, dado que sua qualidade de crédito havia se
deteriorado com a piora das contas públicas desses países.
Qual
foi a solução para estes governos? Implementar políticas fiscais que aumentaram
a arrecadação (impostos), cortaram gastos sociais (benefícios para todos) e
diminuíram o crescimento. Quem pagou a conta? Todos, mas, como nas sociedades
capitalistas, “todos” são na maioria os pobres e a classe média, então foram os
dois últimos grupos que pagaram a maior parte. Esse é o socialismo das perdas!
É
muito duro, depois, ouvir banqueiros e empresários falarem com tanta pompa
sobre privatizações e ineficiência do Estado. Matam, assim que chegam ao
hospital, aquele que trouxe de volta seu corpo baleado de dentro das linhas
inimigas. Verdadeiros traidores, hipócritas e covardes.”
“A
única mão que existe na hora de distribuir recursos e renda no sistema
capitalista é a dos donos dos bancos e dos meios de produção. É um sistema
baseado no lucro, e o objetivo é sempre maximizá-lo. A melhor definição da
filosofia capitalista é a dada pelo personagem Gordon Gekko, interpretado por
Michael Douglas no filme Wall Street – O dinheiro nunca dorme, 2010.
Quando outro personagem descobre a fortuna de Gekko e pergunta-lhe quanto ele
deseja ter como objetivo, sua resposta é: “Mais!”.”
“O
argumento de que a riqueza gerada será tão grande que beneficiará também os
empregados, refletindo em salários mais altos e maiores benefícios, é, no
mínimo, moralmente discutível. Uma boa metáfora seria a de um rapaz saindo de
um supermercado em uma região muito pobre cheio de sacolas com compras.
Propõe-se, então, que a solução para a pobreza da região seja dar ainda mais
sacolas para aquele rapaz porque aí, inevitavelmente, ele não conseguirá
carregá-las e, assim, algumas compras cairão no chão, beneficiando os outros.
Conferir aos pobres, como política, a sobra e o resto me parece de uma
maldade ou insensibilidade tremendas.
Erram
os que criticam o capitalismo citando os conflitos de interesse que ele gera.
Como os que dizem que a mídia tem como conflito informar e ao mesmo tempo dar
lucro para seus acionistas. Ou que os médicos têm de cuidar com atenção, mas ao
mesmo tempo atender muitos pacientes para ganhar salários maiores. Ou, ainda,
que as escolas privadas têm de buscar atividades extracurriculares que sejam
importantes para a formação pessoal e cívica dos alunos, mas, ao mesmo tempo,
devem buscar aquilo que tenha apelo de venda. Não existe conflito de interesse
nenhum. O interesse é sempre um só: o lucro.
A
afirmação anterior não é radical, acredite. Pode ser muito dolorida, mas não é
radical. Analise as decisões de empresas, profissionais liberais e mesmo de
pessoas que estão ao seu redor e perceba como é sempre assim. Quando parece não
ser, é pela limitação imposta por leis, ou para não denegrir a imagem e,
consequentemente, não prejudicar futuros lucros.
É
tola e ingênua, por exemplo, a ideia de que um canal de televisão privado vá
montar sua grade e pautar seu noticiário em cima do que é educativo,
construtivo e informativo – sem viés comercial ou interesses. Além de existirem
contas a serem pagas no final do mês, esses canais são empresas que têm donos,
que por sua vez querem “mais”.”
“A verdade é que o ser humano se tornou definitivamente um bicho
esquisito. Entre todas as espécies do reino animal, somos a única que passa a
vida inteira com um único objetivo: mudar sua vida. Todos os outros animais
passam seu tempo buscando viver a vida. Nossa cruzada é aparentemente sem fim,
similar a uma caçada em direção ao horizonte, numa corrida na qual cada vez
estamos mais velozes, mas o destino final parece simplesmente não se aproximar.”
“Vale
a pena frisar que os vestibulandos admitidos pelo regime de cotas ocupam as
vagas dos últimos colocados na competição normal. E esses vestibulandos
serão os primeiros colocados do regime de cotas. Ou seja, negar aos que
conseguiram se destacar como melhores de uma parcela da população injustiçada
vagas que seriam ocupadas pelos últimos colocados (entre os aprovados) da
parcela da população que tem melhores condições é negar o mínimo de mobilidade
social assistida aos que merecem uma chance. Por fim, vale lembrarmos que
“cotas” para quem tem dinheiro também existem, representadas por milhares de faculdades
privadas nas quais quem tiver condições de pagar será automaticamente aprovado
e pode assim continuar sua busca por conhecimento.”
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