Editora: livro distribuído
Opinião: ★★★☆☆
Páginas: 99
“Marx tem consciência da importância da imprensa
como veículo com capacidade de informar com objetividade e de criticar com
independência, uma necessidade inadiável em sociedades em que a censura, a
corrupção, a hipocrisia, o cinismo convertem-se em instituição. Todavia, Marx
condena a liberdade da imprensa como uma liberdade comercial, isto é, de
converter a imprensa em uma “indústria” movida pela lógica do mercado, do lucro
e do poder. Dessa forma não seria possível informar com objetividade e criticar
com independência.”
“A contenção salarial; a intensificação do processo
de exploração da força de trabalho; a eliminação de conquistas trabalhistas; a
recriação de formas de exploração e dominação extra-econômica (escravidão,
servidão, etc.); a geração de capital constante mais barato por meio de uma
determinada tecnologia disponível; a migração de empresas para espaços
socioeconômicos e territoriais com força de trabalho e recursos naturais mais
baratos; o desenvolvimento de novos métodos de gestão da produção que alcançam
maior racionalização da produção e intensidade do trabalho; a terceirização de
fases da atividade produtiva barateando custos de serviços e produtos; a
importação de bens de consumo para assalariados e meios de produção mais baratos;
o desenvolvimento de indústrias complementares nas quais a composição orgânica
de capital fosse relativamente baixa, entre outros processos, podem contribuir
para a elevação da taxa de lucro, aumentando a taxa de exploração e/ou baixando
a composição orgânica do capital. Tais processos são tão importantes para o
capitalista individual como para o sistema como um todo.”
“Os referidos processos (entre outros) podem compor
um processo mais amplo, qual seja, a reestruturação produtiva. Enquanto tal
será, necessariamente, um mecanismo voltado para assegurar, de um lado, o
avanço das forças produtivas, e, de outro, a re-subordinação do trabalho ao
capital com novos métodos organizativos/administrativos que esvaziem o
potencial de resistência dos trabalhadores.
A reconstituição e/ou ampliação do exército
industrial de reserva nos quadros da crise possui uma importância particular
enquanto uma contra-tendência à tendência de queda da taxa média de lucro. A
perda de estímulo para novos investimentos e a destruição de forças produtivas
(falências, concordatas, desvalorização e/ou destruição dos excedentes, etc.)
provocadas pela crise, proporciona um ambiente extremamente favorável para a
diminuição dos salários e para a queda das condições de trabalho graças à super-oferta
da força de trabalho. Tal processo diminui o custo do trabalho no âmbito dos
custos da produção e é um importante fator de ampliação das taxas de extração
de mais-valia.”
“No curso do processo da concentração de capital –
no qual ocorre a reprodução ampliada do capital, ou seja, expansão que
ultrapassa a pura e simples reiteração econômica – o impacto desencadeado pela
nova taxa de retorno e os custos financeiros de muitas empresas será a falência
e consequente incorporação daquelas despreparadas para a competição nos termos
ditados pelas maiores e mais capitalizadas. Em consequência, diminui o número
de empresas e intensifica o controle dos oligopólios e monopólios sobre o
mercado.
Consumado o processo tem início novamente a fase de
centralização de capitais, ou seja, de capital líquido na forma de lucros das
empresas diretamente produtivas que ampliam suas receitas – oligopólios e
monopólios – ou empresas financeiras que partilham dos lucros das empresas que
recorrem a financiamentos – bancos, bolsas de valores, etc. A nova massa de
capitais não diretamente aplicado, ou reserva de poupança, começa a ser
recomposto preparando as condições para uma nova fase de concentração de
capitais.
A crise, independentemente da sua extensão e natureza,
cumpre sempre um importante papel na reprodução ampliada do capital, qual seja,
o de destruir para construir em novas bases. A crise (incompatibilidade entre
produção e consumo; interrupção do fluxo de compras e vendas ou de pagamentos;
desproporcionalidade e desequilíbrio entre os departamentos econômicos em que
se divide o capital social; queda da taxa média de lucro; sobre-acumulação;
desvalorização do capital existente e contradições inerentes à dinâmica de
concentração e centralização de capitais) será, portanto, fruto da contradição
constitutiva do capital.
As crises não levam a um colapso econômico final
capaz de destruir completamente e de uma só vez o sistema. Para Marx, o fim das
crises somente pode advir do trabalhador, que tomando consciência de si mesmo e
das relações sociais que o envolvem, edifica-se como o sujeito real e
verdadeiro da produção (dominando o sujeito abstrato, representado pelo
capital). O capitalismo, cuja essência é a (relação de) contradição inscrita na
sua própria origem, desaparece com a eliminação da referida contradição; o que
equivale reconhecer que a crise no capitalismo somente seria superada por meio
da superação do próprio sistema.
A concepção de crise em Marx, conforme
identificamos, não pode ser separada da dinâmica do capital e, nem tampouco, a
superação definitiva da crise no capitalismo fora da superação do próprio
capitalismo.”
“As experiências ‘pós-revolucionárias’ denominadas
‘socialismo real’ não lograram realizar a utopia socialista. O burocratismo, as
relações autoritárias de poder, a corrida armamentista, o desequilíbrio do
desenvolvimento do processo produtivo, o atraso técnico-científico comparado
aos centros dominantes do capitalismo, são demonstrações inequívocas da
deturpação e desvirtuamento das sociedades ‘pós-revolucionárias’.
É trivial – senão conservador – fixarmos apenas nas
condições objetivas para explicar os ‘desvios’ e ‘insuficiências’ dos processos
de construção do socialismo nas sociedades ‘pós-revolucionárias’. É necessário
salientarmos a distância estabelecida entre essas experiências históricas e a
utopia socialista, especialmente a violentação da Práxis da
transformação social pela ação das vanguardas políticas. Em outras palavras, é
menos importante compreender a superioridade tecno-científica dos centros
imperialistas quando comparado com a identificação dos obstáculos que as
estruturas de poder construídas nas experiências ‘pós-revolucionárias’
acarretam no sentido da incompetência, acomodamento, desilusão e desperdícios,
tendo em vista a compreensão da crise das referidas experiências.
A transição do capitalismo para o socialismo
somente poderá assegurar a superação da propriedade e do controle privado dos
meios de produção se tal processo encontrar-se integrados coerentemente com o
caráter social da produção e basear-se em uma hegemonia do mundo do trabalho.”
“As investigações desembocam na conclusão “(...) de
que tanto as relações jurídicas como as formas de Estado não podem ser
compreendidas por si mesmas nem pela chamada evolução geral do espírito humano
(...)”. Segundo Marx, elas “(...) se baseiam, pelo contrário, nas condições
materiais de vida (...)”. Ainda segundo Marx, “(...) a anatomia da sociedade
civil precisa ser procurada na economia política”.
A continuidade dos seus estudos permite a Marx
concluir que “(...) na produção social da sua vida, os homens contraem
determinadas relações necessárias e independentes da sua vontade, relações de
produção que correspondem a uma determinada fase de desenvolvimento das suas
forças produtivas materiais”.
As relações de produção seriam as relações
concretas que os homens estabeleceriam em uma determinada sociedade, tendo em
vista a produção e reprodução dos indivíduos, das classes sociais e da
sociedade. As relações de produção se expressariam na forma de propriedade, na
forma de produção e distribuição dos excedentes sociais e na forma de
organização das relações de trabalho entre as classes sociais. As relações de
produção condicionariam profundamente as relações sociais em geral.
As relações de produção encontrar-se-iam
correlacionadas no seu desenvolvimento com as forças produtivas, que seriam os
recursos tecnológicos, o conhecimento científico, as estruturas de produção
rural e urbana, o nível de consciência social*, etc. Para Marx, não seria
possível forças produtivas desenvolvidas, a exemplo do nível conquistado no
capitalismo, coexistindo com relações de produção ‘atrasadas’ historicamente se
comparadas a estas, a exemplo das relações de produção feudais. Portanto,
relações de produção e forças produtivas determinar-se-iam no desenvolvimento
da sociedade humana.
As relações de produção e as forças produtivas, em
suas relações concretas e socialmente estabelecidas, formariam a estrutura (ou
base) econômica da sociedade. Sobre a estrutura “(...) se levanta a
superestrutura jurídica e política e à qual correspondem determinadas formas de
consciência social”. Marx concebe uma interação e uma interdependência profunda
entre a estrutura, responsável pela produção e reprodução da vida material, e a
superestrutura, responsável pela produção e reprodução da vida política e
espiritual. A relação dialética que Marx estabelece entre estrutura e
superestrutura não exclui a ontologia. Neste ponto, Marx é categórico quando
afirma que “(...) não é a consciência do homem que determina o seu ser, mas,
pelo contrário, o seu ser social é que determina a sua consciência”.
Dito de outra forma, Marx não reconhece nas leis,
nas formas do Estado, nas expressões subjetivas dos indivíduos, segmentos e
classes sociais uma autonomia e independência da estrutura, ou seja, das
condições materiais de existência da sociedade. Para Marx, a compreensão das
superestruturas exige, necessariamente, um movimento de investigação que parta
da estrutura.”
*: O conceito de “consciência social” em Marx incorporaria as
formas de expressão da subjetividade humana (expressões literárias e
filosóficas, romances, doutrinas religiosas, criações artísticas, etc.), bem
como o nível de consciência e conhecimento da relação homem/natureza e das
relações sociais. Essas manifestações da consciência social seriam ideológicas
e mais ou menos racionais, humanistas e críticas, segundo o grau de
desenvolvimento da estrutura econômica, da experiência e de amadurecimento das
classes sociais. Enfim, do estágio de desenvolvimento da sociedade humana.
“Marx formula o conceito “modo de produção” para
retratar a totalidade social representada pela estrutura e pela
superestrutura*. Marx integra, portanto, totalidade e estrutura para a
compreensão, em grandes traços, dos longos períodos históricos de permanência
ou conservação – entendidos como movimentos que não alterariam a essência de
uma estrutura, mas que coexistiriam com a acumulação quantitativa de condições
materiais e espirituais, que levariam a um ponto de ruptura num futuro
indeterminado – ou breves períodos históricos de transformações bruscas ou
revolucionárias – entendidos como movimentos que alterariam a essência de uma estrutura,
ou seja, rupturas qualitativas das condições materiais e espirituais
responsáveis pela edificação de uma nova totalidade e estrutura.
Marx indica que os grandes períodos históricos
estariam estruturados a partir dos modos de produção comunal, asiático, antigo
(escravo), feudal, e burguês. Modos de produção, social e historicamente
determinados, mutáveis, portanto, contrariando o ideal burguês da naturalização
das relações sociais, da sociedade burguesa e capitalista, etc.”
*: O
conceito de “estrutura” pode receber diversos sentidos e dimensões na teoria e
metodologia marxista. Pode significar estrutura (base) econômica;
superestrutura (estrutura fruto da materialização de instituições e formas de
consciência social); estrutura global e abstrata identificada com o conceito de
“modo de produção”; estrutura global identificada com uma formação social (ou
socioeconômica) específica e concreta. O fundamental é que o conceito de
“estrutura” remete sempre para um conjunto complexo de elementos
interdependentes e estáveis (o que não significa eterno) no tempo; a estrutura
pode ser pensada em si própria ou em relação a outras estruturas.
Modo de Produção e Transformação Histórica
Marx identifica contradições e conflitos na
estrutura econômica da sociedade. Para Marx, as forças produtivas tenderiam
para o desenvolvimento, o que as faria colidir com as relações de produção, que
qualificaria e conservaria o modo de produção.
Essa contradição, emergida da estrutura econômica,
prolongar-se-ia para além das condições materiais da sociedade, penetrando na
superestrutura e se expressando no âmbito jurídico, político e ideológico. Isto
porque Marx entende a sociedade como uma totalidade, na qual a estrutura
econômica exerce um profundo condicionamento sobre a superestrutura. A
contradição surgida entre as forças produtivas e as relações de produção,
responsáveis pelo prolongamento da contradição para o todo social, criaria um
ambiente propício para transformações. Nas palavras de Marx:
(...) abre, assim, uma época de revolução
social. Quando se estudam essas revoluções, é preciso distinguir sempre entre
as mudanças materiais ocorridas nas condições econômicas de produção e que
podem ser apreciadas com a exatidão própria das ciências naturais, e as formas
jurídicas, políticas, religiosas, artísticas ou filosóficas, numa palavra, as
formas ideológicas em que os homens adquirem consciência desse conflito e lutam
para resolvê-lo.
Assim, a contradição que nasceria no âmbito da
estrutura econômica e que se prolongaria para a superestrutura, não poderia ser
superada por ela mesma. A contradição acima referida apenas criaria o espaço e
o ambiente propício para as transformações. A transformação dependeria da ação
do sujeito social, de forma a dar um sentido e uma direção para a remoção dos
obstáculos que as relações de produção (em um determinado nível de
desenvolvimento das forças produtivas) representariam no sentido do posterior
desenvolvimento das forças produtivas.
Para Marx, o termo sociedade expressaria um sujeito
social genérico. Compreender a história a partir desse sujeito social como um
todo indiferenciado seria idealismo. A sociedade se manifestaria, de fato, por
meio de sujeitos sociais concretos, ou seja, das classes sociais antagonizadas
pela propriedade privada e em conflitos explícitos – revoltas, revoluções,
greves, etc. – e ocultos – inculcação de valores ideológicos, remanejamentos
político-institucionais, etc.
As lutas de classes seriam conduzidas pelas classes
dominantes e dominadas. Expressariam a Práxis, ou seja, ações sociais
(políticas, culturais, etc.), intencionais ou não, sempre ideológicas, com o
propósito de conservar ou revolucionar as relações de produção.
Marx supera, por meio da sua interpretação
dialética do curso da história, o economicismo, que atribui ao fator econômico
a responsabilidade pelas transformações, o evolucionismo, que reconhece uma
dinâmica evolutivo-natural comandando o curso das mudanças, e o voluntarismo,
que personifica as mudanças por meio da ação de determinados personagens e
pequenos grupos, desprezando as estruturas econômicas e os embates de classes.
“Marx apreende a tese materialista de Feuerbach de
que os homens criaram Deus e as religiões, e não o contrário. Distancia-se
deste quando demonstra que tal inversão não é uma pura construção do
pensamento, mas que se encontra no mundo real, que é um bálsamo criado pelos
homens para compensar as contradições do mundo real.”
“Entre 1845 e 1857 Marx formula o conceito de
“ideologia” para demonstrar que a precariedade do desenvolvimento material e as
contradições emergidas na vida prática, levariam os homens a criar e a projetar
formas ideológicas de consciência. Formas espirituais e discursivas que
ocultariam ou disfarçariam a existência e o caráter dessas contradições. E que
concorreriam, nesta medida, para assegurar a reprodução das relações sociais,
de forma a servir aos interesses dominantes.”
“Podemos chegar a três definições de ideologia em
Marx e Engels:
a) ideologia enquanto parte ou conjunto das superestruturas: as formas
ideológicas enquanto a qualidade da consciência social possível dentro de uma
determinada estrutura socioeconômica; uma determinada visão de conjunto de uma
sociedade, época ou classe determinada por suas condições materiais de
existência;
b) a ideologia enquanto ocultamento da realidade: ora como imposição das
classes dominantes para criar, legitimar e justificar as relações sociais
dominantes (a exemplo das Cruzadas, do levante da Vendéia, etc.), ora como
forma de expressão de lutas de resistência dos dominados enquanto conhecimento
imperfeito (a exemplo da revolta camponesa da Alemanha);
c) a ideologia enquanto um sistema de valores sociais impostos: seriam
os valores sociais impostos, indiretamente, por meio das relações sociais de
produção, e, diretamente, por meio dos instrumentos ideológicos públicos e
privados.”
“O conceito “Estado” ocupa grande importância no
pensamento de Marx e Engels. O Estado é concebido como uma instituição acima de
todas as outras, com a função de assegurar e conservar a dominação e a
exploração de classe. Para Engels, o Estado é um instrumento (...) da
classe mais poderosa, economicamente dominante, que, por meio dele, torna-se
igualmente a classe politicamente dominante, adquirindo com isso novos meios de
dominar e explorar a classe oprimida.”
“Marx reconhece no Estado bonapartista francês uma
máquina de Estado engenhosa, de amplas bases, com um “exército” de funcionários
e soldados de 1 milhão de homens. Uma máquina com determinados interesses e
objetivos próprios, que conforma “(...) um corpo parasitário terrível que cerca
o corpo da sociedade francesa como um casulo e sufoca todos os seus poros”.”
“Marx define Práxis como encontro
entre razão e história, isto é, o lugar da construção da humanidade como obra
de uma vontade expressa racionalmente. Construção suscitada por um pensamento
historicamente determinado, acolhido pela grande maioria por responder às
necessidades manifestadas em um contexto (natural e social) marcado pela
intervenção do homem e que se transforma por isso em instrumento de ação. Nesta
definição, o conceito de “Práxis” se aproxima do conceito “teoria”,
sendo a primeira uma prática racional-transformadora e a segunda um pensamento
historicizado e realístico.
Marx também define Práxis como
luta de classes, isto é, um instrumento motor da história da humanidade. A
concepção de Práxis como ação do gênero humano indiferenciado
socialmente e transformador das condições naturais e sociais ao longo da
história da humanidade, conjuga-se também com a concepção de Práxis como
oriunda da humanidade como sujeito histórico diferenciado por meio das classes
sociais em suas relações conflitantes, na qual ocorre uma ação de supressão por
parte de uma delas das formas de organização social que a outra instaura. Esses
conflitos entre as classes se exprimem na tensão constante que existe entre as
forças produtivas, tendentes ao desenvolvimento e as relações de produção,
tendentes a conservação.”
“Lukács faz o uso de três temas na definição
da Práxis: o pensamento socialmente determinado; a realidade em sua
dinâmica; e, o sujeito em sua ação. A Práxis seria o ato
revolucionário que realiza o sujeito (o proletariado) como conhecedor e agente
ao mesmo tempo e que, simultaneamente, fundamenta a identidade do pensamento e
da história.”
“Para Korsch modo, a teoria é Práxis,
isto é, luta social de classes. Se, por um lado, ela é um aspecto da
consciência social da situação vigente, até o ponto de se identificar com a
consciência de classe, por outro, é apenas uma teoria, não uma teoria positiva,
mas crítica, que resolve as representações estáticas em processos dinâmicos e
em conflitos sociais. “Os elementos nela envolvidos, conquanto aparentemente
neutros, assumem uma específica conotação de classe; o Estado é o Estado
burguês; o direito é o direito burguês”.
Para Korsch a teoria marxista seria Práxis,
não só por estar intimamente relacionada com os conflitos sociais, dos quais é
expressão, mas também por elaborar os meios de uma forma alternativa de
sociedade.”
“Para Marx e Engels o Estado possui uma origem
calcada na desigualdade e no conflito de classe; constitui-se como uma
instituição acima de todas as outras, com a função de assegurar e conservar a
dominação e a exploração de classe; e assumir certa margem de independência em
relação às classes, especialmente em conjunturas de intenso conflito social.”
“Para Marx, seria por meio da sociedade civil – o
conjunto das relações econômicas e interesses privados –, fundadora do Estado,
que se poderia compreender o surgimento do Estado, o seu caráter de classe, a
natureza de suas leis, as representações sobre as quais ele se apoiaria, e
assim por diante. E mais, o Estado, “criatura” da sociedade civil,
constituir-se-ia num instrumento voltado para a garantia das próprias bases
sobre as quais se apoiaria a sociedade civil. O Estado burguês, por exemplo,
protegeria as relações capitalistas de produção, de forma a assegurar a
reprodução ampliada do capital, a acumulação privada do produto social, a
redistribuição do fundo público em benefício do grande capital, a exploração da
renda fundiária, etc. Portanto, o Estado seria, ao mesmo tempo, parte
integrante das relações capitalistas de produção e instrumento de defesa das
mesmas.
O “jovem Marx” contesta a dominação do Estado
(burocracia) sobre a sociedade civil e defendia a supressão do Estado moderno.
Para o Marx de 1843-44, a extinção do Estado (burocracia e mecanismos de
representação política) seria a pré-condição da verdadeira democracia, de
maneira que cada homem poderia ser burocrata e representante de si mesmo.”
“Uma leitura mais atenta demonstra que o Estado
encontra-se articulado em uma certa lógica, que está organizado no sentido de
medidas, de critérios, de atuações cujo sentido é a reposição expansiva das
relações capitalistas de produção e a dinamização das forças produtivas. Ao
término do Segundo Império (1870) a França transforma-se na segunda nação
industrial da Europa.
Esta problemática inseria outra: Quem é a classe
dominante e como ela exercia o poder? Marx demonstra que a classe dominante não
existe enquanto uma classe homogênea. A unidade desta classe em torno da defesa
da propriedade e do status quo não se prolonga nas opções e
projetos políticos concretos.
A diversidade de segmentos, na forma de frações de
classe e correntes políticas, para Marx, emergia da forma concreta como os
referidos segmentos inseriam na estrutura de reprodução material da sociedade.
Marx, enfim, encontra o elemento explicativo das lutas de classes no âmbito da
classe dominante, de forma a identificar a coincidência entre projeto político
e interesses sociais concretos.
Marx demonstra, ainda, que o exercício da dominação
burguesa ocorria em um contexto de uma aliança de classes, de forma que no
Estado, no governo e na sociedade, o domínio burguês incluía setores da pequena
propriedade, intelectuais, setores médios, latifundiários. A hegemonia
pressupõe um conjunto de alianças e/ou cooptação social. Em segundo lugar, a dominação
não ocorria diretamente. O domínio, a exemplo da forma do regime bonapartista,
poderia ocorrer por meio de outras esferas de poder (judiciário e legislativo)
e de esferas da burocracia de Estado, ou da sociedade civil. Apenas
episodicamente a burguesia exercia diretamente o poder. Em terceiro lugar, a
dominação dependia direta ou indiretamente das forças armadas. A ‘espada’ não é
uma característica apenas dos Estados precedentes, mas de todo Estado. O Estado
burguês aprimora em termos organizacionais, estratégicos, doutrinários e
bélicos o aparato repressivo do Estado.”
“Engels demonstra que a sociedade é anterior à
família. Que o desenvolvimento da sociedade engendra o surgimento da família e
que esta, por sua vez, é redefinida no tempo. A sociedade originária, a tribo,
sob propriedade comunal, não conhece as formas de propriedade pública e
privada, a desigualdade social, a opressão sobre a mulher, etc.
Com a domesticação dos animais e das plantas, com a
consequente geração de excedentes, forma-se a propriedade e começa o início da
desigualdade social e de gênero. Forma-se uma ordem patriarcal. Forma-se a
família enquanto unidade que inclui a propriedade e os homens – escravos e
livres. O pater familias tem poder de vida e morte sobre
todos.
Para Engels o desenvolvimento econômico e social
desencadearia transformações nesta família que o próprio desenvolvimento na sua
fase anterior havia criado. Esta família entraria em crise e seria dissolvida,
dando lugar a classes sociais definidas em torno da propriedade privada que
progressivamente se absolutiza em poucas mãos. De um lado, escravos e
proprietários e, de outro lado, proprietários de terra e os que não possuíam
terra alguma.
Começaria a surgir, a partir de um determinado
desenvolvimento das forças produtivas, uma instituição, que tendia a dominar e
manter coesa a sociedade. O Estado, historicamente formado, seria esta
instituição. E como tal, nasceria no contexto do surgimento das classes sociais
em luta. Seria um instrumento nas mãos dos proprietários de terras e escravos
tendo em vista institucionalizar sua dominação. Esta ocorreria por meio do
aparato policial-militar, da estrutura jurídica e do sistema político.
Engels demonstra que o Estado nasce da sociedade
cujo desenvolvimento das forças produtivas engendra as classes, que o Estado é
um instrumento em favor das classes dominantes, que o Estado é uma estrutura de
poder que procedia da sociedade, mas que era apresentado como estando acima
dela e que esta estrutura de poder ficava ‘estranho’ à própria sociedade, sendo
apresentado como poder separado dela e como seu próprio criador. Engels
demonstra, ainda, que o Estado, expressão da dominação de uma classe, busca um
equilíbrio político-jurídico – contraditório, provisório, transitório – entre
as classes em conflito, tendo em vista assegurar condições mais adequadas para
o desenvolvimento das forças produtivas e para a conservação das relações de
produção.”
“Para Lênin, autor da obra O Estado e a
Revolução, mesmo na república democrática parlamentar burguesa em que os
direitos civis, liberdade de organização partidária e a estrutura política mais
avançassem, seria apenas uma aparência democrática, visto que a dominação
social da minoria sobre a maioria estaria presente. Portanto, uma grande
democracia e liberdade burguesa não seria nada mais do que um escamoteamento,
de forma que a própria lei mais democrática da república democrática burguesa,
seria um instrumento da arbitrariedade desenfreada de classe. (...)
Lênin contrapôs democracia burguesa à democracia
proletária – ou ditadura do proletariado. Esta democracia (ou ditadura)
asseguraria o máximo de liberdade – de reunião, de organização social, de
imprensa, etc. Asseguraria, ainda, o início da quebra do Estado burguês e do
Estado em geral.”
“Tal como em Marx, o Estado é concebido por Gramsci
como “organismo próprio de grupo, destinado a criar condições favoráveis à
expansão máxima desse grupo”. Conserva, portanto, uma base classista. No
entanto, a expansão máxima desse grupo ocorre em conexão com os interesses do
grupo subordinado e a
(...) vida estatal é concebida como uma
contínua superação de equilíbrios instáveis (no âmbito da lei) entre os
interesses do grupo fundamental e os interesses dos grupos subordinados;
equilíbrio em que os interesses do grupo dominante prevalecem até determinado
ponto, excluindo o interesse econômico corporativo estreito.
De tal afirmação podemos tirar algumas informações
básicas: a) O Estado, apesar de representar uma classe ou grupo, necessita para
manter o ‘equilíbrio’, superar os interesses estreitos do grupo fundamental que
o compõe e abarcar os interesses dos grupos subordinados. Daí a quebra de uma
das ortodoxias marxistas que vê no Estado um mero defensor dos interesses de
uma única classe; b) Apesar da superação dos interesses econômico-corporativos
estreitos do grupo fundamental, o Estado continua a visar a expansão desse
grupo, a questão é que para essa expansão ocorra de forma máxima, tais
interesses devem ser superados; c) A superação dos equilíbrios instáveis se dá
no âmbito da lei, ou seja, a nível superestrutural.
A esta fase em que determinada classe consegue
superar os interesses econômico-corporativos, abarcar os interesses de outros
grupos e se constituir em “Estado”, propriamente dito, Gramsci atribui ao
momento principal das relações-de-força, ou seja, ao momento das relações de
forças políticas. Para que esse momento realmente se concretize, o grupo
fundamental deve criar uma “hegemonia” com relação aos grupos subordinados.”
“Em Gramsci o “conceito de ideologia está
relacionado a uma concepção de um mundo implicitamente manifesta na arte, no
direito, na atividade econômica e em todas as manifestações da vida individual
e coletiva. Mais do que um sistema de ideais, ela também está relacionada com a
capacidade de inspirar atitudes concretas e proporcionar orientação para a
ação. A ideologia está socialmente generalizada, pois o homem não pode agir sem
regras de conduta, sem orientações. Portanto, a ideologia torna-se o “terreno
sobre o qual os homens se movimentam, adquirem consciência de sua posição,
lutam, etc. É portanto na ideologia e pela ideologia que uma classe pode
exercer a hegemonia sobre as outras, isto é, pode assegurar a adesão e o
consentimento das grandes massas”. (...)
Se o desenvolvimento da ideologia e sua
homogeneização dentro da sociedade são as principais provas da hegemonia de um
grupo dirigente, seu enfraquecimento e a utilização da força, são os sinais de
debilitação da hegemonia e da passagem da ditadura.
Quando a classe fundamental conquista a hegemonia,
ela consegue o consenso e o controle da sociedade civil: consegue construir um
bloco histórico homogêneo. O desenvolvimento do controle ideológico gera então
o enfraquecimento da sociedade política e da coerção. A sociedade civil passa a
ter, digamos, predominância sobre a sociedade política. Em uma situação em que
a hegemonia não está totalmente desenvolvida, em que o grupo social principal
domina, mas não dirige a sociedade, temos uma situação de ditadura, onde a
coerção será amplamente utilizada para a manutenção do aparelho de Estado.
A situação de hegemonia e ditadura não estão
totalmente separadas, a não ser em casos históricos específicos. A classe
dirigente mesmo quando hegemônica, não dirige toda a sociedade, mas somente as
classes auxiliares e aliadas. A hegemonia jamais é total, e um mesmo grupo pode
ser ao mesmo tempo dirigente e dominante. Daí a presença e utilização do
aparato repressivo por parte do Estado, quando a situação o exige.”
“Na perspectiva dos construtores do Estado há muito
que comemorar nesses 500 anos de história do Brasil: a propriedade da terra
latifundiária e excludente; uma cidadania mínima e censitária; uma dependência
endêmica em relação ao capital financeiro internacional. Na perspectiva dos ‘de
baixo’, só uma lembrança lastimosa dos projetos populares de nação e de
sociedade abortados.”
“Do período da revolução política (1888-1891 – na
forma da Abolição da Escravatura de 1888; da Proclamação da República de 1889;
e da Assembleia Constituinte de 1891) a 1930, articula-se o regime liberal
oligárquico, hegemonizado por uma burguesia financeira e comercial
agroexportadora e compradora, e pela burguesia financeira e comercial inglesa –
compartilhada, agora, pela burguesia financeira e comercial norte-americana. O
compromisso desse Estado é assegurar a expansão da economia agroexportadora em
geral e da economia cafeeira em particular, de forma a proteger/expandir os
interesses nela envolvidos.
Esse compromisso é assegurado sob intensa coerção,
de forma a combinar as esferas pública e privada. No plano político, são
exemplos desse compromisso a restrição e manipulação do sufrágio com a exclusão
dos analfabetos, mulheres e militares, a votação aberta sob coação; o
fisiologismo, o clientelismo, o ‘é dando que se recebe’, as perseguições
políticas, a fraude, etc., como método herdado do Império e ampliado com a
República; a diplomação dos eleitos como pré-condição para a ocupação da função
parlamentar; o impedimento de organização partidária do mundo do trabalho,
entre outras formas. No plano social, a intensa repressão aos movimentos
sociais camponeses, aos operários e a segmentos das camadas médias, a exemplo,
respectivamente, de Canudos, dos sindicatos anarquistas e do tenentismo, também
atestam esse compromisso.
O compromisso na defesa dos interesses dominantes
se prolonga, ainda, para esferas microestruturais. São exemplos dessa realidade
a reposição de expressões ideológico-culturais patriarcal-cristãs herdadas do
passado colonial e imperial, a exclusão das mulheres do mercado de trabalho e
da participação política e o preconceito racial.”
“Nos anos 90, ocorrem rupturas em relação às
políticas iniciadas nos anos 30 e redefinidas em alguns aspectos na segunda
metade dos anos 50, como o papel do Estado enquanto agente produtivo e
regulador e a proteção da indústria e mercado interno. Tem início uma política
macroeconômica no sentido de, por um lado, eliminar a articulação instável do
tripé da industrialização brasileira iniciada no final dos anos 50 e, por outro,
assegurar uma profunda desnacionalização da economia brasileira. Esse duplo
objetivo é alcançado por meio da privatização do setor público, sob liderança
do capital financeiro internacional e participação subalterna de grandes
capitais privados locais, e da aquisição de grandes monopólios privados locais
por corporações internacionais de atuação globalizada.
Configura-se uma processualidade, cuja direção tem
sido a eliminação de uma burguesia local com interesses contraditórios com o
capital financeiro internacional e, ao mesmo tempo, a transferência dos espaços
econômicos fundamentais dentro do país em favor desse capital. Política
conduzida do ‘alto’ do Estado e dirigida pela tecnocracia, agora renovada por
meio de quadros formados nas instituições universitárias norte-americanas e de
trânsfugas da esquerda brasileira.
De 1930 a 1990, tanto os regimes articulados sob a
forma democrático-burguesa quanto a forma autoritária, não restringem e/ou não
podem restringir os regimes políticos às recomendações clássicas do liberalismo
político e econômico. Direitos são assegurados em lei por meio de lutas sociais
como os direitos previdenciários, o contrato indeterminado de trabalho, entre
outros.
Nos anos 90, em uma conjuntura desfavorável às lutas
sociais, presenciamos uma mudança também nesse plano. Esse processo decorre da
progressiva identificação e nivelamento dos regimes políticos
democrático-burgueses ao propugnado pela teoria liberal, ou seja, remover leis
e instituições, fruto de lutas e pressões sociais, que objetivamente
representam obstáculos à hegemonia política burguesa e ao livre mercado.
Efetivamente essa realidade tem redundado na precarização do mundo do trabalho
– na forma do avanço do desemprego estrutural, do subemprego, da eliminação de
direitos trabalhistas, etc. – no aprofundamento das desigualdades sociais – na
forma do distanciamento econômico entre as classes sociais, exclusão e
marginalização de amplos setores sociais, etc. – e no esvaziamento das funções
do Estado – na forma do sucateamento de serviços sociais básicos como saúde e
educação, restrição de programas sociais, redução/restrição do sistema
previdenciário, etc.
Já em relação ao padrão sociocultural calcado em
aspectos como o individualismo e o consumismo, típicos do ‘American way of
life’, é incorporado um irresistível processo de coisificação e banalização do
mundo e a cultura do descartável. A esse quadro se agrega, em certa medida como
desdobramento dele mesmo, a crise de instituições que secularmente concorrem
para a modelagem da sociedade brasileira, como a família, a igreja e a escola.
Uma perspectiva materialista vulgar, individualista
e presentista de tempo e sociedade, amplamente desenvolvida nos anos 90, tem
concorrido para restringir o envolvimento de membros do mundo do trabalho, da
juventude e da intelectualidade com projetos sociais coletivos orientados na
direção da construção de uma sociedade justa e democrática.”
“A luta indígena, ao longo de grande parte do
período colonial, resistindo à conquista portuguesa e/ou a classe senhorial e
escravista, representa a luta pela defesa da liberdade do grupo tribal.
Representa, também, a luta pela defesa da vida tribal contra o Estado, ou seja,
a defesa de uma sociedade organizada sem o Estado e contra o Estado – ou a
qualquer outra forma de poder que se sobrepusesse aos membros da comunidade.
A resistência negra, na forma dos quilombos, e a
insurreição pernambucana de 1817, por sua vez, representam exemplos de lutas de
classes e grupos sociais, resistindo à sociedade e Estado escravista moderno.”
“A manutenção do caráter geral assumido pela
sociedade e Estado burguês no Brasil, caracterizado pela dependência e
subalternidade de um capitalismo periférico, também pressupôs a derrota das
classes e grupos sociais dominados. Essas derrotas, contudo, não são o
resultado de uma ação unicamente coercitiva, como no passado colonial e
imperial.
A relação estabelecida entre Estado e sociedade,
após a revolução política de 1889- 1891, é mais complexa. Esse Estado, ao
fundar-se sobre princípios universalistas, edifica-se, formalmente, como uma
instituição de representação geral e que poderia ser composta por qualquer
cidadão, independentemente da sua condição social ou concepção de mundo. O
Estado não se apresenta como aparelho de coerção diretamente identificado com a
classe dominante e com estrito papel repressivo.
O Estado universalista proporciona, formalmente,
condições para uma dominação sobre bases predominantemente consensuais, ou
seja, coerção revestida de hegemonia. Por meio de aparelhos públicos e privados
de hegemonia como, respectivamente, a escola e os meios de comunicação de
massa, a concepção de mundo e valores burgueses, transfigurados de universais e
naturais, seriam estendidos sobre toda a sociedade e moldariam a subjetividade
dos grupos sociais subalternos.”
A Necessária Desconstrução dos Mitos
A colonização brasileira, efetivamente, começa pelo
menos um século antes da colonização dos Estados Unidos e do Canadá, o que
demonstra que não somos um povo jovem. Possuímos uma das histórias nacionais
mais violentas e opressoras do mundo moderno, o que desautoriza o pretenso
caráter de povo tolerante e cordial. O autoritarismo presente nas nossas
relações sociais está inscrito no nosso cotidiano, o que evidencia quão
distante nos encontramos de ser uma sociedade verdadeiramente democrática.
Responsabilizar unicamente a colonização portuguesa
ou a herança colonial pela tragédia revivida no nosso cotidiano, ou seja,
enquanto uma herança da espoliação externa é, no mínimo, um mito e uma grande
falta para com a verdade histórica. A condição de uma sociedade formada para o
‘outro’ é posta e reposta ao longo de 500 anos, sendo o Estado um instrumento
estratégico nessa direção. Essa condição social ocorre de forma mais ou menos
contraditória, por meio da convergência de interesses entre a classe dominante local
e os interesses internacionais. A história brasileira não nos deixa dúvidas:
essa comunhão de interesses operou e opera em detrimento das maiorias sociais.
A (re)criação dos referidos mitos (e de outros
tantos) presta-se a escamotear o fato de que não compomos uma nação. Formamos
uma sociedade enquanto um amálgama de classes e grupos sociais profundamente
diferenciados, no âmbito do qual o mundo do trabalho encontra-se submetido a
diversos níveis e formas de exploração econômica, de dominação política e de
opressão ideológica.
A construção da nação, entendendo por tal uma
sociedade integrada, democrática e participativa, constitui-se em uma
possibilidade histórica. A sua efetivação está na direta proporção da
mobilização da maioria dos membros do mundo do trabalho, em aliança com outros
setores sociais, tendo em vista romper com a condição de povo formado para o
‘outro’, conformando-se enquanto um povo formado para ‘si’ – conquistando
participação democrática e consciente das possibilidades históricas que se
abrirão, tendo em vista a construção de um projeto de sociedade alternativa à
sociedade atual – e para ‘todos’ – sendo parte da construção de um novo projeto
civilizatório para a humanidade.
A construção da nação para ‘si’ e para ‘todos’
certamente não poderá aguardar um grande projeto alternativo de sociedade e/ou
o grande dia para a sua efetivação. Nem poderá tão somente conceber o Estado e
o governo como alvos. A construção da nação, nos termos aqui propostos, passa
pelas escolhas que realizamos em nosso cotidiano. Essas escolhas poderão
repor/ampliar as estruturas (sociais, econômicas, políticas e culturais)
herdadas do nosso processo histórico ou construir estruturas a partir de outras
bases.
Somente por meio da mediação de uma Práxis verdadeiramente
democrática, libertária e ética, desenvolvida no âmbito das relações de gênero,
de etnia, de entidades e movimento sociais, etc., é que poderemos transformar a
realidade nacional e mundial. Boas escolhas e práticas é um bom começo...