quinta-feira, 7 de novembro de 2013

A arte de insultar – Arthur Schopenhauer

Editora: Martins Fontes
ISBN: 978-85-3361-803-9
Tradução: Eduardo Brandão e Karina Jannini
Organização: Franco Volpi
Opinião: ★★☆☆☆
Páginas: 222
Sinopse: Quando nos faltam argumentos, é preciso recorrer às ofensas – sugeriu Schopenhauer, pois: “Uma só grosseria supera qualquer argumento.” O livro contém uma breve teoria e uma minuciosa prática das indiretas, das maldades e dos ataques verbais que Schopenhauer endereça com impertinência categórica a todos os destinatários possíveis: os filósofos, os escritores, as mulheres, as instituições sociais, o gênero humano, a vida – em poucas palavras: contra o mundo inteiro. Mas ele também revela a melhor maneira de se defender com êxito.



“Na maioria das vezes, os amigos da casa são chamados desse modo com razão, uma vez que são mais amigos da casa do que do dono, ou seja, assemelham-se mais aos gatos do que aos cachorros.”


“Seria bom comprar livros se, junto com eles, fosse possível comprar também o tempo para lê-los.”


“O sexo feminino exige e espera do masculino tudo, exatamente tudo o que deseja e de que necessita. O masculino exige do feminino, em primeiro lugar e imediatamente, uma única coisa. Por essa razão, foi necessário estabelecer a convenção de que o sexo masculino só pode obter do feminino aquela única coisa se, em troca, cuidar de todas as outras, além dos filhos nascidos da união. Nessa convenção baseia-se o bem-estar de todo o sexo feminino.”


“Casar-se de maneira geral significa colocar a mão dentro de um saco sem ver o que há dentro dele e esperar tirar uma enguia de um emaranhado de serpentes.
No nosso continente monogâmico, casar-se significa abdicar de metade dos direitos e duplicar os deveres.
Casar-se significa fazer o possível para sentir repugnância um do outro.
Casamentos felizes são notoriamente raros.”


“Se todo indivíduo pudesse escolher entre o seu próprio aniquilamento e o do resto do mundo, não preciso dizer para que lado, na maioria dos casos, penderia a balança.”


“O cérebro é o parasita ou o pensionista do organismo inteiro”.


“Se um deus fez este mundo, eu é que não gostaria de ser este deus: a miséria aqui presente despedaçaria meu coração.”


Minha época e eu não fomos feitos um para o outro: quanto a isso, não há dúvida. Mas qual de nós vencerá o processo diante do tribunal dos pósteros?”


“A fé e o saber não se dão bem dentro da mesma cabeça: são como o lobo e o cordeiro dentro de uma jaula; e o saber é justamente o lobo, que ameaça devorar seu vizinho.
O saber é feito de uma matéria mais dura do que a fé, de modo que, quando colidem, a última se quebra.”


“A veneração que a grande massa culta reserva ao gênio é da mesma espécie da que os crentes dedicam aos seus santos, ou seja, degenera facilmente num culto pueril às relíquias. A casa de Petrarca em Arquà; a suposta prisão de Tasso em Ferrara; a casa de Shakespeare em Stratford com sua cadeira; a casa de Goethe em Weimar com sua mobília; o velho chapéu de Kant, bem como os respectivos autógrafos, são fitados com atenção e respeito por muitos que nunca leram suas obras, do mesmo modo como milhares de cristãos veneram as relíquias de um santo cuja vida e doutrina não chegaram a conhecer, e como a religião de milhares de budistas consiste muito mais na veneração a Dahtu (dente sagrado), até mesmo a Dagoba (Stupa), que o encerra, ou ao sagrado Patra (gamela), ou ainda à pegada petrificada, à arvore sagrada que Buda semeou, do que no conhecimento profundo e no exercício fiel da sua sublime doutrina.”


“As outras partes do mundo têm macacos; a Europa tem franceses. É a mesma coisa.”


“Ler a história da filosofia em geral ou todo tipo de exposição das doutrinas dos filósofos em vez das suas obras originais é como fazer com que outra pessoa mastigue a comida por nós. É possível conhecer de fato os filósofos apenas por meio das suas obras, e de modo algum por relatos de segunda mão.”


“Às vezes converso com os homens do mesmo modo como as crianças conversam com seus bonecos: embora ela saiba que o boneco não a compreende, usando de uma ilusão agradável e consciente, consegue divertir-se com a comunicação.”


“O egoísmo é gigantesco: ele rege o mundo.”


“De um ponto de vista geral, [...] a natureza fala da seguinte forma: “O indivíduo é nada e menos de nada. Diariamente, destruo milhões de indivíduos por diversão e passatempo: abandono seu destino nas mãos do mais temperamental e caprichoso dos meus filhos, o acaso, que faz dele sua presa ao seu bel-prazer. Dou vida a milhões de novos indivíduos todos os dias, sem diminuir em nada minha força criativa, do mesmo modo como a força de um espelho não se esgota pelo número de imagens do sol que, uma após a outra, ele reflete na parede. O indivíduo é nada”.” 


“Em sensu proprio, o dogma do inferno torna-se revoltante. Pois, em virtude das penas eternas do inferno, não apenas faz expiar com infindáveis martírios os erros ou até mesmo a falta de fé, mas também faz com que essa condenação quase universal constitua na verdade o efeito de um pecado original e, portanto, o resultado inevitável da primeira transgressão do homem. No entanto, de todo modo essa transgressão deveria ter sido prevista por aquele que, em primeiro lugar, não criou os homens melhores do que são, e depois lhes preparou uma armadilha, mesmo sabendo que nela cairiam, uma vez que tudo era obra sua e nada permanecia escondido às suas vistas. Sendo assim, ele teria evocado do nada para a existência um gênero humano fraco e sujeito ao pecado, para depois condená-lo ao martírio infindável. Por fim, há que se acrescentar que Deus, que prescreve a indulgência e o perdão a toda culpa até chegar ao amor pelo inimigo, não manifesta nenhum sentimento semelhante, mas cai em sentimentos opostos; isso porque uma pena, que sucede ao fim das coisas, quando tudo já passou e se concluiu, não pode ter como objetivo nem a melhora, nem a intimidação e, portanto, não passa de uma vingança. Visto por esse ângulo, chega a parecer que, na prática, todo o gênero humano tenha sido destinado e criado expressamente para a tortura e a condenação eternas – a não ser por aquelas poucas exceções que, não se sabe porquê, foram salvas pela escolha divina. Sem levar em conta tais casos, o querido Deus parece ter criado o mundo para que o diabo o carregasse; sendo assim, ele teria feito muito melhor se tivesse deixado de criá-lo.


“O pássaro na gaiola canta não por prazer, mas de raiva.” (citação)


“A intolerância é intrínseca apenas ao monoteísmo: um deus único é, por natureza, um deus ciumento, que não tolera nenhum outro além dele mesmo.”


“Não se pode servir a dois senhores: ou se serve à razão, ou à escritura.”


“O médico vê o homem em toda a sua fraqueza; o jurista, em toda a sua perversidade; o teólogo, em toda a sua estupidez.”


“A vida da maioria das pessoas é apenas uma luta contínua pela existência, com a certeza da derrota final.”


“A vida de todo ser humano flui inteiramente entre o querer e o conseguir. O desejo, conforme sua natureza, é dor: alcançá-lo significa gerar rapidamente a saciedade. O objetivo era apenas aparente; a posse tira o encanto; o desejo e a necessidade se reapresentam com um novo aspecto. Quando isso não ocorre, seguem-se a solidão, o vazio e o tédio, contra os quais a luta atormenta tanto quanto contra a miséria.”


“Quando se observa a vida de cada indivíduo de modo geral, destacando apenas seus traços mais significativos, percebe-se que ela não passa de uma tragédia; porém, se examinada em seus detalhes, tem o caráter da comédia.”

Um comentário:

Doney disse...

O livro teria nota melhor, se não fosse a deplorável e anacrônica (mesmo à época) misoginia do autor.