Editora: Record
ISBN: 85-01-05497-6
Opinião: ★★★★☆
Páginas: 194
Sinopse: Primeiro
romance de Jorge Amado, O país do Carnaval faz um retrato crítico e investigativo
da imagem festiva e contraditória do Brasil, a partir do olhar do personagem Paulo
Rigger, um brasileiro que não se identifica com o país.
Filho de um rico produtor de cacau, Rigger volta ao Brasil
depois de sete anos estudando direito em Paris. Num retorno marcado pela inquietação
existencial, ele se une a um grupo de intelectuais de Salvador, com o qual passa
a discutir questões sobre amor, política, religião e filosofia. Dúvidas sobre os
rumos do país ocupam o grupo.
O protagonista mantém uma relação de estranhamento com o Brasil
do Carnaval, acredita que a festa popular mantém o povo alienado. Os exageros e
a informalidade brasileira são motivo de espanto, apesar de a proximidade com o
povo durante as festas nas ruas fazer com que ele se sinta verdadeiramente brasileiro.
Aturdido pelas contradições, Rigger decide voltar para a Europa.
Mestiçagem e racismo, cultura popular e atuação política são
alguns dos temas de Jorge Amado que aparecem aqui em estado embrionário. Brutalidade
e celebração revelam-se, neste romance de juventude, linhas de força cruciais de
uma literatura que se empenhou em caracterizar e decifrar o enigma brasileiro.
“As gerações se sucedem vertiginosamente. E vêm
árdegas, querendo realizar alguma coisa, manter acesa a lâmpada do espírito. Mas
em pouco tempo o entusiasmo não está mais. Nenhum de nós dura tempo o suficiente
para se realizar. E não deixamos nem sequer um traço da nossa passagem.”
“Só o entendimento do desespero constrói.”
“E o mundo o que é para nós senão a nossa visão
dele?”
“O país em que nascemos pesa sobre nós. É bastante
olhar o Brasil de hoje, no seu aspecto político por exemplo, para termos uma ideia
do drama que se está passando aos nossos olhos. O caos de todos os lados. E perdidas
no caos algumas ameaças terríveis. O mais é apenas inexistência e sono. A mocidade
não tem um sentido, não tem uma direção, não tem uma causa. A única aspiração da
nossa mocidade é a velhice. Poucos apenas nela trabalham pela nossa libertação.
Poucos apenas são os que resistem procurando pensar e criar, onde naturalmente não
existe nem pensamento nem criação. Você, meu amigo, é um desses marcados para essa
desgraça, para essa dilaceração contínua e cuja recompensa é saber que tudo que
está diante de nós não apodrece porque alguns poucos abrem as janelas do espírito
de quando em vez, e são sacrificados por esse gesto.”
Prefácio – Augusto Frederico Schmid
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“Este livro narra a vida de homens céticos que,
entretanto, procuram uma finalidade. Tentaram alcançá-la. Uns no amor, outros na
religião. O fracasso das tentativas não é prova da sua inutilidade.”
“Porque, procurando bem, até homens inteligentes
se encontram no Brasil.”
“No Brasil a questão de religião é uma questão
de medo.”
“A serenidade é uma falsificação da felicidade.”
“– Se vocês fossem iguais a todos os outros, achariam
a Felicidade em qualquer parte. Na religião, no amor, no trabalho, em qualquer coisa.
Mas, como vocês são superiores, não a encontrarão nunca. A Felicidade pertence somente
aos burros e aos cretinos. Felizmente, nós somos infelizes.”
“– Toda prostituta tem uma tragédia, Jerónimo.
Quer ver?
E Pedro Ticiano chamou a mulher que passava.
– Minha filha, conte aqui para nós, para mim e
para este amigo que é o “último romântico”, como você veio para esta vida, esta
vida terrível que as mulheres casadas chamam de fácil...
Ela não se fez de rogada. E começou a contar,
os olhos baixos amassando com os dedos a ponta do casaco, quase envergonhada. Bonitinha,
aquela mulher! Dois grandes olhos espantados e uma boca pequena onde brincava um
sorriso fácil de oferecimento. Nada de aristocrático. O tipo da camponesa bonita.
Tudo igual à das outras... Vivia lá em Nazaré
com os pais. Cosia. Ganhava até dinheiro. Um dia, um homem rico e elegante que fora
passear na cidade prometera-lhe casamento, casa bonita, automóveis. Naquele tempo
ela ainda acreditava nos homens. Depois, deixara-a perdida, odiada pela família.
Viera então para a Bahia. E aí estava a sua história. Igual à das outras...
– Vivendo a tragédia das prostitutas que nasceram
para mães de família. Em todo caso, minha filha, você escapou de ter sofrido uma
tragédia muito maior, a de ter morrido virgem...”
“– Só o estômago não tem nada a ver com as nossas
tragédias. Continua a exigir comida da mesma maneira.”
“Quem não tem fome não conhece a infelicidade.”
“Dizem que foi Deus quem criou os homens. Eu acho
que foram os homens que criaram Deus. De qualquer modo, homens criados por Deus
ou Deus criado pelos homens, uma e outra obra são indignas de uma pessoa inteligente.”
“A experiência é feita das desilusões.”
“Toda vitória na vida é um fracasso na arte.”
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