Editora: Companhia das Letras
ISBN: 978-85-359-2566-1
Opinião: ★★★★☆
Páginas: 808
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Sinopse: Ver Parte I
“A ditadura pode até ter sido uma sucessão quase imperial de generais no
exercício da Presidência da República; contudo, entre 1964 e 1985, o Ministério
do Planejamento, juntamente com o da Fazenda, não ficava atrás. Tinha poderes
de sobra, era reduto de civis, e o comando da área econômica cabia quase todo
ao Ipes: Roberto Campos, Octávio Gouvêa de Bulhões, Antônio Delfim Netto, Hélio
Beltrão, Mário Henrique Simonsen.39 “No fundo,
existia um canal absolutamente aberto entre o governo e o setor empresarial”,40 reafirmou, cinquenta anos depois, Delfim Netto,
ministro da Fazenda entre 1967 e 1974, e do Planejamento entre 1979 e 1985. O
Ministério da Fazenda dispunha de controle quase total do orçamento, isto é,
sobre gastos que deveriam ser definidos pelo Congresso Nacional. “O ministro da
Fazenda tinha poderes de autorizar qualquer despesa que lhe desse na telha”,
recordou o ex-ministro Maílson da Nóbrega, e completou: “Poderes de matar de
inveja um rei medieval”.41 O projeto de
desenvolvimento econômico da ditadura pretendia facilitar o investimento
estrangeiro, reduzir o papel ativo do Estado e elevar o ritmo de crescimento. E
tudo isso foi feito sem contestação: “Fazíamos, e não havia força política, nem
legislativa, nem no Judiciário, que pudesse se contrapor a esse comando
econômico”,42 confirmou o ex-ministro Ernane
Galvêas. O governo Castello Branco ergueu as bases econômicas e financeiras que
serviriam para deslanchar o modelo de desenvolvimento, e deu prioridade a um
programa de estímulo ao investimento estrangeiro e de incentivo às exportações
por meio da desvalorização do cruzeiro em relação ao dólar. Adotou uma dura
política de estabilização: controle dos salários, redução da idade legal mínima
de trabalho, fim da estabilidade no emprego através da criação do Fundo de
Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), repressão aos sindicatos, proibição de
greves.43 (...)
Mas,
enquanto os militares aprofundavam os instrumentos de repressão dentro das
fábricas — e para o restante da sociedade —, a economia se aqueceu e a
inflação, em vez de subir, passou a cair. Teve início um surto de crescimento
que, no seu apogeu, superou qualquer período anterior, e o governo começou a
falar de “milagre econômico brasileiro”.46 A
performance de crescimento seria indiscutível, porém o milagre tinha explicação
terrena. Misturava, com a repressão aos opositores, a censura aos jornais e
demais meios de comunicação, de modo a impedir a veiculação de críticas à
política econômica, e acrescentava os ingredientes da pauta dessa política: subsídio
governamental e diversificação das exportações, desnacionalização da economia
com a entrada crescente de empresas estrangeiras no mercado, controle do
reajuste de preços e fixação centralizada dos reajustes de salários.
A
indústria automobilística triplicou a produção, faltou cimento para atender ao
aumento da demanda na construção civil, e a Bolsa de Valores parecia fabricar
dinheiro fácil — no pregão do Rio de Janeiro, um mês de transação, em 1970,
ultrapassou, em dez vezes, todo o movimento do ano de 1968. O “milagre
econômico”, contudo, teve um preço, e o crescimento da economia se fez
acompanhar de um processo acentuado de concentração de renda, resultado de uma
política salarial restritiva, em que os ganhos de produtividade não eram
repassados para os trabalhadores. Deu-se também um aumento vertiginoso da
dívida externa, com o país mais vulnerável às alterações do cenário
internacional em decorrência da captação de recursos privados no exterior — com
financiamento mais barato e maior prazo — e obtenção de crédito para a
indústria em bancos privados internacionais com juros flutuantes e elevados. Os
brasileiros só iriam acordar para o tamanho dessa vulnerabilidade após 1973,
quando a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) reduziu a
oferta de petróleo, o preço do produto foi multiplicado por quatro, não havia
alternativa senão continuar comprando, e o milagre finou. Ao contrário do
brasileiro comum, tanto os generais do Executivo quanto os tecnocratas do
Ministério do Planejamento sabiam que havia distorções no crescimento da
economia e que as consequências viriam. E ninguém se mexeu: o resultado era
muito bom e a ditadura se beneficiava dele. Na explicação meio cínica do
general Médici, que ocupou a Presidência da República no período de apogeu do
ciclo de crescimento, o país estava muito bem; o povo é que ia mal.
Uma
ditadura é formada por mandantes arbitrários, oposicionistas tenazes e uma
população que precisa sobreviver — parte dela atravessa em silêncio, com medo
ou apenas conformada o tempo do arbítrio. Enquanto durou, o “milagre econômico”
escamoteou os efeitos da concentração de renda, e muita gente, em especial
entre as classes médias urbanas, se beneficiou com o crédito fácil, as novas
oportunidades profissionais e os estímulos para consumir num mercado abarrotado
de novidades: TV em cores, toca-fitas, câmera Super-8, automóveis — Corcel,
Opala, Galaxie, Chevette. Para completar a felicidade do brasileiro, ainda
existia a possibilidade de o assalariado finalmente “dar o salto da casa
própria” e comprar imóvel financiado pelo recém-criado Banco Nacional de
Habitação (BNH). O “milagre econômico” teve seu apogeu entre 1970 e 1972, e o
êxito na economia ajuda a entender, ao menos em parte, por que o general Médici
conseguiu ser, ao mesmo tempo, o responsável por comandar o pior período de
repressão e violência política na história brasileira e um presidente popular,
pouco criticado e muito aplaudido. O grau de controle coercitivo sobre a
sociedade que a ditadura adquiriu durante sua presidência foi imenso, mas por
si só não garantia apoio. Todo governo, para se sustentar, depende de alguma
forma de adesão, e o “milagre econômico” ajudou a fabricar uma base geradora de
consentimento junto à população. Três dias depois de sua posse, em 1969, Médici
autorizou a reformulação de um órgão de comunicação criado por seu antecessor —
a Assessoria Especial de Relações Públicas (Aerp) — e pôs para funcionar uma
campanha de propaganda política sem precedentes. A propaganda feita pela Aerp
era criativa, não tinha nada de chapa-branca nem ostentava os sinais típicos do
marketing político. As peças falavam em otimismo, orgulho e grandeza nacional;
celebravam a diversidade e a integração racial brasileira; afirmavam a harmonia
social, e embalavam tudo isso em filmes curtos, com narração direta, imagens
bem cuidadas e um arremate musical que grudava na lembrança do espectador.47
A
propaganda da Aerp foi produzida para a televisão e fez sucesso. Os militares
tinham um projeto de desenvolvimento em grande escala, pretendiam realizar a
integração completa do território nacional, e o Brasil se transformou num
imenso canteiro de obras verde-oliva — tudo devidamente registrado e festejado
por aquela assessoria. A mais famosa dessas obras — a construção da Transamazônica
—48 fez o encaixe perfeito entre o projeto de
desenvolvimento econômico concebido no Ipes e as diretrizes de segurança
interna desenvolvidas pela ESG: uma estrada gigantesca, com 4997 quilômetros
previstos no projeto, 4223 quilômetros (mal) construídos, e a pretensão de
cortar a Bacia Amazônica de leste a oeste e ligar a Região Nordeste ao Peru e
ao Equador. A construção da Transamazônica serviu de alavanca para um ambicioso
programa de colonização que incluía o deslocamento de quase 1 milhão de pessoas
com o objetivo de ocupar estrategicamente a região, não deixar despovoado
nenhum espaço do território nacional e tamponar a área de fronteiras. A estrada
foi inaugurada por Médici em 27 de setembro de 1972 e utilizada para
potencializar uma imagem ufanista do Brasil, compartilhar o sentimento de que
estava em curso um processo formidável de modernização do país e produzir
identidade. Mas não foi bem assim. A construção da Transamazônica massacrou a
floresta, consumiu bilhões de dólares, e até hoje a estrada tem trechos
intransitáveis por conta das chuvas, dos desmoronamentos e das enchentes dos
rios. A Transamazônica torrou um dinheiro que não havia, mas os brasileiros só
entenderam isso na hora em que acabou o milagre e a inflação bateu na casa de três
dígitos — em 1980, atingiu a cifra de 110%. Quando o governo dos militares
terminou, em 1985, o país estava endividado e a inflação chegava a 235%. O
Brasil se tornara a cópia exata do reino de Belíndia, situado num longínquo
rincão entre o Ocidente e o Oriente e criado, em 1974, pela imaginação do
economista Edmar Bacha, que queria denunciar a crise, precisava driblar a
censura e criou o texto “O economista e o rei da Belíndia: uma fábula para
tecnocratas”.49 Em Belíndia, a forma de
contabilizar a riqueza nacional servia para ocultar a brutal concentração de
renda que repartia o país entre regiões avançadas — a “Bélgica” — e regiões
muitíssimo atrasadas — a “Índia” — onde havia fome, miséria absoluta, baixa
expectativa de vida e alta taxa de mortalidade infantil.”
39 Para a participação
no Ipes, ver René Armand Dreifuss, 1964: A conquista do Estado.
40 Para a declaração de
Delfim Netto, ver Rafael Cariello, “O chefe”. piauí, São Paulo, n. 96,
p. 23, set. 2014.
41 Para a declaração de
Maílson da Nóbrega, ver Rafael Cariello, “O chefe”, op. cit., p. 24.
42 Para a declaração de
Ernane Galvêas, ver Rafael Cariello, “O chefe”, op. cit., p. 22.
43 Para a política
econômica do governo Castello, ver Francisco Vidal Luna e Herbert S. Klein,
“Transformações econômicas no período militar (1964-1985)”, em Daniel Aarão
Reis, Marcelo Ridente e Rodrigo Patto Sá Motta (Orgs.), A ditadura que mudou
o Brasil; Maria Helena Moreira Alves, Estado e oposição no Brasil (1964-1984).
46 Para o “milagre
econômico”, ver Francisco Vidal Luna e Herbert S. Klein, “Transformações
econômicas no período militar (1964-1985)”; Elio Gaspari, A ditadura
envergonhada; Luiz Carlos Delorme Prado e Fábio Sá Earp, “O ‘milagre’
brasileiro: Crescimento acelerado, integração internacional e concentração de
renda (1967-1973)”, em Lucilia de Almeida Neves Delgado e Jorge Ferreira
(Orgs.), O Brasil republicano: O tempo da ditadura (Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2007, v. 4: Regime militar e movimentos sociais em fins
do século XX).
47 Para a Aerp, ver
Carlos Fico, Reinventado o otimismo: Ditadura, propaganda e imaginário
social no Brasil (Rio de Janeiro: Fundação Getulio Vargas, 1997). Cópias
(16 mm) dos filmes produzidos pela Aerp podem ser encontradas no Centro de
Produção Cultural, Decanato de Extensão, Universidade de Brasília.
48 Para a
Transamazônica, ver Daniel Drosdoff, Linha dura no Brasil: O governo Medici
(1969-1974) (São Paulo: Global, 1986); Murilo Melo Filho, O milagre
brasileiro (Rio de Janeiro: Bloch, 1972).
49 Edmar L. Bacha e
Roberto M. Unger, Participação, salário e voto: Um projeto de democracia
para o Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.
“TEMPERATURA SUFOCANTE
Em 14
de dezembro de 1968, o Jornal do Brasil, um dos mais importantes
matutinos da época, foi às bancas com uma edição cuidadosamente planejada para
provocar estranheza. Entre as bizarrices, o jornal estampou o aviso “Ontem foi
o Dia dos Cegos” e a previsão meteorológica na primeira página. Não satisfeito,
anunciou: “Tempo negro. Temperatura sufocante. O ar está irrespirável. O país
está sendo varrido por fortes ventos”. O dia era de sol forte e céu
escandalosamente azul, mas a edição falava sério: tentava alertar o leitor da
presença de censores na redação — naquela madrugada, entrara em funcionamento
uma operação militar destinada a censurar toda a imprensa nacional.
O
jornal também avisava que o ruim tinha piorado. Às dez da noite de 13 de
dezembro de 1968 o ministro da Justiça, Gama e Silva, em cadeia nacional de
rádio e televisão, fizera uma rápida introdução de cinco minutos e passara a
palavra a Alberto Curi, que durante dezoito minutos havia apresentado, num tom
monocórdico e solene, o texto do Ato Institucional nº 5. O documento
contava doze artigos e vinha acompanhado de um Ato Complementar nº
38 que fechava o Congresso Nacional por tempo indeterminado. O AI-5 suspendia a
concessão de habeas corpus e as franquias constitucionais de liberdade de
expressão e reunião, permitia demissões sumárias, cassações de mandatos e de
direitos de cidadania, e determinava que o julgamento de crimes políticos fosse
realizado por tribunais militares, sem direito a recurso. Foi imposto ao país
numa conjuntura de inquietação política e movimentação oposicionista:
manifestações estudantis, greves operárias, articulações de lideranças
políticas do pré-1964 e início das ações armadas por grupos da esquerda
revolucionária. Para editá-lo, os militares se utilizaram de um pretexto: a
recusa do Congresso Nacional em autorizar o processo judicial contra o deputado
Márcio Moreira Alves, acusado de ser autor de um discurso ofensivo às Forças
Armadas, proferido, no plenário da Câmara, no dia 3 de setembro daquele ano.
Moreira Alves era um deputado valente, que já tinha denunciado — e provado —
dezenas de casos de tortura ocorridos nos quartéis durante o governo de
Castello Branco,50 e fez discurso duro na
tribuna: “Quando o Exército não será um valhacouto de torturadores?”, indagou.
O discurso, porém, não teve nenhuma repercussão: Moreira Alves falou em horário
ingrato e para um plenário vazio. Mas, se os militares queriam um pretexto,
esse estava ótimo: o ministro da Justiça solicitou a licença para processar o
deputado, o Congresso recusou, e o AI-5 foi o desfecho da crise.51
O
AI-5 era uma ferramenta de intimidação pelo medo, não tinha prazo de vigência e
seria empregado pela ditadura contra a oposição e a discordância. Apesar disso,
não foi o único instrumento de exceção criado pelas Forças Armadas nem
significou um “golpe dentro do golpe” aplicado por facções intramilitares
radicais para garantir a expansão do arbítrio e da repressão política. O AI-5
fez parte de um conjunto de instrumentos e normas discricionárias mas dotadas
de valor legal, adaptadas ou autoconferidas pelos militares. Eles despenderam
grande esforço para enquadrar seus atos num arcabouço jurídico e construir um
tipo de legalidade plantada no arbítrio — uma legalidade de exceção —,52 capaz de impor graves limites à autonomia dos demais
poderes da União, punir dissidentes, desmobilizar a sociedade e limitar
qualquer forma de participação política. O primeiro Ato Institucional foi
redigido em segredo e promulgado oito dias após o golpe. Vinha assinado pelo
autoproclamado Comando Supremo da Revolução — formado pelo general Costa e
Silva, pelo almirante Rademaker e pelo brigadeiro Correia de Mello — e tinha
onze artigos: transferia parte dos poderes do Legislativo para o Executivo,
limitava o Judiciário, suspendia as garantias individuais e permitia ao
presidente da República cassar mandatos, cancelar os direitos políticos do
cidadão pelo prazo de dez anos e demitir funcionários públicos civis e
militares. Para legitimar esse instrumento com algum grau de embasamento legal,
os militares concederam a si próprios poderes constitucionais e embutiram a
manipulação jurídica na “Introdução” do primeiro Ato Institucional: “A
Revolução vitoriosa […] é a forma mais expressiva e mais radical do Poder
Constituinte”.53
As
Forças Armadas até hoje empregam o termo “Revolução” para se referir ao golpe,
e isso ocorre por conta do primeiro Ato Institucional: garantia-se legitimidade
ao sistema e institucionalizava-se a repressão. Em razão dos vários Atos
Institucionais que se seguiram, esse passou a ser conhecido como AI-1, e
forneceu ao governo do general Castello Branco o instrumento jurídico que
permitiu encarcerar milhares de pessoas, bem como improvisar áreas de detenção
em estádios de futebol, como o Caio Martins, em Niterói, além de transformar embarcações
da Marinha Mercante e da Marinha de Guerra em navios-prisões.54
O AI-1 também liberou a execução de manobras policial-militares de detenção em
massa, com bloqueio de ruas, busca de casa em casa e checagem individual, que
se deram durante o ano de 1964, em Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Rio de
Janeiro, São Paulo e Pernambuco — cerca de 50 mil pessoas acabaram detidas
nessas manobras, conhecidas como Operação Limpeza.
Era
de repressão que se tratava, e o AI-1 facilitou as condições para o expurgo no
serviço público. A estratégia tinha duas pontas. Numa, os militares criaram
Comissões Especiais de Inquérito, de natureza administrativa, em todos os
níveis de governo: ministérios, órgãos e empresas estatais. Na outra,
instauraram Inquéritos Policiais Militares (IPMs) para investigar as atividades
de funcionários na administração pública.55 Os
IPMs foram dirigidos sobretudo por coronéis do Exército selecionados por seu
radicalismo ideológico, e o encargo era entendido como uma tarefa prestigiosa.
Os coronéis estavam investidos de uma função policial de novo tipo, não
submetida a regras de comprovação, e atuaram movidos por um intenso furor
punitivo. Nas primeiras semanas após o golpe, haviam sido instaurados 763 IPMs;
em um ano de atividade, 10 mil réus e 40 mil testemunhas foram submetidos a
inquéritos que revelavam completo desprezo pelas regras de justiça.
Entre
1964 e 1973, milhares de brasileiros foram atingidos pelos expurgos. Estima-se
que 4841 pessoas perderam direitos políticos ou foram cassadas, aposentadas ou
demitidas pela ditadura — só o AI-1 teve como alvo 2990 cidadãos. Nos quartéis,
os expurgos atingiram as três Forças e remeteram 1313 militares para a reserva.
Estavam fora da farda 43 generais, 532 oficiais de todas as patentes, 708
suboficiais e sargentos, e trinta soldados e marinheiros.56
Esse pessoal foi punido de forma particularmente cruel: o militar era declarado
morto. Perdia, assim, as vantagens adquiridas ao longo da carreira — soldo de
promoção, aposentadoria, salário-saúde e salário-família; a esposa, quando
havia, recebia pensão de viúva. O AI-1 tinha prazo de validade — terminaria em
31 de janeiro de 1966, data final do mandato de João Goulart. Em outubro de
1965, porém, Castello Branco liquidou com as ilusões de quem ainda acreditava
em ditadura temporária, prorrogou o próprio mandato e baixou por decreto o
AI-2. Além das medidas destinadas a fortalecer o Executivo, o AI-2 mudava as
regras do jogo no caso da representação política: suprimia as eleições por voto
popular direto para presidente da República e extinguia todos os partidos
políticos então existentes.
O
AI-2 devolveu Carlos Lacerda à oposição, e em grande estilo: em outubro de
1966, ele lançou o manifesto da Frente Ampla, uma implausível organização de
oposição que reunia, além dele, Juscelino Kubitschek e João Goulart.57 A ideia do entendimento entre os três inimigos
partiu do próprio Lacerda, e a frente conseguiu agrupar quase todas as
correntes políticas com atuação no período democrático — inclusive os
comunistas. Com duas exceções: Leonel Brizola, exilado no Uruguai, se recusou a
encontrar-se com Lacerda; Miguel Arraes, um dos dois governadores a serem
presos pela ditadura — o outro foi Seixas Dória, de Sergipe — e a principal
liderança das esquerdas no Nordeste, estava exilado na Argélia e também não
quis saber de conversa.
Se o
objetivo era selecionar um candidato à Presidência da República, o principal
beneficiário da Frente Ampla era mesmo Carlos Lacerda: Jango estava no exílio;
Kubitschek, apesar de todos os acenos que fez aos militares, havia sofrido um
IPM — que visava arrancar confissões não comprovadas de desvio de dinheiro
público —, teve o mandato cassado e os direitos políticos suspensos por dez
anos. Mas a Frente Ampla significava uma alternativa oposicionista real: reunia
três grandes lideranças nacionais, abria canais de participação para a
sociedade com comícios, reuniões públicas e manifestações de rua, e apresentava
um programa mínimo para derrotar a ditadura no voto: restauração do poder
civil, anistia, pluripartidarismo, direito de greve, constituinte, eleições
diretas. Não podia durar. Em abril de 1968, Costa e Silva decretou sua
ilegalidade e proibiu suas atividades. Os militares jamais perdoaram Carlos
Lacerda, a quem consideraram traidor: em dezembro do mesmo ano, seu nome
encabeçou a lista de cassações do AI-5 e ele foi preso. Nunca mais voltaria à
vida política.
O Ato
nº 3 foi assinado pelo general Castello Branco em fevereiro de 1966,
e se encarregaria de acabar com as eleições diretas para governadores. Além do
mais, um Ato Complementar serviria para alterar a correlação das forças
políticas no Congresso e nas Assembleias Estaduais, ao estabelecer as normas
para criação de apenas dois partidos: um de apoio ao governo, a Aliança
Renovadora Nacional (Arena), e outro de oposição, o Movimento Democrático
Brasileiro (MDB). Os dois atos encerravam a experiência do pluripartidarismo
iniciada em 1946 e suprimiam a cidadania dos brasileiros: nos dezessete anos
seguintes, a população perdeu o direito de eleger governadores, e teria de
esperar 23 anos para escolher um presidente da República. Quem quisesse
permanecer na política, e não estivesse preso ou cassado, precisava escolher o
partido, e ficou difícil formar o MDB — a maior parte dos políticos em atividade
correu para se abrigar na Arena. O partido do governo reunia a fina flor do
conservadorismo, filiou praticamente toda a UDN, boa parcela do PSD e uma
estreita fatia do PTB.58 Enquanto existiu, a
Arena foi incapaz de atuar como partido e formular alternativas políticas
nacionais; em compensação, sofria de incurável vocação adesista, sua postura
era subserviente e seus integrantes aprovavam quase todos os projetos que o
Executivo enviava ao Congresso. Mas a Arena também tinha diretórios instalados
em todo o país, e se organizou rapidamente numa grande estrutura partidária
sustentada por uma extensa rede de políticos, simpatizantes, militantes e
eleitores — o partido garantiu suporte civil e foi outra fonte geradora de
consentimento ao governo dos militares.
A
Arena passou para a história como o partido do “sim, senhor”, e os militares
esperavam que o MDB fosse dócil o suficiente para atuar como o partido do
“sim”. Afinal, era oposição consentida e, entre 1966 e 1970, quando se
consolidou como força política de oposição real, quem combatia a ditadura não
via nenhuma razão para confiar nele.59 Muitos
duvidavam de um partido fraco que aceitou o jogo da ditadura e, quando os
preparativos para as eleições parlamentares se intensificaram, a campanha pelo
voto nulo capitaneada pelas organizações da esquerda revolucionária obteve
sucesso: em 1966, o índice de votos nulos e brancos chegou a 21%; em 1970,
alcançou o patamar de 30%, num evidente sinal de descrédito do sistema
bipartidário imposto pelos militares.
O MDB
passou a desconfiar de que talvez estivesse metido num beco sem saída. Entre
autodissolver-se e continuar funcionando apesar das cassações e da suspensão de
direitos políticos, a base de liderança do MDB, originária do PTB e do PSD,
decidiu ir em frente. Reuniu o partido em torno do único ponto de consenso — o
retorno do país à democracia — e assumiu os riscos de comportar-se como
oposição. Entre 1967 e 1968, parlamentares do MDB participaram de protestos,
passeatas e greves; subiram à tribuna para denunciar o arbítrio, a perda de
direitos, o processo de desnacionalização. O preço foi alto: a edição do AI-5,
em 1968, devastou o partido e, numa bancada de 139 parlamentares, sessenta
foram cassados. Em 1970, a bancada estava reduzida a 89 deputados.”
50 Ver Márcio Moreira
Alves, Tortura e torturados (Rio de Janeiro: Idade Nova, 1966).
51 Para a conjuntura
política de 1968 e o discurso de Márcio Moreira Alves, ver Zuenir Ventura, 1968:
O ano que não terminou (Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988); Elio
Gaspari, A ditadura envergonhada.
52 O argumento é de
Anthony Pereira. Ver Anthony W. Pereira, Ditadura e repressão: O
autoritarismo e o estado de direito no Brasil, no Chile e na Argentina (Rio
de Janeiro: Paz e Terra, 2010).
53 Arthur da Costa e
Silva et al., “À nação. Ato Institucional”. 9 abr. 1964. In: Carlos Fico, Além
do golpe: Versões e controvérsias sobre 1964 e a ditadura militar. Rio de
Janeiro: Record, 2004. pp. 339 ss.
54 Ver Maria Helena
Moreira Alves, Estado e oposição no Brasil (1964-1984); Heloisa
Starling et al., “Relatório parcial de pesquisa: Instituições e locais
associados a graves violações de direitos humanos” (Brasília: Comissão Nacional
da Verdade, 2014).
55 Para os IPMs, ver
Maud Chirio, A política nos quartéis: Revoltas e protestos de oficiais na
ditadura militar brasileira; Maria Helena Moreira Alves, Estado e
oposição no Brasil (1964-1984).
56 Para os dados, ver
Lúcia Klein e Marcus Figueiredo, Legitimidade e coação no Brasil pós-64
(Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1978).
57 Para a Frente Ampla,
ver Célia Maria Leite Costa, “A Frente Ampla de oposição ao regime militar”, em
Marieta de Moraes Ferreira (Org.), João Goulart: Entre a memória e a
história.
58 Para Arena, ver
Lucia Grinberg, Partido político ou bode expiatório: Um estudo sobre a
Aliança Renovadora Nacional (Arena), 1965-1979 (Rio de
Janeiro: Mauad X, 2009).
59 Para o MDB, ver
Maria Dalva Gil Kinzo, Oposição e autoritarismo: Gênese e trajetória do
MDB (São Paulo: Idesp; Vértice, 1988).
“As Forças Armadas intervieram na cena pública em 1964 e ficaram 21 anos
no poder porque julgavam ser isso do interesse da instituição — e, como até
hoje se imaginam com legitimidade própria, consideraram estar agindo em
benefício do país. Quando avaliaram a conveniência de abrir mão do controle
direto do Executivo, também trataram de preservar seus interesses específicos.
Uma das exigências dos militares era manter ativas as estruturas concebidas
durante a ditadura, entre elas o sistema de informação e segurança. Além disso,
demandavam a garantia de que permanecesse intocável quem tivesse se envolvido
com a repressão política — não haveria “revanchismo”, costumava-se dizer nos
quartéis. Por fim, exigia-se a continuidade dos incentivos para o
desenvolvimento da indústria de armamento criada a partir de 1964, de comum
acordo com os empresários, e das empresas relacionadas à segurança do Estado,
sobretudo as de telecomunicações e informática.6
Os
militares saíram intocados do governo — e assim permanecem até hoje. Mas
perderam em prestígio, legitimidade social e estratégia: não conseguiram manter
sob controle o processo de liberalização do sistema político e substituir
gradativamente a coerção da ditadura por um governo civil de tipo autoritário.
Nenhum dos generais comprometidos com o projeto de abertura controlada almejava
democracia sem restrições. Com o argumento de que jamais existiu uma situação
democrática de fato no país, o general Golbery, por exemplo, não aceitava
discutir propostas de redemocratização nem admitia debater a restauração dos
procedimentos democráticos previstos na Constituição de 1946. O general
Figueiredo pensava da mesma forma. A diferença é que era didático: “Nós temos a
laranja-lima, a laranja-pera, a laranja-baía, que têm sabores diferentes, mas
nem por isso deixam de ser laranjas […]. Assim também há democracias
diferenciadas”, explicou, em 1978, para repórteres da Folha de S.Paulo.
E arrematou: “Me respondam, o povo está preparado para votar? […] O brasileiro
pode votar bem se ele não conhece noções de higiene?”.7
O
fracasso dos militares na tentativa de superar a ditadura para
institucionalizar uma ordem autoritária ocorreu por várias razões. A mais
evidente: eles perderam o trunfo da economia. No final do governo do general
Geisel, o Brasil possuía um dos maiores e mais bem integrados complexos
industriais entre os países periféricos, mas sofria o choque do aumento nos
preços do petróleo e de sua comprida fila de consequências: crescimento lento
nas exportações, aceleração nas taxas de juros internacionais, aumento da
dívida externa. A inflação seguiu ascendente, chegou a 211% ao ano em 1983,
223% em 1984, no final do governo do general Figueiredo, e bateu forte no bolso
e no cotidiano do trabalhador e da classe média assalariada: descontrole nos
preços, contas públicas deterioradas, recessão e desemprego.8”
6 Para as exigências,
ver Alfred Stepan, Os militares: Da abertura à Nova república; Brasilio Sallum Jr., Labirintos:
Dos generais à Nova República.
7 Folha de S.Paulo,
São Paulo, pp. 4-5, 5 abr. 1978. Para Golbery, ver Luiz Gutemberg, Moisés:
Codinome Ulysses Guimarães — Uma biografia.
8 Para a crise da
economia no governo Geisel, ver Francisco Vidal Luna e Herbert Klein,
“Transformações econômicas no período militar (1964-1985)”.
“ENTRANDO NO JOGO DA DEMOCRACIA (MAS COM DIFICULDADE)
Com a confirmação da derrota, a frustração popular foi imensa — as pessoas que se reuniram em vigílias cívicas para acompanhar o resultado da votação choravam diante do Painel das Diretas. Na eventualidade de ocorrerem eleições pelo voto direto, o candidato oposicionista seria mesmo Ulysses Guimarães. Sua candidatura era praticamente imbatível, dispunha de base popular, e poderia reordenar o centro de poder político no país. A sucessão pela via indireta, ao contrário, tirava de Ulysses todas as chances, e as lideranças do PMDB firmaram um acordo. O partido iria disputar a Presidência da República nas duas circunstâncias, mas, no colégio eleitoral, o candidato escolhido seria outro: o então governador de Minas, Tancredo Neves (ver imagem).
É
certo que Ulysses resistiu à derrota da Emenda Dante de Oliveira — queria
manter a pressão das ruas e cavar no Congresso outra oportunidade para virar as
regras do jogo da sucessão. Mas é certo também que Tancredo sonhava ser
candidato de qualquer maneira e, em mais de uma ocasião, atropelou a campanha
das Diretas Já. Em abril de 1984, por exemplo, às vésperas da votação no Congresso
— quando havia um acordo entre as oposições de que só se trataria de outras
alternativas depois de ter ocorrido a votação —, Tancredo chamou a imprensa e
afirmou que aceitaria de bom grado liderar uma negociação com as forças do
governo, com os generais e com o próprio Palácio do Planalto — “se para isso
recebesse delegação do PMDB”, completou, prudentemente.47
Ao
contrário de Ulysses Guimarães, sempre disposto a se encrespar com os
militares, Tancredo era até simpático aos olhos do general Figueiredo e de sua
base de apoio, mas, justiça lhe seja feita, não enganou ninguém: era um
político de tendências moderadas que desde 1964 atuava em oposição à ditadura.
Não fora cassado nem privado de seus direitos políticos, e a oposição
conservara uma liderança astuta e experiente: elegeu-se deputado federal nas
décadas de 1960 e 1970, senador de 1978 a 1982, e, nesse mesmo ano, governador
de Minas. Tinha 51 anos de vida pública — começou como vereador, em São João
del-Rei — e uma trajetória impecável: ministro da Justiça no segundo governo de
Vargas e primeiro-ministro durante o parlamentarismo no governo de João
Goulart. Tancredo nunca abriu mão de sua lealdade a quem o fez político
nacional.48 E era um mestre na arte de fazer
política à moda de Minas: um negociador habilidoso, que sabia a hora de sair da
sombra e agarrar a oportunidade.
É
difícil dizer se Tancredo simplesmente não acreditava na aprovação da emenda
pelas eleições diretas, ou se seu propósito era mesmo equilibrar-se numa
gangorra, disfarçando o interesse e empenhando-se nos comícios, enquanto
preparava o terreno para o dia seguinte à votação. Seja como for, ele estava
certo de que seria bem-sucedido se construísse uma candidatura conciliatória.
Era só fazer as contas, deve ter pensado: os 298 votos dados às Diretas Já
apontavam para um número superior às bancadas da oposição, indicavam que
existia uma fratura na base parlamentar do governo e sugeriam que a dissidência
poderia ser ampliada. Foi esse o horizonte estratégico de Tancredo: apostar no
colégio eleitoral como a arena principal da disputa sucessória, investir no
esforço de cooptação de aliados entre os parlamentares do PDS com o objetivo de
quebrar a base parlamentar do governo e abrir suas próprias linhas de
negociação com os militares.49 As circunstâncias
trabalharam a seu favor. Primeiro, o general Figueiredo travou a escolha do
candidato governista e rechaçou todos os nomes do PDS que se apresentaram à
sucessão — além de alimentar a hipótese de espichar o próprio mandato. Segundo,
não havia um nome capaz de unir a base governista e dar sobrevida ao projeto de
abertura controlada dos militares, e o PDS se esfacelou numa disputa
fratricida. Terceiro, o candidato escolhido pelo partido, Paulo Maluf, era um
desastre. Maluf foi produto da ditadura: um político voraz e reacionário, que
deixava um rastro de acusações de corrupção por onde passava — a prefeitura e o
governo de São Paulo —, e desembarcou em Brasília, em 1983, como o deputado
mais votado do seu estado. Tinha seu próprio método para fazer amigos,
influenciar convencionais do PDS e se tornar presidente da República:
trabalhava agressivamente o voto de cada delegado, loteava cargos, distribuía
presentes e fazia generosas promessas para o futuro.
Nem
tudo aconteceu como Tancredo queria, mas ele calculou corretamente que tinha
mais chance de ganhar que de perder. Conseguiu fechar um acordo que parecia
impossível com a base parlamentar governista e criou a dissidência de onde
tiraria os votos necessários para vencer no colégio eleitoral. A Frente Liberal
implodiu o PDS e deu origem, ainda em 1985, ao Partido da Frente Liberal (PFL),
de traço conservador e irrefreável vocação adesista.50
Tancredo também não descuidou dos quartéis. Fez contato direto com o general
Geisel, que, mesmo na reserva, continuava respeitado entre os militares. E
anunciou, numa carta pública, que seu governo não faria perguntas às Forças
Armadas — nem sequer para investigar os crimes da ditadura. Além de abrir os
braços para os dissidentes do PDS, Tancredo costurou uma aliança política capaz
de acomodar as diferentes forças que o apoiavam, como o PMDB, o PDT, o PTB e
até os comunistas do PCB — a Aliança Democrática.51
Deu ao seu programa um tom de mudança de governo e não de ruptura do sistema
político, mas manteve os três pontos considerados essenciais pela oposição para
concretizar o projeto de redemocratização do país: eleições diretas em todos os
níveis, convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte e promulgação de uma
nova Constituição. Tancredo escolheu para vice o senador maranhense José
Sarney, que chamou os jornalistas e anunciou que estava renunciando à
presidência do PDS para ingressar na Aliança Democrática. Adotou o slogan “Muda
Brasil”, saiu pelo país promovendo a candidatura e não negligenciou nenhuma demonstração
de apoio.
Conformado,
Ulysses Guimarães dizia que Tancredo ia concorrer às eleições indiretas para
chegar ao poder e acabar para sempre com as eleições indiretas.52
Tinha certa razão, mas não conseguiu convencer o PT a passar recibo no que o
partido classificava de transição conservadora nem a participar do colégio
eleitoral. Mas, agindo a seu modo, Tancredo encerrou o governo dos generais. Em
15 de janeiro de 1985, foi eleito — e com ele Sarney — presidente da República,
com uma votação extraordinária: 480 votos contra 180 de Maluf. Tinha só três
meses até a posse para consolidar a vitória, montar o novo governo e
materializar a retórica da Nova República, um projeto de transição ambíguo, que
incluía uma solução política conservadora e uma alternativa de mudança
conciliatória, mas não era nada desprezível: estava orientado para avançar na
reconstrução democrática e buscar a estabilização econômica e a estabilidade
institucional.
Na
véspera da posse, Tancredo foi internado no Hospital de Base, em Brasília, e
submetido a uma cirurgia de emergência. Ele tinha 75 anos, sabia que estava
doente, escondeu isso de seus interlocutores mais próximos e avaliou que
conseguiria assumir o cargo na data prevista — só depois iria procurar ajuda
médica. Tancredo tinha pesadelos diários com a possibilidade de os generais
encontrarem um modo de impedir sua posse e receava que um afastamento para
cuidar da saúde lhes servisse de pretexto. Qualquer doença era tabu para os
homens públicos da época, e os militares poderiam alegar que um tratamento
longo ou curto era incompatível com o governo do país. Deu tudo errado. A
cirurgia ocorreu num hospital sem condições de assepsia, o quadro de infecção
generalizada já estava instalado, os médicos foram negligentes e o estado do paciente
era grave. Tancredo nunca tomaria posse. Piorando a cada dia, ele foi
transferido para o Instituto do Coração, em São Paulo, e submetido a novas
cirurgias — sete, no total. No dia 21 de abril, sua morte foi anunciada ao
país.53
Enquanto
Tancredo enfrentava a primeira cirurgia e o Brasil entrava em estado de choque,
o PMDB agiu para garantir a transmissão de cargo. A Constituição determinava
que a sucessão seguisse do presidente para o vice-presidente e, na falta deste,
para o presidente da Câmara dos Deputados — no caso, Ulysses Guimarães. Por uma
única vez, o general Figueiredo e o grupo dos autênticos do PMDB se puseram de
acordo: se Tancredo não havia assumido, seu sucessor legal era Ulysses
Guimarães. Mas Ulysses recusou. Alegou o prognóstico dos médicos de que
Tancredo estaria em condições de tomar posse em 48 horas — divulgado pelo
secretário particular de Tancredo, Aécio Neves, pela televisão. E insistiu para
que Sarney assumisse e exercesse temporariamente o governo. Convenceu todo
mundo.54
Não
há jeito de saber como seria um governo presidido por Tancredo, é claro, mas a
Nova República começou num clima de muita frustração e pouca novidade. Sarney
se aproximara da ditadura em 1964: em 1965 fora eleito por voto direto
governador do Maranhão e, em 1970, voltara a Brasília como senador pela Arena.
Pulara do barco na última hora, e tinha uma impressionante facilidade para
mudar de matiz e se adaptar a qualquer corrente ideológica, desde que fosse
mantido exatamente onde queria estar: no poder. No Maranhão, era poderoso e
onipresente — e assim permaneceria até 2014. Como outros políticos brasileiros,
Sarney encarnava um novo tipo de coronel, que, se já não vive no velho sistema
da Primeira República, conserva algumas de suas práticas: inadaptação às regras
democráticas, convicção de estar acima da lei, incapacidade de distinguir o
público do privado, e uso do poder para conseguir empregos, contratos,
subsídios e outros favores para enriquecimento próprio e da parentela.55
A
oposição não ia ter vida fácil no seu governo. Ministros entravam e saíam dos
cargos, à medida que ele manobrava sem muita cerimônia para compor uma nova
base de sustentação política formada por quem estivesse disposto a apoiá-lo —
independentemente do compromisso com o projeto de transição elaborado por
Tancredo. Os embates entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional se
tornariam frequentes com o início dos trabalhos da Assembleia Constituinte.56 Enquanto Ulysses Guimarães, na presidência da
Constituinte, tentava coordenar um malabarismo entre o compromisso do PMDB com
o avanço da redemocratização, a plataforma democrático-popular do PT e as
forças conservadoras muito conscientes dos seus interesses, Sarney seguia em
direção contrária: utilizava práticas e acordos fisiológicos para estender o
próprio mandato e garantir sua permanência por cinco anos na Presidência da
República, e tratava de esvaziar o que restava da identidade programática da
Nova República.
A
Assembleia Constituinte instalou-se em 1º de fevereiro de 1987, e a
Constituição foi promulgada no ano seguinte, em 5 de outubro de 1988. O novo
texto constitucional tinha a missão de encerrar a ditadura, o compromisso de
assentar as bases para a afirmação da democracia no país, e uma dupla
preocupação: criar instituições democráticas sólidas o bastante para suportar
crises políticas e estabelecer garantias para o reconhecimento e o exercício
dos direitos e das liberdades dos brasileiros — não por acaso, foi batizada de
“Constituição Cidadã”. É a mais extensa Constituição brasileira — tem 250
artigos principais, mais 98 artigos das disposições transitórias — e está em
vigor até hoje.57 Além do próprio Ulysses
Guimarães, sua redação pôs em cena um elenco notável de parlamentares: Fernando
Henrique Cardoso, Florestan Fernandes, José Serra, Lula, Mário Covas, Plínio de
Arruda Sampaio. Também é a única que foi escrita no decorrer do mais
democrático debate constitucional da história do país.
Durante
um ano e oito meses o Congresso se transformou no centro da vida pública
nacional, e a sociedade se organizou para participar do debate constitucional
em associações, comitês pró-participação popular, plenários de ativistas,
sindicatos. Surgiram inúmeras formas de manifestação. A mais inovadora, as
“emendas populares”, abarcava todo tipo de tema, e funcionou como um
instrumento de democracia participativa — no fim do processo, foram
encaminhadas 122 emendas populares à Constituinte, contendo mais de 12 milhões
de assinaturas.
Como
o Brasil e como a própria democracia, a Constituição de 1988 também é
imperfeita. Envolveu movimentos contraditórios e embates formidáveis entre
forças políticas desiguais, e inúmeras vezes errou de alvo. Conservou intocada
a estrutura agrária, permitiu a autonomia das Forças Armadas para definir
assuntos de seu interesse, derrubou a proposta da jornada de trabalho de
quarenta horas, manteve inelegíveis os analfabetos — embora tenha aprovado seu
direito de voto. E, fruto de seu inevitável enquadramento histórico, nasceu
velha em seus capítulos sobre o sistema eleitoral e em sua ânsia de regular as
minúcias da vida social. Mas a Constituição de 1988 é a melhor expressão de que
o Brasil tinha um olho no passado e outro no futuro e estava firmando um sólido
compromisso democrático. Foi assinada por todos os partidos — inclusive o PT.
Ela é moderna nos direitos, sensível às minorias políticas, avançada nas
questões ambientais, empenhada em prever meios e instrumentos constitucionais
legais para a participação popular e direta, e determinada a limitar o poder do
Estado sobre o cidadão e a exigir políticas públicas voltadas para enfrentar os
problemas mais graves da população.”
47 Citado em Domingos
Leonelli e Dante de Oliveira, Diretas Já: 15 meses que abalaram a ditadura,
pp. 518-9. Sobre as duas candidaturas, ver Luiz Gutemberg, Moisés: Codinome
Ulysses Guimarães — Uma biografia.
48 Para Tancredo, ver
José Murilo de Carvalho, “Ouro, terra e ferro: Marcas de Minas”, em Heloisa
Maria Murgel Starling, Gringo Cardia, Sandra Regina Goulart Almeida e Bruno
Viveiros Martins (Orgs.), Minas Gerais (Belo Horizonte: Ed. UFMG;
Fapemig, 2011); Vera Alice Cardoso Silva e Lucilia de Almeida Neves Delgado, Tancredo
Neves: A trajetória de um liberal (Petrópolis: Vozes, 1985).
49 Para a estratégia de
Tancredo, ver Gilberto Dimenstein et al., O complô que elegeu Tancredo
(Rio de Janeiro: Editora JB, 1985); Lucas Figueiredo, Ministério do silêncio.
50 Para o PFL e Maluf,
ver Eliane Cantanhêde, O PFL (São Paulo: Publifolha, 2001).
51 Para a Aliança
Democrática, ver Gilberto Dimenstein et al., O complô que elegeu Tancredo;
Eliane Cantanhêde, O PFL; Brasilio Sallum Jr., Labirintos: Dos generais
à Nova República.
52 Citado em Luiz
Gutemberg, Moisés: Codinome Ulysses Guimarães — Uma biografia, p. 204.
53 Para a doença e a
morte de Tancredo, ver Antônio Britto, Assim morreu Tancredo: Depoimento a
Luís Claudio Cunha (Porto Alegre: L&PM, 1985); Lucas Figueiredo, Ministério
do silêncio.
54 Para Ulysses e o
PMDB, ver Luiz Gutemberg, Moisés: Codinome Ulysses Guimarães — Uma biografia.
55 Para Sarney, ver
Malu Delgado, “Maranhão 2014”. piauí, São Paulo, n. 98, pp. 25-30, nov.
2014; Eliane Cantanhêde, O PFL. Para o coronelismo contemporâneo, ver
José Murilo de Carvalho, “As metamorfoses do coronel”. Jornal do Brasil,
Rio de Janeiro, p. 4, 6 maio 2001.
56 Para a Assembleia
Constituinte e a Constituição de 1988, ver Marcos Emílio Gomes (Org.), A
Constituição de 1988: 25 anos (São Paulo: Instituto Vladimir Herzog, 2013);
José Murilo de Carvalho, Cidadania no Brasil, op. cit.; Jairo Nicolau, Eleições
no Brasil: Do Império aos dias atuais; Adriano Pilatti, A Constituinte
de 1987-1988: Progressistas, conservadores, ordem econômica e regras do jogo
(Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2008).
57 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>.
Acesso em: 3 fev. 2015.
“A campanha eleitoral para a presidência da República teve início no
segundo semestre de 2014. Foi uma disputa difícil, que revelou um eleitorado
claramente dividido e facultou uma vitória apertada. No segundo turno, restaram
no páreo Dilma Rousseff, do PT, e Aécio Neves, do PSDB, e os dois partidos
cantaram vitória antes da apuração das urnas. Mas, em 26 de outubro de 2014,
Dilma Rousseff conquistou a reeleição: 54501118 votos (51,64%) contra 51041155
(48,36%) votos obtidos por Aécio Neves.11 O Brasil tinha
rachado, pra valer, no voto.
Quatro
dias após o anúncio da reeleição, Aécio Neves e o PSDB solicitaram ao Tribunal
Superior Eleitoral uma auditoria formada por técnicos indicados pelos partidos
políticos da coligação derrotada, para a fiscalização de todo o processo
eleitoral — alegavam que havia dúvida sobre a lisura do resultado. Pretendia-se
colocar sob suspeição a legitimidade do mandato de Dilma Rousseff e assim
anular sua eleição. Era a primeira vez desde o fim da ditadura militar que um
candidato derrotado contestava o resultado eleitoral e tentava vetar a maioria
gerada nas urnas. O país se radicalizou, e ainda mais. A dicotomia foi
alavancada por grupos sociais distintos e fez com que o diálogo, que já era
difícil, fosse ficando impraticável. No espaço público, nos lugares mais
privados, a política virava motivo de contenda, e feia.
A
presidente custou a se dar conta de que o motor da crise andava em marcha
acelerada. Durante toda a campanha, a candidata tinha insistido que, com sua
reeleição, o rumo da economia não seria alterado e que seu governo jamais
adotaria medidas restritivas ou recessivas — aliás, ao contrário do que previa
a agenda econômica apresentada pelo adversário. Dilma inclusive sublinhou
pontos que considerava intocáveis: de um lado, a parcela de responsabilidade
assumida pelo Estado junto à população, para dar presença às suas demandas na
forma de investimentos em educação, saúde, moradia e assistência; do outro, a
manutenção de direitos sociais como férias, Fundo de Garantia do Tempo de
Serviço e 13o salário. Depois de reeleita, Dilma Rousseff se
entrincheirou, contudo, no Palácio do Planalto, em Brasília, e, três semanas
após a posse, em janeiro de 2015, fez exatamente o contrário do que havia
prometido. Começou o governo executando um giro no roteiro econômico aprovado
nas urnas para o seu segundo mandato: descartou a agenda “desenvolvimentista”
com a qual se elegera, incluiu na mira das decisões econômicas mudanças no
seguro-desemprego, pensões por morte e abono salarial, e adotou um projeto
anti-intervencionista e ortodoxo, na prática muito próximo do programa de seu
adversário — muito semelhante ao que, segundo ela repetira durante a campanha,
traria “de volta a recessão, o desemprego, o arrocho salarial, a política de
desigualdade […]”.12
Com
sua manobra infeliz, que implicou avalizar uma política econômica oposta àquela
que prometera seguir, a presidente acabou reforçando o argumento de que, diante
do descalabro fiscal e da crise econômica em que o país se encontrava, não
existia alternativa para o desastre econômico além de uma solução ortodoxa. As
consequências do recuo custaram caro ao governo. A presidente conseguiu
desestabilizar o apoio ao seu governo e forneceu nova munição à oposição, que
queria colocar sob suspeição a legitimidade do seu mandato.
Foi
aí que provavelmente uma janela de oportunidade se abriu. Entre o início do seu
segundo mandato, em janeiro de 2015, e a votação do impeachment no Senado, em
agosto de 2016, cresceu o grupo dos que se sentiram no direito de impor um veto
à escolha democrática da sociedade: uma questão era contestar a má administração
do governo, que ampliava a dívida do Estado a olhos vistos; outra era propor
uma mudança institucional, com manobras jurídicas bastante duvidosas, e com o
objetivo claro de tirar a presidente do poder.
Esse
grupo reuniu um conjunto muito variado de interesses politicamente hostis ao
governo federal — empresários, industriais, banqueiros, parlamentares,
jornalistas, juízes, setores das classes médias urbanas —, bastante favoráveis
a adaptar a lei a seus interesses políticos imediatos.13 Saiu daí uma espécie de coalizão oposicionista
capaz de dispensar comando unificado, que operava de maneira autônoma, mas com
coincidência de objetivos. Além do mais, encontraram um denominador comum — a
derrubada do governo. Essa coalizão tinha competência para mobilizar as ruas e
agregar um punhado de lideranças parlamentares dispostas a atuar como
executores de ações contrárias aos interesses do governo dentro e fora do
Congresso Nacional — entre eles, Eduardo Cunha, o então presidente da Câmara
dos Deputados; Michel Temer, o então vice-presidente da República e presidente
do PMDB; e Aécio Neves, o senador e então presidente do PSDB.
Em um
ano e meio, desabou sobre o governo de Dilma Rousseff uma sucessão
inacreditável de crises. A lista era grande: o desemprego e a economia andavam
cada vez piores; as denúncias de corrupção chegavam a toda hora de Curitiba,
com intenso foco inicial no PT e, sobretudo, em Lula; os protestos e a
intolerância cresciam rápido nas ruas; o Congresso Nacional boicotava
sistematicamente as iniciativas do governo, na mesma proporção em que o
vice-presidente da República conspirava abertamente pela queda da titular. Para
piorar o que já vinha mal, o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, no
estado de Minas Gerais, provocou o maior desastre ambiental já conhecido no
país, com vítimas fatais. Junto com ele, chegaram os surtos de zika vírus e de
dengue, que ajudaram a revelar a falta de controle do governo, além de uma
política pouco definida nessas áreas.14 Nem a derrota do
Brasil contra a Alemanha, por 7 a 1, na Copa do Mundo de 2014, abalou tanto os
nervos dos brasileiros. Se até lá o apagão parecia se concentrar no campo de
futebol, agora ele invadia o dia a dia dos brasileiros.
A
coalizão oposicionista amparou-se, então, num claro pragmatismo: era preciso
avalizar o final do governo, ajuizar sobre quem deveria assumir o comando
interinamente e ter certeza acerca das alterações que seriam indispensáveis no
curto prazo. Montou-se, então, um verdadeiro roteiro político com a explicação
de que a crise estava vinculada sobretudo ao governo e à personalidade de Dilma
Rousseff. Mas existiu uma novidade política importante na consecução desse
roteiro: ele manteve intocado o ritual democrático. Fazer uso de procedimentos
rotineiros da Democracia e obedecer formalmente à letra das leis vigentes no
país em favor de objetivos contrários aos valores democráticos preservados
pelas instituições era uma manobra política inédita na história brasileira.
Serviu
de base do processo o recurso das chamadas “pedaladas fiscais”. O termo é usado
pelos técnicos da área econômica para indicar a postergação pela União de um
pagamento de um mês para o outro ou de um ano para o outro. O expediente das
pedaladas engorda o caixa do Tesouro e permite inflar artificialmente o
superávit primário, de modo a criar a ficção de que o resultado obtido pelo
governo melhorou — e esse fora um procedimento já utilizado por gestões
anteriores do governo federal. Já a metáfora se aplica perfeitamente ao caso —
afinal, se um ciclista parar de pedalar, a bicicleta tomba.15
O
pedido de impeachment foi acolhido pelo então presidente da Câmara dos
Deputados, Eduardo Cunha, do PMDB, em dezembro de 2015. Cunha revelou-se um
líder fortíssimo, e que elevou o processo de corrupção no Congresso a um novo patamar
graças à sua estratégia de obter financiamento ilegal para campanhas de cerca
de cem candidatos a deputado federal. Sua força política vinha da liderança que
exercia sobre um bloco coeso, e de natureza fisiológica, composto por cerca de
250 parlamentares de oito diferentes partidos políticos — o chamado “blocão”.
Além do mais, Cunha era adversário do governo desde 2014, a quem emparedava e
chantageava nas votações. O pedido de afastamento da presidente da República
foi aceito pela Câmara dos Deputados em 17 de abril de 2016, e o Senado Federal
confirmou o impeachment de Dilma Rousseff em 31 de agosto de 2016. Eduardo
Cunha foi preso, por determinação do juiz Sérgio Moro, de Curitiba, e
posteriormente condenado a quinze anos de prisão, acusado de corrupção, evasão
de divisas e lavagem de dinheiro.16
Vai
demorar algum tempo para que possamos compreender tudo o que aconteceu no
Brasil entre os anos de 2015 e 2017. Fazer uso de procedimentos rotineiros,
obedecer formalmente à letra das leis vigentes no país, mas usá-los em favor de
objetivos contrários aos valores democráticos preservados pelas instituições, é
uma manobra, que foi apresentada e aceita por parte da população sem o devido
juízo crítico e sem a avaliação do custo dessa operação para a própria
Democracia brasileira.17”
11. Para as eleições de 2014 e seus
desdobramentos, ver Rodrigo de Almeida, op. cit.; Claudia Safatle, João Borges
e Ribamar Oliveira, op. cit.
12. Marcos de Moura e Souza, “Dilma
diz que PSDB quer ‘trazer de volta recessão e desemprego’”. Valor Econômico,
30 maio 2014. Para a guinada na política econômica e suas consequências, ver
André Singer, “A (falta de base) política para o ensaio desenvolvimentista”,
op. cit.; Brasílio Sallum Junior, op. cit.
13. Para agentes políticos de
oposição e fabricação dos seus mecanismos de intervenção, ver Wanderley
Guilherme dos Santos, A democracia impedida: O Brasil no século XXI (Rio
de Janeiro: FGV, 2017); Fábio Wanderley Reis, “Crise política: a ‘opinião
pública’ contra o eleitorado”, em Luis Felipe Miguel e Flávia Biroli (Orgs.), Encruzilhadas
da democracia (Porto Alegre: Zouk, 2017).
14. Para crises do segundo governo
de Dilma Rousseff, ver Rodrigo de Almeida, op. cit.
15. Para “pedaladas fiscais” e o
processo de impeachment, ver Rodrigo de Almeida, op. cit.; Claudia Safatle,
João Borges e Ribamar Oliveira, op. cit.
16. Até o momento em que escrevemos
este texto, o deputado ainda se encontra encarcerado. Para Eduardo Cunha, ver
Rodrigo de Almeida, op. cit.; Leonardo Avritzer, “Democracia no Brasil: do
ciclo virtuoso à crise política aberta”, em André Botelho e Heloisa Murgel
Starling (Orgs.), op. cit.
17. Para a utilização do ritual
democrático e sua originalidade no Brasil, ver Wanderley Guilherme dos Santos,
op. cit.; Fabiano Santos e José Szwako, op. cit.
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