sábado, 7 de agosto de 2021

Os 77 melhores contos dos Irmãos Grimm (Volume I)

Editora: Nova Fronteira

ISBN: 978-65-4640-254-3

Introdução e organização: Luciana Sandroni

Tradução: Íside M. Bonini

Ilustrações: Silvio Ramirez

Opinião: ★★★☆☆

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Páginas: 296

Sinopse: Coletados há mais de duzentos anos, os contos e lendas dos irmãos Grimm vêm encantando geração após geração e chegaram aos dias de hoje incrivelmente populares. Eles já foram traduzidos para mais de 160 línguas e ganharam diversas versões ao longo dos anos, em livros ilustrados, desenhos animados, peças, filmes e histórias em quadrinhos. Muitos detalhes, porém, foram amenizados nessas adaptações.

Com a tradução consagrada de Íside M. Bonini, esta antologia resgata a versão original das 77 melhores histórias, cuja seleção ficou a cargo da escritora Luciana Sandroni. Há contos famosos para se redescobrir — como Branca de Neve, Cinderela, Rapunzel e A Bela Adormecida — e outros menos conhecidos — como Os quatro irmãos habilidosos, As três folhas da serpente e O ouriço-do-mar —, que tornam a obra dos Grimm uma das mais ricas heranças da literatura infantil. As clássicas ilustrações de Silvio Ramirez completam a edição, que é um verdadeiro presente para o leitor.



O doutor Sabe-tudo

Era uma vez um camponês chamado Camarão. Certo dia, ele levou um carro puxado por uma junta de bois, cheio de lenha, à cidade e vendeu-a a um doutor. Enquanto recebia o dinheiro, Camarão viu que o doutor estava sentado à mesa comendo e bebendo tão bem que, de todo o coração, desejou ser doutor também. Ficou um tempo ali parado olhando e, depois, perguntou se não seria possível que ele se tornasse doutor.

— Ah, é muito fácil! — disse o doutor.

— Que devo fazer? — perguntou o camponês.

— Em primeiro lugar, compre uma cartilha. Compre a que tem um galo na primeira folha. Em segundo lugar, venda o carro e os bois convertendo tudo em dinheiro. Em terceiro lugar, manda pintar uma placa com os seguintes dizeres: “Eu sou o doutor Sabe-tudo”, e manda pregá-la no alto da tua porta.

O camponês fez tudo direitinho. Após ter “doutorado” um pouco, mas não muito, houve um assalto na casa de um ricaço. Este ouviu falar no doutor Sabe-tudo, que morava em certa aldeia e que, de acordo com o próprio nome, deveria saber também que fim levara o dinheiro. Sem mais demora, o ricaço mandou atrelar o carro, seguiu para a tal aldeia, informando-se se era ele o doutor Sabe-tudo.

— Sim, sou eu.

Nesse caso, tinha de acompanhá-lo a fim de encontrar o dinheiro roubado.

Sim, mas a Guida, sua mulher, tinha que ir junto. O ricaço consentiu, fê-los subir no carro e todos partiram. Quando chegaram ao solar, a mesa estava posta, então o ricaço convidou o doutor Sabe-tudo para jantar com ele. Sim, disse ele, mas também a Guida, sua mulher. E com ela foi sentar-se à mesa.

Ao aparecer o primeiro criado, trazendo uma linda bandeja cheia de quitutes, o camponês deu uma cotovelada na mulher dizendo:

— Guida, esse é o primeiro — referia-se ao primeiro prato.

Mas o criado julgou que ele dizia que este é o primeiro ladrão e, como de fato o era, assustou-se muito e lá fora disse aos seus colegas:

— O doutor sabe tudo, vamos acabar mal. Ele disse que eu era o primeiro.

O companheiro não queria entrar na sala, mas tinha que ir. Ao apresentar-se com o prato nas mãos, o camponês deu outra cotovelada na mulher dizendo:

— Guida, esse é o segundo.

O criado começou a tremer de medo e tratou de sair logo. O mesmo aconteceu com o terceiro criado. O quarto criado teve de trazer uma travessa tampada. O ricaço, então, disse ao doutor que desse uma prova de sua arte adivinhando o que ela continha. Eram camarões. O camponês olhou para a travessa muito atrapalhado e, não sabendo como sair daquela enrascada, exclamou:

— Ah, pobre Camarão!

Ouvindo isso, o ricaço disse:

— Veja só, ele acertou. Então deve saber também onde está o dinheiro.

O criado, que estava morrendo de medo, fez um sinal ao camponês para que fosse no jardim um instante. Uma vez lá fora, os criados confessaram que os quatro juntos haviam roubado o dinheiro. Estavam dispostos a restituí-lo e dar-lhe uma grande quantia se ele não os denunciasse; caso contrário, seriam enforcados.

Levaram-no até onde estava escondido o dinheiro. Depois de concordar com tudo, o doutor voltou para a mesa, dizendo:

— Senhor, verei no meu livro onde está o dinheiro.

Mas o quinto criado se abaixou escondido num canto da lareira a fim de ouvir se o doutor sabia de mais alguma coisa. O doutor abriu a cartilha, a folheou um pouco, procurando o galo. E não o encontrando logo, disse:

— Sei que está aqui dentro, por que está se escondendo?!

O criado escondido na lareira julgou que se referisse a ele. Assustado, pulou para fora dizendo:

— Ah, esse homem sabe tudo.

O doutor Sabe-tudo mostrou ao ricaço o lugar onde se achava o dinheiro, sem dizer, porém, quem o havia roubado. Então recebeu de ambas as partes uma grande recompensa e, desse dia em diante, tornou-se famoso.”

 

 

A raposa e o gato

Certa vez um gato encontrou a Raposa na floresta e pensou com seus botões: “Ela é muito sabida e esperta, e tem muita influência na sociedade.” Então, dirigiu-se a ela com toda a amabilidade:

— Bom dia, prezada senhora raposa! Como vai? Como está? Como passa com as coisas tão caras?

A raposa, cheia de empáfia, o olhou da cabeça aos pés, indecisa se devia ou não responder-lhe. Finalmente disse:

— Seu morto de fome, pega-ratos atrevido, que te deu na telha? Ousas perguntar-me como vou passando? Quem te ensinou isso? Dize-me, quantas artes conheces?

— Conheço apenas uma — respondeu com toda a modéstia o pobre gato.

— E que espécie de arte é essa? — perguntou a raposa.

— Quando os cães me perseguem, sei subir numa árvore e ficar a salvo.

— É tudo o que sabes? — perguntou a raposa. — Pois eu possuo cem artes e ainda por cima possuo um saco cheio de astúcia. Você me dá pena! Vem comigo, eu te ensinarei como deves fazer para fugir dos cães.

Exatamente nesse momento chegou um caçador com quatro cães. O gato, mais que rapidamente, subiu numa árvore e aninhou-se no galho mais alto, ficando escondido pela folhagem, e de lá de cima gritava:

— Abra o saco, senhora raposa! Abra o saco!

Mas os cães já haviam agarrado a raposa e não a soltavam.

— Pobre senhora raposa! — ia gritando o gato — com todas as suas artes acabou caindo na armadilha. Se soubesse apenas uma como eu, teria salvo a vida!”

 

 

A raposa e o cavalo

Era uma vez um camponês que possuía um cavalo que trabalhara sempre com a maior dedicação, mas o pobre animal ficara velho e imprestável, e o seu dono não queria mais alimentá-lo. Um belo dia, disse-lhe:

— Agora já não tens mais utilidade para mim. Eu, porém, gosto de ti. Se tiveres ainda força suficiente para me trazeres um leão, ficarei contigo. Mas, por enquanto, tens de ir-te embora e desocupar a cocheira! — Com isso, tocou-o para o pasto.

O cavalo ficou muito triste e encaminhou-se para a floresta, a fim de se abrigar do temporal, e lá encontrou a raposa, que lhe dirigiu a palavra:

— Por que é que andas assim, a esmo, triste, de cabeça baixa?

— Ah — respondeu o cavalo —, avareza e fidelidade não moram juntas! Meu patrão esqueceu os serviços que lhe prestei durante tantos anos e agora, porque não posso mais puxar o arado com a mesma rapidez, resolveu privar-me do alimento e enxotou-me de casa.

— Sem uma palavra de consolação? — perguntou a raposa.

— A consolação foi magra: disse-me que, se ainda tiver forças para lhe levar um leão, ficará comigo, pois bem sabe que não posso fazer tal coisa.

— Eu te ajudarei — disse a raposa —, basta que te deites esticado no chão sem te mexeres, como se estivesses morto.

O cavalo fez o que lhe sugeria a raposa. Enquanto isso ela foi ter com o leão, que tinha o antro aí perto, e disse-lhe:

— Perto daqui há um cavalo morto. Vem comigo e terás um farto almoço.

O leão seguia-a e, quando se aproximaram do cavalo, a raposa disse:

— Aqui não terás a necessária comodidade para comê-lo. Sabes de uma coisa? Vou amarrá-lo pelo rabo à tua perna, assim poderás arrastá-lo facilmente para a tua toca e lá o comerás tranquilamente.

O leão achou ótima a ideia. Então a raposa pegou o rabo do cavalo e com ele amarrou com força as patas traseiras do leão. Amarrou tão bem que não havia jeito de desamarrá-lo. Concluído o trabalho, deu uma pancadinha nas costas do cavalo, gritando:

— Upa, meu alazão. Puxa, puxa!

Então o cavalo de um salto, pôs-se de pé e foi arrastando o leão. Este começou a rugir tão espantosamente que estremeceu toda a floresta, assustando os pássaros que fugiam voando de seus ninhos. O cavalo não se importou e deixou-o rugir à vontade.

Embora com alguma dificuldade, foi puxando-o e arrastando-o pelos campos, até a porta da casa do seu amo.

Ao deparar com aquilo, o camponês disse ao cavalo:

— Podes ficar aqui comigo para sempre e nada te faltará.

Depois deu-lhe comida com fartura e tratou-o bem até ele morrer.”

 

 

“Esta história, crianças, pode parecer falsa, contudo, podem acreditar. Toda a vez que a contava, meu avô dizia com muita seriedade:

— Deve ser verdade, meu filho, se não ninguém a contaria.”

 

 

“São todos iguais, estes filhos de nobres! Conhecem palavras bonitas, mas, quando se trata de cumpri-las, fogem.”

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