domingo, 22 de agosto de 2021

SPQR – Uma História da Roma Antiga (Parte III), de Mary Beard

Editora: Crítica

ISBN: 978-85-4220-940-2

Tradução: Luis Reyes Gil

Opinião: ★★★☆☆

Páginas: 576

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Sinopse: Ver Parte I



Por volta da década de 60 a.C., a própria ordem política em Roma sofria rupturas a todo instante, superada por violência de rua, que se tornou parte da vida cotidiana. A “conspiração” de Catilina foi apenas um incidente entre muitos. Houve muitas ocasiões em que os tumultos evitaram a realização de eleições, ou em que uma distribuição massiva de propinas definiu a decisão do eleitorado ou dos júris dos tribunais, ou em que um assassinato foi a arma escolhida contra um adversário político. Públio Clódio Pulcro [Publius Clodius Pulcher], o irmão da “Lésbia” de Catulo, e o homem que arquitetou o exílio de Cícero em 58 a.C., foi mais tarde assassinado por um bando paramilitar de escravos de propriedade de um dos amigos de Cícero, em uma estúpida briga num subúrbio da cidade (a “Batalha de Bovila”, como foi majestosa e ironicamente nomeada). Nunca ficou claro a quem se deveria atribuir a responsabilidade por sua morte, mas foi-lhe oferecida uma cremação de improviso no Senado, que pegou fogo junto com o corpo. Um cônsul controvertido foi removido de maneira comparativamente menos drástica em 59 a.C.: recebeu uma mera saraivada de excrementos e passou o resto do seu ano de mandato entrincheirado em casa.

Num cenário desses, três homens — Pompeu, Júlio César e Marco Licínio Crasso — fizeram um acordo informal para lançar mão de sua influência combinada, seus contatos e seu dinheiro para ajustar o processo político aos seus próprios interesses. O “Bando dos Três”, ou “Monstro de Três Cabeças”, como definiu um satirista contemporâneo, pela primeira vez passou a tomada de decisões públicas para mãos privadas. Por meio de uma série de arranjos de bastidores, subornos e ameaças, os três asseguraram que os consulados e os comandos militares fossem parar onde eles escolhessem e que as decisões importantes seguissem sua orientação. Esse arranjo durou cerca de uma década, começando por volta de 60 a.C. (negociações em privado são difíceis de datar com precisão). Mas depois, procurando assegurar sua posição pessoal, Júlio César decidiu seguir o precedente de Sula e tomou Roma à força.

O essencial do que aconteceu em seguida é bastante claro, mesmo que os detalhes sejam de uma complexidade quase impenetrável. Saindo da Gália no início de 49 a.C., César fez a famosa travessia do rio Rubicão, que delimitava a fronteira com a Itália, e marchou em direção a Roma. Quarenta anos haviam feito uma grande diferença. Quando Sula direcionou seu exército para a cidade, apenas um de seus oficiais veteranos recusou-se a segui-lo. Já quando César fez o mesmo, apenas um ficou ao seu lado. Era um bom sinal do quanto os escrúpulos haviam sido erodidos num intervalo de tempo tão curto. A guerra civil que eclodiu em seguida, da qual César e Pompeu, aliados de outrora, eram agora comandantes rivais, espalhou-se pelo mundo mediterrâneo. Os conflitos internos de Roma não se restringiam mais à Itália. A batalha decisiva foi travada na Grécia central, e Pompeu acabou assassinado no litoral do Egito, decapitado por alguns egípcios que o traíram.

Essa é uma história poderosa de crise política e desintegração sangrenta, mesmo contada em sua forma mais esquemática. Alguns dos problemas subjacentes são óbvios. As instituições políticas de Roma, de escala relativamente limitada, haviam mudado pouco desde o século IV a.C. Mal conseguiam estar à altura de governar a península Itálica e eram ainda menos capazes de controlar e policiar um vasto Império. Como veremos, Roma confiava cada vez mais nos esforços e no talento de indivíduos cujo poder, lucros e rivalidades ameaçavam os próprios princípios sobre os quais a República se assentava. E não havia nenhum anteparo — nem mesmo uma força policial básica — para impedir que o conflito político descambasse para a violência política assassina em uma metrópole imensa, que abrigava 1 milhão de pessoas por volta do século I a.C., onde a fome, a exploração e as imensas disparidades de riqueza eram catalisadores adicionais de protestos, tumultos e crimes.

São também eventos que historiadores, tanto antigos quanto modernos, podem examinar em retrospecto, com todas as vantagens e desvantagens desse tipo de visão. Afinal, depois que já se sabe o desfecho, é fácil apresentar o período como uma série de passos irrevogáveis e brutais na direção de uma crise ou como uma lenta contagem regressiva, seja para o fim do Estado livre, seja para a volta a um governo de um só homem. Mas o último século da República foi mais do que um mero banho de sangue. Como sugerem o florescimento da poesia, das teorizações e da arte, foi também uma época em que os romanos viram-se às voltas com problemas que estavam minando seu processo político e no qual surgiram algumas de suas maiores invenções, como o princípio radical de que o Estado tinha alguma responsabilidade em assegurar que seus cidadãos tivessem o suficiente para comer. Pela primeira vez, tiveram que enfrentar a questão de como um Império deveria ser administrado e governado, em vez de ser simplesmente adquirido, e conceberam elaborados códigos práticos para o domínio romano. Em outras palavras, esse foi também um período extraordinário de análise e inovação política. Os senadores romanos não ficaram sentados ociosamente enquanto suas instituições políticas mergulhavam no caos, e tampouco simplesmente atiçaram as chamas da crise para proveito próprio a curto prazo (embora certamente houvesse um pouco disso). Muitos deles, a partir de diferentes extremos do espectro político, tentaram encontrar algum remédio eficaz. Não devemos permitir que a nossa visão retrospectiva, ou que o fracasso final deles ou a sucessão de guerras civis e assassinatos nos deixem cegos para os esforços empreendidos.”

 

 

Esse caso notório é apenas uma das muitas controvérsias e dilemas a respeito do governo romano no além-mar que emergiram no último século da República. Na década de 70 a.C., com vastos territórios sob influência romana, fruto de dois séculos de lutas, negociações, agressão e boa sorte, a natureza do poder romano e dos pressupostos dos romanos a respeito de suas relações com o mundo que agora dominavam estava mudando. Em termos amplos, o rudimentar Império de obediência havia se transformado, ao menos em parte, em um Império de anexação. Provincia havia passado a significar “província” no sentido de uma região definida sob controle direto de Roma, em vez de apenas “responsabilidade” ou “tarefa’’, e a palavra imperium era agora usada ocasionalmente no sentido de “Império”. Essas mudanças de terminologia apontam para novos conceitos de território e para uma nova estrutura de organização, o que levantava outras questões sobre o que significava governar no exterior. Como se esperava que um governador romano se portasse nas províncias? Como se poderia definir sua tarefa? Que voz as populações das províncias deveriam ter, particularmente ao buscar reparações de um governo malconduzido? E o que se poderia considerar como má condução de um governo? Esses problemas a respeito do governo provincial foram trazidos para o cerne do debate político doméstico. Uma evidência preciosa disso é o texto da lei sob a qual Verres foi processado. O texto não tem a fama da retórica vistosa de Cícero, mas nos leva aos bastidores, às tentativas romanas de criar uma estrutura legal, e arranjos práticos, para lidar com os direitos dos cidadãos das províncias.

Mais controversas até, e centrais para o eventual colapso do governo republicano, eram as questões sobre a quem confiar o comando, o controle e a administração do Império. Quem deveria governar as províncias, recolher impostos, comandar os exércitos romanos, ou servir neles? A tradicional classe governante, com seus princípios de poder partilhado e de curto prazo, seria capaz de lidar com os grandes problemas, administrativos e militares, que o Império agora enfrentava? Já no final do século II a.C., Caio Mário [Gaius Marius], um “homem novo”, atribuiu sem meias palavras a culpa por uma série de derrotas militares romanas à corrupção dos comandantes de Roma, sempre receptivos a uma propina bem colocada. Ele seguiu em frente e baseou a carreira política em sua capacidade de obter notáveis vitórias onde eles haviam falhado desastrosamente, sendo eleito cônsul nada menos do que sete vezes, cinco delas seguidas.

Esse era um padrão de repetidos exercícios do cargo que Sula mais tarde proibiu, em suas reformas do final da década de 80 a.C. Mas o problema subjacente não desapareceu. As exigências de defender, policiar e às vezes ampliar o Império incentivaram, ou obrigaram, os romanos a entregar enormes recursos financeiros e militares a comandantes individuais por anos a fio, de uma maneira que desafiava as estruturas tradicionais do Estado de modo mais fundamental ainda do que jamais havia ocorrido com as disputas domésticas entre optimates e populares. Em meados do século I a.C., montados em suas conquistas de além-mar, Pompeu, o Grande, e Júlio César haviam se tornado rivais em busca de poder autocrático: comandavam o que, na realidade, eram seus exércitos particulares; haviam desconsiderado princípios republicanos de modo ainda mais abrangente do que Sula ou Mário; e abriram a perspectiva do governo de um homem só, que o assassinato de César não conseguiu obstruir.

Em resumo, como a última parte deste capítulo revela, o Império criou os imperadores — e não o contrário.”

 

 

“O domínio romano era quase sempre não intervencionista pelos padrões dos regimes imperiais mais recentes: os habitantes locais mantinham seu próprio calendário, cunhagem de moedas, deuses, seus próprios sistemas jurídicos e governo civil. Mas onde e quando esse domínio se mostrou mais direto, parece ter caído em algum ponto do espectro entre exploração impiedosa, de um lado, e negligência, precariedade de recursos e ineficiência, de outro.”

 

 

Os romanos tendiam a usar o suborno como uma escusa prática toda vez que a guerra, as eleições ou os vereditos da corte não tinham o desfecho que esperavam. Corrupção direta desse tipo era provavelmente menos comum do que alegavam. E qualquer que fosse o esnobismo no cerne da classe governante, havia na prática mais espaço para talentos novos, ou talentos mais atuais, do que as raivosas afirmações de Salústio admitem. Listas sobreviventes de nomes, que por esse período são bastante precisas, sugerem que cerca de 20% dos cônsules do final do século II a.C. vinham de famílias cuja rede de relações não havia produzido nenhum cônsul nos cinquenta anos precedentes.

A carreira de Mário teve impacto enorme no restante da história republicana, de formas imprevistas. Primeiro, quando voltou à África para assumir o comando contra Jugurta, alistou em seu exército qualquer cidadão que estivesse disposto a ser voluntário. Até então, exceto em emergências, os soldados romanos haviam sido recrutados oficialmente apenas de famílias detentoras de propriedades. Com isso, os problemas de recrutamento tinham ficado evidentes havia algum tempo e podem ter estado por trás das preocupações de Tibério Graco a respeito dos pobres sem terra; pois, se não tivessem terra, não poderiam servir nas legiões.

Ao alistar todos que se apresentavam, Mário cortou caminho, mas no processo criou um Exército romano dependente, semiprofissional, que desestabilizou a política doméstica por oitenta anos mais ou menos. As legiões de estilo novo dependiam cada vez mais de seus comandantes, não só para obter uma parte do saque mas também um pacote de assentamento, de preferência em terras, ao final do serviço militar, que lhes daria algum meio de vida no futuro. Os efeitos disso foram sentidos de várias maneiras. Os conflitos na pequena cidade de Pompeia depois que Sula impingiu seus veteranos ali em 80 a.C. foram apenas um de muitos casos de conflitos locais, exploração e ressentimento. Criou-se um problema perene: decidir de onde viria a terra para esses soldados, e às custas de quem. Mas foi a relação estabelecida entre cada general e seus soldados que teve as consequências mais drásticas. Em essência, os soldados trocavam a absoluta lealdade a seus comandantes pela promessa de um pacote de aposentadoria — em uma permuta que na melhor das hipóteses passava ao largo dos interesses do Estado e na pior delas transformava as legiões em uma nova modalidade de milícia privada concentrada inteiramente nos interesses de seu general. Quando os soldados de Sula, e depois os de Júlio César, seguiram seu líder e invadiram Roma, foi em parte devido à relação entre legiões e comandantes forjada por Mário.”

 

 

Cícero pode muito bem ter estado presente no Senado nos Idos de Março de 44 a.C., quando César foi assassinado, como testemunha ocular de um homicídio conturbado e que quase teve sua execução comprometida. Um bando de cerca de vinte senadores se agrupou em torno de César a pretexto de entregar-lhe uma petição. Um senador do segundo escalão deu o sinal para o ataque ao se ajoelhar aos pés do ditador e puxar sua toga. Os assassinos não foram muito precisos na ação, ou talvez o pânico os tenha deixado desajeitados. Um dos primeiros golpes de adaga errou o alvo e deu a César a oportunidade de contra-atacar com a única arma que tinha em mãos — seu afiado estilete. Segundo o relato mais antigo que sobreviveu, de Nicolau de Damasco, um historiador grego da Síria escrevendo cinquenta anos depois, mas provavelmente a partir de descrições de testemunhas oculares, vários dos assassinos foram atingidos por “fogo amigo”: Caio Cássio Longino [Gaius Cassius Longinus] atacou César mas acabou ferindo Brutus; outro golpe errou o alvo e acertou a coxa de um companheiro.

Ao cair, César gritou em grego para Brutus, “Até tu, filho?”, o que era tanto uma ameaça (“Eu vou pegá-lo, garoto!”) como um pungente lamento pela deslealdade de um jovem amigo (“Até você, meu filho?”), ou até, como alguns contemporâneos desconfiados imaginaram, uma revelação final de que Brutus era, na verdade, filho natural de César, e que portanto não se tratava de parricídio. A famosa frase latina “Et tu, Brute?” [“Até tu, Brutus?”] é uma invenção de Shakespeare. Os senadores que assistiam à cena fugiram; se Cícero estava lá, presumivelmente não foi mais corajoso que os outros. Mas qualquer fuga rápida foi bloqueada por uma multidão que saía naquela hora do Teatro de Pompeia, ao lado, depois de uma apresentação de gladiadores. Quando essas pessoas souberam o que havia acontecido, também quiseram chegar à segurança de seus lares o mais depressa possível, apesar da tentativa de Brutus de garantir que não havia com o que se preocupar e que era uma boa notícia. A confusão ficou ainda maior quando Marco Emílio Lépido [Marcus Aemilius Lepidus], um dos aliados mais próximos de César, deixou o Fórum para reunir alguns soldados acampados à saída da cidade, e quase deu de cara com o grupo de assassinos que vinha da outra direção para anunciar o feito vitorioso, seguidos de perto por três escravos que carregavam o corpo de César em uma maca, rumo à casa dele. Era uma tarefa penosa, pois eram apenas três, e alguns relatos contam que os braços feridos do ditador pendiam de lado, balançando, numa cena horrível.

Naquela noite, Cícero encontrou Brutus e alguns de seus companheiros “Libertadores” no Capitólio, onde haviam ficado. Ele não participara do complô, mas alguns disseram que Brutus havia pronunciado o nome de Cícero ao enfiar a faca em César — e de qualquer modo, sendo um estadista veterano, ele provavelmente seria uma figura útil para se ter a bordo na sequência dos acontecimentos. O conselho de Cícero foi claro: eles deveriam convocar imediatamente o Senado para uma reunião no Capitólio. Mas eles hesitaram e deixaram a iniciativa para os seguidores de César, que logo exploraram o sentimento popular, que certamente não era favorável aos assassinos, apesar das fantasias posteriores de Cícero de que a maioria dos romanos comuns no final acreditou que o tirano deveria mesmo ser deposto. A maioria ainda preferia as reformas de César — o apoio aos pobres, os assentamentos de além-mar e as ocasionais ajudas em dinheiro — em vez das belas ideias de liberdade, que talvez não fossem mais do que um álibi para os interesses egoístas da elite e para a continuidade da exploração das classes baixas, como poderiam muito bem ter observado aqueles que estiveram sob o fio da navalha das arrecadações extorsivas de Brutus em Chipre.”

 

 

Muito da grande tradição de escrita moderna sobre os imperadores romanos tem sido estruturado em termos similares, em torno de personagens imperiais bons ou maus. As palavras de Edward Gibbon, em Declínio e queda do Império Romano, publicado em episódios a partir de 1776, têm tido imensa influência na visão das gerações de historiadores posteriores. Antes de abordar o tema principal de seu título, Gibbon faz uma breve reflexão sobre o período inicial do governo de um só homem, que vai de Tibério a Cômodo, e considera dignos de elogios os imperadores do século II d.C. Seu memorável aforismo, expresso com a típica assertividade do século XVIII, ainda é muito citado: “Se alguém fosse chamado a determinar o período da história do mundo no qual a condição da raça humana foi mais feliz e próspera, ele sem hesitar indicaria aquele que transcorreu desde a morte de Domiciano até a ascensão de Cômodo” — ou seja, o que muitos desde então têm chamado de período dos “bons imperadores”: Nerva, Trajano, Adriano, Antonino Pio, Marco Aurélio e Lúcio Vero.

Esses eram governantes, prossegue Gibbon, cujo caráter e autoridade “despertavam respeito involuntário” e que “se compraziam na imagem da liberdade”. A única coisa que devem ter lamentado, conclui ele, é saber que algum sucessor indigno (“algum jovem licencioso ou um tirano ciumento”) logo iria surgir para arruinar tudo, como quase todos os seus predecessores haviam feito no passado: “o sombrio e implacável Tibério, o colérico Calígula, o frágil Cláudio, o devasso e cruel Nero e o tímido e desumano Domiciano”.

É uma maneira professoral de resumir quase dois séculos de história romana. Gibbon viveu em uma época em que historiadores julgavam “sem hesitar” e estavam dispostos a acreditar que o mundo romano teria sido um lugar melhor para se viver do que o deles. É também uma maneira profundamente enganosa, por várias razões. Os diversos governantes não se encaixavam facilmente em qualquer imagem-padrão, estereotipada. O próprio Gibbon admite — em linhas que são hoje raramente citadas, porque estragam a esplêndida assertividade do aforismo — que um de seus favoritos, Adriano, podia também ser fútil, caprichoso e cruel — um excelente príncipe, tanto quanto um tirano ciumento. Gibbon deve ter tido conhecimento do episódio em que Adriano mandou matar seu arquiteto por discordar do projeto de um edifício; se verdadeiro, é um exemplo de abuso imperial digno de um Caio.

E alguns dos modernos admiradores do gentil filósofo imperador Marco Aurélio iriam admirá-lo menos se refletissem sobre a brutalidade de sua supressão dos germanos, orgulhosamente ilustrada nas cenas de batalha que sobem ao redor da sua coluna comemorativa, ainda em pé no centro de Roma; embora menos famosa, ela teve a clara intenção de competir com a de Trajano, e houve até o cuidado de fazê-la um pouco mais alta. Há que se considerar também todos os problemas de separar o que é fato do que é fantasia nas várias histórias sobre os malfeitos de Caio. Os diversos relatos antigos de transgressões imperiais nos dão vislumbres importantes das preocupações, suspeitas e preconceitos romanos. O grau de exatidão com que os escritores romanos imaginavam que seus maus imperadores revelavam sua maldade pode nos dizer muita coisa sobre as suposições culturais e a moralidade romanas em geral, desde o frisson particular que era associado — e ainda é — ao sexo em piscinas, à objeção, mais surpreendente, em relação à crueldade com as moscas (provavelmente um sinal de que não havia nada no mundo de Domiciano tão trivial que não pudesse se tornar um hobby para seu sadismo). Mas enquanto evidências da realidade do domínio imperial, tais relatos ainda são uma mistura de narrativa precisa, exagero e suposições, impossível de ser desvendada.”

 

 

Em termos mais gerais, a política da mudança de regime tinha uma grande influência na maneira pela qual cada imperador passava à história, já que as carreiras e os personagens imperiais eram reinventados para atender aos interesses daqueles que os apoiavam. A regra básica da história romana é que todo aquele que era assassinado acabava sendo, como Caio, demonizado. Aqueles que morriam em seu leito, sucedidos por um filho e herdeiro, natural ou adotivo, eram exaltados como personagens generosos e afáveis, dedicados ao sucesso de Roma, que por sua vez não os levava muito a sério.

Essas são as considerações que recentemente incentivaram algumas tentativas corajosas e revisionistas de reabilitar alguns dos mais notórios monstros imperiais. Vários historiadores modernos têm apresentado Nero, particularmente, mais como uma vítima da propaganda da dinastia Flaviana, que começa com Vespasiano, seu sucessor, do que como um piromaníaco assassino da própria mãe, a quem se atribui ter iniciado o grande incêndio de 64 d.C., não só para apreciar o espetáculo, mas também para limpar a área e poder construir seu novo palácio, a Casa Dourada [Domus Áurea]. Mesmo Tácito admite, apontam os reabilitadores, que Nero foi o patrocinador de medidas de ajudas efetivas para os desabrigados após o incêndio; e a propalada extravagância de sua nova residência, com todos os seus luxos (incluindo uma sala de jantar giratória), não impediu que o parcimonioso Vespasiano e seus filhos se apoderassem de parte dela como sua casa. Além disso, nos vinte anos após a morte de Nero, em 68 d.C., pelo menos três falsos Neros, com lira e tudo, apareceram nas regiões orientais do Império, reivindicando o poder e apresentando-se como o imperador em pessoa, ainda vivo, apesar de todas as notícias de seu suicídio. Foram todos rapidamente eliminados, mas o engodo sugere que, em algumas áreas do mundo romano, Nero era lembrado afetuosamente: ninguém buscaria alcançar o poder fingindo ser um imperador odiado por todos.

Esse ceticismo histórico é saudável. Mas ele nos desvia da questão principal: quaisquer que sejam as visões de Suetônio e outros escritores antigos, as qualidades e personalidades individuais de cada imperador não importavam muito para a maioria dos habitantes do Império, ou para a estrutura essencial da história romana e seus principais desdobramentos.

Isso provavelmente era importante para alguns membros da elite metropolitana, para os conselheiros do imperador, o Senado e o pessoal do palácio. O trato diário com o adolescente imperador Nero pode muito bem ter sido mais desafiador do que lidar com Cláudio ou com Vespasiano. E a ausência de Tibério, em seu retiro em Capri, ou de Adriano em uma de suas muitas viagens pelo mundo romano (ele foi um turista inveterado, passando mais tempo no exterior do que em casa) deve ter tido um impacto sobre a administração para aqueles diretamente envolvidos — incluindo a certa altura o próprio Suetônio, que trabalhou por um breve período no secretariado de Adriano.

Fora desse pequeno círculo, porém, e certamente fora da cidade de Roma, já que apenas nela os efeitos da generosidade de um imperador podiam ser espargidos sobre homens e mulheres nas ruas, dificilmente faria muita diferença quem estivesse no trono, ou quais fossem seus hábitos pessoais ou intrigas. E não há qualquer indício de que a personalidade do governante tenha afetado o modelo básico de governo no plano doméstico ou no exterior de alguma maneira significativa. Se Caio ou Nero ou Domiciano eram realmente tão irresponsáveis, sádicos e malucos como são pintados, isso fez pouca ou nenhuma diferença no funcionamento do Império Romano, ficando restrito ao âmbito do anedótico. Por baixo das histórias escandalosas e dos relatos de sodomia (que obscurecem tanto quanto vivificam), e para lá dos aforismos cuidadosamente construídos de Gibbon, havia uma estrutura de governo notavelmente estável e um conjunto de problemas e tensões também estável por todo o período. São eles que precisamos entender para que o domínio imperial faça sentido para nós, e não as idiossincrasias de cada governante. Afinal, nenhum cavalo chegou de fato a ser nomeado cônsul.”

 

 

“Os imperadores romanos e seus conselheiros nunca resolveram o problema da sucessão. Eles foram derrotados em parte pela biologia, em parte pelo prolongamento das incertezas e discordâncias a respeito de como a herança devia operar da melhor forma. A sucessão sempre se reduziu a uma combinação de sorte, improviso, conspiração, violência e negócios secretos. O momento em que o poder romano era transmitido era sempre aquele em que se mostrava mais vulnerável.”

 

 

O historiador Tácito faz comentários sagazes, e cínicos, sobre esse processo de romanização (dos territórios ocupados por Roma), como costuma ser chamado agora. Aparecem na curta biografia que escreveu do seu sogro, Cneu Júlio Agrícola [Gnaeus Julius Agricola], governador da Britânia de 77 a 85 d.C., um período excepcionalmente longo. A maior parte do relato de Tácito diz respeito às bem-sucedidas operações militares na província, à extensão do poder romano para o norte até a Caledônia (Escócia) e ao ciúme do imperador Domiciano, que recusou conceder a Agrícola as honras e glórias que merecia por seu sucesso. A biografia é ao mesmo tempo uma crítica à autocracia e um elogio do distinto parente de Tácito: a mensagem que sobressai é que o regime imperial não dava lugar à tradicional virtude e competência militar romanas. Ocasionalmente, porém, Tácito se volta para os aspectos civis do governo de Agrícola na província.

Alguns dos tópicos são bem rotineiros e não pareceriam fora de lugar nas cartas de Plínio, que era amigo de Tácito nos círculos literários de Roma no início do século II d.C. Agrícola é elogiado por manter seu ambiente doméstico sob rígido controle (“uma tarefa tão dura para muitos como a de governar a província”). Ele também coibiu abusos nas solicitações do Exército, e investiu dinheiro para melhorar as cidades da Britânia, com novos templos e edifícios públicos em estilo romano. É bem mais surpreendente descobrir que ele tinha uma política educacional local: procurou assegurar que os filhos da elite provincial fossem educados nas “artes liberais” (literalmente “as disciplinas intelectuais adequadas para ser livre”) e na língua latina. E logo, como Tácito coloca, os bretões já estavam vestindo togas e dando os primeiros passos no caminho da depravação, graças aos pórticos, às termas e aos banquetes. Ele resume isso em uma frase incisiva: “Eles, em sua ignorância, davam a isso o nome de ‘civilização’, mas na realidade era parte de sua escravização” (“Humanitas vocabatur, cum pars servitutis esset”). Esse aspecto vem tendo imensa influência, positiva ou negativa, nas tentativas modernas de se compreender como o Império Romano funcionava.”

 

 

“Qualquer que fosse a letra da lei, e as circunstâncias específicas de qualquer julgamento em particular, havia um conflito irreconciliável entre os valores romanos tradicionais e o cristianismo. A religião romana era politeísta e tratava os deuses estrangeiros mais ou menos como os povos estrangeiros: pela via da incorporação. Desde os remotos tempos da tomada de Veii, no início do século IV a.C., Roma havia regularmente acolhido o deus dos conquistados. Havia eventuais controvérsias e preocupações a respeito disso; os sacerdotes da deusa egípcia Ísis viram-se expulsos da cidade de Roma em mais de uma ocasião. Mas a regra básica era que à medida que o Império Romano se expandia, o mesmo se dava com seu panteão de divindades. O cristianismo era, em tese, um monoteísmo excludente, pois rejeitava os deuses que por séculos haviam garantido o sucesso de Roma. (...)

O mesmo valia, em certo sentido, para o judaísmo. Mas num grau notável e sob alguns aspectos inesperado, os judeus conseguiram operar dentro da cultura romana. Para os romanos, o cristianismo era muito pior. Primeiro, ele não tinha um lar ancestral. Os romanos, em sua geografia religiosa ordenada, esperavam que as divindades fossem de algum lugar: Ísis do Egito, Mitra da Pérsia, o deus judaico da Judeia. O deus cristão não tinha raízes, era exaltado como universal e procurava por adeptos. Momentos místicos de iluminação podiam atrair novos devotos para a religião, digamos, de Ísis. Mas o cristianismo era definido como um processo de conversão espiritual totalmente novo. Não só isso: alguns cristãos pregavam valores que ameaçavam derrubar alguns pressupostos greco-romanos fundamentais sobre a natureza do mundo e das pessoas que o habitavam: que a pobreza, por exemplo, era boa; ou que o corpo devia ser domado ou rejeitado em vez de nos preocuparmos em cuidar dele. Todos esses fatores ajudam a explicar as ansiedades, a confusão e a hostilidade de Plínio e de outros.

Ao mesmo tempo, o sucesso do cristianismo tinha raízes no Império Romano, em sua extensão territorial, na mobilidade que promovia, em suas cidades e em seu mix cultural. Da Bitínia de Plínio à Cartago de Perpetua, o cristianismo espalhou-se de suas origens de pequena escala na Judeia, principalmente graças aos canais de comunicação ao longo do mundo Mediterrâneo que o Império Romano havia franqueado, e devido ao movimento de pessoas, bens, livros e ideias que viajavam por esses canais. A ironia é que a única religião que os romanos tentaram erradicar foi aquela cujo sucesso seu Império tornou possível e que se desenvolveu inteiramente dentro do mundo romano.”

 

 

O decreto de cidadania foi apenas um dos aspectos de uma ampla gama de transformações, rupturas, crises e invasões que mudaram o mundo romano até torná-lo irreconhecível no século III d.C. O segundo milênio romano — que só acabou quando Constantinopla, a capital do Império Romano do Oriente, no século VI d.C., caiu nas mãos dos turcos otomanos em 1453 d.C. — assentava-se em princípios inteiramente novos, em uma outra ordem mundial e, pela maior parte do tempo, em uma religião diferente. O regime autocrático estabelecido pelo primeiro Augusto baseara-se em uma linguagem e em instituições políticas que remontavam, o quanto era possível determinar, ao primeiro milênio da história romana, e o que tenho chamado aqui de modelo augustiano de domínio imperial forneceu uma estrutura política relativamente estável por quase duzentos anos após a morte de Augusto, em 14 d.C. Mas embora o imperador Tibério, que sucedeu o primeiro Augusto, talvez se sentisse à vontade nas condições imperiais das quais Cômodo desfrutou no final do século II d.C., ele no entanto não teria compreendido o que significava ser imperador algumas décadas mais tarde. Roma em seu segundo milênio era efetivamente um novo Estado, sob um velho nome. E então, dependendo do ponto de vista que adotarmos, poderemos ver esse milênio como um longo e lento período de declínio; ou como uma série de mudanças culturais e políticas descontínuas, que acabaram transformando o mundo antigo no medieval; ou como uma era extraordinariamente dinâmica de arte, arquitetura e reflexão cultural.

Os historiadores agora falam com frequência da “crise” do século III d.C. O que indicam com isso é o processo por meio do qual, após o assassinato de Cômodo, em 192 d.C., o modelo augustiano desmoronou. O número de imperadores é um dos sinais óbvios disso. Nos quase 180 anos entre 14 e 192 d.C. — excetuando o único breve interlúdio da guerra civil após a morte de Nero, quando houve três malsucedidos requerentes ao trono — foram apenas catorze imperadores. Nos cem anos entre 193 e 293 d.C., houve mais de setenta (a lista é elástica, dependendo de quantos obscuros coimperadores, usurpadores ou “impostores” sejam incluídos). Porém, e direto ao ponto, quaisquer tentativas de manter as legiões fora do processo de fazer imperadores fracassaram totalmente. Quase todos os homens que reivindicaram o trono em meados do século III d.C. fizeram isso com o apoio de alguma unidade do Exército. Houve uma guerra civil mais ou menos continuada. E também flagrantes subversões das tradicionais reivindicações de poder. Septímio Severo, ao anunciar que ele e sua família haviam sido adotados como herdeiros por um imperador falecido mais de dez anos antes, levou ao extremo até os mais flexíveis padrões romanos de adoção.

Ao mesmo tempo, a cidade de Roma foi eclipsada como o centro de poder. Os imperadores não costumavam mais ficar ali, e sim a centenas de quilômetros, com seus exércitos. Não tinham mais tempo, incentivo ou dinheiro para seguir o modelo augustiano de deixar suas marcas na cidade em pedra e mármore, ou de agir como benfeitores populares. Depois das grandes termas que Caracala construiu na década de 210 d.C., praticamente não houve projetos imperiais importantes de construção na capital durante oitenta anos, até o imperador Deocleciano construir seu conjunto de banhos públicos, na década de 290 d.C. (grande parte disso ainda está do lado de fora da principal estação ferroviária de Roma). O fato de os imperadores se ausentarem de Roma também acelerou o declínio do Senado. Não havia lugar para civilitas entre imperadores e senadores, para delicadas consultas ou mesmo para passeatas e persistentes protestos de senadores idealistas e pouco realistas quando o homem no trono não estava à vista. Os imperadores cada vez mais governavam de longe, por decretos ou cartas, e sem consultas ao Senado. A condução ao trono de Macrino, que não era senador (e houve outros imperadores nessa condição), foi outra clara indicação de que o Senado podia ser contornado.

O que havia por trás dessas mudanças, e qual era a causa e o efeito, são questões ainda muito debatidas. Invasões por grupos de “bárbaros” mais eficientes e com frequência substancialmente “romanizados”, provenientes de fora do Império, desempenharam um papel. E também os efeitos de uma praga amplamente disseminada no final do século II d.C., que, mesmo segundo estimativas moderadas sobre sua taxa de mortalidade, devem ter minado seriamente os recursos humanos de Roma. E ainda o frágil equilíbrio do modelo augustiano, que falhou em definir regras claras para a sucessão e seus estranhos acordos entre imperador e Senado. Este, depois de ser desconsiderado, ruiu. Mas quaisquer que tenham sido as causas, a nova Roma que emergiu da “crise” do século III d.C. era notavelmente diferente de qualquer modelo que tenhamos visto do primeiro milênio.

A cidade de Roma perdeu irrevogavelmente seu lugar como capital do Império e caiu nas mãos de invasores em três ocasiões durante o século V d.C., pela primeira vez desde que foi saqueada pelos gauleses oitocentos anos antes. O mundo romano passou a ser controlado a partir de capitais regionais, como Ravena e Constantinopla — a moderna Istambul. As partes ocidental e oriental do Império eram governadas separadamente. E, após períodos de coordenada perseguição aos cristãos no final do século III d.C., o Império universal decidiu abraçar a religião universal (ou vice-versa). O imperador Constantino, fundador da cidade de Constantinopla no início do século IV d.C., foi o primeiro imperador romano a se converter formalmente ao cristianismo, batizado em seu leito de morte em 337 d.C. Constantino, em certo aspecto, seguiu o modelo augustiano de incorporar-se às suas construções, mas o que ele construiu foram igrejas.

Nem tudo mudou na nova Roma, e certamente não mudou de uma hora para outra. A população da cidade, cristã ou não, ainda aproveitava os espetáculos no Coliseu, provavelmente com caçadas a feras em vez de gladiadores, até já bem avançado o século V d.C., e os imperadores em Constantinopla patrocinavam entretenimentos no velho modelo da benemerência, com frequência na forma de corridas de bigas. Mas muitas das continuidades políticas eram superficiais, ou mesmo mal compreendidas. Como um aceno à tradição, Constantinopla ganhou uma casa senatorial, mas tratava-se de um edifício para uma instituição que se tornara um fóssil. Quando um comentarista reconhecidamente confuso tentou explicar o nome daquele edifício no século VIII d.C., achou que havia sido construído por um homem chamado “Senatus”.

103. O Arco de Constantino. Quase todas as esculturas visíveis na fachada vieram de monumentos anteriores. Inclusive os medalhões acima dos arcos laterais, que são adriânicos, e os painéis retangulares no nível do ático, que vêm de um monumento a Marco Aurélio. Os bárbaros, também no ático, são de Trajano.

Na cidade de Roma, a melhor indicação de que o mundo havia mudado é o arco erigido em 315 d.C. em homenagem à vitória do imperador Constantino sobre seus rivais internos. Ele ainda sobrevive, preservado graças à sua incorporação a uma fortaleza renascentista, entre o antigo Fórum romano e o grande anfiteatro do Coliseu. À primeira vista, parece bem tradicional, remetendo aos arcos erigidos em homenagem às muitas vitórias militares de Roma e copiados nos memoriais imperiais desde então, do Arco do Triunfo em Paris ao Arco de Wellington no Hyde Park Corner em Londres. É decorado com uma série de cenas que celebram a autoridade de Constantino em um idioma familiar aos dois primeiros séculos do poder autocrático romano. O imperador é mostrado combatendo inimigos bárbaros, discursando para seus soldados, anistiando prisioneiros, fazendo sacrifícios aos deuses tradicionais, sendo coroado pela Vitória e cumprimentando a multidão. Tudo isso poderia ter sido esculpido 150 anos antes.

Na realidade, boa parte havia sido. Excetuando alguns painéis modestos, todas essas esculturas foram tomadas de monumentos mais antigos que celebravam Trajano, Adriano e Marco Aurélio. Os rostos dos imperadores originais foram grosso modo refeitos para ficarem parecidos com Constantino, e as peças remontadas para exibição no novo arco. Foi um exercício de nostalgia caro e destrutivo. Para alguns observadores antigos, pode ter sido bem-sucedido no sentido de colocar o novo imperador dentro da ilustre tradição dos antigos. Porém, mais do que qualquer outra coisa, esse cuidadoso falseamento aponta para a histórica distância entre o primeiro milênio da Roma Antiga, que é o tema deste livro, e o segundo milênio de Roma, que é uma história que fica para outra vez, outro livro — e outro escritor.”

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