domingo, 22 de agosto de 2021

SPQR – Uma História da Roma Antiga (Parte I), de Mary Beard

Editora: Crítica

ISBN: 978-85-4220-940-2

Tradução: Luis Reyes Gil

Opinião: ★★★☆☆

Páginas: 576

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Sinopse: Um dos livros mais importantes sobre Roma Antiga que existe. Cobrindo mil anos da história romana, SPQR revela em detalhes como Roma cresceu de uma vila insignificante na Itália Central para se tornar a primeira potência global. A inglesa Mary Beard, professora de Cambridge e autora de vários bestsellers, vive há mais de 30 anos pesquisando o Império Romano. A partir de inúmeras leituras, estudos de arqueologia e de documentos escritos em pedras e papiros, ela faz uma análise eloquente dessa história e mostra o que os romanos pensavam sobre si mesmos e suas realizações. SPQR é a abreviação que os próprios romanos adotaram para o seu Estado: “Senatus Populus Que Romanus”, ou “Senado e o Povo de Roma”. Neste livro, Beard detalha como foi formada a identidade e a cidadania romana e mostra porque essa cultura ainda influencia o mundo no século XXI. Com mais de 100 ilustrações e inúmeros mapas, SPQR ficou mais de um ano em listas de best-sellers nos Estados Unidos e na Europa.




“Irmão contra irmão, locais contra forasteiros

Não muito abaixo da superfície dessas tramas, jazem alguns dos temas mais importantes da história romana posterior, assim como algumas das maiores ansiedades culturais romanas. Eles nos dizem muito sobre os valores e preocupações dos romanos, ou pelo menos sobre as preocupações que aqueles romanos tinham a respeito do tempo, do dinheiro e da liberdade de que dispunham; ansiedades culturais muitas vezes são privilégio dos ricos. Um desses temas, como acabamos de ver, era a natureza do casamento romano. Quão brutal ele estava destinado a ser, dadas as suas origens? Outro, já vislumbrado nas palavras das mulheres sabinas que tentavam a reconciliação entre seus pais e maridos, era a guerra civil.

Um dos grandes enigmas a respeito da lenda da fundação é sua afirmação de que havia dois fundadores envolvidos, Rômulo e Remo. Os historiadores modernos conceberam várias soluções para explicar o gêmeo redundante. Talvez ele aponte para alguma dualidade básica na cultura romana, entre diferentes classes de cidadãos ou diferentes grupos étnicos. Ou quem sabe reflita o fato de que mais tarde Roma teria dois cônsules. Ou, ainda, estejam envolvidas estruturas míticas mais profundas, e Rômulo e Remo sejam alguma versão dos gêmeos divinos que encontramos em várias manifestações da mitologia mundial, da Alemanha à Índia védica, incluindo a história bíblica de Caim e Abel. Mas seja qual for a solução escolhida (e a maior parte da especulação moderna não tem sido muito convincente), resta um enigma ainda maior no fato de um dos gêmeos fundadores ser realmente redundante — já que Remo foi morto por Rômulo ou, em outras versões, por um de seus homens, no primeiríssimo dia da cidade.

Para muitos romanos, que não fizeram uma higienização da história encoberta pelo rótulo de “mito” ou “lenda”, esse era o aspecto mais impalatável da fundação. Parece que ele causou tal desconforto em Cícero que, no seu relato da origem de Roma em Sobre o Estado, ele não o menciona. Remo aparece no início, apresentado junto com Rômulo, para em seguida desaparecer da história. Outro escritor — o historiador Dionísio de Halicarnasso, residente de Roma no século I a.C., mas identificado pelo nome de sua cidade natal na costa da atual Turquia — escolheu retratar um Rômulo inconsolável diante da morte de Remo (“perdeu a vontade de viver”). Outro ainda, conhecido para nós apenas como Egnatius, optou por uma maneira mais ousada de driblar o problema. A única coisa que sabemos sobre esse Egnatius é que inverteu completamente a história do assassinato, afirmando que Remo viveu mais que seu irmão gêmeo.

Era uma tentativa desesperada, e obviamente não convincente, de fugir à triste mensagem contida no relato: a de que o fratricídio estava entranhado na política romana e que os apavorantes surtos de conflito civil que repetidamente assolaram a história de Roma a partir do século VI a.C. (o assassinato de Júlio César em 44 a.C. é apenas um exemplo) estavam de algum modo predestinados. Afinal de contas, que cidade, fundada sobre o assassinato de um irmão por outro, poderia escapar do assassinato de um cidadão por outro? O poeta Horácio [Quintus Horatius Flaccus] foi um dos vários escritores que responderam essa questão de maneira óbvia. Escrevendo por volta de 30 a.C., na esteira da década de lutas que se seguiram à morte de César, ele lamentava: “Amargo destino persegue os romanos, e o crime do assassinato de um irmão, desde que o sangue do inocente Remo foi derramado no chão para se tornar uma maldição para os seus descendentes”. A guerra civil, poderíamos dizer, estava nos genes dos romanos.

Sem dúvida, Rômulo poderia ser mostrado, e com frequência era, como um heroico pai fundador. Seu embaraço pelo destino de Remo não impediu Cícero de tentar vestir o manto protetor de Rômulo em seu confronto com Catilina. E, apesar da sombra do assassinato, imagens dos gêmeos bebês eram encontradas por todo o mundo romano antigo: tanto na própria capital — onde chegou a haver um grupo de estátuas deles no Fórum e outro no Capitólio (ou Monte Capitolino) — como nas partes mais distantes do Império. Na realidade, quando o povo da ilha grega de Quios quis demonstrar sua sujeição a Roma no século II a.C., uma das coisas que decidiram fazer foi erguer um monumento retratando, como eles mesmos disseram, “o nascimento de Rômulo, o fundador de Roma, e seu irmão Remo”. O monumento não existe mais. Mas sabemos dele porque os habitantes de Quios registraram sua decisão em uma placa de mármore, que sobreviveu. De qualquer modo, ali persistiu certo desconforto moral e político em relação ao caráter de Rômulo.

Também desconfortável, mas de maneira diferente, foi a ideia do asilo, e a acolhida que Rômulo deu a todos os que vieram — estrangeiros, criminosos e desgarrados —, ao procurar cidadãos para sua nova cidade. Houve aspectos positivos em relação a isso. Em particular, refletiu a extraordinária abertura e boa vontade da cultura política romana em incorporar estrangeiros, o que a diferenciou de todas as outras sociedades ocidentais que conhecemos. Nenhuma cidade grega antiga foi remotamente tão acolhedora; Atenas, em particular, restringia com rigor o acesso à cidadania. Isso não é um tributo a nenhum suposto temperamento “liberal” dos romanos no moderno sentido da palavra. Eles conquistaram vastas extensões de território na Europa e além, às vezes com terrível brutalidade; e foram muitas vezes xenófobos e desdenhosos com povos que chamavam de “bárbaros”. No entanto, num processo único em qualquer Império pré-industrial, os habitantes desses territórios conquistados, “províncias”, como os romanos os chamavam, foram aos poucos obtendo cidadania romana, e os respectivos direitos e proteções legais. Isso culminou em 212 d.C. (quando este livro termina), quando o imperador Caracala transformou todo habitante livre do Império em cidadão romano.

Mesmo antes disso, a elite das províncias já ingressara em grande número na hierarquia política da capital. O Senado romano aos poucos se tornou o que podemos descrever hoje como um organismo multicultural, e a lista completa de imperadores romanos inclui vários cujas origens estão fora da Itália: o pai de Caracala, Septímio Severo [Septimius Severus], foi o primeiro imperador oriundo de território romano na África; Trajano e Adriano, que reinaram meio século antes, provinham da província romana da Espanha. Quando em 48 d.C. o imperador Cláudio — cuja imagem afável deve mais à novela Eu, Cláudio, de Robert Graves, do que à vida real — defendeu diante de um Senado relutante que os cidadãos da Gália deviam ter permissão para se tornar senadores, ele passou algum tempo lembrando-os que Roma havia sido receptiva a estrangeiros desde o início. O texto de seu discurso, incluindo algumas interrupções que ao que parece até um imperador tinha que tolerar, foi inscrito em bronze e colocado à mostra na província, na atual cidade de Lyon, onde ainda é preservado. Cláudio, ao que parece, não teve, ao contrário de Cícero, a oportunidade de fazer ajustes antes da publicação.

Houve um processo similar com a escravidão. A escravidão romana foi em alguns aspectos tão brutal quanto os métodos romanos de conquista militar. Mas para muitos escravos romanos, particularmente aqueles que trabalhavam em contextos domésticos urbanos e não na fatigante labuta dos campos ou das minas, não era necessariamente uma pena perpétua. Eles regularmente obtinham sua liberdade, ou a compravam com suas economias; e se o seu dono fosse um cidadão romano, então obtinham também a cidadania romana, sem quase nenhuma desvantagem em relação àqueles que haviam nascido livres. O contraste com a Atenas clássica é mais uma vez evidente: ali, pouquíssimos escravos eram libertos, e os que o eram certamente não recebiam a cidadania ateniense, ficando em uma espécie de limbo apátrida. A prática da emancipação — ou manumissão, para acompanhar o termo em latim — era um traço tão característico da cultura romana que os estrangeiros da época comentavam a respeito dela, vendo-a como um poderoso fator do sucesso romano. Como um rei da Macedônia observou no século III a.C., foi desse modo que “os romanos ampliaram seu país”. A escala era tal que alguns historiadores admitem que, por volta do século II d.C., a maioria da população de cidadãos livres da cidade de Roma tinha escravos em algum ponto de sua ancestralidade.”

 

 

É quase certo que não houve nada semelhante a um momento fundador da cidade de Roma. São bem poucas as cidades ou vilas fundadas assim de uma vez, por um único indivíduo. Não raro, são fruto de mudanças graduais na população, nos padrões de assentamento, na organização social e no sentido de identidade. A maioria das “fundações” são construções retrospectivas, que projetam no passado distante um microcosmo, ou uma versão primitiva imaginada da cidade posterior. O nome “Rômulo” já nos dá uma pista. Embora os romanos costumem supor que foi ele que emprestou seu nome à recém-estabelecida cidade, estamos hoje mais ou menos seguros de que ocorreu o contrário: “Rômulo” foi uma criativa construção baseada em “Roma”. Ou seja, “Rômulo” foi apenas o arquetípico “Senhor Roma”.

Além disso, os escritores e estudiosos do século I a.C., que nos legaram sua versão das origens de Roma, não tinham muito mais evidências diretas das primeiras fases da história de Roma do que os modernos escritores têm hoje, e sob alguns aspectos talvez tivessem até menos. Não haviam sobrevivido documentos nem arquivos. As poucas inscrições antigas em pedra, embora valiosas, não eram tão antigas quanto os estudiosos romanos com frequência imaginavam, e, como iremos descobrir no final deste capítulo, algumas vezes pecavam por uma má compreensão irremediável do latim antigo. Certo, eles tiveram acesso a alguns poucos relatos históricos anteriores que não sobreviveram até nós. Mas os relatos mais antigos haviam sido compostos em cerca de 200 a.C., ou seja, ainda existia um grande abismo entre essa data e as origens da cidade, que só podia ser superado com ajuda de uma série muito variada de histórias, canções, performances teatrais populares e o amálgama mutável e às vezes autocontraditório que compõe a tradição oral — constantemente ajustando o ato de contar e recontar a circunstâncias e plateias variáveis. Existem alguns vislumbres fugazes da história de Rômulo até remontarmos ao século IV a.C., mas depois, a não ser que se traga a loba de bronze de volta à cena, a trilha termina.

No entanto, colocado em outros termos, é justamente por ser a história de Rômulo mítica e não histórica no sentido estrito que ela concentra tão agudamente algumas das questões centrais da Roma Antiga e é tão importante para a compreensão da história romana. Os romanos não haviam simplesmente herdado as prioridades e preocupações de seu fundador, como supunham. É exatamente o oposto: ao longo de séculos recontando e depois reescrevendo a história, eles mesmos haviam construído e reconstruído a figura fundadora de Rômulo como um poderoso símbolo de suas preferências, debates, ideologias e ansiedades. Em outras palavras, voltando a Horácio, não é que a guerra civil fosse o destino de Roma desde o seu nascimento; Roma é que havia projetado suas obsessões com o aparentemente infindável conflito civil e o fazia remontar ao seu fundador.

Também havia sempre a possibilidade de ajustar ou reconfigurar a narrativa, mesmo depois de ela ter alcançado uma forma literária relativamente fixa. Já identificamos, por exemplo, como Cícero escolheu lançar um véu sobre o assassinato de Remo, e como Egnatius o negou inteiramente. Mas o relato de Lívio sobre a morte de Rômulo dá um bom vislumbre de como a história das origens de Roma podia ser usada para soar em sintonia direta com eventos recentes. O rei, explica ele, havia governado por trinta anos quando de repente, numa violenta tempestade, foi envolvido por uma nuvem e desapareceu. Os pesarosos romanos logo concluíram que havia sido arrancado deles para se tornar um deus — cruzando o limite entre humano e divino de uma maneira que o sistema religioso politeísta de Roma às vezes permitia (mesmo que nos pareça um pouco tolo). Mas algumas pessoas da época, concede Lívio, contaram uma história diferente: que o rei havia sido assassinado, decepado pelos senadores. Lívio não inventou totalmente nenhuma das partes desse complô: Cícero, por exemplo, já havia relatado antes a apoteose de Rômulo, embora com uma dose de ceticismo; e um político ambicioso na década de 60 a.C. foi uma vez ameaçado com o “destino de Rômulo”, e isso, presume-se, não significava tornar-se um deus. Mas, escrevendo apenas poucas décadas após o assassinato de Júlio César, que foi apunhalado até a morte pelos senadores e depois recebeu o status de deus (terminando com seu próprio templo no Fórum), Lívio oferece um relato particularmente rico e empático. Não ver os ecos de César nesse caso seria não captar o sentido.”

 

 

Será que Rômulo era filho, ou talvez neto, de Eneias? E se Rômulo fundara Roma, como poderia Eneias também ter feito isso? A maior dificuldade é que havia um desconfortável intervalo entre o século VIII a.C., data que os romanos atribuíam à origem de sua cidade, e o século XII a.C., data atribuída para a queda de Troia (também considerado um evento histórico). Por volta do século I a.C., alcançou-se alguma espécie de coerência com a construção de uma complexa árvore genealógica, que ligou Eneias a Rômulo, e com a definição das datas “exatas”: Eneias passou a ser visto como o fundador não de Roma, mas de Lavínio; seu filho Ascânio foi posto como fundador de Alba Longa — a cidade de onde Rômulo e Remo foram expulsos antes de fundarem Roma; e construiu-se uma dinastia obscura e, mesmo para os padrões romanos, flagrantemente ficcional de reis albanos, para cobrir o intervalo entre Ascânio e a data mágica de 753 a.C. É essa a versão que Lívio endossa.

A afirmação central da história de Eneias é a que faz eco, ou melhor, a que exagera o tema subjacente do asilo de Rômulo. Enquanto este acolhe todos os que chegam à sua nova cidade, a história de Eneias vai além, e afirma que os “romanos” na realidade eram originalmente “estrangeiros”. É um paradoxo na identidade nacional, que permanece em visível contraste com os mitos de fundação de muitas cidades gregas, como Atenas, que via sua população original como tendo brotado milagrosamente do próprio solo de sua terra natal. E há outras variantes do relato das origens de Roma que repetidamente enfatizam esse aspecto estrangeiro. Num episódio da Eneida, o herói visita o local da futura cidade de Roma e já a encontra ocupada por primitivos predecessores dos romanos. E quem são eles? São um grupo de colonizadores sob um certo rei Evandro, exilado da terra da Arcádia, no Peloponeso grego. A mensagem é clara: por mais longe que você vá, os habitantes de Roma serão sempre de algum outro lugar.

Essa mensagem é resumida de modo mais esclarecedor em uma estranha etimologia registrada por Dionísio, entre outros. Os intelectuais gregos e romanos eram fascinados por derivações de palavras, e tinham a convicção de que isso dava a chave, não só da origem da palavra, mas também do seu significado essencial. Às vezes estavam corretos em suas análises, mas também cometiam erros extravagantes, e com frequência reveladores, como neste caso. Dionísio, num ponto inicial de sua história, reflete sobre outro grupo de habitantes, ainda mais primitivos, do local que veio a se tornar Roma: os aborígenes. A derivação dessa palavra deveria ter sido de uma obviedade gritante: seria o povo que estivera ali “desde o início” (ab origine). Dionísio, para sermos justos, chega a levantar essa explicação como possibilidade, mas dá igual ou maior peso à noção improvável de que a palavra deriva não de origo, mas do latim errare (“vagar”), e que originalmente teria sido grafada como aberrigines. Conclui ele então que esse povo seria composto, em outras palavras, por “vagabundos sem moradia fixa”.

A ideia de que estudiosos antigos pudessem ficar cegos diante da etimologia obviamente correta que tinham bem à frente de seus olhos, em favor de uma ideia estapafúrdia de que aborígines derivava de “vagar”, lançando mão de uma tendenciosa ortografia alternativa, não reflete uma suposta obtusidade. Mostra apenas o quanto estava entranhada a ideia de que “Roma” sempre havia sido um conceito etnicamente fluido, e que os “romanos” sempre haviam estado em movimento.”

 

 

É sempre bom enfatizar que não há uma data independente certa para os materiais arqueológicos da Roma primordial ou para a área em torno dela, e que ainda se discute muito sobre a idade de quase todo grande achado. Foram consumidas décadas de trabalho ao longo do século XX — usando diagnósticos como a cerâmica feita com roda girante (supondo que é posterior à que é feita à mão), a presença ocasional nos túmulos de cerâmica grega (cuja datação é avaliada de maneira mais precisa, mas ainda não perfeitamente) e a cuidadosa comparação entre um sítio arqueológico e outro — para produzir um esboço de esquema cronológico cobrindo o período que vai de 1000 a 600 a.C.

Em termos básicos, os enterros mais antigos no Fórum devem ter ocorrido por volta de 1000 a.C., as cabanas no Palatino são de cerca de 750-700 a.C. (um número que tem o fascínio de estar bem próximo a 753 a.C., como muitos observaram). Mas mesmo essas datas estão longe de serem seguras. Métodos científicos recentes — como a “datação por radiocarbono”, que calcula a idade de qualquer material orgânico medindo a quantidade residual de seus isótopos de carbono radiativo — têm sugerido que são todas “jovens” demais, em até cem anos. Para a cabana de Fidenae, por exemplo, definiu-se uma datação por volta de meados do século VIII a.C., segundo critérios arqueológicos tradicionais. Mas isso é jogado para até o final do século IX a.C., quando nos baseamos no radiocarbono. Atualmente, as datações estão se deslocando, mais ainda que o usual; com isso Roma parece estar ficando cada vez mais velha.

Incontestavelmente, por volta do século VI a.C. Roma era uma comunidade urbana, com um centro e alguns edifícios públicos. Antes disso, para as fases mais antigas, temos suficientes achados esparsos relativos ao período central da Idade do Bronze (entre cerca de 1700 e 1300 a.C.) para sugerir que algumas pessoas moravam no local, em vez de simplesmente “passarem por ali”. Quanto ao período intermediário, podemos ter relativa certeza de que vilas maiores se desenvolveram, provavelmente (a julgar pelo que ficou nos túmulos) com um grupo cada vez mais rico de famílias da elite; e que em algum momento estas se uniram em uma única comunidade cujo caráter urbano ficou claro por volta do século VI a.C. Não temos como saber ao certo quando os habitantes desses assentamentos esparsos passaram a se ver como uma única cidade. E não temos a menor ideia de quando foi que começaram a chamar essa cidade de Roma.”

 

 

“Muito da tradição que chegou a nós, longe de ser a realidade, é uma fascinante projeção mítica sobre o passado distante de algumas prioridades e preocupações romanas.”

 

 

Foi em algum ponto desse período crucial entre 500 a.C. e 300 a.C., entre o fim dos Tarquínios e o tempo de vida de Cipião “Barba Longa”, que muitas das instituições características de Roma ganharam forma. Os romanos não só definiram os princípios básicos da política e das liberdades romanas, mas também começaram a desenvolver as estruturas, os pressupostos e (para evitar termos grandiosos) uma “maneira de fazer as coisas” que desse sustentação à sua posterior expansão imperial. Isso envolveu uma formulação revolucionária do que era ser romano, que definiu as ideias de cidadania por séculos, colocou Roma à parte de todas as demais cidades-Estado clássicas e acabou dando forma a muitas visões modernas dos direitos e das responsabilidades do cidadão. Não foi à toa que tanto lorde Palmerston como John F. Kennedy orgulhosamente adotaram a expressão latina Civis Romanus sum (“Sou um cidadão romano”) como slogan para suas épocas. Em resumo, Roma pela primeira vez começou a parecer “romana” como a entendemos hoje, e como eles mesmos a entendiam. A grande questão é, como isso aconteceu, quando e por quê? E que evidência sobrevive que ajude a explicar, ou mesmo descrever, o grande salto adiante de Roma? A cronologia permanece obscura, e é absolutamente impossível reconstruir uma narrativa histórica confiável. Mas podemos ter um vislumbre de algumas mudanças fundamentais tanto domésticas quanto exteriores.

Escritores romanos posteriores apresentaram um relato claro e substancial dos séculos V e IV a.C. Por um lado, abordaram uma série de violentos conflitos sociais dentro da própria Roma: entre um grupo hereditário de famílias “patrícias”, que monopolizavam todo o poder político e religioso na cidade, e a massa dos cidadãos, ou “plebeus”, que eram completamente excluídos. Aos poucos — numa história vívida que envolve greves, motins e uma tentativa de estupro —, os plebeus conquistaram o direito ou, como eles teriam expressado, a liberdade de partilhar poder em termos mais ou menos igualitários com os patrícios. Por outro lado, participaram de uma série de importantes vitórias militares que puseram a maior parte da península Itálica sob o controle romano. Elas começaram em 396 a.C., quando a grande rival local de Roma, a cidade etrusca de Veii, caiu após décadas de lutas, e terminaram cerca de cem anos depois, quando a vitória contra os samnitas fez de Roma a maior base de poder na Itália, chamando a atenção de Duris em Samos. Não que essa fosse uma história de expansão sem desafios. Logo após a derrota de Veii, em 390 a.C., um bando de “gauleses” errantes saqueou Roma. Exatamente quem eram eles é agora impossível saber; os escritores romanos não eram bons em fazer distinções e preferiam colocar todos no mesmo saco, como “tribos bárbaras” do norte, e tampouco tinham interesse em analisar quais seriam suas motivações. Mas, segundo Lívio, os efeitos nesse caso foram tão devastadores que a cidade teve que ser refundada (mais uma vez), sob a liderança de Marco Fúrio Camilo [Marcus Furius Camillus] — líder guerreiro, ditador, “coronel”, por um tempo exilado e um “segundo Rômulo”.

Essa narrativa é baseada em alicerces mais firmes do que qualquer outra antes dela. É possível identificar que, mesmo em 300 a.C., a mais antiga literatura romana estava ainda a décadas de distância, e os relatos posteriores que deram atenção a esse período são carregados de mitos, retoques e fantasia. Camilo provavelmente não é muito menos ficcional do que Rômulo, e já vimos como as palavras de Catilina foram usadas para “ventriloquizar” os discursos de um antigo revolucionário republicano. No entanto, o fim desse período fica à margem da história e da escrita da história como a conhecemos, bem além de um simples epitáfio de quatro linhas. Isto é, quando o bem relacionado senador Fábio Pictor, nascido por volta de 270 a.C., sentou para compor o primeiro relato escrito extenso sobre o passado de Roma, ele deve ter lembrado de conversas de sua juventude com pessoas que estavam presentes nos eventos no final do século IV a.C., ou que haviam tido contato com homens da geração de Barbato que os haviam testemunhado. A História de Pictor não sobreviveu, a não ser por umas poucas citações em escritores posteriores, mas era famosa no mundo antigo. Seu nome e uma breve sinopse de seu trabalho foram encontrados pintados nas paredes de uma das poucas bibliotecas antigas já desenterradas, em Taormina, na Sicília. Dois mil anos depois, podemos ler Lívio, que havia lido Pictor, que havia conversado com pessoas que lembravam de como era o mundo em 300 a.C. — uma frágil cadeia de conexões que mergulha na Antiguidade.”

 

 

Duas questões são claras e questionam um par de mitos modernos enganosos a respeito do poder e do “caráter” romano. Primeiro, os romanos não eram por natureza mais beligerantes do que seus vizinhos e contemporâneos, não mais do que se mostravam naturalmente melhores em construir estradas e pontes. É verdade que a cultura romana prestava um valor muito alto — para nós, incomodamente alto — ao sucesso num combate. Perícia, bravura e violência mortal em batalha eram celebradas repetidamente, não só as do general vitorioso desfilando pelas ruas sob aclamação da multidão em sua triunfal procissão, mas as dos soldados rasos mostrando suas cicatrizes de batalha no meio de discussões políticas, na expectativa de com isso acrescentar peso aos argumentos. Em meados do século IV a.C., a base da plataforma principal dos oradores no Fórum era decorada com aríetes de bronze de navios de guerra inimigos capturados da cidade de Âncio durante a Guerra Latina, simbolizando a base militar do poder político romano. A palavra latina para “aríete”, rostra, tornou-se o nome da plataforma e resultou na palavra do português moderno “rostro”.

No entanto, seria ingênuo imaginar que os outros povos na Itália fossem diferentes. Tratava-se de grupos muito disparatados, e muito mais variados — na língua, cultura e organização política — do que o vocábulo “italianos” implica. Mas julgando a partir do pouco, comparativamente, que sabemos da maioria deles, do equipamento militar encontrado em seus túmulos, das referências de passagem presentes na literatura, dos seus espólios, de suas guerras e atrocidades, eram tão comprometidos com o militarismo quanto os romanos e provavelmente tinham a mesma ambição de lucro. Tratava-se de um mundo de violência endêmica, onde as escaramuças com vizinhos eram eventos anuais, a pilhagem era uma fonte de renda significativa para todos e a maior parte das questões se resolvia pela força. A ambivalência da palavra latina hostis capta muito bem o limite nebuloso entre o “estrangeiro” e o “inimigo” (a mesma palavra em latim, significativamente, pode significar as duas coisas). O mesmo acontece com a expressão latina padrão para “no país e no exterior” — domi militiaeque — na qual “exterior” (militiae) não se distingue de “em campanha militar”. A maioria dos povos da península sem dúvida partilhava essa ambiguidade. Estar fora da própria casa era sempre estar (potencialmente) em guerra.

Segundo, os romanos não planejaram conquistar e controlar a Itália. Não houve nenhum conspirador no século IV a.C. sentado com um mapa delimitando um trecho da maneira territorialista que associamos a Estados-nação imperialistas nos séculos XIX e XX. Para começar, simples como possa soar, eles não tinham mapas. O que implica o mistério de como eles concebiam o mundo ao seu redor. Tenho tentado escrever sobre a difusão do poder de Roma pela península Itálica, mas ninguém sabe quantos — ou, de modo mais realista, quão poucos — romanos naquele tempo pensavam em sua terra natal como parte de uma península do jeito que nós fazemos. Uma versão rudimentar dessa ideia está talvez implícita em referências na literatura do século II a.C. ao Adriático como Mar Superior e ao Tirreno como Mar Inferior, mas é notável que isso esteja na orientação norte-sul, enquanto a nossa é leste-oeste.

Os romanos viam sua expansão mais em termos de relações mutáveis com outros povos do que em termos de controle de território. É claro, o crescente poder de Roma de fato transformou radicalmente a paisagem da Itália. Pouca coisa havia que fosse mais transformadora do que uma nova estrada romana atravessando campos ermos, ou terras sendo anexadas e divididas entre novos colonos. Continua a ser adequado medir o poder romano na Itália em termos de espaço geográfico. No entanto, o domínio romano era primariamente sobre povos e não sobre lugares. Como Lívio bem observou, as relações que os romanos formaram com aqueles povos foram a chave para a dinâmica da expansão romana em seus primórdios.

Os romanos impunham uma obrigação a todos que ficavam sob seu controle: fornecer soldados para seus exércitos. De fato, para a maioria daqueles que foram derrotados por Roma e forçados ou acolhidos em alguma forma de “aliança”, a única obrigação de longo prazo parece ter sido o fornecimento e a manutenção de soldados. Esses povos não foram tomados por Roma sob nenhuma outra maneira; não havia forças de ocupação romanas ou qualquer tipo de governo imposto por eles. Por que essa forma de controle foi a escolhida é impossível saber. Mas é improvável que estivesse em jogo algum cálculo estratégico particularmente sofisticado. Era uma imposição que demonstrava de modo conveniente o domínio romano e ao mesmo tempo exigia poucas estruturas administrativas ou efetivo adicional para gerenciar. Os soldados com os quais os aliados contribuíam eram recrutados, equipados e em parte comandados por gente local. A taxação sob qualquer outra forma teria sido muito mais trabalhosa; o controle direto daqueles que haviam sido derrotados, mais ainda.

Os resultados podem não ter sido intencionais, mas foram inovadores. Pois esse sistema de aliança se tornou um mecanismo efetivo para converter os inimigos derrotados de Roma em parte de sua crescente máquina militar; e ao mesmo tempo deu àqueles aliados uma participação no empreendimento romano, graças ao botim e à glória que eram partilhados em caso de vitória. Depois que o sucesso militar dos romanos teve início, eles conseguiram torná-lo autossustentável de uma maneira que nenhuma outra cidade antiga jamais conseguiu de modo sistemático. Pois o fator mais significativo por trás da vitória nesse período não era a tática, o equipamento, o talento ou a motivação. Era quantos homens você podia colocar em combate. Por volta do século IV a.C., os romanos tinham provavelmente não muito menos do que meio milhão de soldados disponíveis (compare com os 50 mil soldados ou perto disso sob Alexandre em suas campanhas no Oriente, ou talvez 100 mil quando os persas invadiram a Grécia em 481 a.C.). Isso os tornava praticamente invencíveis na Itália: podiam perder uma batalha, mas não uma guerra. Ou, como um poeta romano escreveu na década de 130 a.C.: “O povo romano tem sido derrotado com frequência pela força e superado em muitas batalhas, mas nunca numa guerra de verdade da qual tudo depende”.

Havia, porém, outras implicações de longo alcance na maneira pela qual os romanos definiram suas relações com outros povos da Itália. Os “aliados” que estavam comprometidos unicamente a fornecer efetivo eram os mais numerosos, mas constituíam apenas uma das categorias. Os romanos estenderam sua cidadania a algumas comunidades de amplas áreas do centro da Itália. Às vezes, isso envolvia plenos direitos de cidadania e privilégios, incluindo o direito de voto ou de concorrer a eleições romanas, embora continuando ainda a ser cidadão de outra cidade. Em outros casos, eles ofereciam uma forma mais limitada de direitos que passaram a ser conhecidos (autoexplicativamente) como “cidadania sem voto”, ou civitas sine suffragio. Havia também pessoas que viviam em territórios conquistados, em assentamentos conhecidos como colônias (coloniae). Estas não tinham nada a ver com as colônias no sentido moderno do termo, mas eram cidades novas (ou expandidas), geralmente compostas por uma mistura de habitantes locais e colonizadores de Roma. Alguns poucos tinham status de cidadania romana plena. A maioria tinha o que se conhecia como direitos latinos. Não se tratava de cidadania como tal, mas de um pacote de direitos que se acreditava ser compartilhado desde tempos imemoriais pelas cidades latinas, mais tarde definidos formalmente como intercasamentos com romanos, direitos mútuos para a realização de contratos, trânsito livre e assim por diante. Era algo a meio caminho entre ter cidadania plena e ser um estrangeiro, ou hostis.

Como foi que esse complicado mosaico de status se originou é mais uma vez difícil saber. Os escritores romanos do século I a.C., no que foram seguidos pelos modernos estudiosos das leis, tenderam a tratá-lo como parte de um sistema altamente técnico, cuidadosamente ajustado, de direitos civis e responsabilidades. Mas isso é provavelmente fruto de uma racionalização jurídica posterior. É inconcebível que homens do século IV a.C. tenham se sentado para debater as implicações precisas da civitas sine suffragio ou os privilégios exatos que estavam associados a quem pertencesse a uma colônia “latina”. Muito mais provável é que estivessem improvisando suas novas relações com diferentes povos no mundo exterior usando, e ajustando, as rudimentares categorias de cidadania e de etnicidade que já tinham.

As implicações, porém, foram, novamente, revolucionárias. Ao estender a cidadania a pessoas que não tinham conexões territoriais diretas com a cidade de Roma, eles romperam o vínculo que a maioria das pessoas no mundo clássico admitia como certo entre cidadania e alguma cidade específica. De uma maneira sistemática que depois não encontrou paralelo, eles permitiram não apenas tornar-se romano, mas também ser um cidadão de dois lugares ao mesmo tempo: da sua cidade natal e de Roma. E ao criarem novas colônias latinas por toda a Itália, redefiniram o termo “latino”, que deixou de ser uma identidade étnica e passou a ser um status político sem relação com raça ou geografia. Isso preparou o terreno para um modelo de cidadania e de “pertencimento” que teve enorme importância para as ideias romanas de governo, direitos políticos, etnicidade e “nacionalidade”. Esse modelo foi logo estendido ao exterior e acabou sustentando o Império Romano.”

 

 

Causas e explicações

Não há um símbolo mais vívido da mudança no relacionamento de Roma com o mundo exterior no início do século IV a.C. do que o grande muro erigido em volta da cidade nos anos posteriores à partida dos gauleses, com um perímetro de onze quilômetros e em alguns lugares com até quatro metros de espessura. Foi ao mesmo tempo um projeto de construção mastodôntico (mais de 5 milhões de homens/hora para o trabalho de construção, segundo uma estimativa) e um ostentoso símbolo da proeminência de Roma e de seu lugar no mundo. Não há dúvida, concordam historiadores, tanto antigos quanto modernos, de que foi por volta dessa época que começou a expansão militar romana para fora de sua vizinhança imediata. E tampouco há qualquer dúvida de que a expansão, depois de iniciada, foi sustentada pelos recursos de efetivo que vieram das alianças que se seguiram às vitórias.

Mas o que causou a mudança em primeiro lugar é uma questão complicada. O que será que aconteceu no começo do século IV a.C. para iniciar essa nova fase na atividade militar romana? Nenhum escritor antigo arrisca uma resposta, além da implausível ideia de que a semente da dominação mundial havia de algum modo sido plantada. Talvez a invasão dos gauleses tivesse produzido nos romanos a determinação de não serem pegos de novo dessa forma, de passarem à ofensiva em vez de se verem forçados a se defender. Talvez apenas um par de vitórias com sorte nas endêmicas lutas da região, seguidas por outro par de alianças e pelo efetivo adicional que elas trouxeram, tenha disparado o processo de expansão. Seja qual for o caso, parece provável que as radicais mudanças na política doméstica desempenharam seu papel.

Até aqui, na exploração desse período, mantive em grande parte a história interna de Roma separada da história de sua expansão. Isso contribuiu para obter uma narrativa mais clara, mas tende a obscurecer o impacto da política interna nas relações externas, e vice-versa. Por volta de 367 a.C., o Conflito das Ordens tinha feito algo mais significativo e de maior alcance do que simplesmente acabar com a discriminação política contra os plebeus. Havia efetivamente substituído uma classe governante definida por nascimento por outra definida por riqueza e realizações. É esse em parte o foco do epitáfio de Barbato: embora a família de Cipião fosse patrícia, o que conta aqui são os cargos que ele deteve, as qualidades pessoais que demonstrou e as batalhas que venceu. Nenhuma realização era mais demonstrável ou mais celebrada do que a vitória em batalha, e o desejo de vitória em meio à nova elite era quase certamente um fator importante para a intensificação da atividade militar e o incentivo à guerra.

Do mesmo modo, foi o poder sobre povos cada vez mais distantes e as exigências de um Exército conquistador que impulsionaram muitas das inovações que revolucionaram a vida em Roma. Um exemplo importante disso é a cunhagem. Desde cedo em sua história, a cidade teve um sistema-padrão de determinar o valor monetário pelo peso do metal; isso está evidente nas Doze Tábuas, que atribuem penas em unidades de bronze. Mas não houve cunhagem como tal até o final do século IV a.C., quando as moedas “romanas” foram cunhadas pela primeira vez, no sul da Itália, provavelmente para pagar atividades bélicas ou construção de estradas.

Em termos mais gerais, se fôssemos perguntar o que transformou o mundo relativamente simples das Doze Tábuas no mundo complexo do ano 300 a.C., o fator mais influente teria sido o porte da dominação romana e as demandas organizacionais de lutar em grande escala. A simples logística de transporte, suprimentos e equipamento necessária para montar uma campanha com 16 mil romanos (para usar a estimativa de Lívio), mais os aliados, demandava uma infraestrutura impensável em meados do século V a.C. Embora eu tenha tentado evitar termos modernizantes como “aliança” e “tratado” ao me referir à atividade romana no século V a.C., a rede de conexões romanas ao longo da península e as diferentes definições das relações de Roma com as diversas comunidades por volta do final do século seguinte tornam esses termos bem menos inadequados. A expansão militar impulsionou a sofisticação romana.”

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