Editora: Instituto Ludwig Von Mises Brasil
ISBN: 978-85-6281-614-7
Opinião: ★☆☆☆☆
Páginas: 88
Sinopse: O
capitalismo elevou o padrão de vida no mundo a um nível sem precedentes. Por
que motivo, então, tantos são contra esse sistema?
Ludwig von Mises, renomado economista liberal, analisa
aqui, de modo incisivo, as causas e consequências dessa tendência
anticapitalista.
O que faz com que muitos se sintam infelizes sob o regime
capitalista, diz o professor Mises, é precisamente o fato de o capitalismo
garantir a todos a oportunidade de obter os cargos mais almejados. Nesse tipo
de sociedade, o homem que não viu suas ambições totalmente satisfeitas procura
um bode expiatório que possa ser responsabilizado por suas próprias falhas.
O professor Mises examina criticamente os sentimentos
anticapitalistas dos intelectuais, escritores e artistas, e põe em evidência
suas falácias e equívocos. Esse livro incitante deve ser lido por todos os que
se interessam pela liberdade individual e por uma economia sã.
“Muitas pessoas e especialmente os
intelectuais repelem o capitalismo com veemência. Na sua maneira de ver, esta
horrível forma de organização econômica da sociedade só trouxe desordem e
miséria. Outrora, os homens eram felizes e prósperos, nos bons velhos tempos
que antecederam a Revolução Industrial. Hoje, sob o capitalismo, o que
predomina são os pobres famintos cruelmente explorados por grosseiros
individualistas. Para estes patifes, a única coisa que conta é ganhar dinheiro.
Não produzem coisas boas e realmente úteis, mas apenas o que proporciona altos
lucros. Envenenam os corpos das pessoas com bebidas alcoólicas e fumo, suas
almas e mentes com histórias em quadrinhos, livros lascivos e filmes tolos. A
“superestrutura ideológica” do capitalismo é a literatura da decadência e da
degradação, o show burlesco e a arte do strip-tease, os filmes de Hollywood e
as histórias de detetive.
O preconceito e o fanatismo da opinião
pública se manifestam com mais clareza pelo fato de ela vincular o adjetivo
“capitalista” exclusivamente às coisas abomináveis, e nunca àquelas que todos
aprovam. Como poderia o capitalismo gerar coisas boas? Tudo o que tem valor foi
produzido apesar do capitalismo, mas as coisas ruins são excrescências do
capitalismo.”
“A característica essencial do capitalismo
moderno é a produção em massa de mercadorias destinadas ao consumo pelo povo. O
resultado é a tendência para uma contínua melhoria no padrão médio de vida, o
enriquecimento progressivo de muitos. O capitalismo desproletariza o “homem
comum” e o eleva à posição de “burguês”.
No mercado de uma sociedade capitalista, o
homem comum é o consumidor soberano, aquele que, ao comprar ou ao se abster de
comprar, determina em última análise o que deve ser produzido e em que
quantidade. As lojas e fábricas que suprem exclusiva ou predominantemente os
pedidos dos cidadãos mais abastados em relação a artigos de luxo exercem apenas
um papel secundário no cenário econômico do mercado. Elas nunca atingem a
dimensão da grande empresa. As grandes empresas servem sempre — direta ou
indiretamente — às massas.
É esta ascensão das multidões que caracteriza
a radical mudança social efetuada pela “Revolução Industrial”. Os
desfavorecidos que em todas as épocas precedentes da história formavam os
bandos de escravos e servos, de indigentes e pedintes, transformaram-se no
público comprador por cuja preferência os homens de negócios lutam. Tornaram-se
os clientes que estão “sempre com a razão”, os patrões que têm o poder de
tornar ricos os fornecedores pobres, e pobres os fornecedores ricos.
Na estrutura de uma economia de mercado não
sabotada pelas panaceias dos governos e dos políticos, não existem grandes nem
nobres mantendo a ralé submissa, coletando tributos e impostos, banqueteando-se
suntuosamente enquanto os servos devem contentar-se com as migalhas. O sistema
de lucro torna prósperos aqueles que foram bem-sucedidos em atender as
necessidades das pessoas, da maneira melhor e mais barata possível. A riqueza
somente pode ser conseguida pelo atendimento ao consumidor. Os capitalistas
perdem suas reservas monetárias se deixarem de investir no tipo de produção que
melhor satisfaz as solicitações do público, no plebiscito diário e contínuo no
qual cada centavo dá direito a um voto, os consumidores determinam quem deve
possuir e fazer funcionar as fábricas, lojas e fazendas. O controle dos meios
materiais de produção é uma função social, sujeita à confirmação ou à revogação
pelos consumidores soberanos.
O conceito moderno de liberdade é isto. Todo
adulto é livre para moldar sua vida de acordo com seus próprios planos, não é
forçado a viver de acordo com o projeto de uma autoridade planejadora que impõe
seu único esquema através da polícia, isto é, o aparato social de compulsão e
coação. O que restringe a liberdade do indivíduo não é a violência ou a ameaça
de violência de outrem, mas a estrutura fisiológica de seu corpo e a inevitável
escassez natural dos fatores de produção. É óbvio que o critério do homem para
moldar seu destino jamais poderá ultrapassar os limites estabelecidos pelas
chamadas leis da natureza.”
“A principal característica do homem é de ele
nunca desistir de aumentar seu bem-estar através de atividades intencionais.”
“Ora, nunca se contestou que, no capitalismo
sem obstáculos, saem-se melhor aqueles que, do ponto de vista dos padrões de
valores eternos, devem ser os preferidos. O que a democracia capitalista de
mercado faz não é premiar as pessoas de acordo com seus “verdadeiros” méritos,
valor próprio e dignidade moral. O que torna um homem mais ou menos próspero
não é a avaliação de sua contribuição a partir de um princípio “absoluto” de
justiça, mas a avaliação por parte de seus semelhantes, que aplicarão somente o
critério de suas necessidades, desejos e objetivos pessoais. O sistema democrático
de mercado é exatamente isto. Os consumidores são supremos — isto é, soberanos.
Desejam ser satisfeitos.”
“No regime capitalista a coisa é outra. A
situação de vida de cada um depende de seus próprios feitos. Quem não tiver
suas ambições plenamente satisfeitas sabe muito bem que deixou escapar as
oportunidades, que foi testado e considerado inapto por seus semelhantes.
A tão falada dureza do capitalismo consiste
no fato de ele tratar cada um de acordo com a contribuição que este oferece ao
bem-estar do seu semelhante. A força do princípio a cada um de acordo com seus
feitos não dá margem a escusar falhas pessoais. O indivíduo sabe muito bem que
existem pessoas iguais a ele que obtiveram sucesso onde ele falhou. Sabe que
muitos daqueles que inveja são pessoas que se fizeram pelo próprio esforço e
que partiram do mesmo ponto onde ele começou. E, muito pior, sabe que os outros
também sabem disso. Ele vê nos olhos da mulher e dós filhos a reprovação
silenciosa: “Por que você não foi mais esperto?” Ele vê como as pessoas admiram
quem obteve mais sucesso do que ele e como contemplam com desprezo ou com
piedade o seu fracasso.”
“Geralmente o homem comum não tem ocasião de
conviver com pessoas que tenham tido mais êxito do que ele. Convive com outros
homens comuns. Jamais se encontra, na vida social, com o seu chefe, nunca
aprende por experiência própria quão diferentes são um empresário ou um
executivo com respeito às habilidades e competência necessárias para um
atendimento eficaz dos consumidores. Sua inveja e consequente ressentimento não
estão voltados contra um ser vivo de carne e osso, mas contra pálidas
abstrações como “administração”, “capital” e “Wall Street”. É impossível
detestar tais fantasmas, com sentimentos tão amargos quanto se pode ter contra um
semelhante a quem se encontre diariamente.”
“O acesso à sociedade europeia está aberto a
quem se distingue em algum domínio. Talvez seja mais fácil para as pessoas de
ascendência nobre e com muito dinheiro do que para os plebeus com modestos
rendimentos. Mas nem os bens nem os títulos podem dar a um membro desse meio a
posição e o prestigio que é a recompensa da grande distinção pessoal. As
estrelas dos salões parisienses não são os milionários mas os membros da
Academia Francesa. Os intelectuais predominam e os outros no mínimo simulam um
vivo interesse por assuntos intelectuais.
Esse significado de sociedade é estranho ao
cenário norte-americano. O que se chama “sociedade” nos Estados Unidos consiste
quase exclusivamente nas famílias mais ricas. Existe pouca relação entre os
homens de negócio bem-sucedidos e os autores, artistas e cientistas famosos do
país. Os que constam do rol do Registro Social não se reúnem socialmente com os
formadores da opinião pública e com os precursores das ideias que determinarão
o futuro da nação. A maioria das pessoas da alta sociedade não está interessada
em livros ou ideias. Quando se encontram e não jogam cartas, bisbilhotam sobre
as pessoas e discutem mais sobre esportes do que sobre assuntos culturais. Mas
mesmo os que não são avessos à leitura consideram os escritores, cientistas e
artistas como gente com a qual não desejam conviver. Há um abismo, quase
insuperável, separando a “sociedade” dos intelectuais.
É possível explicar o aparecimento desta
situação historicamente. Mas tal explicação não altera os fatos. Não irá
remover nem aliviar o ressentimento com que os intelectuais reagem ao desprezo
que recebem dos membros da “sociedade”. Os autores ou cientistas americanos
costumam considerar o abastado homem de negócios como um bárbaro, como homem
exclusivamente concentrado em ganhar dinheiro. O professor menospreza os alunos
que estão mais interessados no time de futebol da universidade do que no seu
rendimento acadêmico. Sente-se insultado ao saber que o técnico esportivo
recebe salário superior ao de um eminente professor de filosofia. Os
pesquisadores, que descobrem novos métodos de produção, odeiam os homens de
negócio que só estão interessados no valor monetário do seu trabalho de
pesquisa. É muito significativo que um grande número de físicos
norte-americanos dedicados à pesquisa sejam simpatizantes do socialismo ou do
comunismo. Como não entendem de economia e percebem que os professores de
economia também se opõem ao que eles chamam injuriosamente de sistema de lucro,
não é de estranhar que tenham tal atitude.”
“A coisa mais impressionante com relação à
mudança sem precedentes das condições universais proporcionadas pelo
capitalismo é o fato de ele ter sido realizado por um pequeno número de autores
e por uma quantidade pouco maior de homens de estado que assimilaram os
ensinamentos desses autores. Não apenas as massas indolentes mas também a
maioria dos homens de negócios que, por meio do seu comércio, tornaram
eficientes os princípios do laissez-faire não conseguiram compreender as formas
essenciais como agem esses princípios. Mesmo no apogeu do liberalismo, somente
alguns tiveram conhecimento integral do funcionamento da economia de mercado. A
civilização ocidental adotou o capitalismo por recomendação de uma pequena
elite.”
“O que distingue as condições industriais
modernas nos países capitalistas das condições das eras pré-capitalistas assim
como das que existem hoje nos países chamados subdesenvolvidos é o volume de
oferta de capital. Nenhum progresso tecnológico funciona se o capital
necessário não for previamente acumulado por poupança.
Poupar, acumular capital é a atividade que
transformou, passo a passo, a complicada procura de alimento pelo homem das
cavernas em formas modernas da indústria. Os arautos dessa evolução foram as
ideias que criaram a estrutura institucional no interior da qual a acumulação
de capital foi preservada através do princípio da propriedade privada dos meios
de produção. Cada passada em direção à prosperidade é efeito da poupança. Os
mais engenhosos inventos tecnológicos seriam praticamente inúteis se os bens de
capital indispensáveis ao seu uso não fossem acumulados pela poupança.
Os empresários empregam os bens de capital
tornados disponíveis pelos poupadores para a satisfação mais econômica das
necessidades mais urgentes dentre as necessidades ainda não satisfeitas dos
consumidores. Junto com os tecnólogos, na busca de aperfeiçoar os métodos de
processamento, os empresários, próximos aos poupadores, desempenham papel ativo
no curso dos acontecimentos, o que é chamado de progresso econômico. O resto da
humanidade aproveita das atividades dessas três classes de pioneiros. Mas,
quaisquer que sejam suas ações, eles apenas se beneficiam das mudanças para as
quais nada contribuíram.
O aspecto principal da economia de mercado
está no fato de ela distribuir a maior parte das melhorias conseguidas pelos
esforços das três classes progressistas — os que poupam, os que investem em
bens de capital e os que elaboram novos métodos para a aplicação dos bens de
capital — à maioria das pessoas não progressistas. A acumulação de capital que
ultrapassa o aumento da população, por um lado, eleva a produtividade marginal
do trabalho e, por outro, barateia os produtos. O processo do mercado oferece
ao homem comum a oportunidade de colher os frutos fornecidos pelos feitos de
outras pessoas. Ele força as três classes progressistas a servir da melhor
maneira possível à maioria não progressista.
Todos têm a liberdade de se juntarem às
fileiras das três classes progressistas da sociedade capitalista. Elas não são
castas fechadas. Ser membro delas não é privilégio concedido ao indivíduo por
uma autoridade maior ou privilégio herdado de um antepassado. Também não são
clubes, e seus membros não têm o direito de impedir a entrada de nenhum
recém-chegado. O indispensável para tornar-se capitalista, empresário ou
projetista de novos métodos tecnológicos é ter inteligência e força de vontade.
O herdeiro de um milionário goza de certa vantagem pois começa em condições
mais favoráveis que outros. Mas sua tarefa na disputa pelo mercado não é fácil
e pode, às vezes, tornar-se mais cansativa e menos recompensadora do que a de
um recém-chegado. Ele tem de reorganizar sua herança de modo a ajustá-la às
mudanças das condições do mercado. Assim, por exemplo, os problemas que o herdeiro
de um “império” ferroviário teve de enfrentar, nas últimas décadas, foram
certamente mais complicados do que os encontrados por alguém que, vindo do
nada, tenha entrado no transporte rodoviário ou aéreo.”
“Ninguém sofre necessidade na economia de
mercado pelo fato de algumas pessoas serem ricas. As posses dos ricos não são a
causa da pobreza de ninguém. O processo que torna algumas pessoas ricas é, ao
contrário, o corolário do processo que aumenta a satisfação das necessidades de
muitos.”
“Literatura não é conformismo e sim
dissidência.”
“As pessoas não se esforçam e se afligem a
fim de obter a felicidade perfeita, mas a fim de eliminar ao máximo as
dificuldades que se apresentam e, assim, tornarem-se mais felizes do que eram
antes. O homem que compra um televisor deixa evidente o fato de que a posse
desse aparelho aumentará seu bem-estar e o tornará mais contente do que antes.
Caso contrário, ele não o teria comprado. A tarefa do médico não é a de tornar
o paciente feliz, mas sim de eliminar a dor e deixá-lo em melhor disposição
para que possa atingir o objetivo principal de todo ser, isto é, a luta contra
todos os fatores nocivos à sua vida e ao seu bem-estar.”
“A pobreza das nações atrasadas é devida ao
fato de que sua política de expropriação, taxação discriminatória e controle da
moeda estrangeira impede o investimento do capital estrangeiro, enquanto sua
política interna evita a acumulação do capital nativo.”
“A única fonte de geração de bens de capital
adicionais é a poupança. Se todos os bens produzidos são consumidos, nenhum
novo capital é gerado. Mas, se o consumo se situa abaixo da produção e o
excedente de bens recentemente produzidos sobre os consumidos é utilizado em
novos processos de produção, esses processos são a partir daí conduzidos com o
auxílio de mais bens de capital. Todos os bens de capital são bens
intermediários, etapas do percurso que vai desde o primeiro emprego dos fatores
originais de produção, isto é, dos recursos naturais e do trabalho humano, até
o acabamento final das mercadorias prontas para o consumo. Todos eles são
perecíveis. São, mais cedo ou mais tarde, gastos nos processos de produção. Se
todos os produtos são consumidos sem a reposição dos bens de capital que foram
utilizados em sua produção, o capital acaba. Se isto acontece, a nova produção
será provida por uma quantidade menor de bens de capital e irá, portanto,
apresentar um rendimento menor por unidade de recursos naturais e de trabalho
empregado. Para evitar este tipo de prejuízo e de perda de investimento,
deve-se aplicar uma parte do esforço produtivo na manutenção do capital, na
reposição dos bens de capital absorvidos na produção de bens utilizáveis.
O capital não é uma dádiva gratuita de Deus
ou da natureza. É o resultado de uma prudente restrição do consumo por parte do
homem. É criado e aumentado pela poupança e mantido pela abstenção dos gastos.
Nem o capital nem os bens de capital têm o
poder de elevar a produtividade dos recursos naturais e do trabalho humano.
Somente se os frutos da poupança forem adequadamente empregados ou investidos é
que poderão aumentar o rendimento do insumo dos recursos naturais e do
trabalho. Se isso não acontece, eles são dissipados ou perdidos.
A acumulação de novo capital, a manutenção do
capital previamente acumulado e a utilização do capital para aumentar a
produtividade do esforço humano são os frutos da atividade humana intencional.
Resultam da conduta de pessoas prósperas que poupam e se abstêm de gastar, isto
é, os capitalistas que ganham juros; e das pessoas que são bem-sucedidas ao
utilizar o capital disponível para a melhor satisfação possível das
necessidades dos consumidores, isto é, os empresários que ganham lucros.”
“Qual dos dois fatores, trabalho ou capital,
provocou o aumento da produtividade? Mas, se colocarmos a questão exatamente
dessa forma, a resposta será: o capital. O que faz com que o rendimento total
nos Estados Unidos de hoje seja mais elevado (por indivíduo da força de
trabalho empregada) do que o rendimento de épocas passadas ou do que o de
países economicamente atrasados — como, por exemplo, a China — é o fato de o
trabalhador norte-americano contemporâneo estar apoiado por uma quantidade
maior e melhor de ferramentas. Se os bens de capital (por operário) não fossem
mais abundantes do que eram há trezentos anos ou do que são hoje na China, o
rendimento (por operário) não seria mais elevado. O que é preciso para elevar,
na ausência de aumento do número de operários empregados, a quantidade total do
rendimento industrial da América é o investimento de capital adicional que só
pode ser acumulado através de nova poupança. A multiplicação da produtividade
da força de trabalho total é devida ao crédito que se der à poupança e ao
investimento.”
“O empregador não está fazendo um favor aos
seus empregados. Ele os contrata como um meio indispensável ao sucesso de seus
negócios, da mesma forma pela qual adquire matéria-prima e equipamento
industrial.”
“As civilizações da China, Japão, Índia e dos
países muçulmanos do oriente próximo não podem ser consideradas incultas pelo
simples fato de, tendo existido muito antes, não terem tido contato com as
formas de vida ocidental. Esses povos, há muitas centenas ou até mesmo milhares
de anos, realizaram feitos maravilhosos nas artes industriais, na arquitetura,
na literatura, na filosofia e no progresso das instituições educacionais.
Fundaram e organizaram poderosos impérios. Porém, mais tarde, seus esforços
diminuíram, suas culturas tornaram-se entorpecidas e inertes, e eles perderam a
capacidade de lidar adequadamente com problemas econômicos. Seus intelectuais e
artistas desapareceram. Seus artistas e autores copiaram cegamente modelos
tradicionais. Seus teólogos, filósofos e advogados entregaram-se a invariáveis
exposições de trabalhos antigos. Os monumentos erigidos por seus ancestrais
desmoronaram. Seus impérios ruíram. Seu povo perdeu o vigor e a energia e
tornou-se apático diante da decadência e do empobrecimento progressivos.
As antigas obras da filosofia e da poesia
oriental podem comparar-se às mais valiosas obras do ocidente. Mas durante
muitos séculos o oriente não produziu nenhum livro importante. A história
intelectual e literária da época moderna não registra o nome de um autor
oriental. O oriente deixou de contribuir para o esforço intelectual da
humanidade. Os problemas e as controvérsias que agitaram o ocidente
permaneceram desconhecidos do oriente. Na Europa, havia excitação; no oriente,
estagnação, indolência e indiferença.
O motivo é óbvio. Faltava ao oriente a coisa
principal, a ideia de liberdade do estado. O oriente jamais desfraldou o
estandarte da liberdade e nunca tentou enfatizar os direitos do indivíduo
contra o poder dos legisladores. Nunca levantou a questão da arbitrariedade dos
tiranos. Consequentemente, nunca constituiu a estrutura legal que protegeria a
riqueza particular do cidadão em relação ao confisco por parte dos déspotas. Ao
invés disso, iludidos pela ideia de que a fortuna dos ricos é o motivo da
miséria dos pobres, todos aprovaram as atitudes dos governantes que
desapropriaram os homens de negócios bem-sucedidos. Isso impediu a acumulação
de capital em larga escala e as nações deixaram de desfrutar dos progressos que
exigem considerável investimento de capital. Nenhuma “burguesia” pôde se
desenvolver e, consequentemente, não houve público para encorajar e patrocinar
autores, artistas e inventores. Aos jovens, todas as oportunidades de se
destacarem pessoalmente estavam confinadas, exceto uma. Podiam fazer carreira
servindo aos príncipes. A sociedade ocidental era uma comunidade de indivíduos
que podiam lutar pelos maiores prêmios. A sociedade oriental era um aglomerado
de vassalos totalmente dependentes das boas graças dos soberanos. A juventude
alerta do ocidente encara o mundo como um campo de ação no qual pode ganhar
fama, destaque, reputação e riqueza; nada parece difícil para a sua ambição. A
humilde prole dos pais orientais só sabe seguir a rotina de seu meio ambiente.
A nobre autoconfiança do homem ocidental encontrou uma expressão triunfante nos
ditirambos tais como o hino de Antígona na tragédia de Sófocles a respeito do
homem e de seu espírito de aventura e como a Nona Sinfonia de Beethoven. Nunca
se ouviu nada semelhante no oriente.
Será possível que os descendentes dos
construtores da civilização do homem branco devam renunciar à sua liberdade e
voluntariamente entregar-se à suserania de um governo onipotente? Que devam
procurar a alegria num sistema no qual sua única tarefa será a de servir como
uma peça a mais numa grande máquina projetada e manipulada por um planejador
todo-poderoso? Devem as mentalidades das civilizações reprimidas destruir os
ideais pelos quais milhares e milhares de seus antepassados sacrificaram a
vida?
Ruere in servitium, eles mergulharam na
escravidão, observou tristemente Tácito ao falar dos romanos da época de
Tibério.”
“A inútil arrogância dos escritores e dos
artistas boêmios considera as atividades dos homens de negócios como pouco
intelectuais e enriquecedoras. A verdade é que os empresários e os
organizadores de empresas comerciais demonstram maior capacidade intelectual e
intuitiva do que o escritor e o pintor médio. A inferioridade de muitos
intelectuais se manifesta exatamente no fato de eles não reconhecerem o quanto
de capacidade e raciocínio é necessário para desenvolver e fazer funcionar com
sucesso uma empresa comercial.
O surgimento de uma classe numerosa desses
frívolos intelectuais é um dos fenômenos menos desejáveis da era do capitalismo
moderno. Sua atividade importuna impede a discriminação das pessoas. São uma
praga. Seria desejável que algo fosse feito para refrear sua confusão ou,
melhor ainda, eliminar totalmente suas rodas e grupos sociais.”
“Um movimento “antiqualquer-coisa” demonstra
uma atitude puramente negativa. Não tem a menor chance de sucesso. Suas
críticas acerbas virtualmente promovem o programa que atacam. As pessoas devem
lutar por algo que desejam realizar e não simplesmente evitar um mal, por pior
que seja. Devem, sem quaisquer restrições, apoiar o programa da economia de
mercado.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário