Editora: Edições
70
ISBN:
978-97-2440-981-8
Opinião: ★☆☆☆☆
Tradução: Mário
Santiago de Carvalho
Páginas: 144
Sinopse: Este
tratado é considerado como o "canto do cisne" do Doutor Subtil, como
foi conhecido Duns Escoto. Escrito pelo franciscano inglês no fim da sua vida,
constitui, com efeito, uma síntese definitiva da sua teologia filosófica.
“Num cão a sabedoria não é melhor do que a
não sabedoria, porque nele não há bondade a contradizer.”
“Há algum mal nos seres, logo, o primeiro eficiente
causa contingentemente; e, por conseguinte, como antes. Prova da consequência:
o que age por necessidade de natureza age com toda a sua potência, e, portanto,
produz toda a perfeição possível de ser produzida por si mesmo. Logo, se o
primeiro, e em consequência do que se deduziu, todo outro agente, age
necessariamente, segue-se que toda a ordem de causas causará neste universo
tudo aquilo que é possível que elas causam nele. Logo, não lhe faltará nenhuma
perfeição que lhe possa ser dada por todas as causas agentes; logo, não lhe
faltará nenhuma capaz de receber, e portanto não haveria nele nenhuma maldade.
Estas consequências são evidentes: porque toda a perfeição receptível pelo
universo é causável por alguma ou por todas as causas ordenadas. A última
consequência é evidente pela noção de mal, e a prova conclui para o vício nos
costumes da mesma maneira que para a falha na natureza.
Dirás: “a matéria não obedece”. De nada
serve; um agente poderoso venceria a desobediência. Esta conclusão, prova-se,
de uma quinta maneira, porque ser vivo é melhor que tudo o que não vive, e
entre os seres vivos o inteligente é melhor do que tudo o que não é.
Porque eles supõem como evidente que o entender, o querer, a sabedoria e
o amor são perfeições absolutas.
Mas não se vê por que razão é que se pode
concluir que se trata de perfeições absolutas, mais do que a natureza do
primeiro anjo. Se de facto tomas “sabedoria” denominativamente, ela será melhor
do que todo o denominativo incompossível com ela, mas não provaste que o
primeiro é “sábio”. Digo que cais numa petição de princípio. Só podes concluir
que o “sábio” é melhor do que o “não sábio”, excluindo o primeiro. Deste modo o
primeiro anjo é melhor do que todo o ser tomado denominativamente,
incompossível com ele, à exceção de Deus. E o que é mais, a essência do
primeiro anjo, em abstrato, pode ser melhor do que a “sabedoria” em absoluto.
Dirás: “a essência do primeiro anjo repugna a
muitos; portanto não é melhor denominativamente para todos”. Respondo: nem
sequer a sabedoria é melhor para todos denominativamente; repugna a muitos.
Dirás: “seria melhor para todos se ela
pudesse inerir em todos; seria melhor para um cão se ele fosse sábio”.
Respondo: então, seria melhor para o primeiro anjo, se ele pudesse ser cão, e para
o cão seria melhor se pudesse ser o primeiro anjo. Dirás: “pelo contrário, isso
destruiria a natureza do cão, pelo que não seria bom para o cão”. Respondo:
também “ser sábio” destruiria a sua natureza. Não há diferença, a não ser que
“anjo” destrói como uma natureza do mesmo gênero e “sabedoria” como uma de um
outro gênero, mas incompossível, todavia, porque “sábio” determina para si
enquanto sujeito uma natureza do mesmo gênero que é incompossível; o que um
sujeito repugna primariamente, um atributo do sujeito repugna-o por si, apesar
de não primariamente. A maneira vulgar de falar sobre a perfeição absoluta
vacila bastantes vezes.”
“O primeiro eficiente é inteligente e dotado
de vontade”. (Aristóteles – Metafísica)
“Também se argumenta assim: o entendimento do
primeiro tem um ato adequado a si e coeterno, porque o seu entender é idêntico
a si. Logo, não pode ter outro. A consequência não vale: caso do argumento do
bem-aventurado que vê Deus e ao mesmo tempo vê outra coisa; ainda que veja Deus
no último grau da sua capacidade, tal como se pensa acerca da alma de Cristo,
pode todavia ver outra coisa. Mais se argumenta: por identidade aquele
entendimento tem em si a máxima perfeição de entender. Logo, tem também todas as
demais. Respondo: não se segue; porque outra perfeição, que fosse menor,
poderia ser causável e, portanto, distinguir-se da incausável; a máxima não o
pode.”
“Um efetivo absolutamente primeiro existe em
ato e uma natureza atualmente existente é efetiva dessa maneira.” (S. Anselmo –
Proslógio)
“Pode matizar-se o argumento de Anselmo
relativo ao sumamente pensável. Deve entender-se a sua descrição do modo
seguinte: “Deus é aquilo maior que o qual”, pensado sem contradição, “nada se
pode pensar” sem contradição.”
“O visível é mais perfeitamente cognoscível
que o não-visível, que é apenas abstratamente inteligível. Logo, o que é
perfeitissimamente cognoscível existe.”
“A brancura que dura um ano não é mais
perfeita do que a que dura um dia.”
“Senhor, nosso Deus! Muitas das tuas
perfeições, conhecidas pelos filósofos, podem os católicos concluir do que
ficou exposto. Tu és o primeiro eficiente. Tu és o último fim. Tu és supremo na
perfeição, tudo transcendes sem exceção. És totalmente incausado e por isso não
sujeito à geração e incorruptível, ou antes: é absolutamente impossível que não
sejas, visto que, em ti mesmo, és necessário. És, por conseguinte, eterno,
porque possuis simultaneamente a interminabilidade da duração sem qualquer
potência para a sucessão. Pois não pode haver sucessão salvo naquilo que é
continuamente causado ou que, pelo menos, depende de outro para ser,
dependência esta estranha ao ser que é em si mesmo necessário.
Tu vives uma vida nobilíssima, porque és
inteligente e querente. Tu és feliz, ou antes, és essencialmente a felicidade,
porque tu és a compreensão de ti próprio. És a clara visão de ti mesmo e amor
deleitabilíssimo. E embora sejas feliz em ti só, e sumamente te bastes a ti
mesmo, conheces todo o inteligível atual e simultaneamente. Tu podes querer
simultânea, contingente e livremente, e querendo-o podes causar tudo o que é
causável. O teu poder é assim verissimamente infinito.
Tu és incompreensível, sim, pois nem um ser
onisciente é finito e nenhum ser com potência infinita é finito, nem o supremo
se dá nos seres, nem o fim último é finito, nem o que existe por si e é
totalmente simples é finito.
Tu és o ápice da simplicidade, pois não tens
partes realmente distintas, e na tua essência não tens quaisquer realidades
realmente não idênticas. Em ti não há qualquer quantidade nem nenhum acidente.
E por isso não és acidentalmente mutável, tal como já mostrei que és imutável
em essência.
Só tu és simplesmente perfeito. Não és um
anjo perfeito nem um corpo, mas és um ser perfeito ao qual não falta nenhuma
entidade que possa pertencer a um ser. É impossível que todas as entidades se
encontrem formalmente num ser; podem, contudo, encontrar-se formal ou
eminentemente num ser, como se encontram em ti, Deus, que és o supremo dos seres,
ou melhor, o único infinito entre os seres.”
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