Editora: Leitura
ISBN: 978-85-7358-955-9
Opinião: ★★★☆☆
Páginas: 512
Sinopse: Com 500
páginas, o livro tem um enfoque tão simples como original para contar a
história das Copas do Mundo: é baseado na história dos homens que conseguiram a
maior conquista possível para um jogador de futebol.
Com o perfil de TODOS os campeões, mesmo daqueles que não
entraram em campo. Estão ali desde obscuros reservas do Uruguai de 1930, nomes
desconhecidos como Riolfo, Calvo e Melogno até Buffon, Pirlo e outros campeões
italianos de 2006. Todos eles com uma ficha completa, com o número de jogos e
gols na carreira e no Mundial.
Quem ganhou três Copas, mereceu três perfis. O garoto
Pelé de 1958, o caçado Pelé de 1962 e o grande Pelé de 1970. O Zagallo jogador
de 1958 e 1962 e o Zagallo técnico de 1970.
Além dos campeões, o livro tem o perfil do melhor jogador
e de destaques de cada Copa, o que permite a presença de gênios que não
ganharam, como Fausto dos Santos e Ferenc Puskas.
O capítulo final, para enfatizar o enfoque do livro em
heróis que o mundo venera, tem o depoimento de 28 campeões. Gente como Didi,
Parreira, Zagallo, Nílton Santos, Raí, Maspoli, Ghiggia e Schiaffino.
É um livro de pesquisador, mas também um livro de
reportagem.
O livro “Os donos do mundo” traz curiosidades
e belas histórias a respeito do maior torneio do esporte mais popular do mundo.
Aí vão as que compilei (as transcritas exatamente
como no livro estão entre aspas – algumas foram resumidas).
“Não é de hoje que os juízes são questionados.
Os “homens de preto” foram duramente criticados na competição de 1930, especialmente
pelos times europeus.
Para se ter uma ideia, o treinador da Seleção
Boliviana, Ulisses Saucedo, e o romeno Radulescu atuaram como árbitros no Mundial.
Mas isso não ocorreu, obviamente, em jogos da Bolívia e da Romênia. Saucedo causou
polêmica ao marcar três pênaltis na partida Argentina 6 X 3 México.
Radulescu atuou como bandeirinha em dois jogos.
Em um, na vitória da Argentina contra o México, o árbitro brasileiro Almeida Rego
foi a “estrela”, ao terminar a partida seis minutos antes do término regulamentar.”
“Quando a seleção da Copa de 1930 foi escolhida,
nada menos que sete jogadores do Uruguai foram escalados. E ninguém brilhou mais
do que o zagueiro Nasazzi, algo impensável se analisarmos que, na época, os times
tinham apenas dois defensores contra cinco atacantes. Mas chamar Nasazzi de um “simples
zagueiro” é um acinte; Nasazzi foi o antecessor do “jeito” Obdúlio Varela de jogar:
em campo, ele era dono do time e o primeiro caudilho do futebol. Não é à toa que
tinha os apelidos de “Marechal” ou “O terrível”.
Na época a figura do técnico não era importante,
e caudilhos como Nasazzi e diretores decidiam quem e como jogar.”
O italiano
Meazza, eleito craque da copa de 1934, ainda hoje é o artilheiro da série A do italiano
– e é considerado o maior craque da história deste país.
O time austríaco era a sensação da copa de 1934,
conhecido como Wunderteam (Time Maravilha), e havia goleado antes da copa
a Alemanha duas vezes (6 a 0 e 5 a 0), Suíça (6 a 0), Hungria (8 a 2) e Itália (4
a 2), mas, muito prejudicado pela arbitragem, acabou caindo diante da semifinal
contra a anfitriã Itália, num jogo onde a arbitragem foi muito polêmica.
Hitler anexou a Áustria a Alemanha e o craque
do time austríaco, Sindelar, se recusou a jogar pela Alemanha. Ele e a sua namorada,
Camila Castagnola, foram encontrados mortos no apartamento que dividiam em Viena,
envenenados por monóxido de carbono. Alguns especulam que as mortes foram ocasionadas
por oficiais nazistas; outros que, deprimido e pressionado, Sindelar se suicidou
após a anexação da Áustria ao Reich; e outros pensam que foi somente um defeito
numa chaminé.
Na copa de 1938 o Brasil tinha um ótimo time e
dois destaques, o estupendo zagueiro Domingos da Guia e o mago Leônidas da Silva,
artilheiro e eleito o craque da copa.
O Brasil foi a estrela do torneio, com jogos que
mais pareciam batalhas que não tinham fim. Foi assim contra a Polônia (6 a 5, apenas
na prorrogação), ou na primeira partida contra a Tchecoslováquia (houve duas partidas,
uma de desempate – os jogos não iam para os pênaltis depois da prorrogação), imortalizada
como a “Batalha de Bordeaux”, que rendeu três expulsões, além de dois jogadores
da Tchecoslováquia saírem de campo com ossos quebrados (o goleiro Planicka e o atacante
Nejedly, com fraturas no braço e na perna, respectivamente).
Na semifinal, sem Leônidas, machucado por conta
dos dois violentíssimos jogos contra a Tchecoslováquia, e com um pênalti desnecessário,
fora do lance da bola feito pelo próprio Domingos, o Brasil caiu no mundial para
a Itália.
“Leônidas – com uma presença de área devastadora
– encantou com sua arte e valentia, chegando a fazer um gol descalço contra a Polônia,
após perder a chuteira no gramado pesado e cheio de lama.
É o jogador brasileiro com melhor média de gols
em Copas: oito gols em cinco jogos, média de 1,6 gol por jogo.”
“Domingos da Guia era um zagueiro clássico, de
muita inteligência e que sempre dava o bote na hora certa. “Vou pelo atalho”, gostava
de brincar.
Era um zagueiro que roubava a bola do adversário
sem fazer faltas, tratava a bola com carinho, matando-a no peito e saindo para o
jogo, driblando, e sabia lançar.”
“Zizinho, Leônidas da Silva e Domingos da Guia
foram os três maiores nomes do futebol brasileiro antes de Pelé. Três mitos que
brilharam nas copas de 1938 e 1950. Os três ficaram sem o título mundial.”
“Eleito craque da copa de 1950, Zizinho começou
no Flamengo em 1939, e após o tricampeonato carioca (1942/1943/1944), tornou-se
o dono do time, mas foi misteriosamente negociado com o Bangu, sem ser consultado,
em 1950. O pequeno clube pagou uma fortuna por Zizinho e, depois de 10 anos seguidos,
329 jogos e 146 gols, Zizinho deixava o Flamengo, time que tanto amava. (...)
Mas em 1950 o craque da Copa viveu uma dor que
quase o matou. Ele simplesmente não conseguia acreditar na derrota. “O silêncio
do estádio não saía da minha cabeça. Você olhava para o lado e via as pessoas chorando,
não acreditando naquilo, e os uruguaios comemorando. Fiquei dias sem dormir, e quando
sonhava, tinha pesadelos com aquele jogo maldito”.
Mestre Ziza é considerado por muitos o maior meia
do futebol brasileiro de todos os tempos e sabe que faltou apenas um título mundial
para que coroasse uma carreira perfeita. Mas os deuses do futebol, infelizmente,
não lhe deram essa chance.
Azar dos deuses.”
“O gol de Ghiggia, selando a virada por 2 a 1,
é uma marca que ainda fica no futebol brasileiro. “Só eu, o Papa e Frank Sinatra
calamos o Maracanã”, disse, repetidas vezes.”
Campeão em 1950, o maior nome da história do futebol
uruguaio era um clássico número 5, Obdulio Varela, que comandava o time dentro e
fora do campo.
“Provavelmente o maior meia-esquerda da história,
superior mesmo a Diego Maradona, o húngaro Puskas – chamado de “Major Galopante”,
sua patente no exército – foi um jogador lendário.
Defendeu o Real Madrid de 1958 a 1966, marcando
157 gols em 182 partidas. Em campeonatos nacionais, ostenta a incrível marca de
515 gols em 533 partidas, sem contar os 84 gols em 85 jogos pela seleção da Hungria.”
“O brasileiro Didi, eleito o craque da copa de
1958, mostrou todo o seu repertório durante o torneio. Conduziu o time a vitórias
seguras e, quando sofreu o primeiro susto, teve personalidade para comandar a reação.
Este susto veio com o primeiro gol sofrido na final, contra a Suécia, logo a três
minutos de jogo. Didi pegou a bola, caminhou com ela até o meio-campo e assegurou
a todos que não seria preciso nervosismo, pois o Brasil venceria. E foi o que aconteceu.
O Brasil era campeão do mundo pela primeira vez, sob o comando do “Príncipe Etíope”,
o “homem que passava meses sem errar um passe”, como dizia Nélson Rodrigues.”
“O francês Just Fontaine ostenta um recorde praticamente
impossível de ser alcançado: marcou simplesmente 13 gols em meros 6 jogos da copa
de 1950. Para se ter uma ideia do tamanho da proeza, basta dizer que a Itália venceu
a Copa de 2006 marcando 12 gols em 7 partidas.
Marroquino de nascença, Fontaine era um centroavante
clássico, inteligente, veloz e que não desperdiçava chances claras de gols. Fazia
uma linha de frente infernal ao lado de Raymond Kopa e Piantoni e só não foram campeões
porque encontraram o Brasil nas semifinais. Essa seria, aliás, a única vez que os
brasileiros suplantariam franceses em Mundiais, de lembranças tão amargas em 1986,
1998 e 2006.
Fontaine não pôde jogar outras copas devido a
problemas físicos, aposentando-se com apenas 29 anos.”
Nilton Santos, um dos melhores jogadores da história
do futebol brasileiro, foi campeão mundial em 1958 e 1962, já veterano. Muitos pensam
que se ele tivesse sido escalado em 1950, quando tinha 25 anos, ótima idade para
o futebol, talvez o resultado da final contra o Uruguai tivesse sido diferente.
“Garrincha, com suas duas pernas tortas para o
mesmo lado, era um desafio para a geometria. Difícil acreditar que pudesse jogar
futebol. E, se o futebol for analisado como um esporte coletivo, de entrega, talvez
fosse impossível mesmo. Mas Garrincha jogava outro tipo de futebol. Foi o maior
driblador do futebol mundial em todos os tempos. Impossível marcá-lo. Impossível
evitar seus cruzamentos certeiros. Garrincha, na verdade, subverteu toda tentativa
de se entender o futebol, além de sua capacidade lúdica, de sua função de deixar
pessoas alegres e outras tristes, dependendo do resultado.
E quase Garrincha não joga a Copa. Joel, do Flamengo,
era o favorito da comissão técnica, abalada com o que entendia ser uma irresponsabilidade
tática de Garrincha. João Carvalhaes, psicólogo da seleção, o considerou pouco capaz
intelectualmente e pouco apto a decisões.
Se Julinho, destaque da Fiorentina, tivesse aceitado
a convocação – considerou que seria deselegante com os jogadores que atuavam no
Brasil (não era costume convocar quem jogava fora do país) – Garrincha nem teria
sido convocado para a Copa de 1958.
Garrincha fez uma Copa inesquecível e marcou seu
nome na história do futebol mundial ao mesmo tempo que afastava a desconfiança de
dirigentes e treinadores brasileiros sobre ele. O povo, não. Já era fã e súdito
de Garrincha.”
“Em 1962, Garrincha parecia um alucinado. Um dos
artilheiros da Copa, fez gol de esquerda, de direita, de cabeça, driblou defesas
inteiras, alucinou marcadores, plateias, comentaristas e virou manchete do jornal
El Mercúrio: “De que planeta vem Garrincha?”
Mesmo com 39 graus de febre e longe de suas melhores
condições, jogou a final contra a Tchecoslováquia e coroou um dos momentos mais
sublimes do futebol em todos os tempos. Eleito craque da copa, foi mais decisivo
que Maradona em 1986 ou Romário em 1994.”
Jogador de muita raça, sério, duríssimo na marcação
e com ascendência moral e psicológica sobre os companheiros, Zito, capitão do Santos,
era do tipo que mandava o garoto Pelé calar a boca e correr mais. E era obedecido.
Maior liderança dentro e fora dos gramados nas
copas de 1958 e 1962, o bicampeão Zito não foi o capitão da seleção em nenhuma das
oportunidades. Na primeira, coube a Bellini erguer a taça. Na segunda, a honra coube
a Mauro.
A Inglaterra foi campeã em 1966, desbancando a
Alemanha Ocidental, com uma arbitragem muito questionada. Como era a anfitriã, deixou
o mundo desconfiado de uma possível “marmelada”.
“A copa de 1966 ficou marcada pela confirmação
do talento da excepcional geração portuguesa de Coluna e Eusébio, um time tão técnico
quanto violento, que quase matou Pelé a pontapés na derrota brasileira de 3 a 1,
que encerrou as chances do Brasil, ainda na fase de grupos.
Brasil, aliás, que fez uma campanha ridícula.
Com uma pré-convocação de 44 jogadores e vários equívocos na lista final – Carlos
Alberto torres, por exemplo, foi preterido para entrar Fidélis – e contando com
um grupo envelhecido de um lado (Djalma Santos, Bellini, Zito, Garrincha e Gilmar)
ou muito inexperiente (Jairzinho, Tostão e Gérson) de outro – e todos eles longe
do auge –, o Brasil sequer foi a sombra dos bicampeões de 1958 e 1962, e caiu ainda
na primeira fase, vexame inédito para um campeão mundial.
Seria também a última vez que Garrincha e Pelé
jogariam juntos (na vitória brasileira contra a Bulgária por 2 a 0). Com os dois
em campo, juntos, o Brasil jamais foi derrotado.”
Bobby Charlton, maior jogador da história da Inglaterra,
eleito craque da copa de 1966, quase morreu em 1958 em um acidente de avião que
vitimou 8 jogadores do Manchester United e deixou 2 inválidos. Os pilotos haviam
feito duas tentativas de decolagem, sem sucesso. Fizeram uma terceira tentativa,
que foi fatal.
“O moçambicano naturalizado português Eusébio,
é seguramente um dos cinco maiores centroavantes da história, qualquer que seja
a lista. Está entre os imortais, como Gerd Müller, Di Stefano, Romário, Bobby Charlton,
e só faltou um título mundial para coroar uma carreira absolutamente brilhante e
que fez o Benfica uma verdadeira máquina de títulos, nas décadas de 60 e 70, quando
enfrentava em condições de igualdade – e vencia – times mágicos como o Real Madrid
do próprio Di Stefano, Puskas e .
Chamado de Pantera Negra, Eusébio jogou
15 anos no Benfica, e fez incríveis 317 gols em 301 partidas, tendo, portanto, média
de mais de um gol por jogo.”
Pelé, autor de mais de mil gols, craque da Copa
de 1970 (com a concorrência de Gérson, Jairzinho, Tostão e Rivellino) e único tricampeão
mundial da história, foi o maior jogador de futebol de todos os tempos.
“Atacando, criando ou marcando, Beckenbauer, já
mostrava na Copa de 1966 toda a classe e o primor que deslumbraria o mundo nos anos
70. Não é à toa que, ao lado do brasileiro Djalma Santos, é o único jogador a constar
em três seleções ideais em Copas do mundo.
Apesar de jamais ter vencido o título de melhor
da Copa – perdeu em 1966 para Bobby Charlton, em 1970 para Pelé e 1974 para o vice-campeão
Cruijff – já se fazia notar que nascera um jogador incomum.
Beckenbauer era tudo: volante, meia, zagueiro,
líbero, cobria os laterais, fazia lançamentos precisos, sempre tocando a bola com
maestria e sutileza, com a cabeça erguida, sem sequer olhar para a companheira de
ofício. Um verdadeiro espetáculo. Jamais o mundo verá outro igual.
Ganhou quatro campeonatos alemães, quatro Copas
da Alemanha, três campeonatos europeus (seguidos, de 74 a 76), e uma Recopa. Foram
12 títulos em 14 anos. Ganhou o prêmio de melhor jogador alemão do ano por quatro
vezes, foi duas vezes eleito o melhor jogador europeu. O Kaiser é dono de
uma das mais vitoriosas carreiras do futebol mundial.
Foi sinônimo de renovação tática no Mundial, um
líbero que atacava e fazia gols.
Beckenbauer até hoje é símbolo de elegância e
cavalheirismo e é considerado, ao lado de Cruijff, o maior jogador europeu da história.”
“Mais um caso de irmão que jogavam juntos pela
seleção, Jack Charlton era o irmão mais velho e menos talentoso de Bobby Charlton,
e também foi campeão em 1966. Símbolo do Leeds, seu único clube entre 1952 e 1973,
que defendeu por 629 vezes e onde anotou 70 gols. Era conhecido pela maneira viril
e até desleal com que atuava. Com ele não tinha sutileza e seu próprio irmão foi
sua vítima em vários jogos entre os dois times que têm uma imensa rivalidade. Jack
e Bobby, aliás, nunca foram muito próximos.”
“O zagueiro inglês Bobby Moore personificava todo
o mito do cavalheirismo inglês e foi eleito o segundo melhor jogador do torneio,
atrás de Charlton. Para o técnico Aff Ramsey, Moore era “meu capitão, meu líder,
meu braço direito, o espírito e o coração do time”. Em campo, era técnico, marcador
leal e sabia jogar com elegância e inteligência.”
Martin Peters, campeão inglês, era originalmente
um meia de muita habilidade, inteligente, de ótimo passe e grande movimentação.
Jogador muito versátil, jogou em todas as posições, inclusive de goleiro.
Campeão inglês em 1966, Flowers e Garrincha tiveram
uma história curiosa em 1962. O time brasileiro ficou sabendo que o inglês dissera
ter descoberto como anular o infernal ponta brasileiro e que faria isso na partida
das quartas de final. Ao ouvir tal disparate, Nilton Santos passou a azucrinar Mané
dias e dias seguidos, dizendo que o “inglês vai te parar, disse que ponta da perna
torta ele anula rapidinho”. Garrincha teria ficado enfezado com a história e com
o tal Fralda – como ele se referia ao rival –, que nem era seu marcador direito
e teria jurado o troco. Mordido, Garrincha fez sua melhor partida no Mundial, destruindo
os ingleses e alguns o viram berrar para seus companheiros “alguém viu o Fralda
em campo? Quero dar um drible nele!”, enquanto os demais caíam na gargalhada.
“O holandês Johann Cruijff foi para muitos o maior
jogador de todos os tempos da Europa. Vestindo sempre a camisa 14, Cruijff era um
espetáculo. Centroavante de origem, corria todos os cantos do campo, marcando, driblando
e armando, mesmo sendo caçado pelos adversários.
Colocava a bola no seu pé como um ímã e arrancava
feito um raio para o ataque, com suas passadas largas, cabeça erguida, dribles desconcertantes,
cheios de malícia e verticalidade.”
“A Holanda de 1974, a Laranja Mecânica,
era um sonho de time. Uma equipe avassaladora, que atacava sem parar, tomando os
espaços dos rivais, roubando-lhes a bola, a pressionando a saída de bola e levando
os adversários ao desespero. Pedro Rocha disse que os 20 primeiros minutos contra
eles foi seu maior pesadelo. O sistema de jogo da Holanda era algo nunca visto e
foi a única Seleção a vencer no mesmo mundial a Argentina, o Uruguai e o Brasil.
E sem tomar gols.”
Um dos maiores atacantes de todos os tempos, o
alemão Gerd Müller estava longe de ser um estilista – fazia gols simples. Baixinho
– cerca de 1,65m – e gordinho, Müller parecia tudo, menos um centroavante. Pois
essa máquina de fazer gols foi condecorada seis vezes em sua carreira com o troféu
de melhor artilheiro da temporada.
Apenas pelo Bayer de Munique anotou 628 gols.
Mesmo com o Brasil tendo o melhor time de todos os tempos em 1970, foi ele o artilheiro,
com 10 gols. Em 1974 fez o gol da vitória alemã na final da Copa contra a Laranja
Mecânica.
Duas histórias engraçadas envolvem o uruguaio
Figueroa, um dos destaques da copa de 1974.
Em 1971 Figueroa foi contratado as pressas pelo
presidente do Inter, pois estava para ser comprado por um empresário. Como não conseguiu
garantia bancária para pagar o Peñarol, o Inter fez um empréstimo as pressas, e
mandou todo o dinheiro (350 mil cruzeiros novos à época) em uma mala, com o diretor
Heraldo Hermann. Era o tempo de repressão política e qualquer policial menos avisado
poderia entender aquele dinheiro não declarado na alfândega poderia ter fins escusos,
mas deu tudo certo e o Inter contratou Figueroa, que reinou no Inter até 1976, levando
a ferro e fogo o lema que criou e que balizou sua carreira: “ A área é minha casa,
aqui só entra quem eu quero”.
E tome cotovelos para defender a sua área. Em
entrevista detalhou mais a sua prática: “Juiz não expulsa ninguém em 10 minutos
de jogo. Por isso, aproveito e bato em todo centroavante que aparece. Só não bato
no Dario porque ele não sente e no Pelé porque ele revida”.
Foi bicampeão brasileiro pelo Inter (1975 e 1976)
e hexacampeão gaúcho, entre 1971 e 1976.
“A seleção brasileira de 1982 representava uma
volta ao passado. Um time com dois volantes clássicos, que marcavam e atacavam (Cerezo
e Falcão), dois meias que se completavam (Zico e Sócrates), um ponta-esquerda infernal,
dono de um chute mortal (Éder), dois laterais no auge de suas carreiras (Leandro
e Júnior) e uma zaga segura e clássica (Oscar e Luisinho).”
“‘Se Zico jamais ganhou a Copa do
mundo, azar da Copa do Mundo’, escreveu certa vez o inspirado jornalista Fernando
Calazans.”
Paolo Rossi, carrasco do Brasil que fez os três
gols na derrota brasileira para a Itália em 1982, foi suspenso em 1980 por três
anos por participar do “Escândalo de Totocalcio”, um esquema de manipulação de resultados
para a loteria esportiva.
Sua pena foi reduzida para dois anos e terminou
em 29 de abril de 1982, pouco mais de um mês antes do Mundial. O técnico Enzo Bearzot
o levou assim mesmo – o que trouxe as devidas consequências ao Brasil.
Dino Zoff
foi o maior goleiro da Itália e um dos maiores do mundo no século passado. É o recordista
de jogos pela Seleção Italiana (112, com 55 vitórias, 36 empates e 21 derrotas),
o recordista de jogos na Série A da Itália (570), o jogador mais velho a ser campeão
mundial (tinha 40 anos quando a Itália ganhou a Copa de 1982) e é o goleiro que
ficou mais tempo sem sofrer gol por uma seleção: foram 1.142 minutos, entre setembro
de 1972 e junho de 1974.
Em 1986 Maradona jogou como nunca. Como poucos
fizeram em um período curto como o da Copa. Deu passes preciosos, lutou pela bola,
fez gols. Fez o maior de todos os gols em Copas.
“Romário havia sido cortado, por indisciplina,
do Mundial de Juniores de 1985. Por isso, ficou fora da Copa de 1986. Em 1990 foi
reserva de Careca e Müller. Em 1994, porém, foi a sua vez. Marcou um gol em cada
um dos três primeiros jogos (contra Rússia, Camarões e Suécia), deu o passe para
Bebeto marcar contra os Estados Unidos, fez mais um contra a Holanda e novamente
a Suécia e, na final contra a Itália, fez mais um na decisão por pênaltis. Foi eleito
o craque da Copa.”
“No meio de um mar de volantes do time italiano,
assistir Roberto Baggio era um alento. Com seu físico frágil, seu jeito tranquilo
e sendo um dos raros não católicos do time – é budista –, era a esperança maior
de gols e sorte maior aos tifosi.
Com seus toques refinados, passes precisos, inteligência
e talento para descobrir o atalho ao gol, cabia a ele o papel de trazer vitórias
improváveis.”
Um volante com apelido de Dunga porque na infância
tinha pernas curtas e se parecia com um dos anões da Branca de Neve. Na Copa de
1994 o capitão Dunga conseguiu 206 desarmes (praticamente 30 por jogo), cometeu
apenas 12 faltas, sofreu outras sete, levou um cartão amarelo, deu 12 chutes a gol,
deu assistência, converteu seu pênalti na
disputa contra a Itália e tornou-se o quarto brasileiro a levantar a Copa
do Mundo como capitão da Seleção Brasileira.
De 1993 a 1997 a carreira de Ronaldo Fenômeno
foi tão impressionante que muita gente o comparava a Pelé. Surgiu no Cruzeiro em
1993, fazendo 12 gols em 14 jogos do Brasileiro. Foi artilheiro da Supercopa, com
8 gols, e chegou a sua primeira Copa com 17 anos.
Foi para a Holanda, jogar pelo PSV Eindhoven,
até 1996. Fez 55 gols em 56 jogos, sendo artilheiro do Campeonato holandês de 1995,
com 30 gols. Foi para o Barcelona, onde marcou 47 gols em 49 jogos. E depois, para
o Internazionale de Milão. Foi eleito o melhor do mundo em 1996 e 1997. Foi eleito
o craque da Copa de 1998, e, só nestes torneios marcou 15 gols, sendo então o maior
artilheiro de todas as Copas.
Sofreu ao longo da carreira com várias lesões,
tendo quase que ter parado de jogar, mas se reergueu para ser artilheiro (com 8
gols) e campeão da Copa de 2002. Em 2006, muito fora de forma, foi escalado por
Parreira e não teve bom desempenho.
“Poucos jogadores foram tão subestimados como
Rivaldo. Um dos mais importantes jogadores dos últimos 20 anos, o pernambucano de
passadas longas, chutes rasteiros venenosos e dribles desconcertantes sempre foi
muito contestado, mesmo sendo ídolo do Palmeiras, Deportivo La Coruña e Barcelona.
Tivesse feito um pouco mais de marketing na carreira e seria lembrado como um dos
grandes da história, lugar onde está, ainda que alguns não concordem.”
O craque francês Zinedine Zidane nunca havia feito
um gol de cabeça em toda a sua carreira, até a final da Copa de 1998 contra o Brasil
– onde fez dois.
“Poucos volantes no mundo são tão eficientes como
Andrea Pirlo. O camisa 21 do Milan é um dos jogadores mais versáteis do futebol.
Consegue jogar como primeiro volante, segundo volante ou até meia, graças ao seu
talento para dar lindos passes, lançamentos precisos. Não fosse suficiente, Pirlo
é exímio cobrador de faltas perto da área, batendo sempre de curva com o pé direito.”
“Algumas coisas parecem sem explicação. Como pode
um zagueiro viril, violento e de pouca técnica se tornar não apenas o personagem
mais importante de uma final de Copa do Mundo, ao desestabilizar emocionalmente
o grande nome do torneio, como ainda acabar como artilheiro de sua Seleção em um
Mundial? Pergunte a Marco Materazzi.
Materazzi é um herói nacional e o que fez na final
contra a França, arranjando a expulsão de Zidane, e marcando o gol de empate e ainda
sendo um dos melhores em campo, parece roteiro de cinema.”
Por questões de espaço não pude me ater, mas ainda
passaram deixando boas marcas pelo livro, dentre outros: o brasileiro Djalma Santos,
os irmãos alemães Fritz e Ottmar Walter, o goleiro soviético Yashin, o “Aranha Negra”;
o brasileiro Vavá, o inglês James Greaves, o argentino Mario Kempes, o brasileiro
Falcão e o búlgaro Hristo Stoichkov.
P.S: O livro foi lançado pouco antes da copa de 2010, não
cobrindo deste torneio em diante.