Editora: Biblioteca de Autores Clássicos
ISBN: 972-27-1371-X
Opinião: ★☆☆☆☆
Páginas: 752
Sinopse: O
presente volume é constituído por quatro secções. A primeira, mais curta, trata
da edição das Obras Completas. A segunda corresponde a um breve
conspecto da biografia aristotélica, onde se procura reunir a melhor informação
disponível e identificar algumas das dúvidas que a este respeito ainda
permanecem. A terceira parte é preenchida por quatro estudos. Que tratam
sucessivamente da história, estrutura e natureza da coleção aristotélica, da
evolução e linhas de força do seu pensamento, de certos problemas de datação
das suas obras principais e, finalmente, das dificuldades provocadas pela
tradução de alguns conceitos centrais. No final do volume, e como quarta e
última secção, encontra-se uma bibliografia selecionada, onde são reunidas as
fontes e as obras auxiliares ou instrumentais utilizadas nas versões
portuguesas, bem como a literatura secundária mais geral ou mais relevante
sobre as obras traduzidas e os temas nelas abordados.
“Platão chamaria a Aristóteles “o leitor”,
repetindo frequentemente: “Vamos a casa do leitor”.
O interesse desta tirada, a ser verdadeira,
não reside tanto no apontamento de uma idiossincrasia do Estagirita, de um
traço da sua personalidade ou de um seu costume absorvente, mas na apreensão de
uma profunda alteração nos hábitos de leitura que o filósofo introduziu na
cultura grega.
Com efeito, até Aristóteles, os livros não
eram lidos, mas sim escutados.
O Grego coevo não lia seguindo ele próprio
com os olhos as maiúsculas do texto, ou soletrando em surdina as letras que ia
desenrolando no papiro, muito menos, como é evidente, folheando as páginas
inexistentes dos volumosos cilindros.
Reclinava-se passivamente para saborear, como
numa representação teatral, as frases que um servo educado recitava.
A novidade introduzida por Aristóteles foi a
de acumular numa só pessoa a dupla função de recitador e de ouvinte, fazendo
assim evoluir a noção arcaica de “leitor” como aquele que lê alto para outrem e
fundando a partir dela a noção moderna de “leitor” como alguém que lê baixo, ou
em pensamento, para si mesmo.
Neste sentido, chamar a Aristóteles “o
leitor”, como fazia Platão, significava assinalar, e quiçá estranhar, esta
mudança, senão verberar ironicamente uma excentricidade de meteco.
Com efeito, no regime cultural em que cobra
sentido, o leitor é um escravo e ler uma ocupação servil. (...)
A partir de Aristóteles, deparamo-nos com um
modo inteiramente novo de investigar, de fazer ciência e de produzir cultura. E
a anedota relativa ao dito platônico surpreende justamente esta revolução in
fieri.
Há, pois, razão em declarar que, com
Aristóteles, o mundo grego passou do ensino oral para o hábito de ler.
Ora, este lance produzirá toda uma catadupa
de mudanças radicais na atividade científica.
Não é exagero dizer-se que, com ela, é a
própria noção moderna de investigador que surge.
Em Aristóteles, a institucionalização de
rotinas de pesquisa, a atenção à recolha de dados, o pendor para o colecionismo
histórico ou erudito, a criação da transmissão escolar e da prosa científica, o
interesse sistemático pela tradição das disciplinas, são diretamente devedores
desta primeira inovação.
Não devemos esquecer que, num tratado de
tanta relevância metodológica como o primeiro livro dos Tópicos,
ele próprio recomenda a prática de sublinhar e anotar os manuscritos à margem,
de os transcrever e de elaborar fichas de trabalho, rotinas indissociáveis da
leitura direta dos textos e, ao mesmo tempo, condições indispensáveis daqueles
feitos.
E há mesmo bons motivos para pensar que a
enorme produção de Aristóteles, tanto em termos absolutos como comparativos,
deriva desta nova facilidade no acesso aos livros e das técnicas que ela
permite.”
O IMPÉRIO DE ALEXANDRE
Na dilacerante polêmica acerca da Macedônia
que, durante dezenas de anos, dividiu os atenienses em pró e anti, as razões
estavam bem distribuídas.
Verdadeiramente, entre os amigos, como eram
em geral os filósofos, e os adversários, recrutados sobretudo no partido
popular, não havia diferença quanto aos fins, mas sim quanto aos meios.
Para ambos, como em geral para todos os
Gregos, o grande, o verdadeiro, o único inimigo estratégico da Hélade era o
império persa, em que se corporizava uma secular história sangrenta de
contendas e guerras e, principalmente, em que residia, à época, a única ameaça
real e consistente (parecia então) ao modo de vida grego.
Os Persas eram os bárbaros – e eram bárbaros
perigosos.
E por “bárbaros” entendiam eles: seres
inferiores, naturalmente feitos para serem escravos, porque a ignorância
culposa da sua humanidade os fazia sofrer sem remorso nem vergonha a
indignidade de servirem um amo onde os Gregos obedeciam à neutralidade objetiva
da lei e de entregarem a um só a soberania que era originariamente de todos.
Mais do que a estranheza da língua, que
relevava sobretudo do simbólico, o que distinguia os Gregos dos bárbaros era,
para eles, um modus vivendi, tanto político como espiritual, que os
fazia crer acima e antes de tudo no império da lei, na soberania do cidadão e
na autonomia da cidade e, portanto, deplorar a visão soturna, para oriente, de
extensos territórios lavrados por servos ao ritmo do chicote de um sátrapa,
representante corrupto e venal do imperador todo-poderoso, qual deus
absconditus no seu casulo distante.
Pelo contrário, os Macedônios eram apenas uma
espécie de gregos degenerados, diminuídos da sua condição natural de homens
livres à degradante situação de súbditos de um soberano absoluto, “à maneira
oriental”.
Ora, o que dividia pró-macedônios e
antimacedônios era uma questão tática, não uma questão estratégica: a percepção
que cada um deles respectivamente tinha do “inimigo principal”, isto é, daquele
que, na circunstância, estava em condições de fazer pior e provocar um dano
mais profundo e prolongado ao modus vivendi helênico.
Para os primeiros, entre os quais se
encontrava Aristóteles, a Macedônia, como nação grega, e nação grega poderosa –
de fato, a única potência grega regional que sobrevivera à hecatombe das lutas
fratricidas do século anterior –, era uma prevenção contra os apetites da
Pérsia.
Ser pró-macedónio era, portanto, escolher o
mal menor, preferindo tolerar as grosserias marciais dos boiardos do Norte, na
expectativa de as poder polir pelo convívio, de modo a preservar o que mais
importava, a saber, as liberdades e prerrogativas do homem grego, o autogoverno
das Cidades e a estrutura criativa da πóλις, de onde havia surgido
e em que se condensava toda a grandeza e originalidade, não só material, mas sobretudo
espiritual, do gênio grego.
Mas os antimacedônios viam mais longe.
Pressentindo que a cobiça indisfarçável dos
reis da Macedônia era o sinal de um espírito ele próprio oriental,
desconfiaram, com razão, de que o que os animava não era a simples ambição de
manter um ascendente, uma predominância ou mesmo um protetorado sobre as
cidades gregas, mas sim a volúpia de mandar sobre elas como senhores absolutos.
Para eles, portanto, diante de uma Pérsia
decadente, enfraquecida e sonolenta, a Macedônia era, agora, o verdadeiro
perigo.
Mais do que isso, no domínio dos fantasmas
noturnos, como, em breve, no das duras realidades da vigília, a
Pérsia era agora a Macedônia.
Este um difícil aprendizado que alguns dos
ingênuos e bem-intencionados aliados da Macedônia haveriam de fazer
dolorosamente à sua custa, como Calístenes de Olinto, mandado executar por
Alexandre em 327, por se ter recusado a prostrar-se a seus pés como perante um
soberano asiático.
É que os homens como Calístenes haviam-se
alistado na causa de Alexandre, não por causa de Alexandre, mas por causa da
Grécia. Não tinham aderido ao seu sonho oriental para expandir qualquer
território ou para criar qualquer império, mas para destruir um, e com ele a
ameaça permanente que pendia sobre as cidades gregas. Não tinham percorrido
desertos sem fim até ao fim do mundo conhecido por desejos de conquista, que
nunca tinha movido alma grega nenhuma, mas para conservar as suas próprias
intactas e incólumes.
Pelo contrário, Alexandre, é lícito pensá-lo,
era para si mesmo a sua própria causa e o seu próprio sonho.
Os antimacedônios tinham tido razão: na
loucura divina do imperador estava o germe daninho da escravidão oriental. E os
Gregos não mais se livrariam dela, até bem próximo dos nossos dias.
É possível que o próprio Aristóteles se tenha
dado conta disso, pelo menos após a execução do seu sobrinho e colaborador, com
o qual parece ter mantido um permanente contato, recebendo dele notas,
observações e amostras para as investigações comuns, se é certo que na carta a
Alexandre intitulada Sobre as Colônias, escrita provavelmente por
essa altura, criticava o projeto oriental do rei, especialmente no que toca à
sua política de miscigenação.
Mas era tarde.
Alexandre tinha de ir até ao fundo do seu
destino histórico, ou, o que vinha a ser o mesmo, tinha de ir até ao fundo do
Universo.
Por isso, continuava, implacável e
imparavelmente, a conquistá-lo.
À data da sua morte precoce, havia construído
a pulso, e num tempo recorde, o maior império que a Antiguidade tinha
conhecido, estendendo-se do Norte da Grécia à margem do Ganges.
Foi aí que a sua hora chegou, vítima de
malária ou de “mão amiga”.
Morreu de febres a 13 de Junho de 323 a. C.,
com 33 anos incompletos. Alexandre fizera um império – e fizera nascer novos
impérios.
Volvidos cinquenta anos, uma nova época de
estabilidade se abria, desenhada com sangue pelas espadas dos seus generais.
O que ele criara – uma realidade imperial de
matriz grega – e o que eles criaram – os grandes impérios helenísticos –
decidiram a sorte da civilização grega clássica.
A sua morte foi a morte da πóλις.
Para lá dele, começara a era da globalização.
Era o helenismo, tempo de uma civilização e de uma cultura em que homens como
Aristóteles estavam a mais.”
“Quanto ao caráter de Aristóteles, o seu
próprio texto dá-nos algumas indicações preciosas.
Podemos reconduzir a cinco as principais
informações que os escritos nos fornecem: o horror às generalizações sem
contrapartida na experiência; a atenção aos detalhes; o rigor na observância
dos procedimentos metodológicos; o otimismo e a confiança no progresso do
conhecimento; a tolerância para com a fragilidade humana e a complacência
perante o fracasso.
A tradição antiga nem sempre é tão caridosa.
Numerosos testemunhos dão-no como inclinado
para o abuso do sarcasmo, o que, aliás, é confirmado por algumas anedotas e por
alguns apotegmas conservados, bem como por diversos passos da sua obra.
Outros traços teriam sido o gosto pela
solidão, a autoconfiança e a ambição, bem como a capacidade de persuasão.
Mais no sentido dos textos vão a temperança e
a moderação consigo mesmo, a dignidade e a firmeza na doença, quiçá mesmo a
resignação.”
“A expressão “ecletismo” provém de œklŠgein,
“escolher”, e aplica-se para designar a seleção de elementos doutrinários de
diferentes filosofias e a sua fusão numa síntese geral. São conhecidas diversas
correntes ecléticas na Antiguidade helenística e tardia, nomeadamente o
ecletismo estoico, o ecletismo platônico e o ecletismo aristotélico. O segundo,
testemunhado especialmente pela IV Academia e pelo platonismo médio,
caracteriza-se pela inclusão de elementos de origem estoica numa doutrina
matricialmente platônica.”
“Em sentido próprio, o ceticismo se
refere a uma corrente filosófica do helenismo, iniciada por Pírron de Élis, que
se prolongou, com vários matizes, por toda a Antiguidade. Caracterizam-na a
suspensão do juízo, baseada na consciência da inapreensibilidade da natureza
das coisas, e, consequentemente, a indiferença perante todas elas, de onde decorre
a verdadeira felicidade, entendida como independência em relação aos desejos e
às inclinações. O cepticismo das II e III Academias abriu uma forma ontológica
e epistemológica, também chamado “probabilismo”, desta corrente.”
“A Escola Cínica foi uma
escola socrática dirigida por Antístenes, seu fundador, e especialmente por
Diógenes de Sínope (morto, já muito velho, cerca de 322 a. C.), que, pelo seu
ensinamento e pela sua vida, de caráter ostensivamente frugal, configurou o
modelo lendário do filósofo cínico e justificou o próprio nome atribuído à
escola (que provém da palavra “cão”), significando o ideal de retorno à
natureza que a norteia. Embora de índole predominantemente ética (onde avulta a
sua identificação da felicidade, encarada como fim do homem, com a virtude, por
estrita oposição com o prazer), a filosofia cínica contém também uma
ontognosiologia, que claramente se opõe à platônica, pela sua postulação
exclusiva do individual e do corpóreo e pela sua completa denegação dos universais.
A escola cínica veio a prolongar a sua
influência ao longo da época helenística, designadamente através do estoicismo,
com que mantém evidentes consonâncias e até uma relação histórica, se, como
quer a tradição, é certo que o fundador do estoicismo, Zenão de Cítia, foi
discípulo do filósofo cínico Crates de Tebas.”
“Na Escola Cirenaica, como nas
demais originadas no ensinamento socrático, com exceção da platônica, há o
predomínio da reflexão ética sobre a reflexão metafísica, lógica ou
cosmológica. Neste domínio, a especificidade da filosofia cirenaica revela-se
pela afirmação do primado da sensação e no apontamento do prazer como fim da
ação humana, entendendo-o, no entanto, como o prazer do instante, o qual só é
possível pela libertação de todas as emoções e inclinações provenientes das
expectativas e dos cálculos de futuro. A influência que exerceu sobre o
epicurismo é evidente.”
“O epicurismo
é, a par do estoicismo e do ceticismo (pirrônico), uma das três grandes
correntes filosóficas que surgem com a cultura helenística e que a vão marcar
até ao final da Antiguidade. Se o estoicismo foi profundamente influenciado
pela escola cínica, fundada em Atenas pelo discípulo socrático Antístenes, já o
epicurismo denota uma evidente relação com a escola cirenaica, também derivada
do socratismo, através de Aristipo de Cirene. Todavia, esta última influência
verifica-se predominantemente no domínio da ética, em que ambas as escolas
adotam uma solução hedonista para o problema do bem supremo, de acordo com a qual
a felicidade reside no prazer (ou, mais precisamente, na ausência de dor),
através do abandono de todos os desejos, temores e expectativas. Ao invés, em
metafísica, o epicurismo optará por uma ontologia materialista baseada no
atomismo de Leucipo e Demócrito e por uma epistemologia empirista, para a qual
o conhecimento verdadeiro repousa sobre os sentidos.”
“A obra completa de Aristóteles seria
constituída por cerca de cento e sessenta e nove escritos, cobrindo a
totalidade de seções que determinamos no corpus, dos quais cento e
dezoito seriam autênticos, trinta e sete espúrios e catorze duvidosos.
Se nos ficarmos apenas pelos autênticos, a
comparação dá vinte e nove títulos para a obra conservada contra cento e
dezoito para a obra completa. Conclui-se portanto que a obra conservada
representa apenas cerca de um quarto do total e que oitenta e nove obras
autênticas de Aristóteles se perderam, no todo ou em parte.”
“Dizer que Aristóteles nunca foi platônico,
ou mesmo, como Düring, que “Aristóteles se colocou desde o início em oposição
aberta a Platão”, declaração que, tendo em atenção os textos subsistentes, deve
ser subscrita ipsissima verba, de modo algum implica que ele
começou por formular teorias em oposição a Platão, mas apenas que,
desde o início, Aristóteles jamais partilhou das intuições centrais que fazem
do platonismo o que ele é, ou, ainda, que as suas próprias estiveram sempre em
oposição íntima às de Platão.
O motivo é que existe uma contradição de
princípio, ao nível do ponto de vista reitor, entre o pensamento aristotélico e
o pensamento platônico, independentemente das zonas de coincidência que, em
diversos aspectos, estruturais ou de superfície, se podem achar entre os dois
pensamentos.
Neste quadro, pode dizer-se que, ao entrar na
Academia, Aristóteles estava já filosoficamente formado, no sentido em que, ao
nível do travejamento essencial da sua concepção do mundo, se encontrava dotado
de uma identidade própria que o tornava antecipadamente imunizado contra a
concepção platônica.
E a razão é simples: o primado que no seu
pensamento é conferido ao indivíduo.
Esse o contributo asclepíada da sua
personalidade. Mas não por um suposto vezo empirista da sua ideação. Antes pela
sensibilidade colhida no convívio com a atividade clínica, cuja vinculação à
singularidade tinha sido já, à época, devidamente reconhecida, tanto do ponto
de vista prático como do teórico.
Neste sentido, Aristóteles nunca foi
platônico – embora também se deva dizer que nunca teria sido Aristóteles se não
tivesse havido Platão.
Por quê?
Porque foi no platonismo que Aristóteles se
deparou com os desafios que a sua própria natureza lhe impunha fossem superados
e descobriu os problemas que a sua intuição própria obrigava a serem
resolvidos.
O maior desses desafios e desses problemas é,
sem dúvida, a teoria platônica das ideias. E a resposta a ambos podemos
encontrá-la na metafísica de Aristóteles, desde uma época tão primitiva quanto
a da redação das Categorias.
Mas mais do que isso: Platão e a Academia
facultaram-lhe também os meios e os instrumentos para construir a sua própria
filosofia.
Já foi frequentemente observado que toda a
silogística e a teoria da ciência aristotélica arrancam da dialética. Num certo
sentido, é mais do que isso: todo o pensamento de Aristóteles arranca da
prática da discussão na Academia e é ela que lhe permite descobrir os grandes
conceitos e princípios que estruturam transversalmente o seu pensamento.”
“Podemos reconhecer a unidade do pensamento
em cinco grandes características do gênio filosófico de Aristóteles, que
constituem simultaneamente cinco aspectos transversais da sua ideação:
1) Na ordem da investigação, o cruzamento da observação
(num sentido lato, que engloba a tradição e as opiniões sufragadas pela maioria
ou pelos mais sábios) e da análise, subordinados a um modelo aporemático de
pesquisa;
2) Na ordem da explicação, a opção finalista. O modelo
teleológico de compreensão penetra todas as regiões em que a filosofia
aristotélica intervém, da física à ética, da psicologia à política, da biologia
à metafísica;
3) Na ordem da compreensão, a recusa da unicidade.
Aristóteles é, como provavelmente nenhum outro filósofo anterior, sensível à
pluralidade e à complexidade do real, na diversidade das suas manifestações e
no caráter incontornavelmente multíplice dos princípios a que, dentro de cada
domínio de análise, elas devem ser reconduzidas;
4) Na ordem da exposição, o primado do argumento. A
filosofia grega é, por temperamento, uma filosofia em que a argumentação
desempenha um papel de relevo. Parmênides, de cujo Poema subsistiram
trechos bastante extensos, ou Platão, nos seus diálogos, dão-nos abundante
ilustração desse vezo. Mas em nenhum deles se pode dizer que tudo o mais
(exemplos, adorno literário, rasgos de eloquência, efeitos retóricos) é, como
em Aristóteles, sacrificado à apresentação dos argumentos, sem cedências (não
há aqui o proêmio parmenídeo, nem as alegorias e os mitos de Platão) e
subordinando tudo a um regime puramente argumentativo de exposição, cuja
fórmula típica é: enunciado do problema; posições anteriores; refutação; teses
próprias; argumentos; objeções; resposta às objeções. Só raros momentos de
ironia e um gosto particular pela citação (especialmente evidente na Ética
a Nicômaco) perturbam de vez em quando esta regra;
5) Na ordem da fundamentação, a recondução para o
indivíduo como último irregressível em todas as áreas de indagação e para a sua
circunscrição ontológica (a teoria da substância) como ponto de referência
constante.
Daqui decorre a permanência de determinadas
doutrinas, princípios, conceitos e metodologias, que atravessam a obra
aristotélica de cabo a cabo.”
Um comentário:
É conveniente explicar a causa da avaliação deste livro ter sido ruim.
Esta coleção possui mais de 40 volumes e esta primeira obra destina-se mais a embasar toda a série. Se aprofunda em temas demasiado específicos sobre a obra de Aristóteles, que não despertam interesse a não ser em quem deseje se tornar um especialista no autor.
Em resumo, não é um livro dedicado a quem apenas deseje conhecer a obra de Aristóteles.
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