Editora: Jorge Zahar
ISBN: 978-85-7110-921-6
Tradução: Roberto Franco Valente
Opinião: ★★★☆☆
Páginas: 424
Sinopse: A
independência dos Estados Unidos não teve origem somente na famosa Declaração
escrita por Thomas Jefferson, em 1776. Sem a vitória do exército de fazendeiros
e camponeses comandados por George Washington sobre as tropas da poderosa Coroa
britânica, os direitos inalienáveis à vida, à liberdade e à busca pela felicidade
se tornariam apenas mais uma aspiração moral perdida no tempo.
O historiador David McCullough, duas vezes ganhador do
prêmio Pulitzer, transporta o leitor para a cena dos conflitos que decidiram os
rumos da história dos Estados Unidos.
Com base em uma extensa pesquisa em arquivos britânicos e
norte-americanos, onde pôde ter acesso a cartas, jornais, memórias e documentos
oficiais da época, o autor mostra o ambiente de sofrimento e superação vivido
por homens simples e comandantes inexperientes que derrotaram o exército mais
temido do mundo naquele momento.
“George III tinha 22 anos quando, em 1760,
subiu ao trono, ali permanecendo – fato notável – como um homem de gostos
simples e de poucas pretensões. Gostava da comida caseira, bebia pouco –
somente vinho. Desafiava a moda, recusando-se a usar perucas. De modo algum
incomodava-se com o fato de que o palácio de Saint James já estava um tanto
antiquado. Ele o preferia assim. Sentia-se constrangido na corte – muitos se
decepcionavam com ele, achando-o maçante – e preferia perambular pelas fazendas
de sua propriedade, em Windsor, vestido com roupas de camponês. E, em notável
contraste com a elegante sociedade, onde as amantes e as infidelidades eram não
só um aspecto geralmente aceito da vida, mas também até alardeado, o rei
permaneceu solidamente fiel à desgraciosa rainha – a princesa alemã Charlotte
Sophia de Mecklemburg-Strelitz – com quem tivera dez filhos até então (mas que
no final seriam 15). Diziam os boatos que os principais prazeres do fazendeiro
George consistiam num pernil de carneiro e na sua pequena e pouco atraente
esposa.
Mas não era bem assim. E tampouco era ele
esse homem desprovido de atrativos e abobado, que mais tarde seus críticos
proclamaram. Alto, relativamente bonito, olhos azuis claros e uma expressão
quase sempre alegre, George III sentia um genuíno amor pela música, e tocava
violino e piano. (Seu compositor favorito era Haendel, mas também adorava a
música de Bach e, em 1764, deliciara-se ao ouvir o menino Mozart apresentar-se
ao órgão.) Gostava de arquitetura, tendo mesmo vários desenhos técnicos de sua
autoria. Dotado de discernimento para a arte, logo começou a fazer a sua
própria coleção, até ali com obras de Canaletto, um pintor italiano
contemporâneo, e também com aquarelas e desenhos dos antigos mestres Poussin e
Rafael. Colecionava livros avidamente, a ponto de reunir uma das melhores
bibliotecas do mundo. Adorava os relógios, maquetes de barcos, tinha um grande
interesse pelas coisas práticas, pela astronomia, e fundou a Royal Academy of
Arts.”
“Quando os interesses de um grande povo estão
envolvidos, deve-se superar as dificuldades, e não se curvar a elas.” (John
Dyke Acland)
“Aos 33 anos, Nathanael Greene era o general
mais jovem do que então constituía o exército norte-americano. E, se a sua
mocidade era um fato óbvio, a Gloriosa Causa era, em grande
parte, a causa dos moços: o comandante-chefe do exército, George Washington,
era um homem de apenas 43 anos; John Hancock, presidente do congresso
continental, tinha 39; John Adams, 40; Thomas Jefferson, 32 – mais moço ainda
que o jovem general de Rhode Island.”
“‘O exército de Washington’, escreveu um
jovem da Nova Inglaterra de tendências legalistas, chamado Benjamim Thompson, ‘era
o mais esfarrapado do mundo, e era um bando tão sujo de seres mortais que
chegava a envergonhar a própria patente de soldado... Era melhor deixar que as
roupas apodrecessem no corpo, do que se dar ao trabalho de lavá-las’. Segundo
Thompson, todas aquelas ‘desordens pestilentas, infecciosas e malignas’, cujo
preço pago foi tão alto (em mortes) deviam-se àquele ‘asqueroso modo de vida’
(...).
Era perfeitamente compreensível que tantos
deles estivessem assim tão cobertos de imundícies, uma vez que quando não
estavam participando de alguma expedição, passavam o dia inteiro a cavar
trincheiras, a transportar pedras e juntar grandes montes de terra para a trincheira.
Em determinado momento, no início do cerco, quatro mil homens estavam
trabalhando, só em Prospect Hill. Era um trabalho sujo e árduo, e quase não
havia tempo ou meios para se tomar um banho sequer, ou se dar ao luxo de trocar
de roupa.
Poucos homens possuíam algo que se pudesse
chamar de uniforme. Era impossível distinguir os oficiais superiores dos
soldados que comandavam. Não só a maioria dos homens vivia sem banho, e quase
sempre barbados, como também todos se vestiam com uma variedade incrível de
tudo o que se pudesse imaginar, na maior parte tudo que eles – ou os seus, em
casa – conseguiram juntar às pressas na mala, antes de marchar para a guerra.
Vestiam camisas e agasalhos pesados e tecidos em casa, muitas vezes aos
farrapos de tanto uso, calções de todas as cores e tipos, mocassins e sapatos
de couro de boi, e na cabeça velhos chapéus de feltro com abas largas,
manchados pelas condições do tempo e pelo suor, chapéus de castor, chapéus de
palha de lavrador, ou lenços listrados à cabeça, como os marujos. O tricórnio,
chapéu formal, era usado mais provavelmente pelos oficiais, ou alguém de status
mais elevado, como os capelães e os médicos. Só de vez em quando aparecia algum
velho casaco de regimento, coisa que não se via desde a Guerra Francesa e
Indígena.
As armas que usavam eram tão variadas quanto
suas roupas, principalmente os mosquetes e as espingardas de caça (garruchas,
na verdade), e parece que quanto mais antigas eram essas armas, maior orgulho
sentiam os seus proprietários. A arma mais comum, e de longe a mais importante,
era o mosquete de cano liso a espoleta, de um só tiro e de carregar pela boca,
e que projetava uma bala pesando cerca de 300 gramas, capaz de causar terríveis
estragos. Seu comprimento era de um metro e meio, em média, e o peso, de cerca
de quatro quilos e meio. Embora não fosse especialmente preciso, podia-se
carregá-lo de pólvora e balas, disparar e, logo em seguida, carregar e disparar
outra vez. Para um bom atirador de mosquete, era possível dar um tiro a cada 15
segundos.”
“No início da guerra ninguém mencionava a
independência. E nem esse tema estava presente nas mentes dos que lutaram em
Bunker Hill, ou nos pensamentos de Washington ao assumir o comando do exército.
A caminho de Cambridge, vindo da Filadélfia, ele fora perfeitamente específico
ao assegurar ao Congresso Provincial de Nova York que “qualquer esforço dos
meus valorosos colegas, e o meu próprio, se estenderá igualmente ao
restabelecimento da paz e da harmonia entre a nação materna e as colônias”.”
“O inverno na América foi uma experiência a
qual jamais os soldados britânicos puderam acostumar-se, como também não se
adaptaram ao clamor incessante dos sapos, nas noites de primavera, ou aos
mosquitos norte-americanos, ou à falta de uma cerveja decente. É claro que os
terríveis ventos do inverno e as violentas nevascas da região da baía lançavam
a miséria indiscriminadamente sobre ambos os exércitos; mas para os homens do
rei, desacostumados àquele clima, aquela punição era absolutamente
insuportável. Um jovem irlandês da nobreza, o capitão Francis Lorde Rawdon,
descreveu os sofrimentos dos seus homens acampados em Bunker Hill, no começo de
dezembro, com suas tendas “tão arrebentadas”, que seria a mesma coisa dormirem
ao relento – “e ouvimos dizer, com uma certa inveja, dos vários bailes e
concertos que nossos irmãos têm tido em Boston”. Os soldados congelavam até
morrer em posição de vigia. Mesmo quando as tropas se mudaram para habitações
de inverno, algumas semanas depois, era quase impossível alguém se manter
aquecido.
O mar aberto continuava sendo a única tábua
de salvação para se obter carvão e alimento para a cidade, porém, com a
severidade das tempestades no Atlântico Norte, e os corsários norte-americanos
operando na costa em número cada vez maior, a despeito do mau tempo, cada vez
menos navios de suprimento conseguiam chegar.
O almirante britânico Samuel Graves, cuja
responsabilidade era patrulhar a linha da costa contra os corsários, descreveu
as tempestades de neve no mar, entre o cabo Ann e o cabo Cod, como desafiadoras
até dos homens mais afoitos.
Esse tipo de tempestade é tão sério que nem
olhar para ela é possível, e a neve, congelando tudo tão rápido quanto cai,
impede qualquer resistência – pois as roldanas ficam emperradas, a
maquinaria é recoberta por uma crosta, as cordas e as velas congelam e logo o
navio se transforma num bloco de gelo... Na verdade, se for assim a severidade
do inverno neste clima, onde o sentinela da praia frequentemente é encontrado
morto, congelado em seu posto, embora haja troca de guarda a cada meia hora, o
leitor pode ter alguma ideia do que sofre um marinheiro de vigia,
principalmente nos barcos pequenos.”
“Knox estivera ausente por dois meses, e
conseguiu realizar todas as expectativas, apesar das terríveis caminhadas pela
floresta, dos lagos congelados, das tempestades de neve, dos degelos, das
montanhas selvagens e dos vários acidentes que muitas vezes teriam
desencorajado um espírito menos forte. Ele foi bem-sucedido no seu plano,
ousado e praticamente impossível, e logo no momento certo, justificando, assim,
toda a confiança que Washington depositara nele. Por semanas, a história
daquela expedição, seria narrada, muitas e muitas vezes, no meio do exército, e
nos anos que se seguiram.
Partindo de Cambridge a cavalo, no dia 16 de
novembro, Knox e seu irmão William viajaram primeiro até à cidade de Nova York,
onde fizeram arranjos para o envio de suprimentos militares a Boston, e em
seguida apressaram-se em direção ao norte, subindo até o Hudson Valley, percorrendo
às vezes até 65 quilômetros num só dia.
Chegaram ao forte de Ticonderoga em 5 de
dezembro. Construído pelos franceses em 1755, no início da Guerra Francesa e
Indígena, o forte de pedra calcária foi tomado pelos britânicos em 1759, e
depois pelos norte-americanos em maio de 1775. Situava-se na extremidade sul do
lago Champlain, onde este se encontra com a parte norte do lago George.
As armas que Knox fora buscar eram na maioria
francesas: morteiros, canhões de 12 e 18 libras (ou seja, canhões que lançavam
balas de 5,5 quilos e 8 quilos) e um gigantesco canhão de bronze, de 24 libras
(balas de quase 11 quilos). Nem todas as armas estavam em boas condições de
uso. Após examiná-las, Knox selecionou 58 morteiros e canhões. Três dos
morteiros pesavam, cada um, uma tonelada, e o canhão de 24 libras, mais de 2,2
toneladas. Acreditava-se que a carga inteira pesasse não menos que 54,5
toneladas.
O plano era transportar as armas por barco,
descendo o lago George – ainda não completamente congelado. Na extremidade sul
do lago teria início, então, o longo processo de leva-las por terra até Albany,
ao sul, antes de volver para o leste, em direção a Boston, pelas montanhas de
Berkshire. A distância a ser coberta era de aproximadamente 485 quilômetros.
Knox planejava transportar as armas em trenós de grande porte, e contara para
isso com a neve, mas até ali apenas uma fina camada de poeira gelada cobria o
solo.
Com o auxílio de soldados locais e de homens
contratados, imediatamente ele se pôs em ação. Só o traslado das armas desde o
forte até o cais de embarque mostrou ser uma tarefa dificílima. A descida pelo
lago George, de cerca de 64 quilômetros demorou 8 dias. Três barcos, com sua
imensa carga, largaram velas em 9 de dezembro, e nas primeiras horas tiveram um
vento favorável. Após isso, a progressão se fez sob as “piores dificuldades”.
Na verdade, segundo as apressadas e quase ilegíveis passagens do diário de
Knox, a primeira hora sobre o lago parece ter sido a única, em todo o percurso,
que não trouxe as “piores dificuldades”.
Uma das embarcações, um saveiro, bateu numa
rocha e afundou, embora suficientemente perto da praia para que se pudesse
retirar a água, reparar o estrago e mais uma vez fazê-la navegar. Knox
registrou as ocasiões em que foi necessário remar com toda a força contra
implacáveis ventos contrários – num dia, 4 horas a “remar com
extraordinário esforço”, em outro, 6 horas “a remar com esforço extraordinário”.
Em certos lugares, os barcos tinham de abrir caminho pelo gelo. O irmão de
Knox, Wiliam escreveu ao final de 14 de dezembro: “Batendo os remos o tempo
todo contra o vento... Que Deus nos mande um vento bom.” As noites na praia
eram terrivelmente frias.
“Não é fácil imaginar as dificuldades que
temos enfrentado”, escreveu Knox a Washington, ao final da viagem pelo lago,
numa carta de 17 de dezembro e que só chegaria a Cambridge quase ao mesmo tempo
em que ele próprio chegou.
No caminho para o norte, com destino a
Ticonderoga, Knox determinara que se reunissem ou fabricassem trenós
comuns ou de carga, num total de quarenta e dois, e que os mesmos estivessem
disponíveis no forte George, na extremidade sul do lago George, a
aproximadamente 56 quilômetros ao sul de Ticonderoga. (“Peço-lhe, com a maior
seriedade, que não se poupem esforços, ou as despesas que forem necessárias”,
disse a um oficial local.) Com os trenós, e mais 80 parelhas de bois, Knox
agora estava preparado para prosseguir. “Confiando que... teremos uma boa
nevasca... Espero que dentro de 16 ou 17 dias nós possamos apresentar a Vossa
Excelência um nobre carregamento de artilharia”.
À sua mulher, Knox afirmou que a parte mais
difícil já havia passado, e conjeturou: “Não será pouco o que iremos arrasar
pelo país todo, com os nossos canhões.”
Mas a neve continuava sem cair. Em vez disso,
um “cruel degelo” teve início, impedindo o avanço por vários dias. O caminho
sul para Albany exigia quatro travessias do Hudson. Com a camada de gelo tão
fina sobre o rio, a pesada caravana teve de permanecer parada no forte George,
à espera de que o tempo mudasse. Quando aconteceu essa mudança, veio uma forte
nevasca. Noventa centímetros de neve caíram no início do dia de Natal.
Determinado a prosseguir sozinho para Albany, Knox quase morreu congelado,
lutando a pé contra a neve, até achar cavalos e um trenó para completar o
caminho.
Por fim, “o precioso comboio” partiu do forte
George. “Nossa cavalgada era muito imponente”, lembrou John Becker, que aos 12
anos havia acompanhado o pai, um dos guias da expedição. Eles seguiam
vagarosamente, laboriosamente, sob pesada neve, passando pelo vilarejo de
Saratoga, depois por Albany, onde Knox começou a fazer furos na camada de gelo
do Hudson, a fim de reforçá-la. (A ideia era de que a água, subindo pelo furos,
se espalharia sobre a superfície e congelaria, engrossando assim, gradualmente,
a camada de gelo.)
No dia do Ano-Novo, o tempo voltou a
esquentar. ”Está se perdendo um precioso tempo”, escreveu a Lucy. “O
degelo tem sido tão sério, que chego a tremer pelas consequências, pois, sem a
neve, a minha carga tão importante não poderá partir”.
Mas a temperatura caiu de novo. Em 7 de
janeiro, o general Schuyler escreveu a Washington, de seu quartel em Albany: “Esta
manhã tive a satisfação de ver a primeira divisão de trenós atravessar o rio
com canhões”.
Eles se deslocavam cautelosamente sobre o
rio, e por muitas horas pareceu que os furos feitos por Knox tinham dado certo.
Quase 12 trenós já haviam atravessado sem incidentes, quando de repente um dos
canhões maiores, um de 18 libras (balas de pouco mais de oito quilos),
arrebentou a camada de gelo e afundou, não muito longe da praia, deixando um
buraco de mais de 4 metros de diâmetro. Sem se deixar abalar, Knox logo iniciou
os trabalhos para recuperar o canhão do fundo do rio, perdendo um dia inteiro
nessa operação, porém conseguindo ao fim, como escreveu: “Graças à ajuda da boa
gente de Albany”.
Em 9 de janeiro, a expedição partiu da margem
leste do Hudson, tendo pela frente mais de 160 quilômetros de percurso. A neve
em Berkshire estava espessa, exatamente como precisava, mas as montanhas,
íngremes, desordenadas e cortadas por profundos e estreitos vales, eram o pior
desafio de todos. Knox, sem nenhuma experiência prévia num terreno daqueles,
descreveu a subida dos picos “de onde quase poderíamos ver todos os reinos da
terra”.
“Para mim, era quase um milagre que homens
com uma carga tão pesada fossem capazes de subir e descer aquelas montanhas”,
dizia outra passagem do seu diário.
Para conter os trenós carregados pelas
descidas, tão íngremes como telhados, foram amarradas cordas de contenção às
árvores. Arbustos e correntes eram colocadas por baixo dos esquis. Quando
alguns do seu grupo, com medo do perigo, se recusaram a prosseguir, Knox passou
três horas discutindo e apelando, até que eles finalmente concordaram em seguir
em frente.
Em Springfield, a fim de acelerar o ritmo,
Knox trocou os bois por cavalos. Na etapa final da jornada, o número de
curiosos que assistia a jornada crescia a cada dia.
Finalmente, pararam em Framingham, a cerca de
32 quilômetros a oeste de Boston. As armas foram descarregadas, enquanto Knox
partia a toda pressa para Cambridge.
Chegara intacto o “nobre comboio” de Knox.
Nem uma só arma foi perdida. Centenas de homens haviam participado, e o seu
trabalho e resistência foram excepcionais. Mas foi a ousadia e a determinação
do próprio Knox foi o que contou acima de tudo. O vendedor de livros de Boston,
de 25 anos, havia mostrado ser um líder de notável capacidade, um homem não só
capaz de arriscar ideias, mas também dotado do poder de torná-las reais.
Imediatamente, ele foi colocado por Washington no comando da artilharia.”
“O total da armada britânica – ancorada agora
em um “longo e espesso agrupamento” nas costas de Staten Island – chegava quase
a 400 navios, grandes e pequenos, 73 navios de guerra, incluindo 8 navios das
forças regulares, cada um com 50 canhões ou mais. Como comentavam alegremente
entre si os oficiais britânicos, era a maior frota jamais vista em águas
norte-americanas. Na verdade, foi a maior expedição do século XVIII, a maior e
a mais poderosa força que a Grã-Bretanha, ou qualquer outra nação jamais
produzira.
Pela proporção do que se passava nas colônias
norte-americanas em 1776, era uma demonstração de poder militar que
ultrapassava a imaginação. No total, 32 mil soldados haviam desembarcado em
Staten Island, uma força bem armada, treinada e equipada, mais numerosa do que
toda a população Nova York, ou mesmo da Filadélfia, que era a maior cidade da
América, com cerca de 30 mil habitantes.”
“Para Charles Willson Peale, caminhando pelo
meio dos soldados no litoral da Pensilvânia, aos primeiros clarões da manhã
seguinte, aqueles homens davam a impressão de serem os mais infelizes que
ele jamais vira. Um deles quase não tinha roupa alguma. “Estava com um velho e
sujo casaco feito com um lençol, a barba comprida, o rosto tão cheio de feridas
que nem podia limpá-lo”. De tal forma “desfigurado” ele estava, que Peale não
conseguiu logo reconhecer aquele homem: era seu próprio irmão, James Peale, que
chegara com uma unidade de Maryland do batalhão da retaguarda.”
“A aflição é a época radiante de um homem de
bem.” (Edward Young)
“De todos os oficiais generais que
participaram do cerco a Boston, apenas dois ainda serviam quando da rendição
britânica em Yorktown: Washington e Greene. Henry Knox, que se tornara general
de brigada após a batalha de Trenton, e que lutou em todas as batalhas que
Washington tomou parte, também estava presente em Yorktown. Greene e Knox, os
dois jovens inexperientes da Nova Inglaterra, selecionados por Washington no
início como a melhor “matéria-prima” com quem teria de trabalhar, mostraram
ambos possuir verdadeira grandeza e permaneceram na luta até o final.
O apoio financeiro vindo da França e da
Holanda, e o militar do exército e da marinha francesas, desempenhariam um
grande papel no resultado final. Mas em última análise, foi Washington e o seu
exército que venceram a guerra da independência norte-americana. O destino da
guerra e da revolução se deveu ao exército. O Exército Continental – e não o
controle do rio Hudson, ou o domínio de Nova York, ou da Filadélfia – foi a
chave da vitória. E foi Washington quem manteve unido o exército, dando-lhe
ânimo por todo o mais desesperado dos tempos.
Ele não era um brilhante estrategista ou
tático, nem um orador talentoso, e também não era um intelectual. Por diversos
momentos cruciais, demonstrou uma acentuada indecisão. Cometeu vários erros de
julgamento. Porém, a experiência foi sempre o seu maior mestre, desde a
infância, e no seu grande teste ele aprendeu inabalavelmente com a experiência.
Acima de tudo, Washington nunca se esqueceu de tudo o que estava em risco, e em
momento algum desistiu.”
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