Editora: Companhia das Letras
Opinião: ★★★☆☆
ISBN: 978-85-359-3298-0
Páginas: 384
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Sinopse: Ver Parte
I
“O bispo desdenha dos cálculos oficiais. Em sua contabilidade particular,
a Universal enxerga uma legião de adeptos bem mais expressiva. Ele costuma
proclamar a conquista de 7 milhões de fiéis em território brasileiro, e mais 2
milhões no exterior.3 Estudiosos como Ricardo Mariano admitem a
possibilidade de distorções em razão da metodologia do IBGE — os dados são
obtidos por meio de amostragem e, diante da pergunta “qual é a sua religião”, grande número dos
entrevistados se identifica apenas como “evangélico”. O número de fiéis
incluídos nessa classificação, sem vinculações com igrejas, é elevadíssimo: 9,2
milhões. Assim, na avaliação de Mariano, seria razoável, e não causaria
surpresa, se 2 milhões deles fossem adeptos da Universal.4
Independentemente
da controvérsia, a Universal continuou chamando a atenção mais do que qualquer
outra denominação evangélica. A instituição se espalhou pelo Brasil e se
expandiu mundo afora. Atualmente seu site registra presença em 95 países, nos
cinco continentes, mas em geral o bispo propaga números inflacionados. Em sua
biografia, em 2007, ele enumerou 172 países, e foi essa cifra que o advogado
Arthur Lavigne citou em representações ao Judiciário, para ressaltar a força da
instituição ao redor do mundo.5 Outros números apresentados pela
igreja são relevantes e significativos: 14 mil pastores; 320 bispos; 7157
templos no Brasil; e outros 2857 no exterior.6
Macedo
encontrou mais dificuldades para crescer em pequenos munícipios interioranos,
como a sua Rio das Flores, predominantemente católica e conservadora. A
pregação neopentecostal turbinada com um discurso de autoajuda acenava com
possibilidades de sucesso e prosperidade financeira por meio do
empreendedorismo. Tal discurso encontrava maior receptividade junto aos
trabalhadores dos grandes centros, principalmente nas periferias, atingidas com
mais intensidade pelo desemprego e subemprego, desde o início dos anos 1980.
A
ascensão era estimulada por meio do trabalho autônomo. Quem trabalhasse duro
venceria com as “bênçãos de Deus” — o progresso na vida econômica viria como
uma contrapartida da aliança com Deus, explicou o antropólogo da Unicamp Carlos
Gutierrez. “Na religião, os fiéis encontram incentivo e apoio, desenvolvem a
autoestima e encaram as agruras da vida com mais esperança.” Novos interesses
emergiam. Se, nos anos 1970 e 1980, a ala “progressista” do catolicismo
politizava os trabalhadores a partir das discussões de suas reivindicações
sociais, as igrejas evangélicas passavam a conquistar adeptos acenando com o
sucesso calcado no êxito pessoal.7”
3.
Mônica Bergamo, “Bispo Macedo celebra 40 anos da Igreja Universal no subúrbio
do Rio”, Folha de S.Paulo, 8 jul. 2017; e Anna Virginia Balloussier,
“Igreja Universal faz 40 anos e realiza sonho de alcançar classe média alta”,
op. cit.
4.
Entrevista do sociólogo Ricardo Mariano ao autor, em 13 maio 2016.
5.
Douglas Tavolaro, O bispo, op. cit., p. 243; e informação fornecida pelo
advogado de Edir Macedo, Arthur Lavigne, em habeas corpus impetrado em 2011
(número 003879485.2011.4.03.0000/SP — Tribunal Federal da 3a Região), em ação
por crimes de lavagem de valores, evasão de divisas e formação de quadrilha.
6.
Edir Macedo, “O segredo da Universal”, Folha de S.Paulo, 9 jul. 2017; e
Anna Virginia Balloussier, “Igreja Universal faz 40 anos e realiza sonho de
alcançar classe média alta”, op. cit.
7.
Celso Ming, “Empreendedorismo e fé”, O Estado de S. Paulo, 26 nov. 2016;
e “Igreja Universal completa 40 anos e propõe uma visão de mundo empreendedora
para o país”, IHU On-Line, 24 jul. 2017.
“Responsável por uma ampla investigação sobre o patrimônio empresarial de
dirigentes da Universal, em 2007 — quando a igreja completou trinta anos —, a
repórter Elvira Lobato, então na Folha de S.Paulo, foi vítima de pressão
exercida pela igreja. A jornalista produziu a reportagem “Universal chega aos
30 anos com império empresarial”, que lhe tomou dois meses de apuração e lhe
rendeu o Prêmio Esso de Jornalismo em 2008. Em trabalho anterior, de 1999, Elvira
havia comprovado a autenticidade de documentos que ligavam a Universal às
empresas de paraísos fiscais Cableinvest e Investholding. Os nomes de
proprietários de offshores não são identificados no ato de constituição das
empresas. Os responsáveis pela abertura das contas assumem compromisso de total
sigilo com os clientes.
Em resposta às reportagens de
Elvira Lobato, a Universal moveu 111 ações judiciais por danos morais contra a
repórter e o jornal Folha de S. Paulo. Do total, 108 ações foram
encaminhadas aos Juizados Especiais Cíveis (antes chamados de pequenas causas).
Não se contestavam as informações publicadas: seguidores da igreja se diziam
“prejudicados em sua fé”. Pastores alegavam que eram cobrados por fiéis, nas
ruas, sobre críticas à instituição. O modelo das ações era o mesmo, as frases
eram as mesmas. Exigiam uma reparação por danos que diziam ter sofrido. Os
processos judiciais replicaram pelo país, do Acre a Bahia e Rio Grande do Sul,
vindos quase sempre de lugares remotos. A suposta ofensa parecia não ser
problema nos grandes centros urbanos. A estratégia da igreja, de pulverizar as
ações, obrigou o jornal a contratar dezenas de advogados para comparecer a
audiências a pontos longínquos do Brasil.
O
ônus foi imenso. A defesa, difícil e onerosa. A advogada da Folha Taís
Gasparian viu nessa ação uma utilização indevida dos Juizados Especiais Cíveis,
criados para proteger consumidores. Pela lei dos Juizados Especiais, o autor do
processo pode decidir que a ação terá trâmite em sua própria cidade. Isso foi
concebido para que os consumidores não precisassem se deslocar aos grandes
centros quando pretendessem processar uma empresa de porte. Nesse caso, ocorreu
o contrário: a jornalista teria de circular por todo o país para se defender.
Os
principais veículos de comunicação se solidarizaram com a Folha. “Foi
uma ação para intimidar, para desestimular o profissional a cumprir o trabalho
jornalístico”, avaliou Elvira. Todas as ações, no entanto, tiveram sentenças
favoráveis à repórter e ao jornal. A última, em Santa Maria da Vitória, na
Bahia, foi encerrada em 2017. Vários autores de ações acabaram condenados pela
Justiça, por litigância de má-fé, com o pagamento de multas de 1% a 10% do
valor conferido à causa.71
Um
ano antes, a Universal havia adotado a mesma estratégia contra a Rede Globo.
Moveu 96 ações em Juizados Especiais Cíveis contra a emissora carioca,
reclamando do programa policial Linha Direta, que exibiu reportagem
sobre o assassinato do jovem Lucas Terra, em Salvador. A atração era comandada
pelo jornalista Domingos Meirelles, ex-presidente da Associação Brasileira de
Imprensa (ABI) — hoje no campo adversário, pois apresenta o Record Repórter
Investigação, na TV do bispo. A Universal alegava que seu nome fora usado
indevidamente na longa reportagem sobre o caso. A Globo informou que a igreja
não foi citada. Dos 96 processos, 87 tiveram sentenças favoráveis à emissora, e
os outros prosseguiam na Justiça. As ações foram abertas em todas as regiões do
país: 33 no Nordeste, vinte no Norte, dezesseis no Sul, e onze no Sudeste e
Centro-Oeste. O conteúdo das petições iniciais era idêntico, apesar da autoria
e da origem distintas.72”
71.
Entrevista da jornalista Elvira Lobato ao autor, em 2 set. 2016; Elvira Lobato,
“Universal moveu 111 ações contra reportagem sem contestar dados”, Folha de
S. Paulo, 9 jul. 2017; “Elvira Lobato relata investigações sobre a Igreja
Universal em livro”, Folha Online, 30 ago. 2017; e entrevista da advogada Taís
Gasparian ao autor, em 26 fev. 2019.
72.
Chico Otávio, “Justiça rejeita ação orquestrada da Universal”, O Globo,
22 jan. 2009; Lauro Jardim, “Globo vence 60a ação contra Universal”, Veja,
31 mar. 2008.
“Edir Macedo deu o primeiro passo para construir seu império empresarial
com a instalação da modesta cantina no primeiro templo no bairro da Abolição,
em 1977, gerenciada pelo cunhado Múcio Crivella.1 Dali em diante,
ele não parou de investir.
A
necessidade de “ganhar almas” e propagar a fé pelos quatro cantos do Brasil foi
uma justificativa real e convincente para que o bispo passasse a adquirir
veículos de comunicação pelo país: TVs, rádios e jornais. Expandiu o seu reino,
sem limites.
Em
mais de quarenta anos de atuação, o exército religioso de Macedo ergueu um
conglomerado de proporções grandiosas. Contempla uma gama de empresas, nos mais
diferentes ramos. Segundo uma lista divulgada pelo ex-bispo da Universal
Alfredo Paulo, o grupo reúne 97 empresas, incluindo as emissoras de rádio e TV.
Nomes de pessoas ligadas à igreja foram detectados ainda em outras firmas
registradas em juntas comerciais ou citadas em processos judiciais e reportagens
publicadas na imprensa.2 Macedo tem em seu nome a TV Record, e é
sócio da empresa B.A. Empreendimentos e Participações Ltda, controlada pela
emissora. A empresa B.A., por sua vez, é dona de 49% das ações do Banco Renner.
Nas
outras companhias do grupo, aparecem como sócios 113 pessoas, entre bispos,
pastores, obreiros e familiares do líder da Universal. Essas empresas chegaram
a gerar 22 mil empregos diretos e 60 mil indiretos. E aí não estão incluídos os
líderes religiosos (bispos e pastores) que recebem uma “ajuda de custo” pela
obra voluntária.3
Os
fiéis não têm informação precisa sobre o destino de suas ofertas. Sabem da
existência dos empreendimentos, mas em geral não imaginam a extensão dos
vultosos negócios e o poderio financeiro de sua igreja. Os líderes da Universal
argumentam ser necessária a aquisição de bens e propriedades para a manutenção
de seu projeto religioso.
O
bispo adotou como estratégia a diversificação dos negócios. Além das emissoras,
ele conta com jornais, banco, seguradora, financeira e administradora de
cartões de crédito. Outros nichos passaram a ser explorados: hospital, clínica
médica, operadora de plano de saúde, empresas de logística em transporte,
segurança patrimonial, mão de obra
especializada e empresas de água e refrigerantes. O grupo chegou a ter uma
empresa de táxi-aéreo, a Alliance Jet. Vendida em 2015, faturava 500 mil reais
ao mês.
Edir
Macedo exibiu como um trunfo a posse da Record — a TV com o segundo maior
faturamento no Brasil, com 29 emissoras próprias e 79 afiliadas. Após a
aquisição da emissora, montou sua sonhada rede nacional, encorpada com a
inclusão da Record News (ex-Rede Mulher) e da Rede Família de Comunicação
(canal por satélite e web). O grupo mantém ainda a Rede Aleluia — com 68 rádios
espalhadas pelo país —,4 o portal R7; a Unipro Editora e o jornal Correio
do Povo (Porto Alegre). Vinculadas diretamente à igreja, estão a Folha
Universal e a IURD TV (web).
Se a
Record está a anos-luz da Globo, seu faturamento não é nada desprezível. Muito
ao contrário. Em 2017, a emissora faturou 1,8 bilhão de reais.5 Um
ano antes, ela havia registrado o maior lucro líquido de sua história: 227,3
milhões, quase quatro vezes o resultado do ano anterior.6 Enquanto
cultivava o sonho de ultrapassar a Globo — pretensão que parece ter deixado de
lado, ao menos por um tempo —, a TV de Edir Macedo chegou ao segundo lugar na
audiência. Depois perdeu terreno para o SBT de Silvio Santos. Em 2018, do total
de aparelhos ligados durante todo o dia, o SBT alcançou 15%, e a Record, 13,9%.
As duas se digladiaram, enquanto a Band teve escassos 3,2%, e a Globo flanou,
liderando folgadamente, com 35,9%.7
A
força da Record não pode ser subestimada. Seu sinal chega a mais de 120 países.
Edir Macedo, em 2007, estimou o valor de sua emissora em 2 bilhões de dólares.8
Ronaldo Didini, atualmente prestador de serviços na área de comunicação —
graças principalmente à experiência acumulada no período em que esteve na
Universal e na Record —, arrisca seu valor atual em 3 bilhões de dólares.
A revista
norte-americana Forbes, porém, sugeriu números mais modestos, ao
calcular o patrimônio do bispo em 1,1 bilhão de dólares. Na lista dos mais
ricos do mundo em 2015, Edir Macedo e família apareceram na 1638o posição — o
último entre os 48 bilionários brasileiros citados. Com praticamente a mesma
fortuna, em 2013 ele foi apontado pela Forbes como o pastor evangélico
mais rico do Brasil. O bispo, de lá para cá, perdeu posições no ranking. Não
pela diminuição de seu patrimônio, mas devido ao aumento da fortuna de outros
concorrentes.9
A
Universal contestou os números apresentados pela Forbes. Qualificou como
“mentirosa” a informação sobre a riqueza de Macedo, pois estaria baseada “em
velhas mentiras publicadas na imprensa”. Segundo a igreja, o único bem de
Macedo era a Record, da qual não recebe salários, não tem retirada de lucros e
nunca recebeu um centavo da empresa. “Não vive dessas atividades, mas é
dependente do seu próprio trabalho como pastor evangélico”, afirmou, em nota, a
instituição. De acordo com a Universal, Macedo doou à igreja seus imóveis,
todos “adquiridos com seus próprios recursos de direitos autorais” (referentes
à venda de livros).10
Para
a Forbes, a maior parte da fortuna de Macedo teve origem na Record. A
revista observou que não havia ficado claro como o bispo conseguira o
financiamento para a compra da emissora e, segundo relatórios do Ministério
Público do Brasil, ele teria usado os recursos da igreja. É fato que a Record,
valioso patrimônio de Macedo, contou com um substancial e nada desprezível
suporte, a partir de 1989: a injeção de recursos da Universal, via compra de
horário nas madrugadas para a exibição de programas religiosos. A emissora, na
visão de concorrentes, não compete em condições de igualdade, pois recebe
recursos de uma instituição imune a impostos. Em 2016, a igreja pagou 575
milhões de reais para ocupar o espaço da programação nas madrugadas. No ano
anterior, 535 milhões. Em 2013, outros 500 milhões.11 Esses valores
giraram em torno de 30% do faturamento da rede.
A
única ligação entre a igreja e a Record, argumenta Edir Macedo, é sua
participação majoritária na sociedade da empresa. O que evidentemente não é
pouca coisa. Mas isso não autorizaria a transmissão gratuita dos programas da Universal,
explica o bispo, pois a igreja e a Record são pessoas jurídicas diferentes, com
patrimônio distintos. “Não podendo ter a confusão patrimonial de bens nem de
pessoas, pois, se tal mistura existisse, seria considerado um ilícito, […]
contrário à lei”, justificou. “Como a Igreja Universal trabalha de forma
totalmente lícita, é necessário atender o que a legislação determina de modo
que temos de ter um contrato. Precisamos ter um contrato de locação com a Rede
Record, pagarmos os preços de mercado pela transmissão da programação, contabilizarmos
tudo isso”, afirmou.12 O debate se dá em torno dos valores pagos.
Para alguns, seriam superestimados. A Record não detalha os termos de seu
contrato com a igreja, alegando existir uma cláusula de confidencialidade.
Somas
polpudas também vão para concorrentes: ao alugar horários na programação de
outras emissoras, a Universal é um dos maiores anunciantes privados do país.
Até 2018, dispunha de uma verba de 800 milhões de reais para investir em mídia
televisiva — cerca de 500 milhões de reais para a Record, o restante dividido
entre Bandeirantes, Canal 21 (também grupo Band), RedeTV!, CNT e TV Gazeta de
São Paulo. Ao final do ano, reduziu 120 milhões de reais em investimentos. Não
mexeu no montante destinado à Record, e renegociou os valores com as outras
emissoras. Somente com o Canal 21 — que dá traço na audiência — a Universal
gastava cerca de 10 milhões de reais mensais. O contrato foi firmado em 2013.
Macedo havia apresentado uma proposta irrecusável
para tirar do ar o concorrente Valdemiro Santiago, da Igreja Mundial do Poder
de Deus, que lhe tomava fiéis.13 Das cinco principais redes de TV do
Brasil, ao menos duas — Band e RedeTV! — não teriam condições de sobreviver sem
o dinheiro da Universal e outras igrejas evangélicas. “Se eu não vender horário
para igreja, quebro”, admitiu Marcelo de Carvalho, sócio e vice-presidente da
RedeTV!.14
Provedora,
a Universal alimenta sua cadeia de empresas. Entre elas, 41 têm participação
societária umas nas outras, tramando uma teia de firmas interligadas. Só para
ficar num exemplo, a Record é sócia da B.A. Empreendimentos e Participações,
Rádio 99 FM, Rádio e Televisão Capital, Sistema Sul de Comunicação (SSC), TV
Record do Rio de Janeiro Ltda e Televisão Sociedade Ltda.
Recorrendo
umas às outras, as empresas se retroalimentam. A Record contrata firmas do
grupo para cuidar dos serviços de segurança, transporte, fornecimento de água
mineral e produção de programas. O banco oferece empréstimos aos funcionários;
a operadora de plano de saúde, o convênio médico. Os lucros não saem do
conglomerado.
A
B.A. Empreendimentos, vinculada à Record, que atua como um braço financeiro da
emissora, comprou as ações do Banco Renner, instituição sediada em Porto Alegre
(RS). Macedo fez essa nova investida no mercado financeiro depois de perder o
Banco de Crédito Metropolitano — por determinação do Banco Central,
transformado em uma financeira e, depois, em uma factoring.
A
aquisição das ações do Banco Renner, fechada em 2009, só foi confirmada quatro
anos mais tarde, graças a um decreto da presidenta da República, Dilma
Rousseff. Por terem residência no exterior à época, os sócios Edir Macedo e
Ester Eunice Bezerra entraram no negócio como investidores estrangeiros. Dilma
precisou, então, aprovar a participação.15
A
família Renner continua como controladora do banco, e o bispo deseja aumentar
seu quinhão. A família comandava a rede varejista com sua marca, vendida em
1998 à companhia americana JCPenney, e repassada anos depois a um grupo de
investidores.16 Desde o final de 2017, Macedo tenta se tornar o
sócio majoritário do banco, mas encontra resistência em pareceres da área
técnica do Banco Central.17 Em 2009, Macedo havia adquirido apenas
40% das ações. Quatro anos depois, seu percentual chegou a 49%, após novo
acerto entre as partes. O banco passou a oferecer empréstimos, leasings e
financiamentos de veículos a cerca de 5 mil funcionários e fornecedores da TV
Record.18
Turbinado
pelo poderio do bispo, agora o banco Renner se aventura em nova seara. Em março
de 2019, anunciou o patrocínio de dois dos maiores times de futebol do país, o
Cruzeiro Esporte Clube, de Belo Horizonte, e o Clube Athletico Paranaense, de
Curitiba, por meio do banco digital Digi+. O Cruzeiro receberá 11 milhões de
reais fixos ao ano, além de bônus por cumprimento de metas. O Athletico contará
com um valor fixo, mais incentivos, mas as cifras não foram reveladas. Dois
meses depois, o Digi+ tornou-se também o patrocinador do Fortaleza, da capital
cearense, e, em outubro, agregou o Sport, de Recife.19 Mesmo antes
de adquirir a participação no banco, Macedo havia feito investimentos
importantes no Rio Grande do Sul. Em 2007, seu grupo adquiriu a TV Guaíba, as
rádios Guaíba AM e FM e o jornal Correio do Povo. As emissoras compõem
hoje a Record Sul. Foram pagos 100 milhões de reais pelo pacote.20”
1.
Múcio Crivella morreu em 1993. Informação de material de arquivo para o
trabalho jornalístico sobre os sessenta anos da TV Record e da reportagem
“Família de Marcelo Crivella completa 30 anos na política”, op. cit.
2.
Informações de juntas comerciais, Receita Federal e site da TV Record; Elvira
Lobato, “Universal chega aos 30 anos com império empresarial”, op. cit.; Elvira
Lobato, “Igreja controla maior parte de TVs do país”, Folha de S.Paulo,
15 dez. 2007; Elvira Lobato, “Record tem firmas em paraísos fiscais”, op. cit.;
Vânia Cristino, “Banco da Universal tem sócio em paraíso fiscal”, op. cit.;
Chico Otávio, “Bispo controla ‘holding’ com interesse em diversas áreas”, O
Estado de S. Paulo, 29 dez. 1995. “Empresas secretas do bispo Macedo e
cúpula da IURD (parte 1), canal do ex-bispo Alfredo Paulo no YouTube,
disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=lcsdA81ylQI&feature=youtu.be>, 23 dez. 2016, acesso em: 11
out. 2019: “Empresas secretas do Bispo Macedo e cúpula da IURD (parte 2), canal
do ex-bispo Alfredo Paulo no YouTube, disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=mPuJnST6Hmo&feature=youtu.be>, publicado em 26 dez. 2016,
acesso em: 11 out. 2019; “Empresas secretas do Bispo Macedo e cúpula da IURD
(parte 3), canal do ex-bispo Alfredo Paulo no YouTube, disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=r8HPIkgsK1M&feature=youtu.be>, publicado em 29 dez. 2016,
acesso em: 11 out. 2019: “Empresas secretas do Bispo Macedo e cúpula da IURD
(parte 4), canal do ex-bispo Alfredo Paulo no YouTube, disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=D5FqLQSq1rE&feature=youtu.be>, publicado em 2 jan. 2017,
acesso em: 11 out. 2019; “Comunicado importante do bispo Alfredo Paulo”, página
do Facebook de Alfredo Paulo, em 3 jan. 2017; “Atendendo ao desafio do sr.
Renato Cardoso, segue mais uma lista”, canal do ex-bispo Alfredo Paulo no
YouTube, em 2 ago. 2019, acesso em: 11 out. 2019.
3. O
último número disponível sobre funcionários do grupo consta da biografia O
bispo, de Douglas Tavolaro (op. cit., p. 238), de 2007. Depois dessa
publicação, a TV Record, por exemplo, demitiu mais de 2 mil empregados.
4.
Informações de juntas comerciais, site da TV Record; site da Rede Aleluia;
Elvira Lobato, “Universal chega aos 30 anos com império empresarial”, op. cit.;
e Ricardo Feltrin, “Igreja Universal vende empresa de táxi-aéreo”, UOL TV e
Famosos, 10 jan. 2015.
5. O
faturamento da Rede Globo, em 2017, foi de 9,7 bilhões de reais, e o SBT ficou
com 998 milhões de reais.
6.
Daniel Castro, “Lucro do SBT cresce quase 500% após demissão de 200
funcionários”, Notícias da TV, UOL, 16 maio 2018; e Daniel Castro, “Após
demitir 2.000 e terceirizar novela, Record tem o maior lucro da história”,
Notícias da TV, UOL, 22 mar. 2017.
7.
Painel Nacional de TV (PNT) do Kantar Ibope Media; Cristina Padiglione, “SBT
foi a rede que mais cresceu e menos investiu em 2018, em relação a Globo e
Record”, Telepadi, Folha de S.Paulo, 4 jan. 2019.
8. Douglas
Tavolaro, O bispo, op. cit., p. 161.
9.
“Edir Macedo and Family”, Forbes, 3 fev. 2015; Tatiana Vaz, “Quem são os
ex-bilionários do Brasil, incluindo Edir Macedo”, Exame, 13 set. 2016;
Anderson Antunes, “Brazilian Billionaire Bishop Edir Macedo Is Now a Banker,
Too”, Forbes, 22 jul. 2013; “The Richest Pastors in Brazil”, Forbes,
17 jan. 2013; e “Com fortuna de R$ 2 bilhões, Edir Macedo é o pastor evangélico
mais rico do Brasil, diz revista”, UOL, 18 jan. 2013.
10.
“Em nota, Universal diz que vai à Justiça por inclusão de Edir Macedo em lista
da Forbes”, Portal Imprensa, 5 mar. 2013; e Mário Simas Filho, “O céu e
o inferno não são folclore”, op. cit.
11.
Ricardo Feltrin, “Por madrugadas, Igreja Universal pagará este ano à Record R$
575 milhões”, UOL, 24 dez. 2016.
12.
“O Bispo responde: A ligação entre a Igreja e a Record”, Blog Universal, 8 ago.
2009.
13.
Daniel Castro e Rui Dantas, “Igreja Universal corta R$ 120 milhões da verba de
TV e ameaça emissoras”, Notícias da TV, UOL, 3 set. 2018.
14.
Flávio Ricco, “Triste realidade”, UOL, 3 fev. 2017; e Maurício Stycer, “‘Se eu
não vender horário para igreja, quebro’, diz sócio da RedeTV!”, UOL, 10 mar.
2017.
15.
Tatiana Vaz, “Edir Macedo compra 49% do Banco Renner”, Exame, 8 jul.
2013.
16.
Ibid.; Fabíola Moura, Paula Sambo e Christiana Sciaudone, “Dispensada pela
JCPenney, Renner se valoriza 3.300%”, Exame/Bloomberg, 13 set. 2017.
17.
Lauro Jardim, “Quero ser banqueiro”, O Globo, 1 abr. 2018.
18.
“Grupo Record adquire 40% do Banco Renner”, Valor Econômico, 23 out.
2009; e Daniel Castro, “Após demitir 2.000 e terceirizar novela, Record tem o
maior lucro da história”, op. cit. A TV Record tinha 10 mil funcionários, mas 2
mil foram demitidos entre 2014 e 2015.
19.
“Banco Renner será o novo patrocinador do Cruzeiro e anúncio será feito na
quarta”, Gazeta Esportiva, 3 mar. 2019; Lauro Jardim, “Athletico PR tem
novo patrocinador”, O Globo, 12 mar. 2019; “Fortaleza assina com Digi+ e
se une a Athletico-PR e Cruzeiro”, Máquina do Esporte, 31 maio 2019; “Sport segue
‘tendência’ e fecha patrocínio máster com Digimais”, Máquina do Esporte, UOL,
18 out. 2019.
20.
Elvira Lobato, “Universal chega aos 30 anos com império empresarial”, op. cit.
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