segunda-feira, 21 de julho de 2025

O Reino: a história de Edir Macedo e uma radiografia Igreja Universal (Parte II), de Gilberto Nascimento

Editora: Companhia das Letras

Opinião: ★★★☆☆

ISBN: 978-85-359-3298-0

Páginas: 384

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Sinopse: Ver Parte I



O bispo desdenha dos cálculos oficiais. Em sua contabilidade particular, a Universal enxerga uma legião de adeptos bem mais expressiva. Ele costuma proclamar a conquista de 7 milhões de fiéis em território brasileiro, e mais 2 milhões no exterior.3 Estudiosos como Ricardo Mariano admitem a possibilidade de distorções em razão da metodologia do IBGE — os dados são obtidos por meio de amostragem e, diante da pergunta “qual é a sua religião”, grande número dos entrevistados se identifica apenas como “evangélico”. O número de fiéis incluídos nessa classificação, sem vinculações com igrejas, é elevadíssimo: 9,2 milhões. Assim, na avaliação de Mariano, seria razoável, e não causaria surpresa, se 2 milhões deles fossem adeptos da Universal.4

Independentemente da controvérsia, a Universal continuou chamando a atenção mais do que qualquer outra denominação evangélica. A instituição se espalhou pelo Brasil e se expandiu mundo afora. Atualmente seu site registra presença em 95 países, nos cinco continentes, mas em geral o bispo propaga números inflacionados. Em sua biografia, em 2007, ele enumerou 172 países, e foi essa cifra que o advogado Arthur Lavigne citou em representações ao Judiciário, para ressaltar a força da instituição ao redor do mundo.5 Outros números apresentados pela igreja são relevantes e significativos: 14 mil pastores; 320 bispos; 7157 templos no Brasil; e outros 2857 no exterior.6

Macedo encontrou mais dificuldades para crescer em pequenos munícipios interioranos, como a sua Rio das Flores, predominantemente católica e conservadora. A pregação neopentecostal turbinada com um discurso de autoajuda acenava com possibilidades de sucesso e prosperidade financeira por meio do empreendedorismo. Tal discurso encontrava maior receptividade junto aos trabalhadores dos grandes centros, principalmente nas periferias, atingidas com mais intensidade pelo desemprego e subemprego, desde o início dos anos 1980.

A ascensão era estimulada por meio do trabalho autônomo. Quem trabalhasse duro venceria com as “bênçãos de Deus” — o progresso na vida econômica viria como uma contrapartida da aliança com Deus, explicou o antropólogo da Unicamp Carlos Gutierrez. “Na religião, os fiéis encontram incentivo e apoio, desenvolvem a autoestima e encaram as agruras da vida com mais esperança.” Novos interesses emergiam. Se, nos anos 1970 e 1980, a ala “progressista” do catolicismo politizava os trabalhadores a partir das discussões de suas reivindicações sociais, as igrejas evangélicas passavam a conquistar adeptos acenando com o sucesso calcado no êxito pessoal.7

3. Mônica Bergamo, “Bispo Macedo celebra 40 anos da Igreja Universal no subúrbio do Rio”, Folha de S.Paulo, 8 jul. 2017; e Anna Virginia Balloussier, “Igreja Universal faz 40 anos e realiza sonho de alcançar classe média alta”, op. cit.

4. Entrevista do sociólogo Ricardo Mariano ao autor, em 13 maio 2016.

5. Douglas Tavolaro, O bispo, op. cit., p. 243; e informação fornecida pelo advogado de Edir Macedo, Arthur Lavigne, em habeas corpus impetrado em 2011 (número 003879485.2011.4.03.0000/SP — Tribunal Federal da 3a Região), em ação por crimes de lavagem de valores, evasão de divisas e formação de quadrilha.

6. Edir Macedo, “O segredo da Universal”, Folha de S.Paulo, 9 jul. 2017; e Anna Virginia Balloussier, “Igreja Universal faz 40 anos e realiza sonho de alcançar classe média alta”, op. cit.

7. Celso Ming, “Empreendedorismo e fé”, O Estado de S. Paulo, 26 nov. 2016; e “Igreja Universal completa 40 anos e propõe uma visão de mundo empreendedora para o país”, IHU On-Line, 24 jul. 2017.

 

 

Responsável por uma ampla investigação sobre o patrimônio empresarial de dirigentes da Universal, em 2007 — quando a igreja completou trinta anos —, a repórter Elvira Lobato, então na Folha de S.Paulo, foi vítima de pressão exercida pela igreja. A jornalista produziu a reportagem “Universal chega aos 30 anos com império empresarial”, que lhe tomou dois meses de apuração e lhe rendeu o Prêmio Esso de Jornalismo em 2008. Em trabalho anterior, de 1999, Elvira havia comprovado a autenticidade de documentos que ligavam a Universal às empresas de paraísos fiscais Cableinvest e Investholding. Os nomes de proprietários de offshores não são identificados no ato de constituição das empresas. Os responsáveis pela abertura das contas assumem compromisso de total sigilo com os clientes.

Em resposta às reportagens de Elvira Lobato, a Universal moveu 111 ações judiciais por danos morais contra a repórter e o jornal Folha de S. Paulo. Do total, 108 ações foram encaminhadas aos Juizados Especiais Cíveis (antes chamados de pequenas causas). Não se contestavam as informações publicadas: seguidores da igreja se diziam “prejudicados em sua fé”. Pastores alegavam que eram cobrados por fiéis, nas ruas, sobre críticas à instituição. O modelo das ações era o mesmo, as frases eram as mesmas. Exigiam uma reparação por danos que diziam ter sofrido. Os processos judiciais replicaram pelo país, do Acre a Bahia e Rio Grande do Sul, vindos quase sempre de lugares remotos. A suposta ofensa parecia não ser problema nos grandes centros urbanos. A estratégia da igreja, de pulverizar as ações, obrigou o jornal a contratar dezenas de advogados para comparecer a audiências a pontos longínquos do Brasil.

O ônus foi imenso. A defesa, difícil e onerosa. A advogada da Folha Taís Gasparian viu nessa ação uma utilização indevida dos Juizados Especiais Cíveis, criados para proteger consumidores. Pela lei dos Juizados Especiais, o autor do processo pode decidir que a ação terá trâmite em sua própria cidade. Isso foi concebido para que os consumidores não precisassem se deslocar aos grandes centros quando pretendessem processar uma empresa de porte. Nesse caso, ocorreu o contrário: a jornalista teria de circular por todo o país para se defender.

Os principais veículos de comunicação se solidarizaram com a Folha. “Foi uma ação para intimidar, para desestimular o profissional a cumprir o trabalho jornalístico”, avaliou Elvira. Todas as ações, no entanto, tiveram sentenças favoráveis à repórter e ao jornal. A última, em Santa Maria da Vitória, na Bahia, foi encerrada em 2017. Vários autores de ações acabaram condenados pela Justiça, por litigância de má-fé, com o pagamento de multas de 1% a 10% do valor conferido à causa.71

Um ano antes, a Universal havia adotado a mesma estratégia contra a Rede Globo. Moveu 96 ações em Juizados Especiais Cíveis contra a emissora carioca, reclamando do programa policial Linha Direta, que exibiu reportagem sobre o assassinato do jovem Lucas Terra, em Salvador. A atração era comandada pelo jornalista Domingos Meirelles, ex-presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) — hoje no campo adversário, pois apresenta o Record Repórter Investigação, na TV do bispo. A Universal alegava que seu nome fora usado indevidamente na longa reportagem sobre o caso. A Globo informou que a igreja não foi citada. Dos 96 processos, 87 tiveram sentenças favoráveis à emissora, e os outros prosseguiam na Justiça. As ações foram abertas em todas as regiões do país: 33 no Nordeste, vinte no Norte, dezesseis no Sul, e onze no Sudeste e Centro-Oeste. O conteúdo das petições iniciais era idêntico, apesar da autoria e da origem distintas.72

71. Entrevista da jornalista Elvira Lobato ao autor, em 2 set. 2016; Elvira Lobato, “Universal moveu 111 ações contra reportagem sem contestar dados”, Folha de S. Paulo, 9 jul. 2017; “Elvira Lobato relata investigações sobre a Igreja Universal em livro”, Folha Online, 30 ago. 2017; e entrevista da advogada Taís Gasparian ao autor, em 26 fev. 2019.

72. Chico Otávio, “Justiça rejeita ação orquestrada da Universal”, O Globo, 22 jan. 2009; Lauro Jardim, “Globo vence 60a ação contra Universal”, Veja, 31 mar. 2008.

 

 

Edir Macedo deu o primeiro passo para construir seu império empresarial com a instalação da modesta cantina no primeiro templo no bairro da Abolição, em 1977, gerenciada pelo cunhado Múcio Crivella.1 Dali em diante, ele não parou de investir.

A necessidade de “ganhar almas” e propagar a fé pelos quatro cantos do Brasil foi uma justificativa real e convincente para que o bispo passasse a adquirir veículos de comunicação pelo país: TVs, rádios e jornais. Expandiu o seu reino, sem limites.

Em mais de quarenta anos de atuação, o exército religioso de Macedo ergueu um conglomerado de proporções grandiosas. Contempla uma gama de empresas, nos mais diferentes ramos. Segundo uma lista divulgada pelo ex-bispo da Universal Alfredo Paulo, o grupo reúne 97 empresas, incluindo as emissoras de rádio e TV. Nomes de pessoas ligadas à igreja foram detectados ainda em outras firmas registradas em juntas comerciais ou citadas em processos judiciais e reportagens publicadas na imprensa.2 Macedo tem em seu nome a TV Record, e é sócio da empresa B.A. Empreendimentos e Participações Ltda, controlada pela emissora. A empresa B.A., por sua vez, é dona de 49% das ações do Banco Renner.

Nas outras companhias do grupo, aparecem como sócios 113 pessoas, entre bispos, pastores, obreiros e familiares do líder da Universal. Essas empresas chegaram a gerar 22 mil empregos diretos e 60 mil indiretos. E aí não estão incluídos os líderes religiosos (bispos e pastores) que recebem uma “ajuda de custo” pela obra voluntária.3

Os fiéis não têm informação precisa sobre o destino de suas ofertas. Sabem da existência dos empreendimentos, mas em geral não imaginam a extensão dos vultosos negócios e o poderio financeiro de sua igreja. Os líderes da Universal argumentam ser necessária a aquisição de bens e propriedades para a manutenção de seu projeto religioso.

O bispo adotou como estratégia a diversificação dos negócios. Além das emissoras, ele conta com jornais, banco, seguradora, financeira e administradora de cartões de crédito. Outros nichos passaram a ser explorados: hospital, clínica médica, operadora de plano de saúde, empresas de logística em transporte, segurança patrimonial, mão de obra especializada e empresas de água e refrigerantes. O grupo chegou a ter uma empresa de táxi-aéreo, a Alliance Jet. Vendida em 2015, faturava 500 mil reais ao mês.

Edir Macedo exibiu como um trunfo a posse da Record — a TV com o segundo maior faturamento no Brasil, com 29 emissoras próprias e 79 afiliadas. Após a aquisição da emissora, montou sua sonhada rede nacional, encorpada com a inclusão da Record News (ex-Rede Mulher) e da Rede Família de Comunicação (canal por satélite e web). O grupo mantém ainda a Rede Aleluia — com 68 rádios espalhadas pelo país —,4 o portal R7; a Unipro Editora e o jornal Correio do Povo (Porto Alegre). Vinculadas diretamente à igreja, estão a Folha Universal e a IURD TV (web).

Se a Record está a anos-luz da Globo, seu faturamento não é nada desprezível. Muito ao contrário. Em 2017, a emissora faturou 1,8 bilhão de reais.5 Um ano antes, ela havia registrado o maior lucro líquido de sua história: 227,3 milhões, quase quatro vezes o resultado do ano anterior.6 Enquanto cultivava o sonho de ultrapassar a Globo — pretensão que parece ter deixado de lado, ao menos por um tempo —, a TV de Edir Macedo chegou ao segundo lugar na audiência. Depois perdeu terreno para o SBT de Silvio Santos. Em 2018, do total de aparelhos ligados durante todo o dia, o SBT alcançou 15%, e a Record, 13,9%. As duas se digladiaram, enquanto a Band teve escassos 3,2%, e a Globo flanou, liderando folgadamente, com 35,9%.7

A força da Record não pode ser subestimada. Seu sinal chega a mais de 120 países. Edir Macedo, em 2007, estimou o valor de sua emissora em 2 bilhões de dólares.8 Ronaldo Didini, atualmente prestador de serviços na área de comunicação — graças principalmente à experiência acumulada no período em que esteve na Universal e na Record —, arrisca seu valor atual em 3 bilhões de dólares.

A revista norte-americana Forbes, porém, sugeriu números mais modestos, ao calcular o patrimônio do bispo em 1,1 bilhão de dólares. Na lista dos mais ricos do mundo em 2015, Edir Macedo e família apareceram na 1638o posição — o último entre os 48 bilionários brasileiros citados. Com praticamente a mesma fortuna, em 2013 ele foi apontado pela Forbes como o pastor evangélico mais rico do Brasil. O bispo, de lá para cá, perdeu posições no ranking. Não pela diminuição de seu patrimônio, mas devido ao aumento da fortuna de outros concorrentes.9

A Universal contestou os números apresentados pela Forbes. Qualificou como “mentirosa” a informação sobre a riqueza de Macedo, pois estaria baseada “em velhas mentiras publicadas na imprensa”. Segundo a igreja, o único bem de Macedo era a Record, da qual não recebe salários, não tem retirada de lucros e nunca recebeu um centavo da empresa. “Não vive dessas atividades, mas é dependente do seu próprio trabalho como pastor evangélico”, afirmou, em nota, a instituição. De acordo com a Universal, Macedo doou à igreja seus imóveis, todos “adquiridos com seus próprios recursos de direitos autorais” (referentes à venda de livros).10

Para a Forbes, a maior parte da fortuna de Macedo teve origem na Record. A revista observou que não havia ficado claro como o bispo conseguira o financiamento para a compra da emissora e, segundo relatórios do Ministério Público do Brasil, ele teria usado os recursos da igreja. É fato que a Record, valioso patrimônio de Macedo, contou com um substancial e nada desprezível suporte, a partir de 1989: a injeção de recursos da Universal, via compra de horário nas madrugadas para a exibição de programas religiosos. A emissora, na visão de concorrentes, não compete em condições de igualdade, pois recebe recursos de uma instituição imune a impostos. Em 2016, a igreja pagou 575 milhões de reais para ocupar o espaço da programação nas madrugadas. No ano anterior, 535 milhões. Em 2013, outros 500 milhões.11 Esses valores giraram em torno de 30% do faturamento da rede.

A única ligação entre a igreja e a Record, argumenta Edir Macedo, é sua participação majoritária na sociedade da empresa. O que evidentemente não é pouca coisa. Mas isso não autorizaria a transmissão gratuita dos programas da Universal, explica o bispo, pois a igreja e a Record são pessoas jurídicas diferentes, com patrimônio distintos. “Não podendo ter a confusão patrimonial de bens nem de pessoas, pois, se tal mistura existisse, seria considerado um ilícito, […] contrário à lei”, justificou. “Como a Igreja Universal trabalha de forma totalmente lícita, é necessário atender o que a legislação determina de modo que temos de ter um contrato. Precisamos ter um contrato de locação com a Rede Record, pagarmos os preços de mercado pela transmissão da programação, contabilizarmos tudo isso”, afirmou.12 O debate se dá em torno dos valores pagos. Para alguns, seriam superestimados. A Record não detalha os termos de seu contrato com a igreja, alegando existir uma cláusula de confidencialidade.

Somas polpudas também vão para concorrentes: ao alugar horários na programação de outras emissoras, a Universal é um dos maiores anunciantes privados do país. Até 2018, dispunha de uma verba de 800 milhões de reais para investir em mídia televisiva — cerca de 500 milhões de reais para a Record, o restante dividido entre Bandeirantes, Canal 21 (também grupo Band), RedeTV!, CNT e TV Gazeta de São Paulo. Ao final do ano, reduziu 120 milhões de reais em investimentos. Não mexeu no montante destinado à Record, e renegociou os valores com as outras emissoras. Somente com o Canal 21 — que dá traço na audiência — a Universal gastava cerca de 10 milhões de reais mensais. O contrato foi firmado em 2013. Macedo havia apresentado uma proposta irrecusável para tirar do ar o concorrente Valdemiro Santiago, da Igreja Mundial do Poder de Deus, que lhe tomava fiéis.13 Das cinco principais redes de TV do Brasil, ao menos duas — Band e RedeTV! — não teriam condições de sobreviver sem o dinheiro da Universal e outras igrejas evangélicas. “Se eu não vender horário para igreja, quebro”, admitiu Marcelo de Carvalho, sócio e vice-presidente da RedeTV!.14

Provedora, a Universal alimenta sua cadeia de empresas. Entre elas, 41 têm participação societária umas nas outras, tramando uma teia de firmas interligadas. Só para ficar num exemplo, a Record é sócia da B.A. Empreendimentos e Participações, Rádio 99 FM, Rádio e Televisão Capital, Sistema Sul de Comunicação (SSC), TV Record do Rio de Janeiro Ltda e Televisão Sociedade Ltda.

Recorrendo umas às outras, as empresas se retroalimentam. A Record contrata firmas do grupo para cuidar dos serviços de segurança, transporte, fornecimento de água mineral e produção de programas. O banco oferece empréstimos aos funcionários; a operadora de plano de saúde, o convênio médico. Os lucros não saem do conglomerado.

A B.A. Empreendimentos, vinculada à Record, que atua como um braço financeiro da emissora, comprou as ações do Banco Renner, instituição sediada em Porto Alegre (RS). Macedo fez essa nova investida no mercado financeiro depois de perder o Banco de Crédito Metropolitano — por determinação do Banco Central, transformado em uma financeira e, depois, em uma factoring.

A aquisição das ações do Banco Renner, fechada em 2009, só foi confirmada quatro anos mais tarde, graças a um decreto da presidenta da República, Dilma Rousseff. Por terem residência no exterior à época, os sócios Edir Macedo e Ester Eunice Bezerra entraram no negócio como investidores estrangeiros. Dilma precisou, então, aprovar a participação.15

A família Renner continua como controladora do banco, e o bispo deseja aumentar seu quinhão. A família comandava a rede varejista com sua marca, vendida em 1998 à companhia americana JCPenney, e repassada anos depois a um grupo de investidores.16 Desde o final de 2017, Macedo tenta se tornar o sócio majoritário do banco, mas encontra resistência em pareceres da área técnica do Banco Central.17 Em 2009, Macedo havia adquirido apenas 40% das ações. Quatro anos depois, seu percentual chegou a 49%, após novo acerto entre as partes. O banco passou a oferecer empréstimos, leasings e financiamentos de veículos a cerca de 5 mil funcionários e fornecedores da TV Record.18

Turbinado pelo poderio do bispo, agora o banco Renner se aventura em nova seara. Em março de 2019, anunciou o patrocínio de dois dos maiores times de futebol do país, o Cruzeiro Esporte Clube, de Belo Horizonte, e o Clube Athletico Paranaense, de Curitiba, por meio do banco digital Digi+. O Cruzeiro receberá 11 milhões de reais fixos ao ano, além de bônus por cumprimento de metas. O Athletico contará com um valor fixo, mais incentivos, mas as cifras não foram reveladas. Dois meses depois, o Digi+ tornou-se também o patrocinador do Fortaleza, da capital cearense, e, em outubro, agregou o Sport, de Recife.19 Mesmo antes de adquirir a participação no banco, Macedo havia feito investimentos importantes no Rio Grande do Sul. Em 2007, seu grupo adquiriu a TV Guaíba, as rádios Guaíba AM e FM e o jornal Correio do Povo. As emissoras compõem hoje a Record Sul. Foram pagos 100 milhões de reais pelo pacote.20

1. Múcio Crivella morreu em 1993. Informação de material de arquivo para o trabalho jornalístico sobre os sessenta anos da TV Record e da reportagem “Família de Marcelo Crivella completa 30 anos na política”, op. cit.

2. Informações de juntas comerciais, Receita Federal e site da TV Record; Elvira Lobato, “Universal chega aos 30 anos com império empresarial”, op. cit.; Elvira Lobato, “Igreja controla maior parte de TVs do país”, Folha de S.Paulo, 15 dez. 2007; Elvira Lobato, “Record tem firmas em paraísos fiscais”, op. cit.; Vânia Cristino, “Banco da Universal tem sócio em paraíso fiscal”, op. cit.; Chico Otávio, “Bispo controla ‘holding’ com interesse em diversas áreas”, O Estado de S. Paulo, 29 dez. 1995. “Empresas secretas do bispo Macedo e cúpula da IURD (parte 1), canal do ex-bispo Alfredo Paulo no YouTube, disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=lcsdA81ylQI&feature=youtu.be>, 23 dez. 2016, acesso em: 11 out. 2019: “Empresas secretas do Bispo Macedo e cúpula da IURD (parte 2), canal do ex-bispo Alfredo Paulo no YouTube, disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=mPuJnST6Hmo&feature=youtu.be>, publicado em 26 dez. 2016, acesso em: 11 out. 2019; “Empresas secretas do Bispo Macedo e cúpula da IURD (parte 3), canal do ex-bispo Alfredo Paulo no YouTube, disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=r8HPIkgsK1M&feature=youtu.be>, publicado em 29 dez. 2016, acesso em: 11 out. 2019: “Empresas secretas do Bispo Macedo e cúpula da IURD (parte 4), canal do ex-bispo Alfredo Paulo no YouTube, disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=D5FqLQSq1rE&feature=youtu.be>, publicado em 2 jan. 2017, acesso em: 11 out. 2019; “Comunicado importante do bispo Alfredo Paulo”, página do Facebook de Alfredo Paulo, em 3 jan. 2017; “Atendendo ao desafio do sr. Renato Cardoso, segue mais uma lista”, canal do ex-bispo Alfredo Paulo no YouTube, em 2 ago. 2019, acesso em: 11 out. 2019.

3. O último número disponível sobre funcionários do grupo consta da biografia O bispo, de Douglas Tavolaro (op. cit., p. 238), de 2007. Depois dessa publicação, a TV Record, por exemplo, demitiu mais de 2 mil empregados.

4. Informações de juntas comerciais, site da TV Record; site da Rede Aleluia; Elvira Lobato, “Universal chega aos 30 anos com império empresarial”, op. cit.; e Ricardo Feltrin, “Igreja Universal vende empresa de táxi-aéreo”, UOL TV e Famosos, 10 jan. 2015.

5. O faturamento da Rede Globo, em 2017, foi de 9,7 bilhões de reais, e o SBT ficou com 998 milhões de reais.

6. Daniel Castro, “Lucro do SBT cresce quase 500% após demissão de 200 funcionários”, Notícias da TV, UOL, 16 maio 2018; e Daniel Castro, “Após demitir 2.000 e terceirizar novela, Record tem o maior lucro da história”, Notícias da TV, UOL, 22 mar. 2017.

7. Painel Nacional de TV (PNT) do Kantar Ibope Media; Cristina Padiglione, “SBT foi a rede que mais cresceu e menos investiu em 2018, em relação a Globo e Record”, Telepadi, Folha de S.Paulo, 4 jan. 2019.

8. Douglas Tavolaro, O bispo, op. cit., p. 161.

9. “Edir Macedo and Family”, Forbes, 3 fev. 2015; Tatiana Vaz, “Quem são os ex-bilionários do Brasil, incluindo Edir Macedo”, Exame, 13 set. 2016; Anderson Antunes, “Brazilian Billionaire Bishop Edir Macedo Is Now a Banker, Too”, Forbes, 22 jul. 2013; “The Richest Pastors in Brazil”, Forbes, 17 jan. 2013; e “Com fortuna de R$ 2 bilhões, Edir Macedo é o pastor evangélico mais rico do Brasil, diz revista”, UOL, 18 jan. 2013.

10. “Em nota, Universal diz que vai à Justiça por inclusão de Edir Macedo em lista da Forbes”, Portal Imprensa, 5 mar. 2013; e Mário Simas Filho, “O céu e o inferno não são folclore”, op. cit.

11. Ricardo Feltrin, “Por madrugadas, Igreja Universal pagará este ano à Record R$ 575 milhões”, UOL, 24 dez. 2016.

12. “O Bispo responde: A ligação entre a Igreja e a Record”, Blog Universal, 8 ago. 2009.

13. Daniel Castro e Rui Dantas, “Igreja Universal corta R$ 120 milhões da verba de TV e ameaça emissoras”, Notícias da TV, UOL, 3 set. 2018.

14. Flávio Ricco, “Triste realidade”, UOL, 3 fev. 2017; e Maurício Stycer, “‘Se eu não vender horário para igreja, quebro’, diz sócio da RedeTV!”, UOL, 10 mar. 2017.

15. Tatiana Vaz, “Edir Macedo compra 49% do Banco Renner”, Exame, 8 jul. 2013.

16. Ibid.; Fabíola Moura, Paula Sambo e Christiana Sciaudone, “Dispensada pela JCPenney, Renner se valoriza 3.300%”, Exame/Bloomberg, 13 set. 2017.

17. Lauro Jardim, “Quero ser banqueiro”, O Globo, 1 abr. 2018.

18. “Grupo Record adquire 40% do Banco Renner”, Valor Econômico, 23 out. 2009; e Daniel Castro, “Após demitir 2.000 e terceirizar novela, Record tem o maior lucro da história”, op. cit. A TV Record tinha 10 mil funcionários, mas 2 mil foram demitidos entre 2014 e 2015.

19. “Banco Renner será o novo patrocinador do Cruzeiro e anúncio será feito na quarta”, Gazeta Esportiva, 3 mar. 2019; Lauro Jardim, “Athletico PR tem novo patrocinador”, O Globo, 12 mar. 2019; “Fortaleza assina com Digi+ e se une a Athletico-PR e Cruzeiro”, Máquina do Esporte, 31 maio 2019; “Sport segue ‘tendência’ e fecha patrocínio máster com Digimais”, Máquina do Esporte, UOL, 18 out. 2019.

20. Elvira Lobato, “Universal chega aos 30 anos com império empresarial”, op. cit.

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