terça-feira, 20 de setembro de 2022

Os livros da Selva: Contos de Mowgli e outras histórias, de Rudyard Kipling

Editora: Zahar

ISBN: 978-85-378-1519-9

Tradução, apresentação e notas: Alexandre Barbosa de Souza

Opinião: ★★★☆☆

Páginas: 400

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Sinopse: Adorados por leitores de todas as idades desde que foram publicados no final do século XIX, os contos que integram Os livros da Selva ocupam lugar especial no imaginário popular. Muito se deve à fantástica história de Mowgli, o filhote de homem criado por lobos nas florestas da Índia.

Protagonista de oito das quinze extraordinárias narrativas que formam o conjunto deste livro, Mowgli se tornou um mito por suas aventuras emocionantes ao lado de personagens inesquecíveis como Bagheera, a poderosa pantera-negra que o protege; Baloo, o urso que ensina as Leis da Selva aos filhotes de lobo; Kaa, o sábio píton; Akela, o lobo solitário líder da Alcateia; e Shere Khan, o traiçoeiro tigre manco que deseja matar Mowgli.

 


 

Canção de Mowgli

Cantada por ele na Pedra do Conselho,

quando dançou sobre a pele de Shere Khan.

 

A Canção de Mowgli – eu, Mowgli, estou cantando. Que a selva saiba as coisas que fiz.

Shere Khan disse que me mataria, que me mataria! No portão, pela aurora, mataria Mowgli, a rã!

Ele comeu e bebeu. Beba bastante, Shere Khan, pois quando poderá beber de novo? Durma e sonhe que me mata.

Estou sozinho no pasto. Irmão Cinzento, venha cá! Que venha o Lobo Solitário, pois a caça graúda está perto!

Tragam os grandes búfalos, os machos azuis de tão negros, de olhos furiosos. Conduzam-nos ao meu comando.

Ainda dorme, Shere Khan? Acorde, acorde! Aqui vou eu, e os búfalos vêm logo atrás.

Rama, rei dos búfalos, pisoteou. Águas do Waingunga, aonde foi Shere Khan?

Não é Sahi, para cavar toca, nem Mor, o pavão, para voar. Não é Mang, o morcego, para se pendurar nas copas. Gravetos de bambu que rangem unidos, digam, aonde ele foi?

Ah! Aí está ele. Oh! Ei-lo aí. Aos pés de Rama jaz o Manco! Levante-se, Shere Khan! Levante-se e mate! Eis a carne; quebre a espinha dos touros!

Psiu! Ele dormiu. Não vamos acordá-lo, pois é muito forte. Os milhafres desceram para ver. As formigas pretas vieram conhecer.
 É uma grande assembleia em sua honra.

Alala!47 Não tenho com que me vestir. Os milhafres verão que estou nu. Que vergonha encontrar tanta gente.

Empreste-me o casaco, Shere Khan. Empreste-me sua pele listrada para ir com ela à Pedra do Conselho.

Pelo touro que me comprou, jurei – uma pequena jura. Só me falta seu casaco e cumprirei minha palavra.

Com minha faca, com a faca dos homens, a faca do caçador, do homem, sigo o rastro dessa oferenda.

Águas do Waingunga, sejam testemunhas de que Shere Khan me deu sua pele por causa do amor que me tem. Puxe, Irmão Cinzento! Puxe, Akela! Que pesado o couro de Shere Khan.

O Bando dos Homens está furioso. Apedrejam, contam histórias de criança. Sangro na boca. Me deixem fugir.

Pela noite, a noite quente afora, corram comigo, irmãos. Adeus, luzes da aldeia, seguiremos a lua baixa.

Águas do Waingunga, o Bando dos Homens me baniu. Mal não fiz, mas sentiram medo. Por quê?

A alcateia também me baniu. A selva me foi proibida, assim também os portões da aldeia. Por quê?

Feito Mang voa entre feras e aves, eu voo entre aldeia e selva. Por quê?

Danço sobre a pele de Shere Khan, mas meu coração está pesado. Minha boca foi cortada e ferida na aldeia, mas meu coração está leve, pois voltei para a selva. Por quê?

Ambas lutam em mim como serpentes na fonte.

A água mina de meus olhos; mas sorrio enquanto choro. Por quê?

Sou dois Mowglis, mas a pele de Shere Khan jaz a meus pés.

Toda a selva sabe que matei Shere Khan. Olhem, olhem bem, ó lobos!

Ah! Meu coração pesa por coisas que não entendo.”

47. Expressão proveniente do grego antigo que significa grito de guerra e é também o nome da deusa que personificava esse grito na mitologia grega.

 

 

“Os filhotes sempre dão mais trabalho do que os animais adultos.”

 

 

“– O escuro nunca faz mal a ninguém.”

 

 

“– Ora, não vá ficar raivoso depois de ficar com medo. Esse é o pior tipo de covardia.”

 

 

No entanto, nada estava mais distante de seu pensamento do que milagres. Ele acreditava que todas as coisas eram um único grande milagre, e quando um homem sabe disso, tem algo em que se ancorar. Ele tinha a certeza de que nada era grande nem pequeno neste mundo e, dia e noite, empenhava-se em encontrar um modo de penetrar no coração das coisas, de voltar ao lugar de onde sua alma tinha vindo.”

 

 

“Ninguém é mais silencioso que um lobo que não quer ser notado.”

 

 

Ninguém consegue trabalhar bem sem dormir.”

 

 

– Os homens estão sempre fazendo armadilhas para outros homens, do contrário não ficam contentes – concluiu Mowgli.”

 

 

– Aquele que critica o mundo pelo mundo será criticado.”

 

 

– Orgulho é destruição.”

 

 

“– As mulheres gritaram na barca, então subi de novo para vê-las. A barca era pesada demais para derrubar. Eram só mulheres, mas quem confia em mulher acaba andando sobre a lentilha-d’água, como diz o ditado, e pelas margens direita e esquerda do Gunga, como é verdade!”

 

 

– Muita cortesia é tão ruim quanto muita descortesia, pois, como diz o ditado, coalhada demais engasga o hóspede.”

 

 

– Ninguém é feliz da cabeça aos pés.”

 

 

– Amanhã caçamos a caça de amanhã.”

 

 

“– No final, o homem vai para o homem, embora a selva não o expulse.”

 

 

“KAA

A ira é o ovo do medo,

Somente o olho sem pele pode vê-lo.

Ninguém suga veneno de naja,

O mesmo vale para nossa fala.

Ser franco atrairá para você

A força, cujo par é a cortesia.

Não faça alarde do seu tamanho;

Ao galho podre, não mostre sua força.

Encha o bucho de cervo ou cabra,

Ou seu olho o fará engasgar.

Depois de engolir, poderá dormir?

Faça seu antro oculto e fundo,

Para que um erro, um esquecimento,

Não atraia ao local seu algoz.

Leste e oeste e norte e sul,

Lave seu pelo e feche sua boca.

(Poço e penhasco e beira de lago,

Que o cerne da selva siga consigo!)

Madeira, água, vento e árvore,

Que o Favor da Selva o acompanhe!

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