Editora: L&PM
ISBN: 978-85-2541-674-2
Tradutor: Isabel da Nóbrega e João Gaspar Simões
Opinião: ★★★★☆
Páginas: 408
Sinopse: Ver Parte I
“O amor? Que é o amor?”, pensava ele. “O amor
é o inimigo da morte. O amor é a vida. Tudo, absolutamente tudo que me é dado
compreender, graças ao amor eu o compreendo. Tudo que é, tudo que existe, pelo
amor existe. O amor é Deus; morrer é regressar, eu, parcela desse amor, à fonte
geral e eterna”.”
“A razão humana não pode compreender a
correlação das causas e dos acontecimentos, mas a necessidade de em tudo achar
uma causa é inerente ao espírito humano. Eis porque a inteligência, incapaz de
penetrar as razões infinitas e infinitamente complicadas dos acontecimentos, as
quais, cada uma de per si, podem fazer figura de causa, lança mão da primeira
que lhe aparece, seja a mais acessível das coincidências, e proclama: Esta é a
causa! Nos fatos históricos que têm por objeto de estudo as ações humanas, a
mais vulgar coincidência costuma ser a vontade dos deuses, e depois a dos
homens colocados em situação de destaque, os chamados “heróis da história”.
Basta, no entanto, aprofundar um pouco qualquer fato histórico, isto é, ver
agir as massas de homens que tomaram parte nele, para nos persuadirmos de que
não é a vontade deste ou daquele herói que conduz as massas, mas, muito pelo
contrário, é essa mesma massa que a todo o momento é conduzida. Dir-se-á ser
indiferente que os acontecimentos se expliquem desta ou daquela maneira.”
“É bem verdade o que se costuma dizer: sem
ter com quê, nem a pulga um homem pode matar.”
“– Os velhos têm razão. Mão suada é dadivosa,
mão enxuta é avara.”
“André pensava e dizia que a felicidade
apenas tinha caráter negativo, e isto não sem que o dissesse e pensasse com um
misto de amargura e ironia. Pensando assim, parecia querer dizer que todas as
aspirações do homem à felicidade positiva lhe não tinham sido dadas senão para
o atormentar, insatisfeitas que sempre eram. Sem qualquer pensamento reservado,
Pedro adotara esta maneira de pensar. A ausência da dor, a satisfação de todas
as necessidades, e, como consequência, a liberdade da escolha das suas próprias
ocupações, isto é, do gênero de vida que mais lhe quadrava, afiguravam-se-lhe,
a Pedro, incontestavelmente, o ideal da felicidade humana. Mas agora
compreendera pela primeira vez o prazer de comer quando se tem fome, de beber
quando se tem sede, de dormir quando se tem sono, de se aquecer quando se tem
frio, de falar quando apetece ouvir uma voz humana. A satisfação das
necessidades, uma boa alimentação, o asseio, a liberdade, agora, que estava
privado de tudo isso, apareciam-lhe como o suprassumo da felicidade, e a
liberdade da escolha das suas ocupações, isto é, a própria vida, agora, que tão
limitada lhe estava essa escolha, parecia-lhe coisa tão fácil que esquecia que
o próprio excesso das comodidades da existência destrói toda a felicidade que
resulta da satisfação das necessidades e que uma perfeita liberdade de ação,
essa liberdade que lhe proporcionara a instrução, a fortuna, a posição na
sociedade, torna a escolha das ocupações excessivamente difícil e por isso
mesmo destrói a necessidade e o desejo de ação.”
“Kutuzov sabia que quando se deseja muito
qualquer coisa, pode uma pessoa acabar por preparar as notícias de sorte a que
elas confirmem o que se deseja, tendo o cuidado de guardar silêncio sobre tudo
que contradiga o que se pretende.”
“A grandeza parece excluir a possibilidade de
apreciar o bem e o mal. O mal não existe para o que é grande. Quem é grande
nunca poderá ser acusado de uma atrocidade.
“É grande!”, dizem os historiadores, e então
deixa de existir o bem e o mal, para só haver o que é grande e o que não é grande. O que é grande é o bem, o que não é grande
é, o mal. O grande é, segundo eles, privilégio de indivíduos especiais que
recebem a classificação de heróis. Napoleão, muito bem embrulhado numa peliça,
volta para casa, deixando morrer não só companheiros, mas pessoas que, assim
ele o confessou, arrastara atrás de si. Para si mesmo diz: sou o grande, e a alma tranquiliza-se-lhe.
“Do
sublime ao ridículo vai apenas um passo”, dizia Napoleão, e o sublime era
ele próprio. E de há cinquenta anos para cá o universo inteiro repete: “Sublime! Grande! Napoleão, o Grande! Do
sublime ao ridículo vai apenas um passo!”
E a ninguém ocorre que confessar que a
grandeza está para além do bem e do mal é como reconhecer ao mesmo tempo a sua
inferioridade e a sua infinita pequenez. Para nós, que recebemos de Cristo a
medida do bem e do mal, nada existe fora dessa medida. Não há autêntica
grandeza sem espontaneidade, bondade e verdade.”
“Pedro, como sempre costuma acontecer, só
sentiu o peso das privações a que estivera sujeito durante o cativeiro no dia
em que as desventuras acabaram. Assim que foi posto em liberdade, dirigiu-se a
Orel e no dia seguinte, na altura de se meter a caminho para Kiev, adoeceu.
Três meses ficou de cama em Orel. Segundo os médicos, sofria de uma febre
biliosa. Apesar de todos os cuidados que lhe dispensaram, não obstante as
sangrias e os remédios, conseguiu recuperar a saúde.”
“Pretender-se que a vida dos homens seja
sempre dirigida pela razão é destruir toda a possibilidade de vida.”
“Os criados são os juízes mais fiéis dos seus
amos, pois os julgam não por conversas ou manifestações exteriores, mas pelos
seus atos e conduta.”
“Do ponto de vista da experiência, o Poder
não é mais que uma dependência entre a expressão da vontade de uma personagem e
o cumprimento dessa vontade por outros homens.”
3 comentários:
Eu já ouvi falar tanto dessa obra, mas nunca nem sequer procurei saber mais sobre ela.
Os quotes me chamaram muito a atenção em uma postagem do G+ e vim aqui pra saber mais.
Adorei! Já coloquei na lista de livros que preciso ler!
Beijos,
Duas Leitoras
Está na minha lista. Vou adquirir os volumes e voltar para comentar com mais propriedade depois da leitura.
Não deixe de postar, eu adoro seu blog, entro sempre procurando por dicas. Estou lendo todos as suas indicações com ******* (quanto mais melhor, rs)
Beijo
Valeu, Kemmy e Fabiane.
Espero que gostem, abração!
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