Editora: Suma de Letras
ISBN: 978-85-81050-24-9
Tradução: Mário Molina
Opinião: ★★★★☆
Páginas: 810
Sinopse: A
estranha e inesquecível odisseia de Roland de Gilead em busca da Torre Negra
continua. No quarto volume da série imaginada por Stephen King, novos perigos
ameaçam o ka-tet de Roland – formado por Jake, Eddie Dean, Sussanah e Oi.
Mago e Vidro retoma a eletrizante narrativa interrompida em As Terras Devastadas. Depois de enfrentar a terrível ameaça do monotrilho Blaine, o último
pistoleiro e seus seguidores desembarcam na cidade de Topeka, no Kansas, e
retomam o caminho do Feixe de Luz que conduz à Torre Negra. Roland revela então
aos companheiros a história de seu passado, e a trágica perda de seu grande
amor de juventude, a bela Susan Delgado.
Prosseguindo em sua jornada, o ka-tet chega a um palácio
de vidro verde onde encontra ninguém menos do que o antigo nêmesis de Roland:
Marten Broadcloak, conhecido em alguns mundos como Randall Flagg, em outros
como Richard Fannin, e em outros ainda como John Farson, o Homem Bom. E Roland
e seus companheiros descobrem então uma pavorosa verdade sobre o passado do
pistoleiro...
Inspirada no universo imaginário de J.R.R. Tolkien, no
poema épico do século XIX Childe Roland a Torre Negra Chegou, e repleta
de referências à cultura pop, às lendas arturianas e ao faroeste, A Torre
Negra mistura ficção científica, fantasia e terror numa narrativa que forma
um verdadeiro mosaico da cultura popular contemporânea.
“Em Gilead, antes que o mundo seguisse
adiante, a lua cheia do Fim do Ano fora chamada de Lua do Demônio, e as pessoas
achavam que dava azar olhar diretamente para ela. Agora, contudo, isso não
tinha importância. Agora havia demônios por toda parte.”
“– A vida é azeite, não óleo de rícino.”
“Deus odeia os covardes.”
“– Quando Eddie fica mesmo fodido, é capaz de
convencer o diabo a tocar fogo no próprio corpo.”
“Tentou dizer que estava bem, que podiam
ficar tranquilos, ele estava ótimo, mas não conseguiu pronunciar uma só
palavra; aquele terrível som ondulante o transportara para o desfiladeiro
retangular a oeste de Hambry tantos e tantos anos atrás. Depape, Reynolds e o
velho coxo Jonas. Acima de tudo, no entanto, era a mulher da colina que ele odiava,
e das profundezas mais negras de sentimentos que só um homem muito jovem podia
atingir. Ah, mas como poderia ter feito outra coisa a não ser odiá-los? Seu
coração fora partido. E agora, tantos e tantos anos mais tarde, parecia-lhe que
o fato mais horrível da existência humana era que corações partidos saram.”
“– Acho que o serviço das putas tende a ser
superestimado pelos jovens.”
“Ela deu uma risada. Os homens eram
engraçados, sim, é claro que eram, e o que havia de mais divertido era que
praticamente eles não tinham a menor consciência disso. Homens, com nomes que
lhes pareciam tão valentes, tão capazes de impor respeito. Homens, tão
orgulhosos de seus músculos, suas aptidões para a bebida, suas aptidões para a
comida; tão incessantemente orgulhosos de suas picas. Sim, mesmo naqueles
tempos em que um número imenso deles não conseguia soltar nada além do sêmen
estranho e corrompido que produzia crianças que só serviam para ser afogadas no
poço mais próximo. Ah, mas a culpa jamais era deles, certo, meu caro? Não, era
sempre a mulher – seu útero, sua falha. Homens eram tão covardes. Tão
francamente covardes. Aqueles três não tinham fugido da regra geral. O velho
que mancava sabia olhar de frente – sim, sabia, um par de olhos claros e
francamente curiosos tinha partido daquela cabeça e se fixado nela –, mas a
mulher não viu nada naqueles olhos com que não soubesse lidar, a verdade foi
essa. Homens! Não conseguia entender por que tantas mulheres os temiam. Não
tinham os deuses criado os homens com a parte mais vulnerável de seus órgãos
pendendo fora dos corpos, como um pedaço deslocado de tripa? Chutem aquilo e
eles se curvarão como caracóis. Acariciem aquilo e seus cérebros se
derreterão.”
“Quando não há alternativa, a hesitação é
sempre um erro.”
“Os bobos são as únicas pessoas da Terra que
acreditam que vão conseguir o que merecem.”
“Roland virou para o outro lado, fechou os
olhos e caiu no sono. O descanso foi leve, iluminado pelos sonhos cruamente
poéticos que só garotos adolescentes têm, sonhos onde a atração sexual e o amor
romântico se juntam e ressoam com mais força do que jamais conseguirão ter.”
“O diabo que se conhece é sempre preferível
ao que não se conhece.”
“Frequentemente é melhor o silêncio, o pai
lhe dissera quando, com cerca de dez anos, ela lhe perguntara por que estava
sempre tão calado. Na época, a resposta a deixara confusa, mas agora tinha mais
compreensão.”
“Seria possível lembrar a angústia e doçura
daqueles primeiros anos? Recordamos nosso primeiro amor verdadeiro tão
claramente quanto as ilusões provocadas pelo delírio de uma febre alta.”
“Como acontece com qualquer outra droga
forte, o primeiro amor verdadeiro só é realmente interessante para aqueles que
se tornaram seus prisioneiros.”
“E como ninguém suspeitava, podia continuar.
De que outra forma seria possível suportar o idiota do irmão? A idiota daquela
cidade? E, é claro, o conhecimento de que todos os rancheiros da Associação dos
Cavaleiros, e pelo menos metade dos grandes proprietários de terra, eram traidores?
– Foda-se a Confederação – ela sussurrou. – Melhor um pássaro na mão... Mas
teria realmente um pássaro na mão? Alguém ali teria? Manteria Farson suas
promessas? Promessas feitas por um homem chamado Latigo e passadas adiante pelo
inimitável Kimba Rimer... Coral tinha suas dúvidas se seriam cumpridas;
déspotas tinham modos muito convenientes de esquecer as promessas, assim como
pássaros na mão tinham uma irritante mania de beliscar os dedos, fazer cocô na
palma e depois voar. Não que isso ainda importasse; ela, pelo menos, tinha onde
dormir. Além do mais, as pessoas sempre bebem, jogam e trepam,
independentemente do sujeito para quem devem curvar os joelhos ou em cujo nome
os impostos são cobrados.”
“– A única coisa que tenho para me orientar é
o suor da minha testa.”
“– Talvez tenhamos de ver uma matança por
aqui. Quem sabe? De qualquer modo, são as perguntas sem resposta que fazem
valer a pena acordar de manhã.”
“Acordar para a verdade quando é tarde demais
é uma coisa terrível.”
“A voz do pai era a mais severa das vozes, a
voz que frequentemente ouvia em sonhos agitados, a voz que queria tanto agradar
e tão raramente conseguia.”
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