sábado, 14 de junho de 2014

10 dias que abalaram o mundo – John Reed

Editora: L&PM
ISBN: 978-85-254-1194-5
Tradução: José Octavio
Opinião: ★★★☆☆
Páginas: 376
Sinopse: Considerado como a primeira grande reportagem moderna, este livro é uma minuciosa e vibrante descrição da revolução comunista de 1917 na Rússia. Ler 10 dias que abalaram o mundo é como assistir pessoalmente aos dramáticos acontecimentos que culminaram com a instauração de um regime que durou mais de cinquenta anos e esteve no centro dos principais acontecimentos do século XX.
John Reed nasceu no Oregon, nos Estados Unidos, em 1887 e morreu em Moscou em 1920. Deslocado para a Europa em 1914 pela Metropolitan Magazine para a cobertura da Primeira Grande Guerra, recém-iniciada, Reed e sua esposa, Louise Bryant (1885-1936), percorreram os Bálcãs e chegaram em Moscou no auge do movimento revolucionário. Egresso da Universidade de Harvard, Reed sempre foi sensível às causas sociais e apaixonado pelo jornalismo. Ficou conhecido por acompanhar a revolução mexicana de Emiliano Zapata e Pancho Villa em 1914, cujo relato resultou no também célebre livro México rebelde.
Em Moscou, aproximou-se de Lênin e outros líderes comunistas, identificando-se integralmente com os ideais comunistas da Revolução. Morreu em Moscou ao contrair tifo e recebeu da Revolução – que acompanhou e ajudou a divulgar no mundo inteiro – a maior homenagem: foi o único ocidental a ser enterrado nas muralhas do Kremlin, próximo do mausoléu de Lênin, ao lado de Stalin, Gagarin e outros heróis da então União Soviética.

“Após a revolução, o termo “soviete” foi empregado para designar um tipo de assembleia eleita pelas organizações econômicas da classe operária: os sovietes dos deputados operários, camponeses e soldados.”


“Atravessei o rio para ir ao Circo Moderno, onde ia ter lugar um dos grandes comícios populares, comícios esses que se realizavam todas as noites, por toda a cidade, em número cada vez maior. No interior do anfiteatro, simples e triste, iluminado por cinco pequenas lâmpadas pendentes de um fio, apinhavam-se até o teto soldados, marinheiros, trabalhadores e mulheres, ouvindo atentamente os oradores, como se estivessem em jogo suas próprias vidas. Falava um soldado da 548ª Divisão. Tinha uma verdadeira angústia na fisionomia macilenta e nos gestos desesperados: – Camaradas – gritou ele –, os que estão no poder exigem de nós sacrifícios sobre sacrifícios. Mas os que tudo têm nada sofrem. Estamos em guerra com a Alemanha. Podemos consentir que generais alemães entrem para o nosso Estado-Maior? Pois bem, companheiros: estamos também em guerra com os capitalistas. Entretanto, consentimos que eles ingressem no nosso governo. O soldado quer saber por quem combate. Por Constantinopla, ou pela liberdade da Rússia? Pela democracia, ou pelo banditismo capitalista? Se me provarem que estamos lutando pela revolução, marcharei para a frente, sem que seja preciso me ameaçarem com a pena de morte. Quando a terra pertencer aos camponeses, as fábricas aos operários, e o poder aos sovietes, então teremos o que defender, então teremos por que lutar.”


“Não há nada de comum entre a classe trabalhadora e a classe exploradora.”


“– A insurreição é um direito de todos os revolucionários! Quando as massas oprimidas se rebelam, elas estão fazendo uso de um direito seu.” (Trótsky)


“Mas, de repente, ouviu-se uma nova voz, mais profunda, dominando o tumulto da assembleia. Era a voz surda do canhão! Todos os olhares voltaram-se ansiosamente para as janelas. Uma espécie de febre ardente dominou a assembleia.
Martov pediu a palavra. E, com voz rouca, disse:
– Camaradas! A guerra civil já começou. É necessário discutir em primeiro lugar a solução pacífica da crise. Tanto por questões de princípios, como por motivos políticos, devemos começar a sessão de hoje discutindo com a maior urgência os meios de fazer cessar a guerra civil. Nossos irmãos estão morrendo nas ruas... neste momento em que se procura resolver a questão do poder, antes da abertura do Congresso dos Sovietes, por meio de uma conspiração militar organizada por um único dos partidos revolucionários – (Durante alguns instantes o trovejar da artilharia abafou-lhe as palavras.) –... Todos os partidos devem encarar este problema. A primeira questão que o Congresso vai discutir é a do poder. Mas ela já está sendo resolvida nas ruas, pela força das armas... Temos a missão de criar um poder que toda democracia possa reconhecer. Se este congresso quer ser o porta-voz da democracia revolucionária, não deve ficar de braços cruzados ante a guerra civil que ameaça fazer explodir uma perigosa contrarrevolução. Só há uma solução pacífica para a crise atual: a formação de um poder com a participação de todas as organizações democráticas num bloco unido... Proponho que se eleja uma delegação para negociar com todos os partidos e organizações socialistas.
O surdo ribombar do canhão continuava a fazer estremecer os vidros das janelas, com intermitências regulares, enquanto os deputados discutiam e se insultavam.
Foi assim, sob o troar da artilharia, na obscuridade, no meio de ódios, de medo e da mais temerária das audácias, que nasceu a nova Rússia.”


“Exatamente às oito horas e quarenta minutos, uma tempestade de aplausos anunciou a chegada da presidência, com Lênin, o grande Lênin, à frente.
Uma silhueta baixa. Cabeça redonda e calva, mergulhada entre os ombros. Olhos pequenos, nariz rombudo, boca larga e generosa. Mandíbula pesada. Estava completamente barbeado. Mas a sua barba, dantes tão conhecida e que daquele momento em diante iria ser eterna, já começava a despontar novamente. O casaco estava puído; as calças eram compridas demais. Sua aparência física não indicava que ele poderia ser um ídolo das multidões. Mas foi querido e venerado como poucos chefes em toda a história. Um estranho chefe popular. Chefe só pelo poder do espírito. Sem brilho, sem ditos chistosos, intransigente e sempre em destaque, sem a menor particularidade interessante, mas possuindo, em alto grau, a capacidade de explicar ideias profundas em termos simples e de analisar concretamente as situações. Senhor de prodigiosa audácia intelectual. Assim era Lênin.”


“Os soldados de um povo livre não se entregam nem se rendem.”


“Trótsky ergueu-se, de novo, ardente, infatigável, dando ordens, respondendo às perguntas:
– A pequena burguesia, para aniquilar o proletariado, os soldados e os camponeses, é capaz de se aliar até com o Diabo.”


“No pavimento térreo, encontramos Kamenev, que acabava de chegar. Embora extenuado pela sessão noturna da Conferência para a Formação de um Novo Governo, estava satisfeito.
– Já os socialistas revolucionários inclinam-se a favor da nossa admissão ao novo governo – disse-me. – Os grupos da direita estão aterrorizados com tribunais revolucionários e pedem, espantados, que, antes de tudo, e sobretudo, os dissolvamos. Aceitamos a proposta do Vikjel referente à formação de um governo socialista homogêneo; tratamos, atualmente, dessa questão. É o fruto da nossa vitória. Quando éramos os mais fracos, nada queriam conosco; agora, todo mundo é partidário de um acordo com os sovietes. Entretanto, o que necessitamos é de uma vitória verdadeiramente decisiva. Kerenski quer armistício, mas será preciso que capitule.
Tal era o estado de espírito dos chefes bolcheviques. A um jornalista estrangeiro, que solicitava uma declaração, Trótsky disse:
– A única declaração possível, neste momento, é a que fazemos pela boca dos nossos canhões!”


“Melnitchanski contou-me também algumas passagens interessantes dos últimos acontecimentos. Num dia frio e escuro, estava ele na esquina da Nikítskaia. As descargas das metralhadoras varriam as ruas. Ao seu lado, estava reunido um bando de crianças, essas pobres criaturas que vendem jornais. Não pareciam impressionar-se com o tiroteio. Davam gritos agudos, como se estivessem brincando. Quando a fuzilaria diminuiu, procuraram atravessar a rua correndo... Muitos deles, atingidos pelos projéteis, caíram mortos. Mas os outros continuaram correndo pela rua de um lado para outro, rindo, brincando, numa absoluta inconsciência do perigo!”


“Ao longo da praça, elevava-se a massa escura das torres e das muralhas do Kremlin. No alto das muralhas resplandecia um débil clarão de fogos invisíveis e, através da praça, chegavam até meus ouvidos ruídos de vozes, de picaretas e pás. Atravessei a praça.
Ao lado da muralha, erguia-se uma montanha de pedras e de terra. Subi ao alto e vi enormes fossas de uns dez ou quinze pés de profundidade e cerca de cinquenta metros de largura, que centenas de operários e soldados estavam cavando, à luz de grandes archotes.
Um jovem estudante disse-me em alemão:
– É o Túmulo Fraternal. Amanhã, enterraremos aqui os quinhentos proletários que tombaram combatendo pela revolução*.
Desci à fossa. Ninguém falava. As picaretas e as pás trabalhavam febrilmente. A montanha de terra crescia. Por cima de nossas cabeças, miríades de estrelas brilhavam na noite. E o antigo Kremlin dos czares levantava para os céus suas formidáveis muralhas.
– Neste lugar sagrado – disse o estudante –, o lugar mais sagrado de toda a Rússia, vamos enterrar aquilo que para nós é mais sagrado. Aqui, onde dormem os czares, descansará agora o nosso czar: o povo!
Tinha um braço na tipoia. Recebera uma bala no combate. Olhando para seu braço ferido, continuou:
– Vocês, estrangeiros, desprezam-nos porque suportamos durante muito tempo uma monarquia medieval. Mas hoje já se sabe que o czar não era o único tirano do mundo... Hoje, já se sabe que o capitalismo europeu é também uma tirania talvez pior que o czarismo, porque em todos os países do mundo o capitalismo é imperador! A tática da Revolução Russa mostra ao mundo inteiro o caminho, o verdadeiro caminho da libertação.
Quando me retirava, os trabalhadores, esgotados, e, apesar do frio, inteiramente empapados de suor, começavam a saltar com dificuldade para fora da fossa. Chegava outra turma, caminhando através da praça. Sem dizer uma só palavra, ela desceu, apanhou as ferramentas deixadas pelos companheiros e continuou o trabalho que estes haviam começado. Durante a noite inteira, os voluntários do povo revezaram-se sem cessar. Quando a fria luz da manhã se estendeu sobre a grande praça coberta por alvo lençol de neve, as fossas da Tumba Fraternal já estavam terminadas.”
*: Este cemitério ainda é conservado. Viça entre o túmulo de Lênin e as muralhas do Kremlin. Na própria base das muralhas do Kremlin, foram enterrados muitos revolucionários. As cinzas de John Reed também repousam aí. (N. do E.)


“Vagarosamente, os homens que levavam os féretros chegaram às bordas do túmulo. Transportando suas cargas, escalaram os montões de terra e desceram ao fundo das fossas. Havia entre eles muitas mulheres, dessas mulheres do povo, corpulentas e robustas. Acompanhando os mortos, outras mulheres ainda jovens, mas aniquiladas pelos sofrimentos; mulheres velhas, com as faces enrugadas, lançando gritos agudos de animais feridos querendo atirar-se na fossa atrás de seus filhos ou maridos, debatendo-se, quando mãos piedosas procuravam contê-las. É assim que os pobres amam.”


“Trótsky defendeu com ardor a resolução bolchevique, procurando mostrar a diferença entre a situação da imprensa durante a guerra civil e depois da vitória:
– Durante a guerra civil, só os oprimidos têm o direito de empregar a violência... – (Gritos: “Onde estão os oprimidos?”) – O adversário ainda não está vencido completamente. Os jornais são armas. Eis por que é necessário proibir a circulação de jornais burgueses. É uma medida de legítima defesa!
Em seguida, abordou a situação da imprensa após a vitória:
– Precisaremos, é claro, de uma lei de imprensa. Já estamos cuidando disso. Muito antes da vitória da revolução, já afirmávamos que não podíamos encarar a liberdade de imprensa do ponto de vista dos proprietários dos grandes jornais. As medidas aplicadas contra a propriedade privada são também aplicáveis à imprensa. É necessário confiscar, em benefício do povo, todos os grandes jornais, todas as oficinas, todos os depósitos de papel. – (Aparte: “Confisquem as oficinas do Pravda!”) – A burguesia sempre monopolizou a imprensa. Sem a abolição desse monopólio, a conquista do poder não tem o menor significado. Todos os cidadãos da Rússia precisam ter à sua disposição jornais, tipografias e papel. O direito de propriedade das tipografias e oficinas dos jornais cabe, em primeiro lugar, aos camponeses e operários, que representam a maioria da população. A burguesia está em segundo plano, porque é minoria insignificante. A tomada do poder pelos sovietes irá modificar radicalmente todas as condições de existência social. A imprensa também tem que ser atingida, também tem que ser modificada. Não nacionalizamos os bancos? Como poderemos respeitar jornais que são propriedade de bancos? O antigo regime deve perecer. Todos precisam compreender isso, de uma vez para sempre.”


“Quando se faz uma revolução, é necessário não contemporizar.” (Lênin)


“A 27 de novembro, apareceu no Smólni uma delegação de cossacos, que desejava falar com Lênin e Trótsky. Recebidos, perguntaram se era verdade que o governo soviético tinha a intenção de dar as terras dos cossacos aos camponeses da Grande Rússia.
– Não – respondeu Trótsky. Os cossacos discutiram entre si.
– Está bem – disseram. – Mas o governo tem a intenção de confiscar as terras dos grandes proprietários cossacos para entregá-las aos trabalhadores cossacos?
Foi Lênin quem respondeu:
– Isso depende de vocês. Cabe-lhes fazer isso. Nós apoiaremos tudo que os trabalhadores cossacos fizerem nesse sentido. Para começar, vocês devem desde já organizar seus próprios sovietes cossacos. Deste modo, poderão indicar seus representantes para o Comitê Central Executivo e o governo soviético será o governo de vocês mesmos...
Os cossacos se retiraram, mas não se esqueceram dessas palavras. Duas semanas depois, o General Kaledin foi procurado por uma delegação de suas tropas:
– É capaz de prometer-nos – perguntaram os delegados – repartir as terras dos senhores cossacos entre os trabalhadores cossacos?
– Nunca! Prefiro morrer! – respondeu Kaledin. Passado um mês, o exército de Kaledin dissolvia-se, como por encanto. Desesperado, Kaledin estourou os miolos com um tiro. O movimento cossaco terminou assim.”


“Com o decreto sobre a nacionalização dos bancos; com a criação do Conselho Superior da Economia Nacional; com a aplicação efetiva do decreto sobre a terra; com a reorganização democrática do Exército, através das transformações radicais realizadas em todos os domínios do Estado e da vida social, medidas que só puderam ser postas em prática porque eram a expressão da vontade dos operários, soldados e camponeses, começou a surgir, lentamente, por entre erros e dificuldades, a nova Rússia proletária.
Os bolcheviques conquistaram o poder. Mas conquistaram-no sem acordos com as classes dominantes ou com os diversos chefes de partidos políticos, destruindo o antigo mecanismo governamental. Não chegaram tampouco ao poder por meio de um golpe de força organizado por um pequeno grupo. A revolução teria fracassado, se as massas não tivessem sido preparadas em toda a Rússia para a insurreição. Por que os bolcheviques venceram? Porque sabiam lutar pelas pequenas e pelas grandes aspirações e reivindicações das grandes camadas populares, organizando-as e dirigindo-as para a destruição do passado e lutando com elas para edificar, sobre as ruínas fumegantes do sistema social destruído, uma nova sociedade, um novo mundo.”


“Lênin pediu a palavra, sendo ouvido, desta vez, com a maior atenção:
– Neste momento, está em jogo não só a questão da terra, mas o problema da revolução social. E esse problema não se limita à Rússia: é um problema de importância mundial. A questão da terra não pode ser separada das demais questões da revolução social. Para confiscarmos a terra, teremos de vencer não só a resistência dos proprietários russos, como a resistência do capital estrangeiro, porque os proprietários estão ligados a ele, através dos bancos. O regime da propriedade territorial na Rússia baseava-se na mais terrível exploração dos camponeses. Confiscando as terras dos grandes proprietários feudais, os camponeses realizaram o mais importante ato da nossa revolução. Para provarmos isto basta examinar as etapas percorridas pela revolução. Na primeira etapa, a autocracia, o poder da indústria capitalista e dos grandes proprietários, cujos interesses estão intimamente ligados, foi derrubada. Na segunda, os sovietes consolidam-se. É nesta etapa que se firma um compromisso político com a burguesia. Os socialistas revolucionários da esquerda erraram porque não se opuseram a esse acordo. E, para justificar sua atitude, disseram que, nesse momento, a consciência revolucionária das massas era ainda muito débil. Ora, se fôssemos esperar que todos os homens atingissem o mesmo grau de consciência para só depois disso lutar pelo socialismo, teríamos de esperar uns quinhentos anos para começar a luta!... O partido político do proletariado é a vanguarda da classe operária e, como vanguarda das massas, deve, ao contrário, lutar para arrastar essas massas atrás de si. Para tanto, os sovietes devem ser utilizados como instrumentos de iniciativa revolucionária. Mas, para dirigir os vacilantes, para arrastá-los, é preciso que os socialistas revolucionários da esquerda deixem de vacilar. De julho para cá, as massas populares começaram a romper com os “conciliadores”. Apesar disso, a esquerda revolucionária ainda estende a mão a Avksentiev... Conservar os compromissos é matar a revolução. Firmar acordos com a burguesia é trair a revolução. Não precisamos de entendimentos ou de compromissos com a burguesia. Precisamos, sim, esmagar completamente o poder burguês! O Partido Bolchevique não repudiou seu programa quando aceitou os regulamentos elaborados pelos comitês agrários, porque esses regulamentos não implicam a conservação da propriedade privada. Queremos encarnar, na prática, a vontade popular. Queremos ser os executores da vontade do povo, porque, de outro modo, não poderemos fundir, num só bloco, todos os elementos da revolução social.”


“Já convidamos os socialistas revolucionários a ingressar no novo governo. Novamente lhes fazemos o mesmo convite. Só estabelecemos uma condição. Exigimos que os socialistas revolucionários da esquerda rompam, definitivamente, com os elementos vacilantes do seu partido. Os socialistas revolucionários precisam romper com seu passado e olhar para frente...”
“O orador que me precedeu disse que as decisões da Assembleia Constituinte serão determinadas pela pressão revolucionária das massas. Concordamos. Mas achamos que é preciso apresentar a questão da seguinte maneira: “Camponeses! Confiem na pressão revolucionária, mas não esqueçam nunca que em suas mãos há um fuzil!”.
Em seguida, Lênin leu o seguinte projeto, elaborado pelos bolcheviques:
“O Congresso Camponês aprova, por unanimidade, e sem qualquer restrição, o decreto sobre a terra que foi promulgado a 8 de novembro último pelo Conselho dos Comissários do Povo, na qualidade de Governo Provisório Operário e Camponês da República Russa, reconhecido pelo Congresso Pan-Russo dos Deputados Operários e Camponeses. O Congresso Camponês declara que está disposto a lutar sem a menor vacilação e com todas as suas forças para fazer aplicar na prática o decreto sobre a terra. Ao mesmo tempo, aconselha todos os camponeses não só a apoiá-lo, como a aplicá-lo na prática, por si mesmos, sem perda de um minuto. Aconselha também todos os camponeses a eleger para os cargos importantes unicamente pessoas que já tenham demonstrado, não por palavras, mas através de atos, sua capacidade de lutar com a maior abnegação pelos interesses dos camponeses contra toda resistência dos grandes proprietários, dos capitalistas e de todos os seus lacaios e defensores. O Congresso Camponês declara também estar convencido de que as decisões do decreto sobre a terra só poderão ser definitivamente asseguradas com a vitória da revolução proletária socialista iniciada a 7 de novembro. Só a vitória dessa revolução poderá assegurar a divisão de terras entre os camponeses, o confisco das máquinas agrícolas e a defesa dos interesses de todos os assalariados agrícolas, através da abolição imediata e definitiva do sistema de escravidão capitalista, com a distribuição racional e regular dos produtos da agricultura e da indústria por todas as diferentes regiões do país, entre seus habitantes, através da nacionalização dos bancos (condição indispensável para que a terra se transforme, efetivamente, em propriedade coletiva) e da ajuda sistemática à agricultura, aos trabalhadores, aos explorados, etc., por parte do Estado”.
“Por todos esses motivos, o Congresso Camponês, ao mesmo tempo que se declara inteiramente solidário com a Revolução Socialista de 7 de novembro, afirma sua vontade de lutar, com a maior energia e sem vacilações, em prol da aplicação das medidas necessárias à transformação socialista da Rússia.”
“Sem a mais estreita união dos trabalhadores explorados do campo com a classe operária e com o proletariado de todos os países, a revolução socialista não poderá vencer, nem o decreto sobre a terra poderá ser aplicado integralmente. De agora em diante, toda a organização do Estado, na Rússia, será erguida na base desta estreita união. Essa união das massas exploradas do campo com a classe operária e o proletariado de todos os países garante a vitória do socialismo no mundo inteiro, desde que se exclua toda tentativa, direta ou indireta, clara ou disfarçada, de colaboração com a burguesia ou com seus políticos influentes.”

Um comentário:

Sugestão de Livros disse...

Gostei dos trechos: Quando a terra pertencer aos camponeses, as fábricas aos operários, e o poder aos sovietes, então teremos o que defender, então teremos por que lutar.

e

Sem a mais estreita união dos trabalhadores explorados do campo com a classe operária e com o proletariado de todos os países, a revolução socialista não poderá vencer, nem o decreto sobre a terra poderá ser aplicado integralmente.